Envelhecer é um processo natural inerente a todo ser humano, que se inicia desde o nascimento e transpassa por toda a vida da pessoa, de forma mais intensa na terceira idade, produzindo não só alterações fisiológicas, mas também psicológicas, culturais, espirituais e sociais; dessa forma, entende-se como um fenômeno subjetivo que apresenta inúmeras maneiras de resposta diante do mesmo (DUARTE et al., 2019)
É sabido que, de acordo com os dados de Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a esperança de vida mudou de 62,6 anos em 2000 para 73,5 anos em 2010; isso revela a necessidade de mudança da sociedade brasileira que ainda apresenta um perfil hospitalar, demandando uma assistência especializada e por vezes de alto custo, para um modelo de serviços de saúde diversificado, com prevenção e promoção da saúde, sendo de utilidade a intensificação do conhecimento sobre os vários aspectos do processo de envelhecimento (PIUVEZAM e NUNES, 2016).
Apesar do impacto positivo que vem a ser justificado pela melhoria de qualidade de saúde como desenvolvimento de serviços de saneamento básico, água encanada, esgoto, crescimento nos índices de escolaridade, de renda, e avanços tecnológicos na área da saúde entre outros fatores; não é possível desconsiderar a necessidade do reajuste e/ ou implantação de novas políticas públicas de saúde, diante desse novo quadro visando o cuidado da população idosa brasileira (BRASIL, 2014).
Diante do exposto, a Atenção Primária à Saúde (APS) desempenha um papel primordial nesse contexto pois atua na prevenção de agravantes, e desenvolve ações de promoção da saúde,
identificando as necessidades de saúde dos usuários, estratificando os riscos associados e possibilitando uma assistência integral, através de outros pontos de atenção da rede. Sendo assim, ela é a coordenadora do cuidado, pois como porta de entrada preferencial do usuário ao Serviço Único de Saúde (SUS) assume um papel de organização da assistência e integralidade dos serviços de saúde, vindo a ser o primeiro acesso do usuário ao SUS (SOUZA; et, 2023; BRASIL, 2017).
Nesse sentido, a aplicação de instrumentos como a Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa (CSPI), na assistência, reflete em uma abordagem holística de todos os usuários a partir de 60 anos, para detecção e acompanhamento das condições de saúde (SOUZA; et al, 2023). Por conseguinte, é na Atenção Básica, por meio da Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa, que se pode ter o perfil de saúde dessa população, importante para prevenção de agravos e complicações.
A Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa estabelece os perfis de condições de saúde dessa população, o que facilita um planejamento adequado com intervenções necessárias que qualificam tais condições de saúde e de vida, abrangendo vários aspectos como alimentação, hábitos de vida, habitação, medicamentos, cirurgias, quedas, assim como saúde bucal e o acompanhamento de consultas, o que favorece ao Ministério da Saúde o diagnóstico da situação de saúde dos mesmos (RAMOS, L. V. et al 2019).
Logo, o objetivo deste trabalho é relatar enquanto enfermeira, a experiência da implementação da Caderneta de Saúde do Idoso em um serviço de saúde da APS no município de Aroeiras-PB.
Antes da implementação da CSPI no serviço de saúde, foi realizado uma capacitação na Secretaria Municipal de Saúde para todas as enfermeiras da Atenção Básica do município de Aroeiras com a Apoiadora Institucional do Estado sobre a Avaliação Multidimensional da Pessoa Idosa, onde foram abordados vários aspectos relevantes como o crescimento demográfico da terceira idade; o conceito de saúde para o indivíduo idoso, com ênfase no cuidado da Autonomia e Independência; o preenchimento correto da CSPI como instrumento para identificação do idoso vulnerável, assim como a importância do perímetro da panturrilha para avaliação do(a) idoso (a) e a estratificação de risco funcional, dentre outros fatores abordados necessários para implementação desta na assistência.
Com o Evento promovido para os usuários homens na UBSF, o ‘Novembro Azul’, mês de conscientização sobre o Câncer de Próstata, aproveitou-se esse momento de procura dos homens à Unidade para oferta de serviços e solicitação para o exame de PSA – Antígeno Prostático Benigno, para informá-los sobre a CSPI, com vistas a orientá-los sobre o novo instrumento de avaliação da pessoa idosa, iniciando o preenchimento das Cadernetas desses homens idosos que já se encontravam na unidade, efetuando as Avaliações Multidimensionais.
Intensificou-se as ações de busca-ativa dos idosos(as) das microáreas adscritas através dos ACS com o objetivo de fazer um levantamento do público senil vinculados à UBSF. Identificou-se os idosos acamados para que fossem realizadas as avaliações através das visitas domiciliares, sob agendamento nos dias de visita domiciliar de acordo com o cronograma da unidade, por microárea de Agente de Saúde.
Em relação aos idosos que vinham à UBSF para consultas, como demanda espontânea e sem agendamento prévio, à avaliação e o preenchimento da caderneta eram realizados no momento das consultas, a depender do fluxo de atendimentos. Com a grande maioria, as consultas eram agendadas. Todas as consultas eram repassadas para uma planilha a fim de se obter o controle da relação dos que haviam sido avaliados e dar sequência ao acompanhamento dos idosos.
O processo das consultas se iniciava na triagem com o acolhimento, escuta qualificada e classificação de risco. A técnica de enfermagem realizava as medidas antropométricas como peso, altura, Índice de Massa Corporal (IMC), medida da circunferência abdominal e medida do perímetro da panturrilha e os sinais vitais acrescido da saturação e glicemia capilar, coletava informações importantes, iniciando o preenchimento da Caderneta. Logo em seguida, o usuário era encaminhado para a consulta de enfermagem para que a enfermeira desse sequência no registro de informações na Caderneta, e avaliasse integrando os múltiplos dimensionamentos inerentes a saúde da pessoa idosa.
Na consulta de enfermagem, a avaliação constava em abordar os hábitos de vida, como por exemplo, se é ou já foi etilista e/ou tabagista; as condições de alimentação e de hidratação; o ambiente de moradia se oferece riscos de quedas; a demência ou esquecimento ou tristeza se presentes nos últimos 3 meses, as quedas que vem a ser um ‘Gigante Geriátrico’ à saúde do idoso, perda de peso não intencionais, as dores crônicas conforme intensidade e localização, as deficiências e as incontinências (se presentes), a marcha, o nível de autonomia e independência com base nas atividades cotidianas, assim como as atividades de lazer como ir à igreja, conversar na frente de casa com os vizinhos ou fazer parte de algum serviço de convivência ofertado pelo município.
Todas essas informações favorecem conhecer um pouco mais sobre os aspectos biopsicossociais, culturais, econômicos e espirituais dos idosos vinculados à área adscrita à Unidade, trazendo riqueza de informações para traçar perfis diagnósticos das situações de saúde nas mais diversas condições que abrangem e, detecção em tempo oportuno de alguma fragilidade e/ ou sinais de alerta, colaborando para um Envelhecimento Saudável.
Acrescido a essas informações, na consulta de enfermagem, avaliou-se IMC para classificação do estado nutricional; perímetro da panturrilha que serve como parâmetro para massa muscular na pessoa idosa e prevenção de dependência funcional, os sinais vitais e demais parâmetros, vacinação, comorbidades e doenças prévias, medicações em uso e condições de polifarmácia, cirurgias realizadas, alergias, solicitação de exames e a identificação do idoso vulnerável, mediante o protocolo disponível na caderneta, obtendo-se uma pontuação final dos subitens analisados. Ao fim, registrava-se também a consulta no Prontuário Eletrônico do Cidadão (PEC) e fazia o agendamento para a próxima consulta.
Uma boa comunicação sem dúvida foi imprescindível, em alguns casos, optou-se por realizar as avaliações com a presença de familiar responsável, em virtude de alguma deficiência auditiva ou outros fatores que interferiam no momento da consulta, para que se tivesse um diálogo claro e coerente. Após término da avaliação com a enfermeira, o usuário era encaminhado para outros profissionais como dentista e ou equipe E-multi, dependendo deste último se em dia escalado na unidade, de acordo com o cronograma fornecido.
Nesse ínterim, fortaleceu as ações de educação em saúde como as salas de espera com enfoque especial para apresentação da caderneta e saúde do idoso com o propósito de conscientizar a população, de maneira geral. Sensibilizar a comunidade, sem dúvida, é uma das melhores formas para prevenção e a APS é o caminho, como porta de entrada, acolhendo o usuário para promoção de saúde e prevenção de agravos através dos serviços ofertados.
Evidenciou-se alguns obstáculos no processo de implementação da caderneta, como o fato da primeira consulta exigir um pouco mais de tempo para avaliação, registro e coleta de dados, tornando-se uma consulta extensa, já que também esse momento propiciava diálogo e interação pois levava o usuário a relembrar de fatos e de seu cotidiano; isso gerava um fortalecimento de vínculo entre profissional e cidadão. Por isso, geralmente, o usuário era agendado para os demais profissionais, como médico ou dentista.
Outrossim, dúvidas surgiram com relação ao protocolo de identificação do idoso vulnerável, que foram sanadas entre os próprios colegas de trabalho. Apesar da capacitação fornecida a todos os profissionais da Atenção Básica, evidenciou-se a necessidade de constante atualização, a fim de qualificar ainda mais o serviço; além disso, ter uma boa comunicação com o paciente exigiu métodos e prática diária que facilitaram a obtenção de um maior vínculo durante as consultas.
Contudo, a mensagem passada no momento da consulta de que o usuário venha ao serviço de saúde portando a CSPI, de também escutar seus relatos e sua percepção de saúde em comparação aos demais de mesma faixa etária e de repassar orientações pertinentes como a importância da saúde bucal possibilitou vários vieses de cuidado dentro da Estratégia de Saúde da Família na prevenção e promoção do cuidar e o planejamento de ações mais prioritárias a cada indivíduo.
SECRETARIA MUNICIPAL DE SAUDE DE AROEIRAS
CADASTRO
ATUALIZAÇÃO