- Atenção Primária à Saúde
Mateus Emanuel da Silva Santos
- 22 maio 2024
O projeto de implantação do cuidado farmacêutico, foi uma iniciativa do Ministério da Saúde (MS) no âmbito do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS) em parceira com o Conselho Nacional de Secretarias municipais de Saúde (CONASEMS) e o Hospital Alemão Oswaldo Cruz (HAOC) a nível de atenção básica, sendo esse projeto uma estratégia de qualificação da assistência farmacêutica numa perspectiva de atuação pedagógica, clínico-assistencial do farmacêutico e não apenas na gestão. Os problemas relacionados a farmacoterapia vão desde falta de adesão ao tratamento, quando o paciente não faz uso correto dos medicamentos; problemas de acesso, quando o paciente não adquire o produto; falta de eficácia farmacoterapêutica, quando o medicamento não cumpre o efeito esperado e por fim problema de segurança, quando há efeitos adversos, colaterais e casos de interação medicamentosa que representam risco à saúde do paciente. Alguns estudos tem demonstrado que a atuação do farmacêutico junto a equipe de saúde primária, traz impactos relevantes na adesão ao tratamento e autogestão da farmacoterapia pelo paciente, melhoria das condições crônicas de saúde, prevenção de erros farmacoterapêuticos, redução do número de medicamentos e de internações hospitalares. Diante desse contexto, este trabalho vem apresentar como se deu a exitosa experiência de implantação do cuidado farmacêutico no município de Quixaba-PB, localizado no sertão Paraibano.
Este trabalho teve por objetivo apresentar a experiência exitosa e inovadora de implantação do cuidado farmacêutico no município de Quixaba-PB, descrevendo as etapas para se chegar a implantação do cuidado farmacêutico com atendimento clínicos, desafios e conquistas obtidas ao final desse processo.
Trata-se de um relato de experiência da implantação do serviço clínico farmacêutico aos usuários da UBS Robson Carneiro Pereira, no município de Quixaba na Paraíba, realizado entre outubro de 2022 e novembro de 2023. Para concretização desse cuidado farmacêutico, foram criados alguns instrumentos estratégicos. O primeiro instrumento foi a elaboração de um plano de trabalho, onde foi definido o local de implantação dos serviços clínicos farmacêuticos, descrição das principais atividades a serem desenvolvidas ao longo do projeto, treinamentos com vistas a preparação para o atendimento e familiarização com instrumento de coleta de dados dos atendimentos e apresentação de resultados. O segundo instrumento foi a criação de uma equipe de condução, a qual foi fundamental para sensibilizar os demais profissionais de unidade básica de saúde e promover a integração do farmacêutico à equipe e por fim, viabilizar condições e recursos para operacionalização do projeto junto a unidade de saúde. Já o terceiro instrumento, foi a elaboração de um projeto de implantação do cuidado farmacêutico no município, começando pelo diagnóstico situacional do município, redes de atenção disponível, infraestrutura de saúde instalada, como funciona a assistência farmacêutica e processos formativos para condução dos atendimentos clínicos, acompanhamento farmacoterapêutico, registros e intervenções.
Houve uma provocação do ministério da saúde no âmbito do Proadi SUS, onde haveria seleção de farmacêuticos atuantes na APS para implantação do Cuidado Farmacêutico. Como é notório os problemas relacionados a medicamentos e muitos desses problemas tem relação quanto ao uso inadequado, abraçamos a ideia de aproximar o farmacêutico à equipe de APS e principalmente do paciente usuário do SUS.
Os atendimentos clínicos farmacêuticos no município de Quixaba foram direcionados a portadores de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) de maneira sistematizada registrando os atendimentos no sistema de Prontuário Eletrônico do Cidadão (PEC-E-SUS), promovendo o uso racional dos medicamentos, melhoria da qualidade de vida dos pacientes, redução de danos à saúde e avanços na integralidade do cuidado em saúde. A parceria com os agentes de saúde, mostrou-se muito importante na busca ativa de pacientes e aproximou o farmacêutico dos usuários, bem como participou de consulta compartilhadas. Além de registrar os atendimentos no instrumento de coleta de dados do projeto sob acompanhamento do ministério da saúde, o farmacêutico ainda registrava seus atendimentos no PEC. Esse registro é uma evidencia importantíssima da atuação clínica do farmacêutico à nível de atenção básica e pode ser um instrumento de tomada de decisão futura, no âmbito da atuação desse profissional na APS. Ao longo do projeto foram realizados 60 atendimentos clínicos, entre consultas e retornos, com maior público de idosos, pacientes da polifarmácia e portadores de doenças crônicas. Dos atendimentos realizados, 80% foram por busca ativa e 20% por demanda espontânea ou encaminhamento médico. Ao terminar o projeto, foi possível verificar que os pacientes que tiveram acompanhamento farmacoterapêutico, tiveram melhoria de suas condições de saúde, maior adesão a farmacoterapia e auto gestão da farmacoterapia.
A implantação do cuidado farmacêutico permitiu a atuação e mobilização de vários atores do cenário da unidade básica de saúde, integração e reconhecimento da atuação do farmacêutico, para além do profissional do medicamento. Um profissional que cuida do paciente, agregando assim na oferta de serviços da APS. A gestão municipal garantiu a disponibilidade de um espaço físico para funcionar o consultório, alocação da carga horária do farmacêutico, saindo das funções de gestão para exercer a atividade clínica e mobilização da equipe dos agentes comunitários de saúde para atuar de forma efetiva e parceria no projeto. Esse foi um importante serviço a ser oferecido a população do município de Quixaba (PB), onde os usuários tem acesso a orientações adequadas sobre o uso racional de medicamentos, monitoramento farmacoterapêutico e oportunidade rara de ter o farmacêutico integrado a equipe de saúde somando esforços para trazer resolutividade na atenção primária a saúde.
Recomendamos a todos os farmacêuticos atuantes na APS a dedicarem um tempo para os pacientes e aderirem as próximas seleções para essa implantação, que com certeza o ministério da saúde vai continuar a valorizar. Recomendo dedicar uma parte da sua carga horária, hoje na maioria dos casos, só voltada para gestão e ter um olhar para o cuidado centrado no paciente.
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