A supervisão acadêmica se fundamenta em um dos eixos educacionais do Programa Mais Médicos para o Brasil (PMMB). Responsável pelo fortalecimento da política de educação permanente, por meio da integração ensino-serviço-comunidade no componente assistencial da formação dos médicos bolsistas. Durante o ano de 2024 aos dias atuais a autora (médica de família e comunidade) se responsabilizou pela supervisão de nove médicos atuantes em dois municípios da região do Médio Paraíba no Estado do Rio de Janeiro: Volta Redonda e Rio Claro . Os encontros de supervisão, realizados em web conferências, com periodicidade mensal, têm como foco as necessidades individuais e coletivas dos profissionais no trabalho na Atenção Primária em Saúde (APS). Ressalta-se que o perfil dos médicos atuantes era de profissionais jovens, sem experiência em campo, necessitando qualificação periódica, além do suporte dos supervisores na interlocução com gestores locais a fim de fortalecer as competências necessárias para o melhor desenvolvimento do trabalho na APS. Mas como aperfeiçoar os espaços de supervisão? De que forma construir um processo formativo-educacional individual e coletivo voltados as necessidades de cada território?
Esta experiência regional busca descrever a supervisão acadêmica do PMMB dos municípios de Volta Redonda e Rio Claro trazendo uma estratégia única de formação permanente em serviço voltada aos territórios de atuação do PMMB.
Após a distribuição dos supervisores nos municípios pela instituição de nível superior (IES) ligada ao Ministério da Educação (MEC), cada professor teve autonomia em gerenciar seu processo de trabalho. As reuniões com durabilidade de 45 a 90 minutos, aconteciam na plataforma virtual. Primeiramente foi criado um grupo de whatsapp para consolidar as informações e integrar os participantes. Logo após um formulário diagnóstico, para entender o local de trabalho de cada um, e quais temas mais relevantes para cada médico seriam necessários no planejamento dos encontros. Os agendamentos eram realizados por enquete, garantindo flexibilidade de escolha para todos os participantes. Como metodologia, os temas eram escolhidos de forma prévia, os profissionais iniciavam os dez primeiros minutos da supervisão com algumas demandas locais, tais como: capacitações realizadas, problemas com carga horária, conflitos com a equipe, entre outros. Em seguida, o tema escolhido era discutido. O médico abordava sua prática e a supervisão trazia pontos de interface com a teoria. Ex. “O trabalho em equipe multiprofissional, entraves e objetivos na APS” ou ainda, “A redução de danos na equipe do consultório na rua, como começar?” As discussões técnicas tinham 30 minutos de duração e os últimos minutos finais eram destinados aos informes e feedbacks do processo educativo. Quando a supervisão era coletiva, com ambos municípios, a reunião de 90 minutos iniciava com a exposição das demandas pessoais de cada médico caso houvesse (20 min), em seguida com a discussão da temática elencada(60min).Incorporando diferentes realidades, a problematização trazia distintas perspectivas e soluções sobre uma mesma situação. Para o final, o supervisor sempre solicitava uma avaliação do encontro através de uma fala breve (10 min).
Como resultados alcançados pode-se dizer que os médicos de municípios diferentes, embora no mesmo ponto de atenção à rede de saúde (APS), tinham territórios e demandas individuais para qualificação. Portanto a individualização dos encontros foi fundamental para gerenciar as necessidades de cada um, uma vez que as equipes versavam entre consultório na rua, equipes de asfalto, rurais e favelas. Foram realizados desde março de 2024 doze encontros, sendo metade deles coletivos. As temáticas comuns foram: O PMMB e o meu papel no território, a Política Nacional de Atenção Básica, grupos operativos na APS, o trabalho em equipe multiprofissional, o novo co-financiamento da APS e a avaliação do programa mais médicos pela esfera municipal e federal, este último realizado em março de 2025. Ao final de 2024 foi solicitada aos municípios uma avaliação formativa pelo supervisor e pelo gestor do desempenho dos médicos em um ano de programa. Todos os profissionais desta supervisão receberam suficiente de ambas as partes. A supervisão também pediu aos médicos uma avaliação da metodologia deste processo de educação permanente, 20% dos médicos classificaram como bom e 80% como ótimo. Reforçando a necessidade de permanência.
Concluindo, o processo de formação destes profissionais é contínuo, a supervisão consegue transvesalizar entre a teoria e a prática individual e coletiva. Através da observação da realidade exposta, se identificam processos a serem melhorados de forma crítica e reflexiva. Ressalta-se que apenas a lotação dos médicos pelos programas de provimento federais não garante sua permanência nos territórios, menos ainda um trabalho voltado às necessidades das pessoas. A educação permanente com foco nos problemas enfrentados segue sendo uma garantia de cuidado destes médicos, que se sentem mais seguros no trabalho em áreas de alta vulnerabilidade. Recomenda-se que a supervisão acadêmica dos programas de provimento seja um médico de família e comunidade, com experiência prática e docente, para que possa induzir os processos de trabalho voltados para os atributos essenciais da APS: Acesso de primeiro contato, longitudinalidade, integralidade e coordenação do cuidado. O PMMB é o maior programa de provimento médico do Brasil, fortalecendo a estratégia saúde da família como modelo de atenção, levando o cuidado ao longo do tempo a quem mais precisa, fortalecendo os princípios do acesso universal, integralidade e equidade.
Volta Redonda, RJ, Brasil
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