A saúde mental tem se tornado uma prioridade dentro do Sistema Único de Saúde (SUS), especialmente na Atenção Primária à Saúde (APS), que deve atuar na promoção, prevenção e manejo adequado dos transtornos mentais. No município de Santa Cruz/PB, localizado no sertão paraibano, a necessidade de qualificação da assistência em saúde mental motivou a implantação do matriciamento como estratégia para ampliar a resolutividade da APS e fortalecer o cuidado em rede.
A experiência relatada teve início em janeiro de 2023 e segue em desenvolvimento, envolvendo três Equipes de Saúde da Família (ESF), profissionais da atenção básica como enfermeiros, médicos, psicólogos, assistentes sociais, técnicos de enfermagem e agentes comunitários de saúde, além da equipe multiprofissional do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS I) da região. O público-alvo da iniciativa são os usuários com transtornos mentais identificados nas UBSs, com enfoque especial naqueles em situação de vulnerabilidade.
Diante da alta prevalência de transtornos mentais na população e da dificuldade de acesso aos serviços especializados, a implementação do matriciamento se justifica como uma estratégia essencial para qualificar a assistência, reduzir encaminhamentos desnecessários e garantir um cuidado integral e contínuo. Além disso, estudos apontam que a integração entre APS e saúde mental promove um atendimento mais humanizado e eficaz, fortalecendo o princípio da integralidade do SUS (BRASIL, 2017).
OBJETIVO GERAL
Ampliar a resolutividade da Atenção Primária à Saúde no atendimento às pessoas com transtorno mental.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
• Mapear, através de busca ativa, os usuários com diagnóstico de transtorno mental;
• Capacitar e oferecer suporte técnico-pedagógico às equipes da atenção básica;
• Implantar a estratificação de risco em saúde mental na APS;
• Reduzir os encaminhamentos para os serviços de média e alta complexidade, aumentando assim a resolutividade da APS.
Trata-se de um relato de experiência que visa compartilhar a trajetória da implementação do matriciamento em saúde mental na atenção primária do município de Santa Cruz/PB. Os participantes dessa intervenção incluíram a coordenação de atenção básica, médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, psicólogos, nutricionista, assistente social, agentes comunitários de saúde (ACS) e diretores das ESF. O desenvolvimento da intervenção se constituiu de encontros semanais entre as equipes da atenção básica e coordenação da APS, respeitando as particularidades de cada equipe da estratégia de Saúde da Família (ESF). Este processo teve como objetivo promover uma abordagem colaborativa e interdisciplinar no cuidado à saúde mental na atenção primária, fortalecendo a resolutividade e a integralidade do atendimento prestado.
Diante da proposta, foi elaborado um plano de ações propostas para realização da intervenção nas 03 ESF’s do município com suporte técnico pedagógico da eMulti e da coordenação de atenção básica. A ações realizadas durante o projeto foram: Apresentação do projeto aos profissionais das ESF’s; atualização dos sistemas dos usuários com transtornos mentais e uso de medicamentos psicotrópicos; identificação da prevalência de transtornos mentais na população e adesão ao tratamento, capacitação dos profissionais e implantação da estratificação de risco em saúde mental.
A saúde mental tem sido um dos maiores desafios dentro da Atenção Primária à Saúde (APS), especialmente em municípios de pequeno porte, onde o acesso a serviços especializados é limitado. Em Santa Cruz/PB, a carência de estratégias estruturadas para o cuidado em saúde mental nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) resultava em dificuldades na identificação precoce, no manejo clínico adequado e na continuidade do acompanhamento dos usuários com transtornos mentais.
Os profissionais da APS frequentemente enfrentavam insegurança no atendimento a esses pacientes, o que levava a um alto número de encaminhamentos para o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS I), muitas vezes sem necessidade de assistência especializada. Isso gerava sobrecarga no serviço de saúde mental e, ao mesmo tempo, deixava a APS pouco resolutiva, dificultando um cuidado mais próximo e acessível à população.
Além disso, a ausência de um sistema de monitoramento estruturado e de fluxos bem definidos para o atendimento em saúde mental na APS comprometia a adesão ao tratamento e a continuidade do cuidado. Muitos usuários ficavam sem acompanhamento adequado, o que aumentava o risco de agravamento dos sintomas e internações psiquiátricas evitáveis.
Diante desse cenário, tornou-se urgente a necessidade de fortalecer o cuidado em saúde mental na APS por meio da qualificação dos profissionais e da criação de estratégias que garantissem maior resolutividade. O matriciamento surgiu como uma ferramenta essencial para integrar as equipes da atenção básica com o CAPS I, promover suporte técnico e pedagógico aos profissionais e aprimorar a assistência prestada aos usuários. Paralelamente, a implantação do Cartão de Acompanhamento para Pacientes com Transtornos Mentais foi pensada como um instrumento para garantir um monitoramento contínuo, evitando desassistência e promovendo um cuidado mais humanizado e eficiente.
A implementação do matriciamento em saúde mental na Atenção Primária à Saúde (APS) de Santa Cruz/PB trouxe avanços significativos, mas também desafios que evidenciam a necessidade de continuidade e aprimoramento das ações. Um dos principais resultados foi o mapeamento e atualização cadastral dos usuários com transtornos mentais atendidos nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs). A busca ativa identificou que 8,1% da população (482 pessoas) possui algum diagnóstico de transtorno mental, sendo 68,9% do sexo feminino. O transtorno de ansiedade foi o mais prevalente, correspondendo a 61,6% dos casos. Essa identificação foi essencial para direcionar os atendimentos e fortalecer o acompanhamento dos pacientes.
Com base nesses dados, uma das estratégias implantadas foi a criação do Cartão de Acompanhamento para Pacientes com Transtornos Mentais, um instrumento fundamental para garantir a continuidade e o monitoramento da assistência. O cartão reúne informações sobre o diagnóstico, medicações em uso, consultas realizadas e encaminhamentos necessários, possibilitando um cuidado mais organizado e efetivo. Além disso, facilita a comunicação entre os diferentes serviços da rede, promovendo uma assistência integrada e reduzindo perdas no acompanhamento dos usuários.
Outro avanço importante foi a capacitação das equipes da atenção básica, que fortaleceu a abordagem interdisciplinar e ampliou a autonomia dos profissionais na condução dos casos. Foram realizados treinamentos sobre estratificação de risco, manejo clínico dos transtornos mentais e estratégias de abordagem psicossocial, resultando em maior segurança na condução dos atendimentos e na tomada de decisão.
A implantação da estratificação de risco em saúde mental foi um diferencial, permitindo que os profissionais priorizassem os casos mais graves e organizassem fluxos assistenciais mais eficientes. Como resultado, houve uma redução de aproximadamente 30% nos encaminhamentos ao CAPS I, demonstrando um aumento na resolutividade da APS. Entretanto, o projeto também enfrentou desafios. A adesão dos profissionais foi variável entre as equipes, sendo necessária uma abordagem mais próxima da coordenação para garantir a implementação das diretrizes do matriciamento. Além disso, a alta demanda por atendimentos em saúde mental sobrecarregou algumas equipes, dificultando a consolidação das práticas propostas.
Os relatos dos profissionais envolvidos evidenciam mudanças positivas na percepção sobre o cuidado em saúde mental na APS. Muitos destacaram que passaram a se sentir mais preparados para manejar casos de transtornos mentais e que o suporte do matriciamento contribuiu para um atendimento mais humanizado e resolutivo. Por fim, os resultados indicam que, apesar dos desafios, a estratégia do matriciamento foi essencial para fortalecer a atenção em saúde mental na APS. A continuidade das ações, aliada à utilização do Cartão de Acompanhamento e ao aprimoramento das capacitações, é fundamental para garantir a sustentabilidade do projeto e ampliar seu impacto na qualidade de vida dos usuários.
A experiência de implantação do matriciamento em saúde mental na Atenção Primária à Saúde (APS) de Santa Cruz/PB demonstrou ser uma estratégia essencial para qualificar o cuidado, ampliar a resolutividade das equipes e fortalecer a assistência integrada aos usuários com transtornos mentais. A busca ativa permitiu mapear a prevalência dessas condições no município, evidenciando que 8,1% da população apresenta algum diagnóstico, com predominância de transtornos de ansiedade em mulheres.
A capacitação dos profissionais e a implementação da estratificação de risco em saúde mental resultaram na redução de encaminhamentos desnecessários ao CAPS I, promovendo um cuidado mais humanizado e próximo das necessidades da comunidade. Além disso, a criação do Cartão de Acompanhamento para Pacientes com Transtornos Mentais foi um avanço significativo, possibilitando um monitoramento mais efetivo e garantindo a continuidade da assistência.
Apesar dos desafios enfrentados, como a sobrecarga das equipes e a necessidade de maior adesão dos profissionais ao matriciamento, os resultados alcançados evidenciam o impacto positivo da iniciativa. A integração entre APS e equipe de saúde mental se mostrou fundamental para consolidar um modelo de atenção mais eficiente, acessível e resolutivo, alinhado aos princípios da integralidade e equidade do SUS.
A continuidade desse trabalho requer o fortalecimento das capacitações, o aprimoramento das estratégias de monitoramento dos pacientes e o envolvimento contínuo das equipes de saúde na construção de um modelo assistencial que garanta o acesso qualificado ao cuidado em saúde mental. Dessa forma, será possível consolidar a APS como a principal porta de entrada para um atendimento que não apenas trata, mas também promove a saúde mental e o bem-estar da população.
Secretaria Municipal de Saúde de Santa Cruz/PB
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