É sabido e notório que os indicadores de saúde em vacinação encontram-se abaixo do desejável, tanto quantitativamente e qualitativamente. Esse cenário deve-se a inúmeros fatores, sendo a pandemia ocasionada pelo novo coronavírus um potencializador deste evento. Sendo assim, o município de Salvador, através das suas diretorias de saúde, vem concentrado esforços na tentativa de minimizar os riscos e potencializar as ações para alcançar as metas, propostas pelo programa nacional de imunização (PNI), de coberturas vacinais. Para isso, visando garantir os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), atividades/ ações foram implantadas e implementadas e, outras ações para fortalecimento da imunização estão sendo pensadas. A integração e mobilização de todos os atores envolvidos, desde a sociedade civil a entidades cientificas, imbuídos na saúde pública, são determinantes para manutenção de um cenário favorável, em que as ações de imunização com vista às coberturas vacinais, possam garantir que doenças e agravos imunopreveníveis sejam erradicadas, eliminadas e controladas.
É factual que para a melhoria das coberturas vacinais se faz necessário mergulhar no território e identificar os problemas, sejam eles, perda da confiança da população, falhas no registro da vacinação, horário de funcionamento dos serviços de vacinação incompatível com as necessidades da população, desabastecimento e/ou fornecimento irregular dos imunobiológicos e até falta de conhecimento dos profissionais em imunização. E, proporcionalmente, para enfrentar os desafios é preciso movimentar vários pontos para resgatar a confiança, rever processos de trabalho, reestabelecer e construir parcerias, criar e adaptar estratégias pensando na sociedade atual, rever e modernizar as formas de comunicação social e sobretudo mobilizar múltiplos atores, a exemplo da população, dos representantes religiosos, da academia, das sociedades científicas, dentre outros. Diante do exposto para o enfrentamento dos problemas e desafios, de forma a obedecer aos princípios e diretrizes do SUS, são realizadas algumas ações no contexto da imunização: Questões estruturais e organizacionais: Ampliação da cobertura da atenção primária e proporcionalmente, o número de salas de vacinação no município; Estruturação da rede de frio com a aquisição de equipamentos de refrigeração científicos para o acondicionamento de imunobiológicos; A reestruturação do Centro Municipal de Atendimento e Diagnóstico e a melhoria com investimentos na área física, estrutural, equipamentos, de pessoal e operacional da rede de frio que ocorreu no contexto da pandemia da covid-19, em um momento em que o município precisou se organizar para receber em sua rede a vacina contra a doença. Essa organização foi pensada como o aumento no número do quadro de profissionais, aumento da capacidade de armazenamento para este imunobiológico, aquisição de equipamentos para a conservação de vacinas, adequação frente às medidas de proteção e prevenção desta doença; distribuição aos pontos de vacinação com logísticas reversa de fluxo de retorno ao final de cada dia para a Cemadi, até a descentralização para as unidades de saúde. Vale ressaltar que essa reestruturação veio contribuir com a logística de todos os imunobiológicos da rede. Articulação intrasetoriais e intersetoriais, como a guarda municipal, polícia militar, TRANSALVADOR (órgão regulador de trânsito da Prefeitura de Salvador); Descentralização da rede de frio distrital, ou seja, aquisição de câmaras científicas e freezer para compor a rede de frio dos Distritos Sanitários; Reestruturação do CRIE municipal e implantação/implementação do CRIE virtual: Disseminar e estruturar a rede para acesso do público específico a imunização especial. Parcerias com hospitais referências, maternidades, unidades de saúde referência para imunização de urgência (vacinação antirrábica e antitetânica); Monitoramento e supervisão dos serviços de vacinação da rede pública e privada para assegurar as boas práticas de imunização, incluindo o registro nominal do vacinado. Investimento em comunicação social: estratégias de mídias sociais para conscientização da importância da vacina (rádio, TV, internet): a imprensa como meio de veiculação rápida e segura de informações, através dos agentes oficiais da SMS, sejam através de entrevista, mídias sociais (Instagram, WhatsApp, sites oficiais). Ações integradas com agendas da atenção primária: aproveita-se o momento de atividades programáticas no calendário da saúde, assim como ações da secretaria de promoção social, com o cadastramento do bolsa família, para intensificar as ações de imunização, promovendo a oferta de imunobiológicos do calendário básico a população. Monitoramento do Sistema de Informação: essa ação impacta diretamente nos indicadores de imunização, uma vez que o não lançamento oportuno das doses implica no não alcance das metas; sendo assim, são realizadas reuniões, assessoria técnica através de visitas in loco para estimular a conscientização dos responsáveis técnicos para lançamento no sistema oficial do município (sistema Vida). Esse monitoramento é realizado através do controle do fluxo de dispensação e no estoque físico disponíveis nas salas de vacina; Agenda protegida com o Ministério Público e com a equipe da APS/DAS visando discutir e implementar as ações necessárias para o alcance das coberturas vacinais. Integração sistemática com a Diretoria da assistência para subsidiar as ações de imunização (Rotina, campanhas, populações vulneráveis, Programa Saúde na Escola (PSE), urgência e emergência, dentre outras questões). Questões operacionais Vacinação domiciliar: ação programática, realizada com o objetivo de atingir públicos com limitações variadas de acessibilidade e maiores vulnerabilidades. Dia D: campanha de incentivo a população, com objetivo de atualizar a caderneta de vacinação, preconizando o calendário de rotina para crianças e adolescentes e os reforços nos adultos e idosos. Vacinação de Populações Vulneráveis: ação de imunização voltada para os grupos prioritários, como população em situação de rua e residentes dos institutos de longa permanência (ILPI), visando assegurar o acesso do serviço para estes públicos, através da parceria com os Centros POP Dois de Julho e Djalma Dutra, bem como atualização das listagens nos Distritos sanitários, dos ILPIs da sua área de abrangência. DriveThru: Locais com estrutura física compatível para a instalação do ponto de vacinação permitindo a dinâmica de atendimento rápido triagem & vacinação & registro. Estratégia inovadora que serviu de exemplo a nível Nacional (criada em 2020 pela equipe desta SMS) permitiu a vacinação segura da população durante o auge da pandemia (em status de lockdown) evitando a cocirculação de mais um vírus respiratório na ocasião e foi perpetuada com a chegada da vacina contra a covid-19 em 2021; Parcerias para instalação de pontos fixos externos em shoppings, supermercados, igrejas para ampliar a oferta e favorecer o acesso da população aos imunizantes do Calendário Básico de Vacina (CBV) e de campanhas. Ações extramuros em escolas, hospitais e instituições de ILPI com objetivo de atingir um público alvo in loco e ser mais efetivo no processo de vacinação. Busca ativa de pessoas não vacinadas: essa atividade é desenvolvida em parceria com a Atenção Primária, que através das visitas domiciliares, atendimentos nas unidades básicas de saúde, atividades educativas (como sala de espera), atividade do PSE, que contempla como atividades verificação da situação vacinal. Além da busca ativa no sistema de informação, com o envio de mensagens de texto para os faltosos. Vacinação em maternidades: Atualmente dispomos de 05 maternidades que ofertam a vacina BCG e a hepatite B para oportunizar que ao nascer a criança seja imunizada. Além disso, favorece a vacinação das puérperas e gestantes. Imunização de urgência: implementada em 2022, com o objetivo ampliar o acesso da população a vacinação antirrábica e antitetânica nas Unidades de pronto atendimento (UPA) e PA (Pronto atendimento). Analisando as coberturas vacinais de crianças na faixa etária de 0 a 6 anos nos anos de 2015 a 2022, através de dados extraídos do SI-PNI, podemos observar que as mesmas vêm caindo ano a ano, intensificando a partir de 2020, quando se inicia a crise sanitária provocada pela pandemia da covid-19. Desde a declaração de Emergência em Saúde Pública de importância nacional e internacional decorrente do SARS-CoV-2, novo Coronavírus, as salas de vacinação passaram a ser menos frequentadas pela população em função das medidas restritivas impostas pela necessidade de reorganização das formas de abordagem e reorganização dos serviços da APS. Foram selecionadas para descrição desta análise 04 vacinas do calendário nacional de vacinação para crianças, que têm como meta preconizada pelo Ministério da Saúde, 95% de cobertura, a saber: Em 2015, observa-se que a cobertura vacinal da vacina pentavalente (< 1 ano), alcançou o indicador de 87,91%, mantendo um patamar acima de 70% até o ano de 2018; em 2019 houve uma queda, atingindo 58,45% da população alvo vacinada; em 2020, retomou a marca de 72,56%; alcançando em 2021 o pior resultado do período analisado, 37,02%; em 2022 atingiu 59,6%. Analisando o período de 2015 a 2022 a cobertura vacinal da vacina pneumocóccica (1 ano), manteve o indicador acima de 70% até o ano de 2019; em 2020, houve uma queda para 63,7%; em 2021 alcançou apenas 31,64% do público alvo e em 2022 alcançou 47,92%. Em 2015, quando observamos a cobertura vacinal da vacina da Poliomielite (VOP/VIP) (1º REF), em 2015 alcançamos 75,82%; em 2016 houve uma queda significativa para 47,46%, retomando o patamar acima de 70% nos anos subsequentes; declinando no ano de 2020, atingiu seu pior resultado em 2021, com 23,92% da população vacinada, com melhora em 2022 para 51,68%. A análise da cobertura vacinal da vacina da Tríplice Viral (1 ano), em 2015 alcançamos o indicador de 80,17%; em 2016 houve uma queda significativa para 54,18%, e nos anos subsequentes ficamos entre 65% e 71,92%; em 2021 obtivemos o pior resultado do período analisado 30,65%, com melhora em 2022 para 53,12% As demais vacinas preconizadas para a população infantil de 0 a 6 anos acompanham o mesmo desempenho, quais sejam: BCG, alcançamos em 2015, 105%; em 2020 e 2021 houve uma queda significativa para 62% e 50% respectivamente.; Rotavírus, que passou de 77% de cobertura em 2015 para 39% em 2021, com tendência de ampliação para 61% em 2022; Meningite Menigocócica Conjugada C, de 77% (em 2015) para 34%, em 2021 e 50% em 2022; Febre Amarela, de 74% em 2015 para 28% em 2021 e 46% em 2022; Hepatite A, de 91% em 2015 para 37% em 2021 e 60% em 2022; Varicela, de 81% em 2015 para 34% em 2021 e 58% em 2022; DPT, de 79% em 2015 para 35% em 2021 e 56% em 2022. Ou seja, a exceção da vacina BCG que ainda apresenta queda na cobertura vacinal no período de 2021 e 2022, a outras vacinas da primeira infância todas têm apresentado aumento de cobertura. Infere-se que o retorno da procura da população pelos serviços de imunização nas unidades da atenção primária, e o investimento da Secretaria Municipal de Saúde através de estratégias como ampliação da oferta de serviços à população, abertura de novos serviços, campanhas de atualização de caderneta de vacinação, articulação com outras secretarias tais como a Secretaria Municipal de Promoção Social, Combate à Pobreza, Esportes e Lazer (SEMPRE) e Secretaria Municipal de Educação e Cultura, intensificação das ações de supervisão dos serviços de vacinação, e capacitação de recursos humanos são os responsáveis pela melhoria nas coberturas vacinais. Quanto a imunização de gestantes, a vacina monitorada é a dTpa que é recomendada para todas as gestantes a fim de evitar a transmissão de Bordetella pertussis ao recém-nascido, permitindo a transferência de anticorpos ao feto protegendo-o nos primeiros meses de vida até que possa ser imunizado. Do mesmo modo que a vacinação de crianças, observamos a melhoria do indicador de cobertura vacinal das gestantes a partir de 2022. Juntamente com retomada dos serviços de saúde após as restrições impostas pela crise sanitária vivenciada com a pandemia da covid-19 e pelas as ações de ampliação da oferta de serviços de vacinação da SMS.
Veículo itinerante com estrutura fixa de sala de vacina e equipe de saúde, com programação preestabelecida e pactuada para realizar ações educativas e de vacinação em locais estratégicos (escolas, eventos, etc.); Aquisição de exemplares de fantasia do Zé Gotinha para subsidiar as ações educativas e de vacinação durante a rotina e campanhas de vacinação resgatando a parte lúdica da importância da vacinação. Investimento em educação permanente das equipes de vacinação. Extensão do horário e dos dias de funcionamento nas unidades de saúde e das equipes de saúde em locais seguros e estratégicos; Monitoramento sistemático dos registros e dos indicadores para alcance da meta; Criação e implementação de equipes volantes nos DS específica para ações extramuros; Mobilização da equipe de saúde para a vacinação nas unidades de internação/ hospitalização; Criação de sistema oficial de notificação ao usuário, em parceria do NTI, para atualização do cartão vacinal; Favorecer para que 100% das maternidades da rede pública, possam ofertar a vacinação para o público específico. Através de parcerias, criar/subsidiar projetos que desenvolvam o incentivo a vacina e o combate a desinformação; Incentivo e ampliação da modalidade de busca ativa vacinal, por área geográfica, nos Distritos Sanitários, executada pelos agentes comunitários de saúde (ACS). Estreitar/aprimorar as parcerias com a educação (pública e privada) visando garantir ações de cunho educativo e de vacinação favorecendo a toda a comunidade escolar (alunos, família e trabalhadores da educação).
O estudo retrata o Brasil continental e toda a sua diversidade, Salvador enquanto primeira capital do Brasil espelha muitas das realidades apresentadas que justificam o declínio nas coberturas vacinais, desde o “enfraquecimento” e recrudescimento do Sistema Único de Saúde (SUS), os movimentos antivacina, a falsa sensação de segurança da população e limitações/falhas do sistema de informação, porém neste momento, os problemas identificados devem servir de base e impulso para a ação, pois foi enfrentado tais desafios que a varíola foi erradicada, a Rubéola eliminada e a covid-19 controlada. Diante do exposto, conforme já foi citado anteriormente, para o enfrentamento de problemas ocasionados por causas múltiplas é preciso intervenções multisetoriais, através da mobilização de diversos atores para favorecer a ascensão das curvas das coberturas vacinais. Palavras chave como integração e mobilização representam esse movimento nacional e necessário para a mudança do cenário atual. O resultado deste trabalho conjunto é manter as doenças imunopreveníveis erradicadas, eliminadas e controladas e, favorecer a saúde, qualidade de vida e longevidade da população.
Salvador, BA, Brasil
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