Na faculdade de medicina, aprendemos que, para quase todo problema, existe uma solução — e, na maioria das vezes, ela envolve medicação alopática. Na pediatria, não é incomum encontrar bebês e crianças pequenas que já passaram por múltiplos ciclos de medicamentos para sintomas que fazem parte do desenvolvimento fisiológico normal — como cólicas, febre, alterações do sono ou infecções virais leves. A demanda por alívio imediato, somada ao medo dos pais e à escuta clínica apressada, muitas vezes leva a intervenções precoces, sem permitir que o corpo da criança tenha a oportunidade de responder naturalmente.
Na pediatria integrativa, desenvolvemos um raciocínio clínico que vai além dessa visão acadêmica fragmentada e objetiva. O papel do profissional não é apenas diagnosticar e prescrever, mas compreender os fatores envolvidos no processo saúde-doença, interpretar os sinais do corpo para os cuidadores e restaurar sua confiança em sua própria capacidade de cuidar. A escuta ativa, o acolhimento das preocupações parentais e a explicação clara dos processos fisiológicos tornaram-se a base dessa experiência.
Como pediatra, aprendi sobre doenças. Como pediatra com abordagem integrativa, aprendi sobre saúde e sobre como empoderar os cuidadores para tomar decisões conscientes em relação a seus filhos. Após minha formação em Medicina Integrativa, deixei de lado o receituário e a caneta e passei a usar mais a minha voz. Introduzi práticas como o toque terapêutico e a higiene natural em bebês com cólica, a observação clínica da febre sem o uso automático de antitérmicos e o suporte imunológico por meio de medidas nutricionais (orientação alimentar e suplementação preventiva), além da melhora da saúde intestinal com o uso de substâncias que fortalecem a integridade da barreira e o equilíbrio da microbiota.
Essas práticas foram implementadas em meu consultório particular, onde acompanhei um total de 480 pacientes de 0 a 13 anos desde março de 2024. Observou-se uma redução significativa nas idas a emergências (públicas e privadas) e na prescrição indiscriminada de antibióticos nessa população. Também houve uma redução notável nas internações hospitalares por condições respiratórias agudas, com apenas três casos registrados em 2025. Os resultados dessa abordagem vão além dos aspectos terapêuticos: incluem a satisfação dos pais por se sentirem respeitados e confiantes, assim como a minha própria realização profissional em saber que estou oferecendo o melhor cuidado possível, prescrevendo medicamentos apenas quando realmente necessário. Com o tempo, famílias que antes buscavam soluções rápidas passaram a valorizar a escuta, o vínculo e o cuidado não invasivo.
Essa trajetória pessoal e profissional confirmou, na prática, o que os princípios da Medicina Integrativa já enfatizam: a cura não vem apenas de medidas externas, mas do fortalecimento do corpo como um todo — em suas dimensões física, emocional e até espiritual. A desmedicalização da infância não significa ausência de cuidado. Pelo contrário, quando o medicamento é necessário, ele é utilizado de forma consciente. Mas esse cuidado pode — e deve — ser mais profundo, onde tempo, presença e consciência também se tornam ferramentas terapêuticas.
Mesmo dentro das limitações de tempo e infraestrutura frequentemente impostas pelos sistemas públicos de saúde e pelos planos privados, é possível implementar estratégias integrativas de forma segura e eficaz. A chave está na mudança de foco — da imediaticidade da supressão de sintomas para a escuta ativa e respeitosa do corpo da criança. Em vez de silenciar com medicamentos, buscamos compreender.
Essa experiência reforça a urgência de incluir práticas integrativas na formação médica, especialmente na pediatria. O cuidado da criança não pode mais ser reativo e baseado em prescrições. Ele deve estar fundamentado em educação, prevenção e conexão — os verdadeiros pilares da saúde.
In medical school, we are taught that for almost every problem, there is a solution — and most of the time, it involves allopathic medication. In pediatrics, it is not uncommon to encounter babies and young children who have already gone through multiple rounds of medication for symptoms that are part of normal physiological development — such as colic, fever, sleep changes, or mild viral infections. The demand for immediate relief, coupled with parental fear and hurried clinical listening, often leads to early interventions, without allowing the child's body the opportunity to respond naturally.
In integrative pediatrics, we develop a clinical reasoning that goes beyond this fragmented and objective academic view. The professional's role is not only to diagnose and prescribe but to understand the factors involved in the health-disease process, to interpret the body's signals to caregivers, and to restore their confidence in their own caregiving capacity. Active listening, addressing parental concerns, and clear explanations of physiological processes became the foundation of this experience.
As a pediatrician, I learned about diseases. As a pediatrician with an integrative approach, I learned about health and about empowering caregivers to make conscious decisions regarding their children. After my training in Integrative Medicine, I set aside prescription pads and pens and began using my voice more. I introduced practices such as therapeutic touch and natural hygiene in infants with colic, clinical observation of fever without the automatic use of antipyretics, and immune support through nutritional measures (dietary guidance and preventive supplementation), along with improving gut health by using substances that enhance barrier integrity and microbiota balance.
These practices were implemented in my private clinic, where I have followed a total of 480 patients aged 0–13 years since March 2024. A significant reduction was observed in emergency room visits (public and private) and in the indiscriminate prescription of antibiotics in this population. There was also a remarkable reduction in hospital admissions due to acute respiratory conditions, with only three cases reported in 2025. The outcomes of this approach go beyond therapeutic aspects: they include parental satisfaction from feeling respected and confident, as well as my own professional fulfillment in knowing that I am providing the best possible care, prescribing medication only when truly necessary. Over time, families who once sought quick fixes began to value listening, bonding, and non-invasive care.
This personal and professional journey confirmed, in practice, what the principles of Integrative Medicine already emphasize: healing does not come only from external measures, but from strengthening the body as a whole—in its physical, emotional, and even spiritual dimensions. The demedicalization of childhood does not mean the absence of care. On the contrary, when medication is necessary, it is used consciously. But this care can—and should—be deeper, where time, presence, and awareness also become therapeutic tools.
Even within the time and infrastructure constraints often imposed by public health systems and private insurance, it is possible to implement integrative strategies safely and effectively. The key is a shift in focus — from the immediacy of symptom suppression to respectful, active listening to the child’s body. Instead of silencing with medication, we aim to understand.
This experience reinforces the urgency of including integrative practices in medical education, especially in pediatrics. The care of children can no longer be reactive and prescription-based. It must be grounded in education, prevention, and connection — the true pillars of health.