- Atenção Primária à Saúde
Mateus Emanuel da Silva Santos
- 22 maio 2024
O plantão psicológico na escola foi uma proposta de tornar o espaço escolar como potência de ser e de viver. A ideia consistiu que os estudantes, no acolhimento e atendimento de sua dor, “se ouvissem” e, pela via da linguagem, pudesse ascender um outro destino ao sofrimento, para além do corpo ou experiência impulsiva. Para que o Plantão pudesse acontecer, em um primeiro momento, houve a divulgação na escola com cartazes; depois, houve a realização do plantão, em dia e turno matutino, com escuta de fala livre por demanda espontânea; terceiro momento, a avaliação do plantão pelos participantes; quarto, devolutiva à gestão escolar; quinto, desdobramentos (oficina de corpos e assembleia dos estudantes). Na seleção dos graduandos voluntários, foram feitas 3 perguntas para alinhamento das ideias: o que eles pensavam sobre o plantão, o que eles compreendiam sobre a autolesão e se achavam possível realizar a proposta dentro da escola.
Após a gestão de uma escola pública estadual procurar o Caps do município pedindo ajuda com os adolescentes que “se cortavam” (autolesão), realizamos, com a parceria de graduandos voluntários de Psicologia (10º período), o plantão psicológico aos jovens dentro da escola.
O público alvo precisou ser ampliado durante o plantão pela alta procura: identificamos que, além dos jovens que se cortavam, havia os jovens que pensavam nesse recurso para “aliviar” seu sofrimento, e a busca de professores, merendeiras, serviços gerais. Observamos a conjuntura trabalhista como produtora de adoecimentos, como a não garantia de alguns direitos, sobrecarga ou os trabalhos tercerizados nas relações institucionais com os trabalhadores da educação. Sobre os jovens, foi observado intersecções/camadas de vulnerabilidade socioeconômica e familiar como pais alcoolistas, violências psicológicas interpessoal, renda familiar abaixo de um salário mínimo. O espaço de associação livre possibilitou aos estudantes participantes que questionassem o lugar da escola e o que ela oferta. O significante “alívio” foi trazido com frequência na fala do estudantes com ou sem experiência de autolesão, algo que volta para o próprio sujeito, mas ainda de forma intensa e ativa, suscitando sensações de angústia e aniquilamento.
Recomendo que, os profissionais que implementarem essa prática, tenham acordos explícitos com os gestores escolares: não pudemos praticar a Assembleia dos Estudantes pela inviabilidade da gestão (que achou um absurdo a proposta). Vale muitíssimo a pena se articular com a Universidade/Faculdade de sua cidade e conhecer a disponibilidade de estudantes para participar dessa prática, enriquece muito o trabalho do serviço e, ao mesmo tempo, forma estudantes para uma realidade territorial de um país com tantas iniquidades pela perspectiva humanizada de clínica ampliada (e não uma formação para o mercado de trabalho).
Paranatama, PE, Brasil
CADASTRO
ATUALIZAÇÃO