A implementação do serviço de dispensação de PEP, PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) e TARV (Terapia Antirretroviral) em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) surgiu como estratégia inovadora para enfrentar desafios históricos no cuidado e prevenção ao HIV. As principais dificuldades identificadas incluíam barreiras de acesso, estigma associado às populações-chave e sobrecarga dos serviços especializados, fatores que limitavam a capilaridade e a integralidade do cuidado.
Nesse contexto, a Atenção Primária à Saúde (APS), por seu caráter territorializado e contínuo, mostrou-se um espaço estratégico para aproximar a prevenção e o tratamento das comunidades, reduzindo distâncias físicas e simbólicas. A experiência teve como objetivo geral ampliar o acesso às ações de prevenção e tratamento do HIV na APS, integrando diagnóstico, prescrição, dispensação e acompanhamento em um mesmo espaço de cuidado.
Entre os objetivos específicos, destacam-se: reduzir barreiras de acesso e estigma; fortalecer a prevenção combinada; promover a atuação multiprofissional — com destaque para a prescrição da PrEP por farmacêuticos — e garantir um cuidado humanizado e próximo às populações em maior vulnerabilidade.
A experiência justifica-se pela necessidade de descentralizar a resposta ao HIV, tornando a APS protagonista da prevenção e do acompanhamento longitudinal, em consonância com as metas nacionais de eliminação da Aids como problema de saúde pública até 2030.
Desde sua implantação, foram desenvolvidas diversas ações voltadas à integralidade do cuidado. Foi estruturado um fluxo operacional que contempla o atendimento de usuários para dispensação e prescrição, com acolhimento individualizado, oferta de testagem rápida para HIV e outras ISTs, aconselhamento e encaminhamento imediato para PrEP, PEP ou TARV, conforme indicação. A dispensação passou a ocorrer na própria unidade, com acompanhamento clínico e farmacêutico contínuo, reduzindo barreiras de acesso e fortalecendo o vínculo com os usuários.
Além disso, têm sido realizadas atividades de matriciamento das equipes, rodas de conversa e ações educativas sobre prevenção combinada e testagem rápida. Para ampliar o acesso, foi implementado o agendamento da dispensação via WhatsApp e criada uma agenda em turno noturno, garantindo atendimento a trabalhadores e maior equidade no acesso.
Atualmente, está em fase de formalização uma parceria com uma organização não governamental do território voltada à população LGBTQIAPN+, visando integrar esforços, ampliar o alcance da PrEP e fortalecer o cuidado a grupos mais vulneráveis.
O ponto de partida da experiência foi o reconhecimento de que muitas pessoas em situação de vulnerabilidade não conseguiam acessar os centros de referência, seja pela sobrecarga desses serviços, pela dificuldade de deslocamento ou pelo medo da estigmatização ainda associada ao HIV. Essa realidade resultava em abandono do cuidado, baixa adesão aos tratamentos e manutenção de barreiras que dificultavam o alcance das metas de prevenção combinada.
A ausência da oferta de PrEP e TARV na Atenção Primária à Saúde (APS) reforçava essas desigualdades, limitando a resposta local e a efetividade das políticas públicas voltadas ao enfrentamento do HIV. Diante desse cenário, surgiu a oportunidade de fortalecer a APS como espaço estratégico de cuidado, aproximando os serviços das comunidades e garantindo acesso integral, contínuo e humanizado. Assim como já prevê as normativas Distritais e Federais.
A iniciativa buscou aperfeiçoar os fluxos assistenciais, descentralizando o cuidado e promovendo maior resolutividade das ações no próprio território. A implantação do serviço de dispensação de PEP, PrEP e TARV na Unidade Básica de Saúde (UBS) da Asa Sul permitiu integrar prevenção, diagnóstico, prescrição e acompanhamento em um mesmo local, fortalecendo o vínculo entre equipe e usuários e tornando o cuidado mais acessível e acolhedor.
A inclusão dos farmacêuticos como prescritores da PrEP também representou um avanço significativo, ampliando a capacidade de atendimento e a autonomia da equipe de saúde. Essa ampliação de escopo profissional não apenas reduziu o tempo de espera e distribuiu melhor as responsabilidades, como também consolidou a APS como protagonista na resposta ao HIV, transformando o cuidado em um processo mais próximo, equitativo e integrado às necessidades reais da população.
A implementação da dispensação e prescrição de PEP, PrEP e TARV na UBS resultou em avanços significativos na integralidade e continuidade do cuidado, consolidando a Atenção Primária como espaço estratégico na resposta ao HIV. A iniciativa ampliou o acesso às estratégias de prevenção combinada, favoreceu o diagnóstico precoce por meio da testagem rápida e fortaleceu o vínculo entre usuários e equipe de saúde, especialmente entre grupos em maior situação de vulnerabilidade.
Observou-se crescimento contínuo na procura e adesão aos serviços, com número expressivo de usuários acompanhados em PrEP e TARV, além de atendimentos regulares para PEP. O volume de dispensações e o acompanhamento clínico constante evidenciam o engajamento dos usuários e a efetividade da estratégia. Embora recente, a experiência demonstra consolidação do serviço, adesão satisfatória e fortalecimento do cuidado multiprofissional.
A atuação integrada entre médicos, enfermeiros, farmacêuticos e técnicos de farmácia foi essencial para o êxito da experiência. Os farmacêuticos tiveram papel estratégico na prescrição e no acompanhamento dos usuários, ampliando a capacidade de oferta e a resolutividade do serviço. Já os técnicos de farmácia foram protagonistas na operacionalização da dispensação da PEP, assumindo papel central no acolhimento inicial, na orientação quanto ao uso correto dos medicamentos e no registro das dispensações. Essa atuação foi fundamental para garantir agilidade, continuidade do cuidado e acesso imediato às profilaxias pós-exposição, especialmente em situações emergenciais.
A valorização desse trabalho conjunto reforça a potência das equipes multiprofissionais na apse demonstra que a descentralização das ações de prevenção e tratamento do HIV — com o envolvimento qualificado de todos os profissionais da linha de cuidado — é fundamental para reduzir o estigma, ampliar o acesso e promover um cuidado mais humano, equitativo e resolutivo.
A experiência evidenciou que a descentralização das ações de prevenção e tratamento do HIV para a atenção primária é não apenas viável, mas também sustentável e de possui grande impacto social. Sua implementação demonstrou como a ubs pode se consolidar como um espaço estratégico de cuidado integral, acolhedor e resolutivo, servindo de modelo para outras unidades da rede.
O êxito dessa iniciativa está alicerçado em pilares que fortalecem a resposta local ao HIV e reafirmam o protagonismo da APS na promoção da saúde. Entre eles, destaca-se a capacitação contínua das equipes multiprofissionais, com especial atenção à valorização do papel dos farmacêuticos, que passaram a atuar não apenas na prescrição, mas também no acompanhamento clínico da PrEP e do TARV, ampliando a autonomia profissional e a resolutividade do serviço.
A reorganização dos fluxos de atendimento e a adequação dos espaços físicos garantiram um acolhimento humanizado, sigiloso e livre de estigmas, favorecendo o vínculo e a adesão dos usuários. A integração da testagem rápida e do aconselhamento à rotina assistencial tornou-se um componente essencial para a ampliação da prevenção combinada, permitindo identificar precocemente casos e ofertar intervenções imediatas.
O uso de ferramentas tecnológicas simples, como o agendamento de dispensações via aplicativos de mensagens, trouxe mais agilidade e conveniência, contribuindo para a continuidade do cuidado e para a redução de barreiras de acesso. Além disso, a articulação intersetorial e comunitária, especialmente com organizações da sociedade civil, fortaleceu a rede de apoio, ampliou o alcance às populações-chave e reforçou o compromisso com a equidade e a participação social.
A consolidação dessa estratégia reafirma a APS como eixo estruturante da resposta ao HIV no SUS. Ao aproximar o cuidado das pessoas e de seus territórios, o serviço contribui para reduzir desigualdades, ampliar o acesso à prevenção e ao tratamento e promover uma atenção mais humana, integral e inclusiva. Com isso, a experiência se alinha às metas nacionais de eliminação da Aids como problema de saúde pública até 2030, reafirmando o compromisso com um sistema de saúde universal e centrado nas pessoas.
SGAS II SGAS 612 - Asa Sul, Brasília - DF, Brasil
CADASTRO
ATUALIZAÇÃO