A abordagem fenomenológica é muito útil para superar fronteiras disciplinares nas ciências da saúde biomoleculares. Bignardi, com sua equipe transdisciplinar, desenvolveu um método para alcançar um consenso em um diagnóstico supradisciplinar, adotando técnicas fenomenológicas. No campo da saúde, identificamos oportunidades para a aplicação da ciência fenomenológica como um recurso para superar a impermeabilidade de áreas disciplinares compartimentalizadas, dada a necessidade de um diagnóstico supradisciplinar consensual.
O Hospital Alemão Oswaldo Cruz, reconhecido por sua excelência em cuidado e inovação, em conjunto com sua Escola de Educação em Ciências da Saúde, promoveu uma oficina de “Fenomenologia aplicada à Saúde: promoção e assistência”, que ocorreu no Parque Trianon Masp, em São Paulo, no Hospital Alemão Oswaldo Cruz e no Jardim Botânico de São Paulo (onde jardim e floresta convivem lado a lado), na qual os profissionais de saúde participaram ativamente de um processo educativo, no qual observamos o potencial desse processo como meio de capacitar os participantes a aplicarem a ciência fenomenológica, desenvolvendo o potencial para a observação fenomenológica de plantas e pessoas, e suas percepções em relação às experiências vivenciadas nesta oficina.
O programa da oficina consistiu em um primeiro dia apresentando teoria e experimentos na natureza urbana e um segundo dia no Jardim Botânico com três etapas: 1ª caminhada no parque (jardim) e depois na floresta, respondendo à pergunta: qual a diferença entre os dois ambientes; 2ª planta específica observada por um grupo de 4 a 6 pessoas; 3ª pessoa observada utilizando a mesma técnica, chegando a um diagnóstico supradisciplinar, através de cores e formas expressas em um papel branco.
Ao final da oficina, os participantes foram convidados a responder um questionário com oito perguntas sobre sua experiência, incluindo suas percepções em relação à diferença entre floresta e jardim, o tema da fenomenologia, a experiência de observação fenomenológica de plantas e pessoas, e a perspectiva de aplicá-la em suas vidas pessoais e profissionais.
Baseamos este relato de experiência no método fenomenológico de pesquisa, que se apresenta como uma alternativa para investigar a plenitude do ser humano, capaz de abranger a totalidade do homem, olhando para as coisas em si mesmas, no sentido de que todo o processo de produção do conhecimento deve se basear em percepções primárias ou no significado original derivado da experiência vivida (Husserl, 1996).
O objetivo deste trabalho é compartilhar e apresentar a experiência de como uma aula viva educacional em um Jardim Botânico afeta a experiência dos indivíduos, expondo um grupo de estudantes de pós-graduação do curso de Saúde Integrativa Transdisciplinar que ainda não havia vivenciado a observação fenomenológica na prática (Grupo A) e profissionais da saúde ou ciências humanas que estavam tendo contato com o tema pela primeira vez (Grupo B), a uma observação precisa de plantas e pessoas seguindo etapas fenomenológicas, culminando com a expressão em cores e formas da planta e da pessoa observada.
As respostas foram sobre a experiência durante a oficina, relacionadas à sensibilidade, emoções, percepções e conclusões intelectuais. Os estudantes de pós-graduação expressaram sua experiência na oficina com um olhar mais aprofundado e com maiores perspectivas de aplicação pessoal e profissional. Eles entenderam a fenomenologia como uma ferramenta para alcançar a verdade por trás das queixas dos pacientes, ampliando a percepção de cada pessoa em sua vulnerabilidade e complexidade; e a apreciação fenomenológica das plantas foi vivenciada como uma integração de conhecimentos, um sentimento maravilhoso emergindo de dentro, superando conceitos externos, permitindo a sensação de ser um com cada criatura viva. Na experiência de observar a pessoa, reconheceram um acolhimento despido, escuta com o coração, semelhanças entre todos os seres vivos.
Indivíduos que tiveram seu primeiro contato com o tema conseguiram trazer percepções positivas sobre o aprendizado e suas aplicações na vida cotidiana, expressando interesse em se aprofundar no assunto. Eles perceberam a fenomenologia com ceticismo, embora tenha sido possível reconhecer a expansão que surge com essa visão, tornando possível uma melhor conexão com outra pessoa; para eles, a observação fenomenológica de plantas foi mais difícil devido à necessidade de superar preconceitos da educação, infância, ficando restritos a formas. Durante a observação fenomenológica de pessoas, sentiram uma forte necessidade de analisar e controlar, dificuldade em confiar em sentimentos intuitivos, recebendo com resistência, embora reconhecendo como ferramenta que traz a realidade a partir do silêncio.
A experiência da oficina aumenta o vínculo com a Natureza e a Espiritualidade, a consciência das conexões, a crença nos sentimentos intuitivos para os estudantes de pós-graduação, com a realização de que arte e Natureza devem caminhar juntas com a compreensão da Saúde, tudo está conectado. No outro grupo, a oficina despertou sentimentos de curiosidade, medo, entusiasmo, confiança, fé e a compreensão de que é necessário sentir mais do que interpretar.
Embora o grupo de estudantes de pós-graduação tenha expressado sua experiência na oficina com uma perspectiva mais aprofundada e maiores perspectivas de aplicação pessoal e profissional, observamos que indivíduos da comunidade que tiveram seu primeiro contato com o tema e não possuíam referenciais teóricos conseguiram trazer percepções positivas sobre o aprendizado e suas aplicações na vida cotidiana, expressando interesse em se aprofundar no assunto. Reconhecemos, pelas respostas dos participantes aos questionários, que, apesar da diferença na profundidade do tema da oficina, sua compreensão da experiência no jardim e na floresta foi semelhante. O grupo de estudantes de pós-graduação que tinha afinidade com a metodologia aplicada conseguiu aprofundar sua compreensão por meio da experiência prática, sendo a experiência positiva também para aqueles que tiveram o primeiro contato com o tema.
Diante dos resultados observados, recomendamos a replicação da metodologia utilizada na oficina para desenvolver a capacidade dos indivíduos de perceber o ambiente, a si mesmos e aos outros, fortalecendo conexões. Acreditamos que a metodologia aplicada na oficina pode ser expandida para incluir membros leigos da comunidade, pois transcende o conhecimento acadêmico, proporcionando uma compreensão mais ampla dos indivíduos em todas as suas dimensões.
Phenomenological approach is very useful to overcome disciplinary boundaries in biomolecular health sciences. Bignardi with his transdisciplinary team has developed a method to reach a consensus in a supradisciplinary diagnosis adopting phenomenological technics. In the health field, we identified opportunities for the application of phenomenological science as a resource to overcome the impermeability of watertight disciplinary areas, given the need for a consensual supradisciplinary diagnosis.
The German Hospital Oswaldo Cruz , recognized for its excellence in care and innovation, in conjunction with its School of Health Sciences Education, promoted a workshop of "Phenomenology applied to Health: promotion and assistance", that took place in the Trianon Masp Park in São Paulo, the German Hospital Forest Oswaldo Cruz and in Botanical Garden of São Paulo (where there is garden and forest living side by side), in which the health professionals actively participated in an educational process, in which we observed the potential of this process as a means of equipping participants to apply phenomenological science, developing the potential for phenomenological observation of plants and people, and their perceptions in relation to the experiences experienced in this workshop.
The workshop program consisted of a first day presenting theory and experiments in urban nature and a second day at the Botanical Garden with three steps: 1st walking in the park (garden) and after in the forest, answering the question: what the difference between the two environments is; 2nd specific plant observed by a group of 4 to 6 people; 3rd person observed using the same technique reaching a supradisciplinary diagnosis, through colours and forms expressed on a white paper.
At the end of the workshop, participants were invited to answer a questionnaire with eight questions about their experience, including their perceptions regarding the difference between forest and garden, the theme of phenomenology, the experience of phenomenological observation of plants and people, and the perspective of applying it in their personal and professional lives.
We base this experience report on the phenomenological method of research, which presents itself as an alternative for investigating the fullness of the human being, capable of encompassing the totality of man, looking at things in themselves, in the sense that the entire process of knowledge production should be based on primary perceptions or the original meaning derived from lived experience (Husser, 1996).
The purpose of this paper is to share and present the experience of an educational living class in a Botanical Garden affects the experience of individuals, exposing a group of post graduates students of Transdisciplinar Integrative Health course who had not yet experienced phenomenological observation in practice (Group A) and and professionals in the health or human sciences who were coming into contact with the topic for the first time (Group B), to a precise observation of plants and people following phenomenological steps culminating with the expression in colours and forms of the plant and people observed.
Answers were about the experience during the workshop, concerning sensitivity, emotions, perceptions, and intellectual conclusions. Postgraduate students expressed their experience in the workshop with a more in-depth look and with greater prospects for personal and professional application. They understood phenomenology as a tool to reach true behind patients claim, amplifying the perception of each person in his vulnerability and complexity; and the phenomenological appreciation of plants has been experienced as an integration of knowledges, a marvellous feeling emerging for within, overcoming external concepts, allowing a feeling of being one with every living creature. In the experience of observing the person, they recognized a naked welcome, listening with the heart, similarities between all living beings
Individuals who had their first contact with the subject were able to bring positive perceptions of the learning and applications in everyday life, expressing interest in delving deeper into the subject. They perceived phenomenology with scepticism, although it was possible to recognise the expansion that arises with this view, making possible a better connection with another person; for them, the phenomenological observation of plants it was more difficult to overcome preconceptions from education, childhood, becoming constricted to forms. During the phenomenological observation of people they felt a strong need to analyse and control, felt difficult to trust in intuitive feelings, was received with resistance, although recognised as tool to that brings reality from the silence.
The workshop experience increases binding to Nature and Spirituality, consciousness of connections, believe in intuitive feelings for postgraduate students, with the realization that art and Nature should walk together with Health understanding, everything is connected. In the other group, the workshop aroused feelings of curiosity, fear, enthusiasm, confidence, trust, and the understanding that it is necessary to feel more than to interpret.
Although the group of graduate students expressed their experience in the workshop with a more in-depth perspective and greater prospects for personal and professional application, we observed that individuals in the community who had their first encounter with the topic and lacked theoretical frameworks were able to bring positive perceptions of the learning and its applications in everyday life, expressing interest in delving deeper into the topic. We recognized from the participants' responses to the questionnaires that, despite the difference in depth of the workshop topic, their understanding of the experience in the garden and in the forest was similar. The group of graduate students who had affinity with the applied methodology was able to deepen their understanding through practical experience, with the experience being positive for those who had their first encounter with the topic.
Given the results observed, we recommend replicating the methodology used in the workshop to develop individuals' ability to perceive the environment, themselves, and others, strengthening connections. We believe that the methodology applied in the workshop can be expanded to include lay members of the community, as it transcends academic knowledge, providing a broader understanding of individuals in all their dimensions.
