1192
Biodanza in Mental Health in the Brazilian Public Health System (SUS)
Pamela Rocha Perez
pamperez.com@gmail.com
Brasil
Biodança na Saúde Mental no Sistema Único de Saúde (SUS)
Descrição

Relato de experiência sobre a criação e manutenção de grupos de Biodança na Saúde Mental do Sistema Único de Saúde (SUS), como uma das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) oferecidas no Instituto Municipal de Assistência à Saúde Nise da Silveira (IMASNS) e no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Clarice Lispector, no Rio de Janeiro – Brasil. Por fazer parte do SUS, é gratuita e apoia o pressuposto fundamental de inclusão e democratização do acesso à atenção pública de qualidade em saúde. Usuários dos serviços de saúde mental em tratamento na instituição participam junto à comunidade que utiliza esses serviços. O segundo grupo está localizado no CAPS Clarice Lispector, outra unidade da Rede de Atenção Psicossocial, vizinha ao IMASNS, inaugurada em junho de 2025. Conta com aproximadamente 25 alunos por semana, entre profissionais de saúde mental e usuários com intenso sofrimento psíquico decorrente de transtornos mentais graves e persistentes, incluindo necessidades relacionadas ao uso nocivo de álcool e outras drogas, além de outras situações clínicas que impossibilitam o estabelecimento de vínculos sociais e a realização de projetos de vida.
A Biodança é um sistema de desenvolvimento humano e de transformação social que utiliza música, movimento com sentido e vivências em grupo como caminho de acesso às emoções e de reconexão dos vínculos afetivos do indivíduo consigo mesmo, com os outros (seus semelhantes) e com o cosmos — que organiza todas as formas de vida — em um ritmo equilibrado, vivo e pulsante. Esse sistema está presente em mais de 200 países no mundo há mais de 60 anos e promove saúde integral. Segue uma visão biocêntrica que coloca a vida no centro, valorizando todas as formas de existência. Trata-se de um sistema terapêutico essencialmente vivencial — razão pela qual é melhor compreendido quando experimentado, por meio de seu convite a dançar a vida que se revela no movimento que pulsa em cada um de nós.

A integração da identidade humana é o lema da Biodança: pensar, sentir e agir em consonância harmoniosa. Para isso, é necessário resgatar progressivamente o conhecimento de nossos instintos. Essa compreensão, muitas vezes adormecida (e desvalorizada na sociedade capitalista), do nosso corpo — tecidos, órgãos e células. Alinhada à nossa capacidade de ler o mundo por meio dos signos e do pensamento, a natureza e a cultura podem, assim, ser integradas de forma equilibrada que promova a vida.

Cada sessão semanal tem duração média de duas horas e acontece em um ambiente rico, seguro e acolhedor: por meio de vivências — no aqui e agora, em estado de presença — baseadas na semântica musical, com uma seleção de músicas orgânicas que estimulam estados afetivos específicos, conforme o tema proposto em cada encontro.

Problemas abordados

Este trabalho envolve projetos de saúde mental com grupos de Biodança que acolhem um segmento da população frequentemente marginalizado pela sociedade — em razão de sua especificidade e do preconceito que os exclui das atividades e recursos oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A Biodança na saúde mental é, portanto, convidada a fluir e expandir seus limites, a abraçar a singularidade e a diversidade dos indivíduos que acolhe. A construção desse trabalho requer escuta, sensibilidade, criatividade e uma dose de ousadia.

É importante destacar que o IMASNS é uma instituição centenária, outrora um dos maiores hospitais psiquiátricos da América Latina. Encerrou recentemente suas internações psiquiátricas e desinstitucionalizou todos os antigos residentes, egressos de longas hospitalizações psiquiátricas, em 2021. Isso garante o cuidado em liberdade e a expansão de seus serviços de promoção da saúde à população em geral por meio de atividades mediadas pelo esporte, pela arte e pela cultura, além de ações de extensão comunitária que valorizam saberes e tradições locais.

Também faz parte de um projeto maior em que antigas edificações de saúde mental desativadas serão demolidas para dar lugar a um parque arborizado aberto à comunidade.

Apesar de sua transformação nas últimas décadas, ainda carrega o estigma que cerca e aprisiona a loucura, sendo lembrado pelo bairro e pelo imaginário público como o “Hospital de Loucos”. Nesse sentido, seguimos realizando amplo trabalho de sensibilização e conscientização social para acolher e incluir as diferenças.

Resultados (opcional)

Revelam-se rapidamente efeitos transformadores, evidenciados pelos depoimentos de alunos e profissionais envolvidos. A Biodança para a saúde mental mostrou-se muito mais simples do que se poderia imaginar e ainda mais potente do que se poderia supor.

Recomendações ou Desafios

Compreende-se que a recuperação da nossa humanidade, proposta pela Biodança, por meio do fortalecimento do senso de coletividade e do florescimento da natureza em todos nós, produz saúde, bem-estar e um novo estilo de vida.

A inclusão da Biodança como cuidado integrativo no campo das clínicas de saúde mental é um terreno fértil, ainda pouco explorado, que se alinha ao lema da luta antimanicomial — por uma sociedade sem manicômios, nem qualquer forma de violência, opressão ou silenciamento de indivíduos.

A proposta das aulas de Biodança permite que o grupo acolha as diferenças e restabeleça progressivamente a dignidade das pessoas. Ao colocar a vida no centro, acima de qualquer preconceito, somos convidados a ocupar o centro do círculo, assumindo nosso lugar na existência. Como sujeitos que têm lugar, voz e uma compreensão única de si mesmos, dos outros e do universo ao redor. Dançando juntos, convocamos o próprio Sistema Único de Saúde (SUS) ao seu movimento original — resgatando sua vocação de promotor de saúde e facilitador de processos vitais.

Essa é a importância política, social e afetiva da inclusão da Biodança na Saúde Mental. É desse lugar de saber, amplo estudo e afeto que escuto e conduzo os grupos. A cada encontro, testemunho — no seio do grupo — a potência das PICS na construção de um mundo mais justo, igualitário e humano.

No Rio de Janeiro, contamos atualmente com apenas três grupos de Biodança em atividade. O incentivo às Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) é essencial, tanto em termos de sua ampla difusão e disponibilidade no sistema público de saúde quanto em termos da criação de um orçamento próprio para o programa, que possibilite a expansão dos serviços oferecidos à população e assegure a contratação de profissionais competentes para a prática dessas PICS.

Palavras-chave
Biodanza in Mental Health in the Brazilian Public Health System (SUS)
Description

Experience report on the creation and maintenance of Biodanza groups in the Mental Health of the Unified Health System (SUS), as one of the Integrative and Complementary Health Practices (PICS) offered at the Nise da Silveira Municipal Health Assistance Institute (IMASNS) and the Clarice Lispector Psychosocial Care Center (CAPS), in Rio de Janeiro - Brazil. Because it's part of the Unified Health System (SUS), it's free and supports the fundamental premise of inclusion and democratization of access to quality public health care. Mental health service users who receive treatment at the institution participate alongside the community, which uses these services.The second group is located at CAPS Clarice Lispector, another facility in the Psychosocial Care Network, neighboring IMASNS, and was inaugurated in June 2025. It has approximately 25 students per week, among mental health professionals and users with intense psychological distress resulting from serious and persistent mental problems, including those related to the needs arising from the harmful use of alcohol and other drugs, and other clinical situations that make it impossible to establish social ties and carry out life projects. Biodanza is a system of human development and social transformation that uses music, meaningful movement, and group experiences as a way to access emotions and reconnect with the individual's emotional bonds with themselves, others (their fellow human beings), and the cosmos—which organizes all forms of life—in a balanced, living, and pulsating rhythm. This system has been present in over 200 countries worldwide for over 60 years and promotes holistic health. It follows a biocentric vision that places life at the center, valuing all forms of existence. It is a primarily experiential therapeutic system—which is why it is best understood when experienced through its invitation to dance the life that reveals itself in the movement that pulses within each of us.

The integration of human identity is the motto of Biodanza: thinking, feeling, and acting in harmonious consonance. To achieve this, it is necessary to progressively reclaim the knowledge of our instincts. This often dormant (and undervalued in capitalist society) understanding of our body: tissues, organs, and cells. Aligned with our ability to read the world through signs and thought, nature and culture can thus be integrated in a balanced way that promotes life.

Each weekly session lasts an average of two hours and takes place in a rich, safe, and welcoming environment: through experiences—in the here and now, in a state of presence—based on musical semantics, with a selection of organic music that stimulates specific affective states, according to the theme proposed in each class.

Problems Addressed

This work involves mental health projects with Biodanza groups that welcome a segment of the population often marginalized by society—due to their specific nature and the prejudice that excludes them from the activities and resources offered by the Unified Health System (SUS). Biodanza in mental health is therefore invited to flow and expand its boundaries, to embrace the uniqueness and diversity of the individuals it welcomes. Building this work requires listening, soulfulness, creativity, and a dose of boldness.

It's important to note that IMASNS is a century-old institution, once one of the largest psychiatric hospitals in Latin America. It recently ended its psychiatric admissions and deinstitutionalized all former residents, discharged from long-term psychiatric hospitalizations, in 2021. This ensures care in freedom and the expansion of its health promotion services to the general population through activities mediated by sports, art, and culture, as well as community outreach initiatives that value local knowledge and traditions.

It is also part of a larger project in which old, decommissioned mental health buildings will be demolished to make way for a wooded park open to the community.

Despite its transformation over the past few decades, it still carries the stigma that surrounds and imprisons madness, and is still remembered by the neighborhood and in the public imagination as the "Hospital for the Mad." In this sense, we continue to carry out extensive awareness-raising and social awareness work to welcome and include differences.

Results (optional)

They quickly reveal transformative effects, as seen through the testimonies of students and professionals involved. Biodanza for mental health has proven to be much simpler than one might imagine and even more powerful than one might imagine.

Recomendations or Challenges

It is understood that the recovery of our humanity, which Biodanza proposes, through the strengthening of the sense of collectivity and the flourishing of nature within us all, produces health, well-being, and a new lifestyle.

The inclusion of Biodanza as integrative care in the field of mental health clinics is a fertile field, still little explored, that aligns with the motto of the anti-asylum struggle—for a society without asylums, nor any form of violence, oppression, or silencing of individuals.

The proposal of Biodanza classes allows the group to embrace differences and progressively restore people's dignity. By placing life at the center, above any prejudice, we are invited to occupy the center of the circle, taking our place in existence. As subjects who have a place, a voice, and a unique understanding of themselves, others, and the universe around us. Dancing together, we call upon the Unified Health System (SUS) itself to its original movement—reclaiming its vocation as a promoter of health and a facilitator of life processes.

This is the political, social, and emotional importance of Biodanza's inclusion in Mental Health. It is from this place of knowledge, extensive study, and affection that I listen and lead the groups. At each meeting, I witness—within the group—the power of PICS in building a more just, egalitarian, and humane world.

In Rio de Janeiro, we currently have only three active Biodanza groups. Encouraging Integrative and Complementary Health Practices (PICS) is essential, both in terms of their widespread dissemination and availability within the public health system and in terms of creating a dedicated budget for the program, which would enable the expansion of services offered to the population and ensure the hiring of competent professionals to practice these PICS.

Keywords
unblocked games + agar.io