A Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), implementada pelo Sistema Único de Saúde (SUS), reconhece atualmente 29 Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS). Essas práticas têm demonstrado evidências crescentes de eficácia e efetividade, levando a recomendações para sua inclusão na formação de profissionais de saúde. A incorporação das PICS nos currículos de graduação, especialmente em Enfermagem e outras áreas da saúde, apoia a mudança de paradigma de um modelo centrado na doença para uma abordagem mais holística e centrada na pessoa, alinhada aos princípios da integralidade e da complexidade em saúde.
O objetivo deste trabalho é relatar a experiência de ensino da Auriculoterapia em um curso de graduação em uma universidade pública.
Este é um relato de experiência sobre a implementação da Auriculoterapia e o treinamento de facilitadores vinculados a um projeto de extensão comunitária. Foi escolhida uma narrativa descritiva, baseada nas atividades teóricas e práticas desenvolvidas desde a introdução da primeira disciplina de graduação em 2021.
O projeto começou em 2018, oferecendo cinco cursos rápidos sobre fundamentos da Auriculoterapia para estudantes de enfermagem e áreas da saúde, com a participação de 179 alunos.
Devido à alta demanda por tratamentos de Auriculoterapia na clínica do projeto, foram criados cursos de graduação para formar novos auriculoterapeutas. Os cursos são abertos a qualquer estudante de graduação da universidade. Três cursos são oferecidos ao longo do ano acadêmico:
EN928 - Auriculoterapia I – 45 horas, com 15 horas de Prática em Extensão. Oferecido a cada semestre desde o segundo semestre de 2021. Quatro edições: 2021 (online) com 61 alunos, 2022 com 47 alunos, 2023 com 31 alunos, 2024 com 17 alunos.
EN929 - Auriculoterapia II – 45 horas, com 15 horas de Prática em Extensão. Oferecido a cada semestre desde o primeiro semestre de 2022. Três edições: 2022 com 21 alunos, 2023 com 21 alunos, 2024 com 14 alunos.
EX031 - Prática em Auriculoterapia I – 45 horas de extensão, com uma edição em 2023, matriculando 10 alunos.
Ao longo dos anos, houve aumento do interesse de estudantes de outras áreas, além dos cursos de saúde. A oferta dos cursos no período noturno permitiu que estudantes de enfermagem — cujo currículo integral impede a participação em outros horários — pudessem participar.
Para facilitar o acesso às práticas, os alunos trabalham junto a bolsistas na Clínica de Auriculoterapia mantida pela Escola de Enfermagem, oferecendo atendimentos à comunidade interna e externa. São realizados em média 40 atendimentos por semana.
O ensino da Auriculoterapia proporciona aos estudantes de saúde uma abordagem diferente de cuidado, ampliando suas perspectivas sobre bem-estar e práticas terapêuticas. Para estudantes de outras áreas, independentemente de sua formação, a formação em Auriculoterapia possibilita acesso a um modelo de cuidado que integra corpo, mente e emoções, rompendo com o modelo biomédico tradicional e promovendo a saúde a partir de um novo paradigma mais holístico e centrado no indivíduo.
Desafios na integração das PICS na educação superior em saúde:
Integração em Currículos Tradicionais: Um dos principais desafios é integrar as PICS em programas tradicionais de educação em saúde, que muitas vezes seguem o modelo biomédico. Isso requer superar resistências institucionais e adaptar o currículo para incorporar práticas mais holísticas e integrativas.
Falta de Familiaridade com as PICS: Muitos alunos podem não conhecer as PICS, o que representa um desafio educacional, pois os estudantes precisam primeiro experienciar essas práticas para se interessarem e se motivarem a seguir treinamento adicional.
Percepção e Aceitação de Práticas Holísticas: Pode haver ceticismo ou resistência em relação às PICS. A Auriculoterapia mostrou potencial para superar essas barreiras, mas superar o ceticismo entre estudantes e profissionais de saúde continua sendo um desafio significativo.
The Brazilian National Policy on Integrative and Complementary Practices (PNPIC), implemented through the Unified Health System (SUS), currently recognizes 29 Integrative and Complementary Health Practices (PICS). These practices have demonstrated growing evidence of efficacy and effectiveness, prompting recommendations for their inclusion in the education and training of health professionals. Incorporating PICS into undergraduate curricula, especially in Nursing and other health disciplines, supports a paradigm shift from a disease-centered model to a more holistic, person-centered approach to care, aligned with the principles of integrality and complexity in health. The objective of this work is to report the experience of teaching Auriculotherapy in an undergraduate program at a public university.
This is an experience report on the implementation of Auriculotherapy and the training of facilitators linked to a community extension project. A descriptive narrative was chosen, based on theoretical and practical activities developed since the introduction of the first undergraduate discipline in 2021.
The project began in 2018, offering five short courses on the basics of Auriculotherapy to nursing and health-related students, with the participation of 179 students. Due to the high demand for Auriculotherapy treatments at the project’s clinic, undergraduate courses were created to train new Auriculotherapists. The courses are open to any undergraduate student at the university. Three courses are offered throughout the academic year: 1) EN928 - Auriculotherapy I - 45 hours, with 15 hours of Extension Practice. Offered every semester, starting in the second semester of 2021, with 4 offerings: in 2021 (online) with 61 enrolled students, 2022 with 47 students, 2023 with 31 students, and 2024 with 17 students; 2) EN929 - Auriculotherapy II - 45 hours, with 15 hours of Extension Practice. Offered every semester, starting in the first semester of 2022, with 3 offerings: in 2022 with 21 students, 2023 with 21 students, and 2024 with 14 students; 3) EX031 - Auriculotherapy Practice I - 45 hours of extension, with 1 offering in 2023, enrolling 10 students. Over the years, there has been increasing interest from students in other fields, beyond health-related courses. Offering the courses in the evening has enabled nursing students—whose full-time curriculum prevents them from attending at other times—to participate. As for students from other programs, interest has come through prior contact with PICS or from students who had previously taken the course. To facilitate access to the practices, students work alongside scholarship holders at the Auriculotherapy Clinic maintained by the School of Nursing, providing treatments to the internal and external community. An average of 40 treatments are carried out weekly.
The teaching of Auriculotherapy provides health students with a different approach to care, broadening their perspectives on well-being and treatment practices. For students from other fields, regardless of their background, training in Auriculotherapy enables access to a care model that integrates body, mind, and emotions. This approach breaks away from the traditional biomedical model and promotes health from a new, more holistic paradigm centered on the individual. Challenges in Integrating PICS into Undergraduate Health Education: - Integration into Traditional Curricula: One of the main challenges is integrating PICS into traditional health education programs, which often follow a biomedical model. This requires overcoming institutional resistance and adapting the curriculum to incorporate more holistic and integrative practices. - Lack of Familiarity with PICS: Many students may not be familiar with PICS. This poses an educational challenge, as students first need to experience these practices in order to become interested and motivated to pursue further training in the area. - Perception and Acceptance of Holistic Practices: There may be skepticism or resistance toward PICS. Auriculotherapy has shown potential to break down these barriers. However, overcoming such skepticism among health students and professionals remains a significant challenge.