A cobertura vacinal em solo nacional, está abaixo do recomendado desde o ano de 2015. O Brasil enfrenta quedas nos índices de vacinação e aumento no abandono do esquema vacinal contra a poliomielite, impossibilitando o alcance da meta de 95% proposta pela Organização Mundial da Saúde. Dentre os fatores potencialmente relacionados a baixa cobertura, a hesitação vacinal, a veiculação de notícias falsas e complacência em relação aos imunobiológicos têm um papel de destaque. Diante do exposto, o objetivo desta ação foi aumentar a cobertura vacinal contra poliomielite no município de Cambé-Pr. Trata-se de um relato de experiência da ação desenvolvimento pela Secretaria Municipal de Saúde – Departamentos de Vigilância Epidemiológica e Atenção Básica – e Secretaria Municipal de Educação, em 30 de setembro de 2022, em todos os Centros Municipais de Educação Infantil de Cambé-Pr. A vacinação contra poliomielite aconteceu in loco, após o recolhimento do “Termo de Autorização para Vacinação – TAC”, contendo informações sobre a doença e importância do imunobiológico. Para vacinar o menor de idade, o TAC deveria ser assinado pelos respectivos responsáveis legais. Após obtenção do termo devidamente preenchido, a professora responsável pela alfabetização da turma organizou os alunos em grupos para que os técnicos de enfermagem e enfermeiros realizassem a ação por meio da aplicação das duas gotas do imunobiológico, bem como orientação sobre a importância da vacina contra poliomielite. A vacinação ocorreu em 30 Centros Municipais de Educação Infantil do município de Cambé-Pr, e envolveu a atuação de 22 técnicos de enfermagem e 10 enfermeiros, lotados nas Unidades Básicas de Saúde e Vigilância Epidemiológica. Das 3.114 doses aplicadas em crianças de 1 a 4 anos e cadastradas no Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações durante a Campanha de Vacinação contra Poliomielite de 2022, 401 foram realizadas no dia da ação, aumentando a cobertura vacinal em 13%. Demonstrando reforço positivo, após a aplicação da vacina de cada criança, a professora e os demais alunos cantavam parabenizando o vacinado. Ademais, aproximadamente 1.200 crianças receberam orientações de forma lúdica sobre a poliomielite, destacando os problemas causados pela doença, e principalmente, a importância da prevenção com a vacina. Como uma semente cultivada, a educação em saúde, específica sobre a doença e respectiva prevenção, instigou as crianças a levarem o conteúdo aprendido dentro da sala de aula para os responsáveis, destacando a importância destes no processo de vacinação e redução do risco de reintrodução do vírus no município. Em conclusão, a ação realizada nos Centros Municipais de Educação Infantil oportunizou o acesso a vacina contra poliomielite, atualizou a situação vacinal, aumentou a cobertura e homogeneidade, contribuiu com a redução do risco de reintrodução do poliovírus selvagem no município, e fortaleceu a “sementinha” da importância da vacinação.

O município tem enfrentando uma importante redução da cobertura vacinal decorrente em partes da percepção enganosa dos responsáveis de que não é mais preciso vacinar porque as doenças foram erradicadas, bem como desconhecimento de quais são os imunizantes que integram o Calendário Nacional de Vacinação; medo de que as vacinas causem reações prejudiciais ao organismo; receio de que o número elevado de imunizantes sobrecarregue o sistema imunológico; e a sobrecarga de trabalho e atividades domésticas enfrentadas pelos responsáveis decorrentes do estilo de vida contemporâneo.

Além da manutenção das estratégias de vacinação, é necessário ampliar a divulgação no site e redes sociais sobre a importância da vacinação; aumentar as ações educativas nas Escolas e Centros Municipais de Educação Infantil; aprimorar a busca ativa de casos faltosos e avaliação da carteirinha de vacinação durante a visita domiciliar; propor ações em comunidades universitárias e religiosas; bem como vacinação em mercados, estádios (antes de jogos), praças públicas e durante atividades municipais.

A incompletude do esquema vacinal é um problema de saúde pública, contribuindo com o risco da reintrodução do poliovírus selvagem no município, a manifestação de doenças imunopreveníveis, e consequente epidemias desconhecidas pela população jovem. Mesmo diante da importância da erradicação e controle das doenças preveníveis, frequentemente os serviços de saúde e profissionais se deparam com as críticas e questionamentos sobre a efetividade da vacinação. Entretanto, os presentes resultados apontam que sensibilizar os responsáveis sobre a importância de prevenir a doença, e as ações in loco, facilitando as rotinas diárias, colaboram significativamente para o aumento da cobertura vacinal, e consequente redução do risco de reintrodução do poliovírus. Os profissionais da saúde e educação, constantemente devem envolver os familiares no processo de vacinação, considerando os determinantes sociodemográficos do meio em que o indivíduo está inserido. Ademais, estes devem propor estratégias inclusivas, para que os responsáveis façam parte do processo decisivo, fortalecer as ações como objeto colaborativo.

Principal

Mayara Santos

Coautores

Angelita Alves Pereira Rodrigues, Marisa Aparecida Semcovici, Ana Carolina Stutz, Rodrigo Januario Augusto, Anderson Marquini Maronezzi, Núbia Mara Mattos, Adriane Bertan Lombardi

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