665
Brazilian Social Technology for Global Mental Health: Integrative Community Therapy as an Effective, Scalable, and Low-Cost Response to Post-Pandemic Suffering
Milene Zanoni
milenezanoni@gmail.com
Brasil
Tecnologia Social Brasileira para a Saúde Mental Global: Terapia Comunitária Integrativa como Resposta Eficaz, Escalável e de Baixo Custo ao Sofrimento Pós-Pandemia
Descrição

A Terapia Comunitária Integrativa (TCI) é uma tecnologia social brasileira desenvolvida em 1987 na favela do Pirambu, uma das maiores favelas urbanas de Fortaleza, no Nordeste do Brasil. Criada pelo psiquiatra Adalberto de Paula Barreto, a TCI surgiu como resposta à falta de acesso ao cuidado em saúde mental e ao suporte emocional em territórios marginalizados, impactados pela pobreza, violência e exclusão. Ela se baseia em cinco pilares teóricos: Pensamento Sistêmico, Antropologia Cultural, Pedagogia de Paulo Freire, Teoria da Resiliência e Pensamento Complexo, oferecendo uma visão holística e humanizadora do sofrimento e da cura.

A TCI é implementada em diversos contextos, especialmente em áreas vulneráveis, como bairros urbanos periféricos, zonas rurais, comunidades indígenas e quilombolas, abrigos, prisões, escolas, universidades e serviços de saúde. Foi institucionalizada no Sistema Único de Saúde (SUS) e reconhecida como uma Prática Integrativa e Complementar em Saúde (PICS) oficial por meio da Portaria nº 2.326/2024. Atualmente, o método é utilizado em mais de 1.500 municípios brasileiros e em mais de 40 países da América Latina, África, Europa e Ásia.

O método central da TCI é o “círculo terapêutico”, um encontro grupal estruturado, conduzido por terapeutas comunitários capacitados. Cada sessão segue cinco etapas: (1) acolhimento, (2) escolha da queixa, (3) contextualização, (4) partilha de experiências de vida e (5) fechamento simbólico. O processo valoriza a horizontalidade, o respeito mútuo, a diversidade cultural e a sabedoria coletiva. Em vez de oferecer conselhos ou diagnósticos, a TCI convida os participantes a escutar, compartilhar e reconhecer suas forças internas.

Inicialmente concebida para a prática presencial, a TCI foi rapidamente adaptada para formatos virtuais durante a pandemia de COVID-19. Os círculos online preservaram a metodologia central e criaram espaços terapêuticos para pessoas enfrentando ansiedade, luto, solidão e violência. Participantes de diferentes regiões do Brasil — e de outros países — se conectaram para escutar e apoiar uns aos outros. Essa transição ampliou o alcance da TCI e o potencial de intercâmbio intercultural.

No Brasil, a TCI é frequentemente implementada por meio de parcerias entre universidades, serviços públicos de saúde, ONGs e governos locais. Um exemplo importante é o Ambulatório de Saúde Integrativa (ASI) da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), no sul do Brasil. O ASI integra a TCI com outras práticas como auriculoterapia, fitoterapia, meditação e rodas de cura, oferecendo cuidado a mulheres com fibromialgia, mães de crianças em UTIs neonatais e trabalhadores da saúde em sofrimento.

O contexto brasileiro reflete as limitações de um sistema de saúde ainda dominado pelo modelo biomédico, com insuficiência de cuidado psicossocial e longas filas de espera para serviços especializados. A TCI preenche essas lacunas ao oferecer uma alternativa de baixo custo e alto impacto, fortalecendo a escuta, os vínculos comunitários e a autonomia.

Nos territórios em que a TCI está presente, desafios estruturais como pobreza, violência e desintegração social são comuns. A TCI resgata o valor do diálogo comunitário, promovendo pertencimento, esperança e resiliência. Ela não substitui o tratamento clínico, mas o complementa ao envolver as pessoas em sua própria jornada de cura e transformar a dor em significado coletivo.

A adaptabilidade cultural é outra de suas forças. A TCI respeita identidades locais e valoriza formas diversas de conhecimento, incluindo tradições orais e a memória comunitária. É praticada em aldeias indígenas, favelas e comunidades rurais, sempre se adaptando sem perder sua essência.

O crescimento da TCI também inspirou políticas e iniciativas de advocacy. Ela foi incorporada à formação de trabalhadores da saúde, integrada a programas sociais e apresentada em fóruns internacionais como um modelo de cuidado humanizado e democrático. Inclusive, já foi aplicada em contextos de mediação de conflitos, como no apoio a comunidades ucranianas e russas ou populações refugiadas na África.

Apesar dos avanços, a TCI enfrenta desafios. Muitos círculos dependem do trabalho voluntário, e persiste a resistência de modelos tradicionais e hierárquicos de saúde. A exclusão digital também limita o alcance de formatos online em algumas regiões. Superar esses obstáculos requer compromisso institucional, formação continuada, financiamento sustentável e integração do cuidado comunitário nas políticas de saúde.

Em resumo, a TCI oferece uma resposta acessível e transformadora ao sofrimento emocional agravado pela desigualdade e pela pandemia. Como tecnologia social brasileira, contribui para os esforços de saúde mental global, reafirma o poder da cura coletiva e promove equidade, participação e paz.

Problemas abordados

Medicalização excessiva do sofrimento humano, especialmente quando o sofrimento emocional é tratado prioritariamente com medicação em vez de abordagens holísticas;

Falta de espaços de escuta qualificada no SUS, deixando muitas pessoas sem acolhimento e apoio;

Isolamento social e enfraquecimento das redes de apoio, agravados pela pandemia de COVID-19 e pelas desigualdades estruturais;

Estigma relacionado à saúde mental e à vulnerabilidade, que desestimula as pessoas a buscar ajuda e compartilhar experiências;

Baixa integração interprofissional nos serviços de saúde, limitando respostas coordenadas e eficazes às demandas complexas em saúde mental.

A TCI oferece uma alternativa concreta, de baixo custo, comunitária e integrativa. Ela resgata o valor da experiência vivida, promove autonomia e resiliência, e fortalece o empoderamento social por meio de espaços inclusivos, culturalmente sensíveis e não hierárquicos que fomentam participação, pertencimento e cura coletiva.

Resultados (opcional)

Diversos estudos demonstraram a efetividade da TCI. Em um estudo com 65 participantes durante a pandemia, foram observadas melhorias significativas no bem-estar psicológico, nas relações interpessoais, no domínio do ambiente e no propósito de vida (REIS et al., 2025). Em um hospital universitário, a TCI combinada com auriculoterapia contribuiu para a redução de estresse, ansiedade e dor, além do aumento da felicidade, qualidade do sono e bem-estar emocional (BORGES et al., 2024).

Dados do SISAB (Sistema de Informação em Atenção Básica) indicam aumento contínuo na documentação dos círculos de TCI e no engajamento de municípios. A TCI também foi adotada como ferramenta humanitária em mediação de conflitos internacionais e em apoio a refugiados, demonstrando sua adaptabilidade cultural e escalabilidade.

Durante a pandemia de COVID-19, a TCI destacou-se como uma resposta inovadora e eficaz aos desafios socioemocionais, com ampla cobertura territorial em todo o Brasil. Entre 2017 e 2024, mais de 37 mil círculos de TCI foram oficialmente registrados nos sistemas de informação do SUS, envolvendo quase meio milhão de participações em 27,4% dos municípios brasileiros. Esses números provavelmente estão subestimados devido à subnotificação e às limitações atuais no registro de práticas coletivas e comunitárias nos sistemas nacionais de dados em saúde.

Recomendações ou Desafios

Recomendações:

Ampliar a integração da TCI nas políticas de saúde mental e de educação permanente;

Promover a formação de terapeutas comunitários e o apoio institucional aos círculos terapêuticos;

Reconhecer a TCI como uma estratégia de construção de cultura de paz e fortalecimento da participação social.

Desafios:

Garantir sustentabilidade financeira para a implementação contínua;

Superar resistências de modelos biomédicos dentro dos sistemas de saúde;

Enfrentar a exclusão digital, ampliando o acesso à internet e a alfabetização digital para expandir a acessibilidade dos círculos online.

Palavras-chave
Brazilian Social Technology for Global Mental Health: Integrative Community Therapy as an Effective, Scalable, and Low-Cost Response to Post-Pandemic Suffering
Description

Integrative Community Therapy (ICT) is a Brazilian social technology developed in 1987 in the Pirambu favela, one of the largest urban slums in Fortaleza, in the Northeast of Brazil. Created by psychiatrist Adalberto de Paula Barreto, ICT responded to the lack of access to mental health care and emotional support in marginalized territories impacted by poverty, violence, and exclusion. It is based on five theoretical pillars: Systemic Thinking, Cultural Anthropology, Paulo Freire’s Pedagogy, Resilience Theory, and Complex Thinking, offering a holistic and humanizing view of suffering and healing.

ICT is implemented across a variety of settings, especially in vulnerable areas such as peripheral urban neighborhoods, rural zones, Indigenous and Quilombola communities, shelters, prisons, schools, universities, and health services. It has been institutionalized within Brazil’s Unified Health System (SUS) and recognized as an official Integrative and Complementary Health Practice (PICS) through Ordinance No. 2,326/2024. The method is now used in over 1,500 municipalities in Brazil and more than 40 countries in Latin America, Africa, Europe, and Asia.

The central method of ICT is the "therapy circle," a structured group meeting facilitated by trained community therapists. Each session follows five steps: (1) welcoming, (2) selection of a concern, (3) contextualization, (4) shared life experiences, and (5) symbolic closure. The process values horizontality, mutual respect, cultural diversity, and collective wisdom. Rather than offering advice or diagnosis, ICT invites participants to listen, share, and recognize their inner strengths.

Initially designed for in-person practice, ICT was quickly adapted to virtual formats during the COVID-19 pandemic. Online circles preserved the core methodology and created therapeutic spaces for people experiencing anxiety, grief, loneliness, and violence. Participants from across Brazil—and beyond—connected to listen and support each other. This transition expanded ICT’s reach and intercultural exchange potential.

In Brazil, ICT is often implemented through partnerships involving universities, public health services, NGOs, and local governments. A key example is the Integrative Health Outpatient Clinic (ASI) at the State University of Ponta Grossa (UEPG), in southern Brazil. ASI integrates ICT with other practices like auriculotherapy, phytotherapy, meditation, and healing circles, offering care to women with fibromyalgia, mothers of children in neonatal ICUs, and health workers experiencing burnout.

The Brazilian context reflects the limitations of a health system still dominated by the biomedical model, with insufficient psychosocial care and long waitlists for specialized services. ICT addresses these gaps by offering a low-cost, high-impact alternative that strengthens listening, community ties, and autonomy.

In the territories where ICT is active, structural challenges such as poverty, violence, and social disintegration are common. ICT restores the value of community dialogue, fostering belonging, hope, and resilience. It does not replace clinical treatment but complements it by involving people in their own healing journey and transforming pain into collective meaning.

Cultural adaptability is another strength. ICT respects local identities and values diverse forms of knowledge, including oral traditions and community memory. It is practiced in Indigenous villages, favelas, and rural communities, always adapting without losing its essence.

ICT’s growth has also inspired policy and advocacy efforts. It has been included in health worker training, integrated into social programs, and presented at international forums as a model of humanized, democratic care. It has even been applied in conflict mediation contexts, such as supporting Ukrainian and Russian communities or refugee populations in Africa.

Despite its successes, ICT faces challenges. Many circles rely on volunteer efforts, and resistance from traditional, hierarchical health models persists. Digital exclusion also limits the reach of online formats in some regions. Overcoming these obstacles requires institutional commitment, continued training, sustainable funding, and the integration of community-based care into health policies.

In sum, ICT offers an accessible and transformative response to the emotional suffering exacerbated by inequality and the pandemic. As a Brazilian social technology, it contributes to global mental health efforts, reaffirms the power of collective healing, and promotes equity, participation, and peace.

Problems Addressed

Excessive medicalization of human suffering, especially where emotional distress is treated primarily with medication instead of holistic approaches;

Lack of qualified listening spaces within SUS, leaving many individuals feeling unheard and unsupported;

Social isolation and weakened support networks, worsened by the COVID-19 pandemic and structural inequalities;

Stigma related to mental health and vulnerability, which discourages people from seeking help and sharing experiences;

Low interprofessional integration in health services, limiting coordinated and effective responses to complex mental health demands.

ICT offers a concrete, low-cost, community-based, and integrative alternative. It restores the value of lived experience, promotes autonomy and resilience, and strengthens social empowerment through inclusive, culturally sensitive, and non-hierarchical spaces that foster participation, belonging, and collective healing.

Results (optional)

Numerous studies have demonstrated ICT's effectiveness. In a study with 65 participants during the pandemic, significant improvements were observed in psychological well-being, interpersonal relationships, environmental mastery, and life purpose (REIS et al., 2025). In a university hospital setting, ICT combined with auriculotherapy contributed to reduced stress, anxiety, and pain, as well as increased happiness, sleep quality, and emotional well-being (BORGES et al., 2024).

Data from SISAB (Primary Care Information System) indicate a steady increase in the documentation of ICT circles and growing engagement by municipalities. ICT has also been adopted as a humanitarian tool in international conflict mediation and refugee support settings, demonstrating its cultural adaptability and scalability.

During the COVID-19 pandemic, ICT stood out as an innovative and effective response to socioemotional challenges, with wide territorial coverage across Brazil. Between 2017 and 2024, more than 37,000 ICT circles were officially recorded in SUS information systems, involving nearly half a million participations in 27.4% of Brazilian municipalities. These figures are likely underestimated due to underreporting and current limitations in recording collective and community-based practices in national health data systems.

Recomendations or Challenges

Recommendations:

Expand ICT integration into mental health and continuing education policies.

Promote training of community therapists and institutional support for therapy circles.

Recognize ICT as a strategy for building a culture of peace and strengthening social participation.

Challenges:

Ensure financial sustainability for ongoing implementation.

Overcome resistance from biomedical models within health systems.

Address digital exclusion by improving internet access and digital literacy to expand online circle accessibility.

Keywords
unblocked games + agar.io