A COVID-19 é uma doença infectocontagiosa proveniente do coronavírus (SARS-CoV-2). Os primeiros casos surgiram em dezembro de 2019 e, com sua disseminação em nível mundial, estabeleceu-se uma pandemia que já soma 761.071.826 de casos e 6.879.677 de óbitos. Defronte ao cenário de alta complexidade, a melhor forma de proteção contra essa doença grave e suas consequências, é através da vacinação. Os impactos negativos do novo coronavírus deram origem à diversas pesquisas em busca de uma medida de controle, resultando na corrida pela vacina. No dia 17 de janeiro de 2021, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) concedeu, em caráter emergencial, a liberação do uso dos imunizantes Sinovac/Butantan e AstraZeneca/Fiocruz. Diante disso, deu-se início a Campanha Nacional de Vacinação contra a COVID-19. Futuramente, foram concedidos registros definitivos às vacinas Pfizer/Comirnaty e AstraZeneca/Fiocruz, bem como a autorização do uso emergencial da Janssen. Em congraçamento ao Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a COVID-19, a Secretaria de Saúde de Araguaína publicou o Plano Municipal de Vacinação contra a COVID-19. O mesmo, apresentando diretrizes e orientações para a estruturação e desenvolvimento das ações de vacinação na cidade. Levando em consideração os riscos da doença, o prognóstico da infecção depende de diferentes fatores. Ainda que, grande parte da população apresente apenas sintomas leves ou moderados, 15% dos acometidos podem evoluir com a forma grave, com inúmeras complicações. Alguns fatores, como a presença de comorbidades, caracterizam maior risco. Esse relato trata das experiências adquiridas pelo serviço de imunização. Os relatos de experiências são escritos que compartilham circunstâncias, métodos e técnicas adotados durante o trabalho. Objetivou-se evidenciar os resultados alcançados com os modelos de vacinações contra a COVID-19 utilizados no município de Araguaína-TO. Além disso, o intuito da experiência é elencar os principais problemas e desafios vivenciados pelas equipes de imunização, retratar o processo de trabalho nos modelos de vacinação aplicados e divulgar as coberturas vacinais obtidas através das vacinações itinerantes. No contexto vacinal surgiram muitos desafios, que demandaram um grande planejamento e organização nos trabalhos desenvolvidos. Entre essas dificuldades, pode-se citar: divulgação de notícias falsas, a operacionalização das ações mediante os cuidados necessários na pandemia, a validade dos frascos e após abertura, a sobrecarga nos trabalhadores da saúde e a sistematização das atividades. Foram aplicadas 04 estratégias itinerantes, como o atendimento em Drive-Thru, através da Vacinação em Unidade Móvel e as ações em grandes espaços públicos. Após análise dos resultados, evidenciou-se que as atividades desenvolvidas possibilitaram o crescimento dos índices de cobertura vacinal contra a COVID-19, ao tempo que obedeceram às medidas de proteção exigidas pelo momento de pandemia. As estratégias aplicadas permitiram um maior acesso aos grupos prioritários durante a campanha de vacinação, evitando sobrecarga nas Unidades Básicas de Saúde do município. Os resultados do presente relato auxiliarão no aperfeiçoamento das atividades de vacinação, contribuindo com a organização dos serviços e, consequentemente, com o alcance das coberturas vacinais. É necessário, para o sucesso de uma campanha de vacinação, a elaboração de estratégias que melhorem a qualidade do atendimento em saúde ofertado à população.
Segundo Brasil (2023) – através do Vacinômetro do Ministério da Saúde – até o dia 28 de março de 2023, haviam sido aplicadas cerca de 510.449.598 de doses de vacinas contra a COVID-19 em todo Brasil. O Tocantins representa 2.838.131 desse número. Conforme o site INTEGRA SAÚDE TOCANTINS (2023), no que diz respeito ao município, Araguaína chegou à marca de 331.248 doses no referido período, com um percentual de aplicação de 81,78%. São cerca de 138.048 primeiras doses (74,60%) e 116.473 segundas doses (64,99%). O cenário apresentado é reflexo de muitos empasses enfrentados pelo serviço de imunização. Entre esses, a divulgação de notícias falsas (fake news) divulgadas em redes sociais, levando à desinformação, com consequente resistência e baixa adesão vacinal da população. A disseminação de conteúdos com informações falsas tornou-se problema de saúde pública, tendo influência até os dias atuais nos serviços de saúde. Em muitas situações, durante a oferta de vacinas nos locais de atendimento, as pessoas compartilhavam boatos, não aderindo aos imunizantes contra a COVID-19, argumentando embasados em publicações não científicas. Momentos assim, demandaram preparo das equipes de vacinação, que buscavam sempre esclarecer aos impactos da doença e suas principais formas de controle. No que está relacionado ao processo de vacinação, outro desafio enfrentado foi quanto à operacionalização das ações, mediante às condições necessárias na pandemia. Para que fossem desempenhadas as atividades, foram estabelecidas estratégias que tornassem a administração dos imunizantes ágil e com segurança. Diante disso, os locais escolhidos eram amplos e de fácil acesso aos públicos elegíveis para a vacinação. Com relação aos imunobiológicos, a validade dos frascos tornou-se uma dificuldade para o serviço de imunização. O imunizante do laboratório Pfizer/Comirnaty (tampa roxa), conforme estudo de estabilidade do mesmo, apresenta viabilidade de uso por um período de 31 dias à temperatura entre 02º e 08ºC. Ponderando que o abastecimento da Central Municipal de Rede de Frio é realizado pelo Polo Estadual, as vacinas já chegam descongeladas, com disponibilidade de uso entre 29 ou 30 dias. Levando em consideração que anteriormente as vacinas COVID-19 eram enviadas aos municípios de acordo com pautas (sem solicitações ou acordos), foi gerada uma sobrecarga extremamente grande nos profissionais a fim de evitar perdas. No que se toca ao uso após abertura dos frascos, a vacina Coronavac/Butantan pode ser utilizada em até 08 horas. A Pfizer/Comirnaty (tampa roxa), apresenta um período ainda menor de uso, sendo de 06 horas. Diante dessas situações, o município determinou outras estratégias vacinais, como a redução do intervalo das doses – respeitando o indicado em bula. No tocante dos esquemas vacinais, a mudança constante destes, gerou uma dificuldade ainda maior na aceitação da população. Como são imunizantes em estudo, há contínuas adequações, como a inserção das doses de reforço. Porém, essas alterações associadas às fake news, geraram uma queda alta na busca pela vacinação contra a COVID-19. Com referência aos profissionais, foram aplicados treinamentos incessantes para a melhor compreensão dos mesmos, totalizando cerca de 16 encontros entre 2021 e 2022. No quadro das vacinações itinerantes, o contexto pandêmico gerou uma sobrecarga de todos os profissionais envolvidos nas atividades. Eram horas de trabalho em pé, caminhadas e intercorrências devido clientes conflitantes em fila. O trabalho de liderança exigia extremo controle de todo o processo. Em muitas situações os profissionais se deparavam com pedidos de filmagens e fotografias, realizadas pelas equipes televisivas ou pelos familiares dos vacinados, o que impactava na condução do serviço. Ao tempo que, compreendiam a euforia do momento, também se preocupavam com as medidas de proteção necessárias. Questões sistemáticas, como o registro das doses e o controle dos estoques também representavam um desafio.
O trajeto utilizado para a vacinação em Drive-Thru foi estruturado com 03 tendas, compostas por 01 equipe de triagem, 02 equipes de cadastro e 04 pontos de vacinação. A equipe de triagem era constituída de 03 profissionais com a responsabilidade de conferência dos documentos apresentados pelos pacientes na entrada do trajeto, filtrando em aptos e não aptos para vacinação. Com relação às equipes de cadastramento, as mesmas eram formadas por 10 trabalhadores, divididos em 05 para cada lado do trajeto. Estes realizavam o recolhimento dos documentos para registro em planilha com os dados apresentados. Quanto aos pontos de vacinação, esses eram integrados por 03 profissionais de enfermagem em cada equipe, incumbidos com a aplicação do imunizante, anotação e aprazamento em cartão de vacina, além das orientações aos pacientes. O local possibilitou o atendimento de mais de 1.000 pacientes ao dia. Contava com entradas e saídas diferenciadas, gerando melhor acesso e celeridade às ações. Eram formadas filas de veículos, sendo o atendimento ofertado sem a necessidade de maior contato com o público. De forma a promover o atendimento integral aos pacientes, o local do Drive-Thru ficava próximo de outros pontos de vacinações fixos. Dessa forma, os pedestres que surgiam no espaço, puderam ser encaminhados em segurança para as unidades vizinhas. Pode-se afirmar que foram momentos de grandes emoções. Por muitas vezes, eram visualizadas equipes, familiares e pacientes comovidos durante o trajeto. Eram rotineiras as entregas de lanches e mimos aos profissionais, em manifestação de gratidão pelo trabalho desempenhado. Com isso, os drives se fortaleciam a cada ação. A Tabela 01 apresenta a quantidade de doses aplicadas no modelo de vacinação em Drive-Thru. Como observado acima, o maior número foi no dia 21 de abril de 2021, com a inclusão da faixa etária de 63 anos ou mais, sendo 1.116 atendimentos prestados; seguido pelo público de 60 anos ou mais, com 926. O menor quantitativo, diz respeito ao dia 22 de abril de 2021, com idosos e trabalhadores da saúde, sendo 261 doses. A designação de grupos prioritários para vacinação faz-se de grande relevância, pois considera a vulnerabilidade dos públicos. Os idosos compreendem a maior prevalência de doenças crônicas e de debilidade imunológica, o que os torna mais propícios ao desenvolvimento de gravidade pela doença. Questões como medo, insegurança, política e veiculação de notícias falsas causaram muita hesitação vacinal na população. Desse modo, um trabalho articulado é necessário para o andamento da campanha (SOUTO; KABAD, 2020). Mesmo que, a maioria da população desenvolva apenas sintomas leves ou moderados, 15% dos acometidos podem evoluir com a forma grave, com inúmeras complicações. Fatores como, a presença de comorbidades, caracterizam maior risco (SOUZA et al, 2021). Entre 05 de maio e 18 de novembro de 2021, o Complexo Poliesportivo realizou 55.767 atendimentos, chegando a vacinar 1.300 pacientes por dia. No espaço chegaram a atuar 01 enfermeira como responsável técnica, 05 profissionais na equipe de triagem (conferindo documentos pessoais e critérios de vacinação), 03 pessoas responsáveis por organizar e direcionar os pacientes, 12 profissionais de enfermagem compondo 04 equipes de vacinação, 08 cadastradores, 02 motoristas de apoio, 02 porteiros e 04 profissionais da gerência de imunização do município. A vacina é importante para a proteção coletiva. A pandemia de COVID-19 é agente de impactos globais. Portanto, um plano de operacionalização bem elaborado, é essencial para uma execução exitosa das ações de vacinação (DOMINGUES, 2021). O espaço promovido pelo Complexo Poliesportivo fez com que aglomerações fossem evitadas, preservando os cuidados necessários mediante a pandemia. A Tabela 02 diz respeito à vacinação itinerante no centro da cidade. Foram 41.893 atendimentos nas instalações da Câmara Municipal de Araguaína, entre 2021 e 2022. Em média, eram vacinadas aproximadamente 450 pessoas ao dia. A escala de profissionais era dividida por período, sendo uma equipe no turno matutino e outra no turno vespertino. No total, o ambiente contava com 08 enfermeiros, 03 técnicos em enfermagem e 07 administrativos. Devido à sua localidade, todo o comércio, bem como outras instituições foram beneficiadas com a estratégia. A imunização há tempos se consolida e demonstra que, através desta, muitas doenças sofreram queda ou, tiveram até mesmo, sua erradicação. Diante do novo Coronavírus, a importância vacinal é cada vez mais enfatizada (VIEIRA, 2020). A Tabela 03 refere-se à Unidade de Vacinação Móvel. A mesma foi responsável pela aplicação de 4.539 doses, ampliando a cobertura vacinal da população. A equipe era formada por 02 cadastradores, 02 vacinadores e 01 enfermeira responsável. O objetivo da mesma, foi dar continuidade à vacinação em pontos de altos fluxos da cidade. Ao final das ações eram realizadas as contagens dos frascos vazios em comparação ao número de doses aplicadas. Notou-se que, muitos frascos do imunizante Coronavac resultavam em uma quantidade menor de doses em relação ao indicado pelo laboratório. Essas ocorrências podem representar duas causas: falha na produção ou o uso de seringas que não são de baixo volume morto. Durante as atividades havia uma profissional enfermeira como responsável técnica pelo desenvolvimento do processo de trabalho, gerenciando as equipes, provendo os documentos necessários, avaliando a distribuição das doses, contagem de frascos, monitoramento das temperaturas, mensuração de estoque, relações com imprensa e elaborando escala de pessoal. Com relação à Tabela 04, conforme o IBGE (2022), Araguaína tem uma prévia populacional de 186.867 habitantes. Esse dado demonstra ainda mais a amplitude das vacinações itinerantes, que foram responsáveis por 111.222 atendimentos, o que representa 59,52% quando relacionado à estimativa de munícipes. Importante destacar que, em todas as atividades eram aplicadas primeiras e segundas doses, além dos reforços contra a COVID-19. Portanto, muitos pacientes iniciaram esquema vacinal em um dos pontos, retornando para encerramento do ciclo. As vacinas ofertadas durante as vacinações itinerantes foram: Coronavac, AstraZeneca e, posteriormente, Pfizer e Janssen. As caixas térmicas eram abastecidas conforme necessidade. No local de atendimento, haviam espaços específicos para provimento de insumos e imunobiológicos. O planejamento dos modelos de vacinação envolveu não só a equipe de imunização do município, como as superintendências, o serviço de manutenção e almoxarifado. Todos os materiais necessários foram fornecidos, como: cadeiras, mesas, materiais de escritório, faixas e insumos básicos de vacinação. Segundo Domingues (2021), é de extrema importância um plano de vacinação que possibilite organizar a logística de execução das campanhas, buscando êxito nas ações. As vacinas são essenciais na proteção coletiva, proporcionando qualidade de vida à população.
As atividades desenvolvidas possibilitaram o crescimento dos índices de cobertura vacinal contra a COVID-19, ao tempo que respeitaram as medidas de proteção exigidas pelo momento de pandemia, evitando aglomerações e, consequentemente, reduzindo o risco de transmissão da doença. A implementação desses modelos de vacinação demandou um grande planejamento estrutural e de fluxo. Como resposta, essa organização possibilitou um maior acesso dos grupos prioritários durante a campanha de vacinação, evitando sobrecarga nas Unidades Básicas de Saúde do município. Defronte ao exposto, o relato proporciona um detalhamento das estratégias, servindo de modelo para outros municípios desenvolverem as ações de imunização. Em adição, permite melhorias quanto aos desafios apresentados. Recomenda-se o uso de tecnologias e acesso à rede de internet para entrada instantânea aos sistemas de vacinação, facilitando a informatização e o registro de dados. No tocante da escala de profissionais, o estabelecimento de equipes fixas agiliza o processo de trabalho. No que diz respeito ao formato em Drive-Thru, sabe-se que o mesmo é pensado para a população que dispõe de veículos. No entanto, muitos não possuem transporte próprio, necessitando de outros meios de acesso aos serviços de saúde. Diante disso, é de extrema importância que essas atividades sejam ofertadas em locais próximos de pontos fixos de vacinação, como as Unidades de Saúde, possibilitando o encaminhamento para atendimento dos pedestres. Defronte ao exposto, é evidente a necessidade da elaboração de estratégias que melhorem a qualidade do atendimento em saúde ofertado à população. Os resultados do presente relato promovem reflexões pertinentes, que auxiliarão no aperfeiçoamento das atividades de vacinação, contribuindo com a organização dos serviços e, consequentemente, com o alcance das coberturas vacinais.
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