O EC21 é uma nova tecnologia social (TS) para a saúde e a educação científica, que objetiva traduzir as descobertas sobre DC em práticas de educação, informação e promoção da saúde. Essa TS foi desenvolvida pelo IOC-Fiocruz, envolvendo as pessoas afetadas pela DC vinculadas à Associação Rio Chagas: pacientes, familiares, profissionais de saúde e amigos, que ajudam e apoiam a sua implementação em diferentes locais. O EC21 é uma TS cujo sucesso se deve à perspectiva dialógica, freireana e, por isso, é essencialmente presencial, depende da interação de educadores com pessoas em situação de vulnerabilidade para a DC aguda ou crônica. Mas o EC21 seria uma tecnologia inviável se dependesse só de equipes da Fiocruz. Assim, a melhor maneira de interiorizar o EC21 é com a formação de equipes locais de profissionais de saúde, educação e cultura, vinculadas às estruturas da Atenção Básica e da Educação: os/as “Agentes Populares de Saúde para o Expresso Chagas XXI”, que serão importantes nas cidades em que o índice de vulnerabilidade para DCC (ivDCC) é alto. Em 2020 a DCC foi definida como de notificação compulsória no Brasil e em 2022 o Ministério da Saúde (MS) estabeleceu um ivDCC para cada município, variando entre 0 e 1: quanto mais próximo de 1, maior a vulnerabilidade para DCC. 3.423 municípios apresentam ivDCC maior 1, gerando um desafio para o uso do EC21 em larga escala. Os maiores ivDCC do Brasil estão em Goiás (0,739) e Minas Gerais (0,523), onde já testamos o EC21. Essa TS é relevante para o enfrentamento da DCC: faz educação em saúde, busca ativa, teste rápido, alerta para confirmação diagnóstica, e apoia a notificação da DCC e o tratamento do portador de DCC no SUS.
Três critérios principais são adotados para a implementação: (a) o índice de vulnerabilidade para DCC (ivDCC) do município, indicador que apresenta a territorialização da DCC no país, e (b) Agentes Populares de
Saúde EC21 locais, competentes para a realização da expedição; (c)engajamento da Secretaria de Saúde Local.
A doença de Chagas crônica (DCC) afeta 6 milhões de pessoas em todo o mundo e está relacionada às condições de pobreza, e influenciada por desequilíbrios ambientais, climáticos, econômicos e sociais que levem à exposição de pessoas aos insetos vetores transmissores do Trypanosoma cruzi, causador da doença. O Brasil tem o maior número de portadores da DCC. Nossa equipe desenvolveu uma tecnologia social para a vigilância e controle da DCC, o Expresso Chagas XXI (EC21), que objetiva traduzir as descobertas sobre DCC em práticas de educação, informação e promoção da saúde. O EC21 é um ambiente itinerante de educação não formal que pode ser instalado durante 1 a 3 dias em equipamentos públicos como ginásios de esporte, escolas, universidades ou outros, em cidades pequenas ou grandes. O EC21 tem uma versão adaptada para o ambiente virtual (http://chagas.fiocruz.br/) e realizou dois cursos de formação em ambiente virtual (https://campusvirtual.fiocruz.br/gestordecursos/hotsite/cvf-node-30225-submission-6097).
Um dos primeiros resultados da implementação e validação da tecnologia social está publicado: ARAUJO-JORGE, Tania C. et al. “Chagas Express XXI”: A new ArtScience social technology for health and science education—A case study in Brazilian endemic areas of Chagas disease with an active search of chronic cases. PLoS Neglected Tropical Diseases, v. 15, n. 7, p. e0009534, 2021.
Em julho de 2019 o EC21 foi exposto em escolas em quatro cidades endêmicas de DC (Grão Mogol, Espinosa, Montes Claros e Lassance – norte do estado de Minas Gerais), envolvendo 2.117 pessoas que avaliaram as diversas atividades. Cidadãos e profissionais de saúde descobriram informações relacionada ao sangue, tratamento, parasita, vetores e reservatórios da DC. Os resultados dessa expedição mostraram que 95% dos participantes adoraram ou gostaram muito das atividades educativas; 81% dos participantes não sabiam sobre a possibilidade de tratar a DC e; 52% solicitaram exame de sangue para DC, que evidenciou 20% de soropositividade. Além desse alerta para as autoridades sanitárias locais, os legados dessa expedição foram: 600 participantes para grupos de promoção da saúde e associações de DC, empoderamento dos moradores locais para lutar por melhores condições de saúde e 05 pinturas murais artísticas em escolas e cidades.
O sucesso obtido por esta tecnologia se deve à perspectiva dialógica, seguindo a pedagogia de Paulo Freire. Assim, o EC21 se confirmou como uma tecnologia social educativa, que emergiu de uma integração entre atividades de
educação, investigação, e extensão disseminando informação sobre a DC através da translação para a sociedade dos conhecimentos gerados na academia.
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