Objetivo: descrever o uso de plantas medicinais para tratamento de afecções ginecológicas. Método: aplicação de questionário com 336 mulheres em 11 unidades básica de Saúde da Família no Município de Redenção, Ceará, selecionadas por amostragem intencional. Os dados foram organizados no Microsoft Office Excel® e analisados através do Software EPI InfoTM. Resultados: a idade média das mulheres foi de 41 anos, escolaridade entre o ensino fundamental e médio, sendo a maioria casadas/união estável, residentes em zona rural, com uma proporção materna de 83,04%. A mulheres que utilizam plantas medicinais estavam ligadas ao trabalho doméstico e à agricultura, com renda familiar mensal de até um salário mínimo. As plantas mais utilizadas no tratamento de doenças ginecológicas, destacaram-se a Aroeira, Corama e Malvarisco utilizadas para inflamação uterina. Conclusão: o uso de plantas medicinais para afecções ginecológicas consiste na prática de cuidado entre mulheres assistidas por profissionais de saúde na estratégia saúde da família.
Descritores: doenças dos genitais femininos; fitoterapia; saúde da mulher; terapias complementares; atenção primária à saúde.
O uso de plantas medicinais por mulheres assistidas pela estratégia saúde da família (ESF), com ou sem orientação de profissional de saúde, é uma prática corriqueira.1 Isso pode estar associado ao fato de muitas patologias, frequentes na rotina da ESF, podem ser tratadas por meio da fitoterapia, entre elas as afecções ginecológicas, cujas alterações acometem o sistema reprodutor feminino, associadas a distúrbios hormonais ou infecciosos.
Diante de uma afecção ginecológica, mulheres podem recorrer à fitoterapia como recurso integrativo e/ou complementar ao tratamento farmacológico convencional. 3 Os motivos para isso podem estar relacionados à ampla aceitação cultural, muitas vezes compartilhada entre diferentes gerações em uma mesma família, além do fácil acesso e do baixo custo das plantas medicinais.
A inserção da fitoterapia nos programas e estratégias de atenção primária à saúde tem sido estimulada mundialmente pela Organização Mundial de Saúde. 4 No Brasil, a ESF representa o ambiente propício para promoção do acesso seguro e uso racional de plantas medicinais, sobretudo amparada pela Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos e pela Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares.
Observa-se, todavia, que nem toda prática de uso de planta medicinal para tratamento de afecções ginecológicas ocorre com base em orientação de um profissional de saúde. Apesar de se tratar de uma prática de cuidado de origem popular, ressalta-se que o uso irracional de plantas medicinais poderá não proporcionar o resultado esperado para a queixa ou, ainda, ocasionar efeitos adversos.
Diante do uso recorrente de plantas medicinais para tratamento de afecções ginecológicas em ESFs e da demanda de uma postura dialógica entre conhecimento científico e popular, esta pesquisa foi desenvolvida com o objetivo de descrever o uso de plantas medicinais para afecções ginecológicas por mulheres assistidas pela estratégia saúde da família.
A análise do perfil das participantes revelou houve prevalência das assistidas por Unidade Básica de Saúde (UBS) distante da área urbana, destacando-se as unidades de Currais (14,3%; n=48) e Urucunzal (12,80%; n=43). As participantes apresentaram idade média de aproximadamente 41 anos [DP: 14,25], na sua maioria tendo escolaridade entre o ensino fundamental e médio (41,4% e 48,5%, respectivamente). As principais ocupações estão associadas ao trabalho doméstico e à agricultura, totalizando 66,7% (n=224); sendo na sua maioria casadas/união estável (58,33%; n = 196), com uma proporção materna de 83,04% (n=279) – média de 2,78 filhos (DP: 1,89). A maioria residente em zona rural (83,33%; n=280) e tem renda familiar mensal de até um salário mínimo (74,70%; n=251).
Em relação ao uso das plantas medicinais, constata-se que 80,1% das participantes confirma sua utilização (n=269), sendo que a maioria confia no efeito/resultado (98,88%, n=266), referindo a confiança associada a bons resultados (39,10%; n=104), à cura (18,05%; n=48), ao fato de serem naturais (11,6%; n=31), conhecendo-as a partir de informações de familiares (92,94%; n=250).
Ao se reportar ao uso das plantas medicinais para o tratamento de doenças ginecológicas, observou-se uma adesão de 61,57% (n=165) das participantes, com referência à crença na cura quanto à justificativa de utilização (71,78%; n=117) e com menção de “melhora dos sintomas” após o uso (100%; n= 165). Entre as plantas medicinais citadas como primeira referência para o tratamento de doenças ginecológicas, destacou-se a aroeira (35,76%; n=59), seguida pela Corama (15,8%, n=26) e pelo Malvarisco (12,1%; n=20), que dividem valores em comuns ao se considerar o IC95%.
Ao serem perguntadas sobre a utilização de uma segunda planta medicinal, 121 participantes referiram o Malvarisco (23,1%; n=28) e a corama (21,49%, n=26), sendo consideradas ainda a aroeira, a ameixa, o mastruz e outras em menor proporção. Quanto à possibilidade de uso de uma terceira planta medicinal, 69 respostas foram apresentadas, mantendo a tendência de resposta, com a Corama e o Malvarisco dividindo o mesmo espaço hierárquico (20,29%, n= 14), seguidas pelo mastruz, ameixa, babosa, entre outras.
As afecções ginecológicas associadas ao uso de plantas medicinais foram a inflação uterina (75,15%; n=124), o corrimento vaginal (31,52%, n=52) e dor (cólica menstrual e dor pélvica) (8,48%, n= 14).
Verificou-se que a parte da planta mais utilizada é o caule/casca (47,27%; n=78) seguida pela folha (44,85%; n=74), sendo o molho (34,55%; n=57) a forma de preparo mais citada.
Todas as entrevistadas consideraram o resultado do uso de plantas regular ou superior, sendo que mais da metade avaliou o resultado do uso de plantas como bom (64,24%; n=106). Nenhuma participante relatou efeito colateral.
Verificou-se que o uso de plantas medicinais foi estatisticamente significativo entre mulheres com escolaridade média/alta (p=0,007), agricultoras (p=0,010) e que possuíam filhos (p=0,002). Quanto maior a idade da mulher, maior o uso de plantas medicinais (p=0,027).
Dentre as plantas medicinais citadas, destacou-se a Aroeira, Corama e Malvarisco. A aplicação destas plantas foi, majoritariamente, indicada para inflamação uterina, tendo o caule/casca e folhas como principais partes utilizadas das plantas. Ademais, o molho e sumo foram as formas de preparo mais citados pelas mulheres. Verificou-se que o uso de plantas medicinais foi estatisticamente significativo entre mulheres com escolaridade média/alta, agricultoras e que possuíam filhos.
O estudo revelou o uso de plantas medicinais por mulheres em idade média de 42 anos, sendo estas na sua maioria domésticas e agricultoras e residentes em zona rural. Além disso, as plantas destacadas pelas mulheres em uso foram: Malvarisco, Corama, Aroeira e Ameixa, sendo aplicadas para afecções ginecológicas.
Percebe-se, que o uso das plantas medicinais são muito eficazes no tratamento das doenças ginecologias nas mulheres, por isso se faz necessário a implementação de novas estratégias voltadas para as orientações e estratégias no uso das plantas medicinas por mulheres acometidas por estas doenças.
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