- Práticas Integrativas e Complementares em Saúde
Ana Amélia Machado Duarte
- 24 abr 2024
Em 2017, após avaliação situacional e compartilhada da Unidade Básica de Saúde (UBS) Esplanada e do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) regional, o número de casos de saúde mental fazia a base epidemiológica do território e a busca de escuta qualificada dos usuários. Para além disso, a composição do território trazia particularidades dos usuários enquanto participantes do grupo: uma heterogeneidade maciça. O grupo traria histórias, emoções, incertezas e não mais um trabalho educativo. As equipes investiram com apoio matricial, aporte teórico para fortalecer o denominado grupo de convívio. Justifica-se esta experiência a partir da superação da dicotomia indivíduo e grupo. Repensar a dicotomia era trazer em cena um “tecer juntos” da complexidade, segundo Morin, que não exclui essa separação, mas trama o que é antagônico e sustenta a vivencia através da estratégia – procura incessantemente reunir informações colhidas e os acasos encontrados durante o percurso. Ao passo que a vida exige estratégia e, se possível, serenidade e arte (Morin, 2015).
Descrever a experiência de um grupo de convívio no eixo de saúde mental e com aporte da Teoria da Complexidade de Morin, e suas interfaces com o cuidado na atenção básica. O grupo é aberto, acontece a cada 15 dias e tem duração média de 1 hora. Os usuários são encaminhados na consulta ou em acolhimento da UBS, que discute o itinerário terapêutico do paciente com o NASF. Sempre consta com dois profissionais, sendo um o coordenador e outro de suporte, que auxilia na observação e na parte burocrática. Quando necessário, retoma-se aos contratos grupais estabelecidos pelos participantes, há o espaço para fala. Após esse momento, o coordenador faz as tramas que os assuntos podem se entrelaçar com os recursos terapêuticos da arte, poesia e música. A arte leva à dimensão estética da existência humana, nos põe em comunicação com o mistério, que está além do que pode ser dito (Morin, 2015).
A ótica da complexidade para o grupo de convívio foi fundamental para que fosse uma experiência exitosa. Através dela foi possível compreender os fenômenos do grupo e se ater às diferenças como uma oportunidade e não como um fator limitante. A desordem que os encontros vivos provocavam na equipe e nos usuários foi elemento de estudo e o fio condutor da trama: aceitar as incertezas, embates em contraposição, mas também em complementação, fazendo o composto heterogêneo uma colcha de retalhos do cotidiano e vidas. Assim, esse relato de experiência pressupõe que bem “tramado” no “tecer juntos”, um grupo de convívio pode ser coeso, promotor de saúde e habilitador do reconhecimento e respeito dos vários modos de vida. Fazer do espaço de saúde significativo implica compreender em ato as singularidades de cada sujeito, ao mesmo tempo na constituição, nunca linear, do campo grupal. As observações terapêuticas precisam contemplar movimentos antagônicos e complementares da vivência relacional e cotidiana da disjunção e junção, classificação e associação, e a complexificação. Assumir que na urdidura da trama e do tecer juntoS há incertezas e incompletude do saber, porém oportunidades.
CADASTRO
ATUALIZAÇÃO