O município do Rio de Janeiro possui população de 6.775.561 habitantes (IBGE 2021), distribuída em 10 (dez) áreas de planejamento (AP) para saúde, com 1.289 equipes de saúde da família atuantes que cobrem 57% da população (SUBPAV/SMS Rio). Sobre as ações de imunização, o município possui ampla rede de serviços de saúde que conta com 237 salas de vacinação, em Unidades de Atenção Primária, com oferta das vacinas de rotina do calendário vacinal do Programa Nacional de Imunização, bem como campanhas, além de outros imunobiológicos estratégicos como soros, imunoglobulinas e vacinas especiais. Todas as salas de vacinação são informatizadas com lançamento dos registros nominais, em prontuário próprio, monitoramento das doses aplicadas e das coberturas vacinais, periodicamente, além do acompanhamento diário de estoques e logística das vacinas. O monitoramento os processos do Programa de Imunizações visam acompanhar indicadores e resultados para traçar diagnóstico situacional oportuno, intervenção regionalizada e tomada de decisão intersetorial, que favoreçam e garantam o alcance das metas preconizadas para controle, eliminação e manutenção da erradicação de doenças imunopreveníveis. Desde 2021, a Secretaria Municipal de Saúde do RJ tem desenvolvido uma série de ações e estratégias buscando a reversão das baixas coberturas vacinais, cenário visto desde 2019, que se agravou em tempos de pandemia. As coberturas vacinais em 2022 demonstram que das 10 vacinas, apenas 01 atingiu a meta estabelecida, que foi a BCG com 103%.
Principais problemas que diminuem as coberturas vacinais do município: A. Hesitação e a recusa vacinal: É importante destacar que os índices de vacinação de rotina de crianças e adolescentes no Brasil e no mundo têm caído nos últimos anos. O cenário que já era de queda foi acentuado nos últimos dois anos com o contexto da pandemia de covid-19, reduzindo as coberturas vacinais das crianças ao menor patamar dos últimos 30 anos globalmente, segundo dados da pesquisa divulgada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Unicef OMS (FIOCRUZ, 2022). A situação é preocupante, pois a interrupção na vacinação, mesmo que por um breve período, aumenta o número de indivíduos desprotegidos contra graves doenças imunopreveníveis, como sarampo, meningite, pneumonia, coqueluche, entre outras, aumentando a probabilidade de casos e surtos. Além disso, corre-se o risco da reintrodução de doenças que já estavam erradicadas, como poliomielite e a perda da certificação de eliminação do sarampo.Infere-se que a percepção de risco, pela população geral, mudou com o novo cenário epidemiológico, que não expressa casos de doenças imunopreveníveis na escala vista nas décadas de 70 e 80, quando o PNI foi implantado. Essa falsa segurança da não ocorrência de doenças produz uma hesitação em pais e responsáveis para adesão ao complexo calendário vacinal vigente, que exige adoção de vacinação simultânea, que apesar de muito segura, não é bem assimilada pela população geral. Além disso, a circulação de fake news contribuem para conceitos de dúvidas sobre segurança das vacinas e reforçam atitudes de hesitação vacinal, principalmente pelo receio de eventos supostamente atribuíveis à vacina. É um fator que depende da articulação dos entes federativos, de sociedades científicas e da sociedade civil. B. Território: uma das características marcantes do município é a diversidade dos territórios, com aglomerados em comunidades, conflagrados por violência armada em alguns locais, dificultando o acesso da população as unidades vacinadoras ou interrompendo o funcionamento das mesmas, gerando atraso vacinal e menores coberturas, principalmente no grupo de crianças. C. Registro de doses e logística: os três sistemas atuais de registro nominal de doses disponibilizados pelo Ministério da Saúde (SIPNI Web, Novo SI-PNI e o PEC/e-SUS AB) são de fácil manejo, no entanto não criam linha única de movimentação de dados, já que há níveis para migração e recebimento de dados, favorecendo inoportunidade na migração em tempo real, desfavorecendo visão real das coberturas vacinais.Sobre a logística, por vezes o recebimento fracionado de vacinas, fenômeno observado com frequência relativa traz sobrecarga de processo de trabalho logístico à rede de vacinação, favorece desabastecimentos pontuais de imunobiológicos essenciais para o grupo infantil prioritário. A disponibilidade de doses, considerando que as cotas são definidas pela população a vacinar, não consideram muitas vezes a capilaridade da rede de vacinação, tornando um grande desafio manter frascos multidoses em todas as unidades vacinadoras, dentro do tempo viável de utilização. Também destaca-se a insuficiência relativa na produção de imunobiológicos como BCG, que exigiu a adoção de oferta programação, ao invés de oferta livre, contribuindo também para dificuldades no acesso à vacinação. D. Organização dos processos de trabalho: durante a pandemia da covid-19, grande parte dos recursos humanos foram compartilhados entre processos da vacinação e processos de contenção da pandemia, o que não favoreceu atuação em seguimento nas salas de vacinação, alguns afastamentos e rotatividade, o que interfere diretamente no número de profissionais qualificados nas salas de vacinação.O município possui um perfil de baixa rotatividade de profissionais, mas ainda assim mudanças refletem em novos treinamentos.
A SMSRIO vem desenvolvendo uma série de estratégias para recuperação vacinal, com impacto direto no incremento das coberturas vacinais, dentre elas: ● Promoção de um Ciclo de debates municipal pelas coberturas vacinais reunindo a rede municipal para estabelecer compromisso individual e coletivo; ● Qualificação profissional para ferramentas de cálculo das coberturas vacinais, emissão de relatórios, análise das coberturas vacinais, para tomada de decisão; ● Qualificação profissional direta: Vacinação e o Agente Comunitário de Saúde; Boas Práticas em Imunizações, oferecidas a todos os profissionais da rede municipal; ● Qualificação em Vigilância de ESAVI e fluxos de trabalho ● Normatização de processos de trabalho por meio de guias técnicos: Vacinação de recuperação para o alcance das coberturas vacinais; Sala de vacinação: rotina e fluxo para boas práticas; O agente comunitário de saúde e a vacinação: caminhos para alcance das coberturas vacinais; Implantação de uma central regional de rede de frio: diretrizes e orientações técnicas. ● Parceria firmada com a Educação no projeto Vacina na Escola que estabelece agenda contínua de vacinação nas unidades escolares ● Parceria com a UNICEF na elaboração de um plano de comunicação aos pais e responsáveis sobre os benefícios da vacinação. ● Ampliação dos horários de atendimento das UAP para terceiro turno de atendimento; ● Implantação do Super Centro Carioca de Vacinação (SCCV) funcionando de domingo a domingo, de 8h a 22h, como um modelo ampliado de serviço de vacinação, com objetivo principal de melhorar captação vacinal; ● Adoção de monitoramento de cobertura vacinal por território, com implantação do GEOVACINA, projeto de georreferenciamento de crianças não vacinadas, para disponibilização às equipes de saúde; ● Implantação do Projeto ELIMINANDO MITOS EM VACINAÇÃO, a partir de comunicação lúdica, simples em mídias sociais, com alcance pensado para pais, famílias, educadores, profissionais da saúde e representações sociais; ● Implantação do Projeto TUDO O QUE VOCÊ QUER SABER SOBRE VACINAÇÃO, disponibilizado em todas as salas de vacinação, com acesso em QRCODE; ● Publicação de Decreto municipal responsabilizando setores da Cidade do Rio de Janeiro no compromisso de recuperação vacinal, divulgação do calendário vacinal e criação de um comitê para acompanhamento da recuperação das coberturas vacinais. ● Os resultados das ações implementadas pelo município começam a apontar para uma melhoria relativa no ano de 2023, se comparamos a cobertura vacinal do 1º trimestre de 2022 e este ano vigente, demonstrado no quadro 1. IMUNOBIOLÓGICO 2023* 2022 INCREMENTO RELATIVO BCG 105,3% 91,7% 14,8% PENTA 73,3% 62,3% 17,7% ROTAVÍRUS 69,8% 60,9% 14,6% POLIOMIELITE 73,4% 62,3% 17,8% PNEUMOCÓCICA 10 71,6% 63,3% 13,1% MENINGOCÓCICA C 70,5% 62,8% 12,3% FEBRE AMARELA 69,0% 56,3% 22,6% TRÍPLICE VIRAL D1 79,1% 67,3% 17,5% HEPATITE A 78,4% 62,0% 26,5% VARICELA 77,1% 74,6% 3,4% Fonte: SIPNI WEB/DATASUS/MS em 24.04.2023. Nota:* Dados de doses aplicadas em 2023 sujeito à alterações, visto que ainda há possibilidade migração de doses do SISAB para o SI-PNI.
A SMSRIO está alinhada com as diretrizes nacionais no Plano de Recuperação das Coberturas vacinais, desenvolvendo diversas ações e projetos intersetoriais, articuladas em toda sua rede de saúde. Acreditamos que o trabalho no território, com visão, monitoramento e intervenção locais das ações de resgate, seja um dos elos fortes de atuação para reversão das baixas coberturas vacinais, merecendo apoio e investimento em futuras ações. Apontamos para um incremento relativo de melhoria das coberturas vacinais no 1º trimestre de 2023, em comparação com o mesmo período do ano passado, demonstrando que ações diretas e indiretas contribuem para a reconstrução do cenário, porém ainda há um caminho a ser percorrido para que o município retome a homogeneidade das metas de coberturas de todas as vacinas do Calendário Nacional, desafio posto a todo o Município.
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