O 1º de dezembro marca o Dia Mundial de Prevenção e Controle do HIV/aids. Em 2025, a campanha global traz o tema “Eliminar as barreiras, transformar a resposta à aids”, reforçando a necessidade de cooperação internacional, liderança política e ações centradas em direitos humanos para que o mundo alcance o fim da aids como ameaça à saúde pública até 2030. Não por acaso, o Brasil, sob o slogan “Viver sem Aids, essa é a vida que eu quis”, que faz referência ao cantor Cazuza e à atuação de sua mãe, Lucinha Araújo, à frente da Sociedade Viva Cazuza — símbolo de resistência, cuidado e luta contra o estigma, realça as quatro décadas de avanços que mudaram vidas.
Graças ao encontro entre ciência, direitos e saúde pública, pessoas vivendo com HIV podem hoje ter uma vida longa, saudável e ativa. Em quarenta anos de resposta à epidemia, o país ampliou o acesso gratuito à prevenção, ao diagnóstico e ao tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A prevenção combinada — com PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) e PEP (Profilaxia Pós-Exposição) —, a distribuição de preservativos, a oferta de testagem e a modernização do cuidado, que reduziu de 30 comprimidos para apenas 1 por dia, contribuíram para uma das maiores conquistas da história da saúde pública do país: a menor taxa de mortalidade por aids já registrada.
Outro marco histórico foi o reconhecimento internacional, pela Organização das Nações Unidas, da eliminação da transmissão vertical do HIV como problema de saúde pública no Brasil, garantindo que mulheres vivendo com HIV possam gerar crianças livres do vírus.
Práticas que fortalecem a resposta do SUS
Para marcar a data, a Plataforma IdeiaSUS Fiocruz selecionou dez práticas inspiradoras do SUS realizadas em diferentes territórios do país, que ampliam o acesso à prevenção, fortalecem a testagem, promovem cuidado integral e aproximam o SUS de quem mais precisa.
A experiência “Prevenção combinada ao HIV em territórios de vulnerabilidade” leva educação em saúde e testagem rápida a trabalhadoras do sexo em prostíbulos de Cajazeiras. Além de ampliar o acesso à prevenção, a iniciativa rompe estigmas e fortalece vínculos com um público historicamente excluído dos serviços de saúde.
Na mesma direção, a Escola Livre de Redução de Danos (ELRD), em parceria com instituições nacionais e internacionais, desenvolve ações integradas voltadas a pessoas em alta vulnerabilidade: usuários de drogas, mulheres trans, pessoas em situação de rua e juventudes vulnerabilizadas. Entre 2024 e 2025, o projeto combinou ações móveis, testagem, distribuição de insumos, formação profissional e desenvolvimento de uma plataforma digital de acompanhamento em tempo real, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A metodologia articulou cuidado direto e inclusão social, tornando-se referência replicável para o SUS.
No Ambulatório LGBTI+ Abby Moreira, em Jaboatão dos Guararapes (PE), o projeto “PrEPara” oferece acolhimento, vacinação, testagem rápida, prescrição de PrEP e ações educativas. Localizado em área de grande circulação e diversidade, o serviço aproxima a prevenção combinada da comunidade e fortalece as políticas de equidade.
PrEP na Atenção Primária à Saúde
Em 2024, a Unidade Básica de Saúde (UBS) 1 do Cruzeiro se tornou a primeira unidade da Atenção Primária do Distrito Federal (DF) a ofertar PrEP. A iniciativa reduziu barreiras de acesso, aproximou o cuidado da população e aumentou em 33% o número de usuários em prevenção, além de alcançar o melhor índice na “Razão PrEP:HIV”, que indica redução de novos casos.
Por sua vez, em 2019, o Serviço de Atenção Especializada de Juara (MT) iniciou uma articulação inédita com farmácias locais, orientando profissionais sobre PEP e realizando testagem rápida nas próprias farmácias. A experiência expandiu diagnósticos precoces de HIV, sífilis e hepatite B, ganhou premiação nacional e virou episódio da série Vozes da Saúde, uma produção da IdeiaSUS e a VideoSaúde Fiocruz, disponível no Youtube.
Para apoiar pessoas diagnosticadas com HIV, o Serviço de Atendimento Especializado de Chapecó (SC) criou um grupo de escuta e convivência. O espaço tem promovido adesão ao tratamento, reconhecimento de direitos, fortalecimento de vínculos e maior autonomia frente ao diagnóstico.
Outras práticas em destaque na IdeiaSUS:
– Estratégia de autoteste entre estudantes universitários (UFMT – Sinop)
– Ações para inclusão de populações vulneráveis na prevenção e cuidado (Curitiba – PR)
– Prevenção ao HIV para pessoas com deficiência (Jardim – MS)
– Descentralização da PrEP e qualificação da testagem (Petrópolis – RJ)
Acesse a Plataforma IdeiaSUS Fiocruz e conheça essas e outras experiências que mostram, na prática, a potência do SUS na promoção da equidade, da vida e do cuidado.
Por Katia Machado (IdeiaSUS Fiocruz)