A Comunicação em Saúde e Educação Permanente como Ferramentas para o Combate À Hesitação Vacinal

A vacinação em massa no mundo inteiro é uma contribuição fundamental da pesquisa científica no cotidiano das pessoas. No Brasil, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) foi determinante para o controle das doenças imunopreveníveis e melhorias importantes na situação de saúde do país. Atualmente, os desafios estão na gestão do Programa de Imunização e na sua transversalidade pela vigilância em saúde, atenção básica, educação básica e programas de assistência social; além de infraestrutura organizacional e na informação/desinformação em saúde. Desafios estes identificados na Pesquisa ImunizaSUS e que fundamentam a tomada de decisões em todos os níveis da rede de imunização no país. Mediante a identificação e priorização dos problemas, este trabalho tem como objetivo geral: melhorar a cobertura vacinal no município. Os objetivos específicos estão desenvolvidos como eixos estratégicos: promover a comunicação em saúde sobre imunização e combate a hesitação vacinal; aperfeiçoar os processos de trabalho das unidades básicas de saúde relacionados à vacinação; fomentar a educação permanente de todos os trabalhadores das unidades básicas de saúde sobre imunização; formular plano de imunização municipal e por UBS. Diante destas estratégias propostas e da robustez dos dados da Pesquisa ImunizaSUS, considera-se a necessidade de avançar em políticas públicas nos três níveis de atenção à saúde e recursos financeiros para manutenção das salas de vacina, bonificação dos profissionais, valorização técnica, capacitação dos profissionais. Por fim, a relevância deste trabalho está no fortalecimento dos indicadores de saúde, sociais e econômicos refletidos pela cobertura vacinal adequada.

O declínio da cobertura vacinal está associado a diversas hipóteses que vão desde o enfraquecimento do Sistema Único de Saúde (SUS) (DONIEC; DALL’ALBA; KING, 2018; RASELLA et al., 2018), à aspectos sociais (BARBIERI; COUTO, 2015; SUCCI, 2018) e culturais e ao movimento antivacina (APS et al., 2018). Nas questões relacionadas à gestão do SUS, elencadas como fatores para a redução de coberturas vacinais, aparecem o desabastecimento de vacinas, organização dos processos de trabalho das unidades básicas de saúde – como horário de funcionamento das salas de vacina, número insuficiente de profissionais de saúde para atender à demanda e sua deficiente capacitação. A garantia do armazenamento dos imunobiológicos em temperaturas adequadas, a logística de distribuição das vacinas em tempo hábil também são problemáticas importantes relacionadas à gestão do sistema, pois envolve investimento financeiro. Outro problema importante é o fenômeno da hesitação vacinal, que se refere à demora em aceitar ou recusar vacinas apesar da disponibilidade delas nos serviços de saúde e dependendo do contexto, varia ao longo do tempo, local e tipo de vacina (SAGE GROUP, 2014). À medida em que há uma falsa segurança em relação à necessidade da vacinação em razão do controle de doenças, ao desconhecimento dos esquemas vacinais preconizados nos calendários, ao acesso em razão do horário de funcionamento das salas de vacina, ao desabastecimento de insumos, ao número de profissionais de saúde para atender à demanda e sua deficiente capacitação, à manutenção insuficiente do sistema de informação do PNI (SI-PNI) (BRASIL, 2018). Os problemas e desafios das ações de imunização elencados pela Pesquisa ImunizaSUS, associados aos resultados quanto aos indicadores de vacinação, sinalizam a necessidade de intervenções estratégicas. A exemplo, a pesquisa retrata os maiores abandonos da vacinação de Rotavírus, Pneumocócica, Poliomielite e Tríplice Viral no Brasil, ao longo do período de 2010 a 2021, os quais ocorreram nas regiões Norte e Nordeste, e o estado de Alagoas está entre os estados com destaque. Como município inserido nesta realidade brasileira e nordestina, buscou-se identificar e apontar os problemas e ações mais relevantes para o aumento da cobertura vacinal local a partir dos resultados da Pesquisa ImunizaSUS. Como objetivo geral: Melhorar a cobertura vacinal no município. E objetivos específicos: Promover a comunicação em saúde sobre imunização. Combater a hesitação vacinal. Aperfeiçoar os processos de trabalho das unidades básicas de saúde relacionados à vacinação. Fomentar a educação permanente de todos os trabalhadores das unidades básicas de saúde sobre imunização. Formulação de plano de imunização municipal e por UBS.

A vacinação é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma das intervenções mais importantes do ponto de vista econômico, de saúde e comunitário. Os benefícios de uma população imunizada são coletivos, quando alcançadas as metas preconizadas, os surtos são menos prováveis (OMS, 2014). A pesquisa ImunizaSUS traz algumas possibilidades de atuação em políticas públicas como opções para enfrentar o problema multifatorial que afeta as coberturas vacinais. Abaixo apontamos as estratégias pensadas refletindo os resultados e recomendações da pesquisa, considerando a viabilidade de execução: 5.1. Promover a comunicação em saúde sobre imunização e combate a hesitação vacinal A comunicação em saúde fortalece os espaços de combate à desinformação por meio de ações de educação em saúde, como palestras, rodas de conversa nos momentos de sala de espera nas Unidades de Saúde, tomando os grupos diversos, tendo em vista o calendário vacinal das diferentes faixas etárias. Em especial, quando se trata das crianças, a captação de seus pais/responsáveis nestas ações é primordial. O esclarecimento sobre a diversidade dos imunizantes, seus benefícios, os avanços alcançados por meio das vacinas e as rotinas de funcionamento das salas de vacinas são informações essenciais para difusão entre a população. As rodas de conversa são um instrumento de discussão importante, por permitirem as falas dos usuários, o momento torna-se rico e oportuno para o esclarecimento de dúvidas, enfrentamento a desinformação e hesitação vacinal. A hesitação vacinal é influenciada por fatores complexos. O modelo proposto pela OMS em 2011, conhecido como modelo “3 Cs”, considera: ● A confiança (relacionada à eficácia e segurança das vacinas, ao sistema de saúde que as fornece e às motivações dos gestores para recomendá-las); ● A complacência (baixa percepção de risco de contrair a doença de forma que a vacinação não seria considerada necessária); ● A conveniência (disponibilidade física, disposição para pagar, acessibilidade geográfica, capacidade de compreensão e acesso à informação em saúde). A confiança estabelecida entre os usuários e os profissionais de saúde é fundamental para a identificação de pessoas em situação de hesitação e a apresentação de argumentos em contrário. A população precisa ser bem informada quanto aos benefícios da vacinação e os profissionais da saúde devem assumir o papel de divulgar informações verídicas e com respaldo científico sobre o tema (APS et al., 2018). Isso envolve capacitação técnica para que esses profissionais saibam dos argumentos antivacina em circulação, bem como os contra-argumentos pró-vacina a serem apresentados. Outras ações nesta estratégia: a sensibilização da vacinação no Programa Saúde na Escola entre os adolescentes, entrevistas na rádio comunitária sobre vacinação, oportunizar a vacinação dos indivíduos em suas idas às unidades, mesmo para fins diversos e utilização das mídias sociais. Neste processo de educação em saúde, os profissionais de saúde têm um papel fundamental de incentivar a adesão da população à imunização, bem como de esclarecer possíveis dúvidas durante as consultas. Barbieri e Couto (2005), pontuam que as famílias de alta renda e alta escolaridade hesitam em vacinar seus filhos por valores ou concepções como a noção de que a doença é leve ou erradicada, medo de reações vacinais, crença que as vacinas não são seguras e que boas condições socioeconômicas e estilo de vida são fatores protetores contra as doenças imunopreveníveis. Estes apontamentos justificam ainda mais a necessidade da comunicação em saúde no processo de trabalho das equipes de saúde da família. 5.2. Promover acessibilidade às salas de vacina e aperfeiçoar os processos de trabalho. O funcionamento das salas de vacina devem estar sempre à disposição dos usuários, principalmente os mais vulneráveis e as minorias, permanecendo abertas durante todo o horário de funcionamento das UBS, garantindo o acesso universal à vacinação. A articulação entre as Coordenações Municipais de Atenção Primária e de Vigilância/Imunização devem garantir o fornecimento regular de imunobiológicos, organização do fluxo de distribuição para prevenir faltas de vacinas nas unidades e organização dos processos de trabalho das equipes. Além da integração dos Planos de Saúde, visando o alcance das ações e evitando a duplicidade de meios para o mesmo fim. A garantia do armazenamento dos imunobiológicos em temperaturas adequadas para garantir sua qualidade, e com dispositivos de proteção contra quedas de energia elétrica são fatores fundamentais para se evitar a perda de vacinas e exigem a manutenção de uma rede de frio adequada. Diante disso, o município de Olho d’Água das Flores já previu em seu Plano Pluri-anual 2022-2025 a estruturação das salas de vacinas como uma meta. 5.3. Fomentar a educação permanente de todos os trabalhadores das unidades básicas de saúde sobre imunização. A eficiência do trabalho de imunização perpassa por constantes movimentos de Educação Permanente em Saúde (EPS) (MARTINS et al.; 2018). A complexidade do trabalho em sala de vacina, as recorrentes atualizações no calendário básico de vacinação, o despreparo dos trabalhadores das unidades básicas de saúde – desde recepção ao executor do procedimento – quanto ao serviço de imunização e, atualmente, a diversidade de informações/desinformações sobre vacinas contribuem para a hesitação vacinal. Desse modo, a realização de educação permanente alinhadas à supervisão em locus, é estratégia fundamental para mudança do cenário de queda das coberturas vacinais. A EPS – seja através de capacitações, oficinas, visitas técnicas – devem levar em consideração a realidade de cada UBS e sala de vacina, utilizando-se de problematizações e situações específicas de cada rotina profissional aliada a dos seus usuários. É importante levá-los não apenas para o universo da teoria, como também, à práxis. Sendo assim, a Educação Permanente em Saúde atingirá a pluralidade das visões e experiências profissionais corroborando a sua eficácia enquanto estratégia. Nesta estratégia, focamos como um princípio inovador a mobilização de todos os trabalhadores de saúde das UBS, entendendo que a humanização, acolhimento e organização do processo de trabalho pela equipe repercute na assistência e captação do usuário. 5.4. Formulação de plano de imunização municipal e por UBS O Plano de Imunização do município deve estar bem integrado aos planos das demais áreas técnicas – atenção básica, programa saúde na escola e vigilância em saúde, devendo ser oportuno para evitar a duplicidade de meios e promover a integração das ações. Para além do nível de gestão, o Plano de Imunização por UBS tem um caráter inovador, propõe a capilaridade de intervenções e será uma sequência ao movimento de educação permanente com os trabalhadores das unidades de saúde. Pode-se pensar no fluxo para a construção do Plano de Imunização por UBS, em que as equipes devem ser envolvidas em seus indicadores de cobertura vacinal, as deficiências e potencialidades existentes. Isto em modelo de oficinas com todos os trabalhadores, havendo a capacitação sobre imunização e a reflexão sobre o processo de trabalho, para que as equipes reconheçam seus desafios para melhoria da cobertura vacinal e possam propor intervenções.

O sucesso do PNI no controle e erradicação de doenças imunopreveníveis na população é extremamente relevante, entretanto, têm se tornado um desafio a manutenção das coberturas vacinais adequadas. Neste sentido, a Pesquisa ImunizaSUS destaca importante contribuição apontando a hesitação vacinal, à medida que as pessoas não convivem mais com as mortes e incapacidades causadas pelas doenças imunopreveníveis, passam a não mais perceber o risco que estas doenças representam; a circulação de notícias falsas sobre os imunobiológicos; os movimentos antivacina, com a divulgação das informações sem base científica. Ainda, fatores operacionais, como horários restritos de funcionamento das unidades de saúde e o sub-registro das doses aplicadas no Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI), que dificultam, respectivamente, o acesso aos imunobiológicos e o monitoramento das metas de vacinação. Com esta identificação na pesquisa científica a pesquisa propicia a sinalização e tomada de atitude por parte dos gestores nas três esferas de governo. No entanto, algumas medidas precisam de políticas públicas a nível nacional para vigorarem, como recursos financeiros para manutenção das salas de vacina, bonificação dos profissionais, valorização técnica, capacitação dos profissionais – isto desde sua formação. E, para haver êxito nestas estratégias precisa-se de incentivo financeiro para que os estados e municípios possam fortalecer cada vez mais a imunização no país. Por fim, a relevância deste trabalho está no fortalecimento dos indicadores de saúde, sociais e econômicos refletidos pela cobertura vacinal adequada, bem como, uma população bem assistida de forma equânime e integral.

Principal

Giovanna Silva Vanderlei

Coautores

Evlin Cristina Rodrigues Agra Lessa , TABATA PEREIRA DE ALMEIDA , Camilla Avila Ramos Ferreira Melro

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23 dez 2023

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