1206
Ewé Collective: Leading the Appreciation of Ancestral Knowledge on Medicinal Plants in Traditional Communities
Thayna Claudio Fortunato
thaynaclaudio9@gmail.com
Brasil
Coletivo Ewé: Liderando a Valorização do Conhecimento Ancestral sobre Plantas Medicinais em Comunidades Tradicionais
Descrição

Este trabalho é um relato experiencial sobre a trajetória do Coletivo Ewé, fundado em 2021, atuando nas dependências da FIOCRUZ, com o objetivo de fortalecer, sistematizar e dar visibilidade às práticas de saúde complementar enraizadas em comunidades tradicionais.

Aproximadamente 80% da população mundial utiliza plantas medicinais como recurso terapêutico (BRASIL, 2006). A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece a contribuição da medicina tradicional na atenção à saúde, especialmente em áreas com acesso limitado a serviços formais. No Brasil, a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) incentiva o cultivo orgânico de plantas medicinais e a integração do conhecimento tradicional nos serviços de atenção primária (BRASIL, 2006a).

Nas últimas décadas, estudos em etnobotânica e etnofarmacologia vêm valorizando o conhecimento tradicional sobre plantas medicinais, integrando-o ao conhecimento científico. No entanto, comunidades religiosas afro-brasileiras (terreiros) ainda não são suficientemente reconhecidas como espaços de cuidado e cura. Como locais de preservação de religiões de matriz africana e de acolhimento de grupos historicamente marginalizados, é essencial promover ações que recuperem, valorizem e desestigmatizem seu conhecimento terapêutico (OLIVEIRA, 2002).

Nesse contexto, o Coletivo Ewé realiza encontros quinzenais em formato híbrido (presencial e virtual) na FIOCRUZ, no Rio de Janeiro. Seu objetivo é fomentar aprendizado e troca de saberes sobre o uso de plantas medicinais na medicina tradicional e científica entre pesquisadores, gestores públicos, lideranças comunitárias, Babalorixás, Yalorixás e demais interessados. O coletivo promove palestras, debates e encontros focados em conhecimento tradicional, plantas medicinais e saúde, enfatizando o saber popular e promovendo a troca de saberes ancestrais para fortalecer práticas naturais de cuidado e bem-estar.

Atualmente, o Coletivo Ewé possui 61 membros, sendo 44 praticantes de religiões afro-brasileiras como Candomblé e Umbanda. O grupo inclui 12 líderes religiosos, 5 lideranças comunitárias, 3 educadores ambientais, 6 pesquisadores e 3 profissionais de saúde. Os encontros começaram como grupo de estudo sobre plantas utilizadas em religiões afro-brasileiras, abordando nomes científicos, populares e cerimoniais, além de aspectos culturais, medicinais, econômicos e ambientais. Com a expansão das atividades públicas, como círculos de cura e mutirões coletivos, o grupo adotou o nome “coletivo”.

Com o tempo, os membros passaram a compartilhar experiências práticas, como preparo de tinturas, chás, banhos de pés, xaropes e pomadas. Inicialmente coordenados por uma pequena liderança, os encontros evoluíram para a participação ativa dos membros, muitos apresentando estudos e práticas tradicionais, inspirando inclusive a continuidade dos estudos em programas de pós-graduação.

A etnobotânica nesse contexto evidencia a resistência da identidade afrodescendente, conectando conhecimentos tradicionais de povos Yoruba, Fon e Bantu às práticas ancestrais com plantas (BENISTE, 2000; CARNEY, 2001; GOMES, 2009; PESSOA DE BARROS, 2000; VERGER, 1996). Em maio de 2025, o coletivo estruturou sua coordenação com cargos de coordenador geral, coordenador de eventos, mídias sociais, comunicação e documentação.

Problemas abordados

Os encontros do Coletivo Ewé geraram uma base de dados atualizada de saberes e práticas, contribuindo para a plataforma IdeiaSUS (www.ideiasus.fiocruz.br
). Essa disseminação facilita a reaplicação do patrimônio cultural imaterial e fomenta soluções inovadoras em saúde para incorporação no SUS em diferentes territórios do Brasil.

Resultados (opcional)

O Coletivo Ewé atua para o reconhecimento do conhecimento tradicional e das práticas médicas populares nos terreiros, utilizando plantas como forma de cuidado integrativo e complementar à saúde. O grupo integra lutas e mobilizações mais amplas das comunidades tradicionais, enfrentando o desafio de promover a descolonização do poder, do saber e do ser (FANON, 2005; FRANCO, 2011; MALDONADO-TORRES, 2016; MIGNOLO, 2008, 2017; QUIJANO, 2005, 2007; SANTOS, 2009; TAVARES, 2009).

Os encontros ressaltam a importância da etnobotânica como campo de conhecimento sobre o uso de plantas por diferentes culturas. O saber acerca do uso de folhas para saúde e práticas religiosas por comunidades afrodescendentes oferece contribuições valiosas fundamentadas na troca de saberes.

O coletivo também é base para o projeto “Plantando Saúde”, coordenado pela FIOCRUZ, que promove soberania e segurança alimentar por meio da criação de hortas comunitárias e oficinas de promoção da saúde em 16 comunidades tradicionais, incluindo 3 quilombos, 3 casas de Umbanda, 9 casas de Candomblé e 1 templo de Ifá. O objetivo é fomentar sustentabilidade nesses territórios e afirmar a universalidade do SUS.

Algumas comunidades, como Morro do Salgueiro, Quilombo AQUILAH, Hunpame Mahi Kwe Naiye e Ilé Omi Ojuaro, realizam ações conjuntas com o SUS. No entanto, a expansão dessa estratégia continua sendo um desafio relevante.

O Coletivo Ewé sediará o 3º Encontro sobre Conhecimento Tradicional, Plantas Medicinais e Saúde em novembro de 2025, expandindo a documentação de suas atividades via IdeiaSUS.

Recomendações ou Desafios

Apesar de estar inserido em uma instituição de ciência e saúde pública de renome, o Coletivo Ewé ainda enfrenta barreiras legais que favorecem a indústria farmacêutica em detrimento das práticas de saúde tradicionais. É essencial promover o intercâmbio entre diferentes sistemas de saúde e reconhecer curandeiros tradicionais e medicamentos populares praticados por diversos grupos étnicos afro-diaspóricos e indígenas.

Há necessidade urgente de maior engajamento acadêmico com essas práticas e da criação de um marco legal que sustente a incorporação das práticas tradicionais de saúde complementar nos serviços oferecidos pelo SUS.

Palavras-chave
Ewé Collective: Leading the Appreciation of Ancestral Knowledge on Medicinal Plants in Traditional Communities
Description

This paper is an experiential report on the journey of the Ewé Collective, established in 2021, operating within the premises of FIOCRUZ. Its aim is to strengthen, systematize, and give visibility to complementary health practices rooted in traditional communities.

Approximately 80% of the global population uses medicinal plants as a therapeutic resource (BRASIL, 2006). The World Health Organization (WHO) recognizes the contribution of traditional medicine in providing health care, especially in areas with limited access to formal health services. In Brazil, the National Policy on Integrative and Complementary Practices promotes the organic cultivation of medicinal plants and the integration of traditional knowledge into primary healthcare services (BRASIL, 2006a).

In recent decades, studies in ethnobotany and ethnopharmacology have increasingly valued traditional knowledge about medicinal plants, integrating it with scientific knowledge. However, Afro-Brazilian religious communities (terreiros) are still not adequately recognized as spaces of care and healing. As sites for the preservation of African-based religions and as welcoming spaces for historically marginalized groups, it is essential to promote actions that recover, value, and destigmatize their therapeutic knowledge (OLIVEIRA, 2002).

In this context, the Ewé Collective was founded in 2021 and has been holding biweekly meetings in a hybrid format (in-person and virtual) at FIOCRUZ in Rio de Janeiro. Its goal is to foster learning and sharing about the use of medicinal plants in both traditional and scientific medicine among researchers, public managers, community leaders, Babalorixás, Yalorixás, and other interested individuals. The collective promotes dialogue between the traditional knowledge practiced in terreiros and the scientific knowledge applied by the Brazilian Unified Health System (SUS). Ewé organizes lectures, debates, and gatherings focused on traditional knowledge, medicinal plants, and health, emphasizing popular wisdom and promoting the exchange of ancestral knowledge to strengthen natural care practices for health and well-being.

The Ewé Collective currently has 61 members, 44 of whom are practitioners of Afro-Brazilian religions such as Candomblé and Umbanda. The group includes 12 religious leaders, 5 community leaders, 3 environmental educators, 6 researchers, and 3 health professionals.
The meetings began as a study group on plants used in Afro-Brazilian religions, covering scientific, popular, and ceremonial names, as well as cultural, medicinal, economic, and environmental aspects. With the expansion of public activities, such as healing circles, gatherings, and collective work efforts, the group adopted the name collective.

As the meetings evolved, beyond structured studies, members began sharing practical experiences such as the preparation of tinctures, teas, foot soaks, syrups, ointments, and more. Initially coordinated by a small leadership team, the meetings gradually shifted to active participation by members, many of whom presented studies and shared traditional practices. This experience inspired several participants to continue their studies, including in postgraduate programs.

Ethnobotany in this context reveals the Afro-descendant identity resistance by connecting traditional knowledge from Yoruba, Fon, and Bantu peoples to ancestral plant practices (BENISTE, 2000; CARNEY, 2001; GOMES, 2009; PESSOA DE BARROS, 2000; VERGER, 1996).
In May 2025, the collective established a coordination structure composed of a general coordinator, event coordinator, social media coordinator, communication coordinator, and documentation coordinator.

Problems Addressed

The Ewé Collective meetings have generated an up-to-date database of knowledge and practices, contributing to IdeiaSUS, a collaborative platform that gathers numerous experiences based on ancestral health practices using medicinal plants (www.ideiasus.fiocruz.br). This dissemination facilitates the reapplication of intangible cultural heritage and fosters the creation of innovative health solutions to be incorporated into SUS across different territories in Brazil.

Results (optional)

As an outcome, the Ewé Collective works to gain recognition for traditional knowledge and popular medical practices within terreiros, utilizing plants as a form of integrative and complementary health care. The group is part of broader struggles and mobilizations within traditional communities. It addresses the challenge of advocating for the decolonization of power, knowledge, and being, by engaging with the complex systems that underpin traditional healing practices (FANON, 2005; FRANCO, 2011; MALDONADO-TORRES, 2016; MIGNOLO, 2008, 2017; QUIJANO, 2005, 2007; SANTOS, 2009; TAVARES, 2009).

The collective’s meetings highlight the importance of ethnobotany as a field of knowledge concerned with plant use by different cultures. The knowledge surrounding the use of leaves for health promotion and religious practice by Afro-descendant communities offers valuable insights rooted in knowledge exchange.

The Ewé Collective also serves as the foundation for the "Plantando Saúde" (Planting Health) project, coordinated by Fiocruz. The project promotes food sovereignty and security through the establishment of community gardens and health promotion workshops in 16 traditional communities, including 3 quilombos, 3 Umbanda houses, 9 Candomblé houses, and 1 Ifá temple. It aims to foster sustainability in these territories and affirm the universality of the SUS.

Some of these communities, such as Morro do Salgueiro, Quilombo AQUILAH, Hunpame Mahi Kwe Naiye, and Ilé Omi Ojuaro, are engaged in joint actions with the SUS. However, scaling this strategy remains a major challenge for the collective.

The Ewé Collective will host the 3rd Meeting on Traditional Knowledge, Medicinal Plants, and Health in November 2025 and will expand documentation of its activities through IdeiaSUS.

Recomendations or Challenges

Despite being embedded within a renowned science and public health institution, the Ewé Collective still faces significant legal barriers favoring the pharmaceutical industry over the advancement of traditional health practices. It is essential to promote exchange between different healthcare systems and to recognize traditional healers and the popular medicines practiced by various Afro-diasporic and Indigenous ethno-social groups.
There is an urgent need for greater academic engagement with these practices and the creation of a legal framework to support the incorporation of traditional complementary health practices into services offered by the SUS.

Keywords
unblocked games + agar.io