Em um dos momentos mais delicados da vida – a perda de um ente querido –
famílias do interior do Rio de Janeiro encontraram um aliado inesperado: o Serviço
Regional de Certificação de Óbito (SRCO). Mais do que um protocolo burocrático,
este serviço tornou-se um gesto de cuidado final, onde uma equipe composta por
médico, assistentes social e condutor trabalham juntos para transformar a dor do
luto em um processo digno e respeitoso. Implantado em outubro de 2023, o SRCO
nasceu da compreensão de que cada vida merece um fechamento adequado –
especialmente quando a morte ocorre longe dos hospitais, em lares onde antes as
famílias enfrentavam sozinhas todo o processo. Atendendo 12 municípios e uma
abrangência de quase 1 milhão de pessoas, nossa equipe testemunhou
diariamente como um atestado de óbito feito com sensibilidade pode ser o primeiro
passo no longo caminho da superação. Este estudo conta a história real por trás
dos números: das viúvas que receberam apoio emocional enquanto cuidavam da
papelada, dos filhos que puderam se despedir em paz sabendo que tudo estava em
ordem, e dos profissionais de saúde que encontraram uma nova forma de exercer
sua vocação – cuidando não só dos vivos, mas também da memória daqueles que
partiram. Aqui, os dados ganham rostos e nomes, mostrando como políticas
públicas bem desenhadas podem tocar o coração das pessoas exatamente quando
mais precisam.
Oportunidade:
Em meio à dor do luto, o Serviço Regional de Certificação de Óbito (SRCO) surgiu como um farol de humanização, provando que mesmo nos momentos mais difíceis é possível unir eficiência e compaixão. A iniciativa transformou um trâmite burocrático em um ato de cuidado, oferecendo às famílias não apenas a resolução prática dos documentos, mas também acolhimento emocional. A oportunidade está em expandir esse modelo, mostrando que políticas públicas podem—e devem—ser desenhadas com sensibilidade, tocando vidas quando mais precisam de dignidade.
Problema:
Antes do SRCO, as famílias do interior do Rio de Janeiro enfrentavam sozinhas a complexidade burocrática após a perda de um ente querido, muitas vezes em situações de vulnerabilidade emocional e logística. A falta de um serviço integrado—que combinasse agilidade técnica e suporte humano—deixava os enlutados sobrecarregados, transformando um momento já doloroso em uma jornada de solidão e desamparo. O problema, portanto, era a invisibilidade desse sofrimento: a ausência de um olhar que enxergasse, por trás dos formulários, o coração partido de quem precisava apenas de um gesto de respeito para começar a cicatrizar.
Nos primeiros 15 meses de operação, o SRCO transformou a experiência de 653
famílias ao longo do Médio Paraíba. Por trás de cada número, há histórias que nos
ensinam sobre cuidado e resiliência: os 57% de homens e 43% de mulheres
atendidos representam pais, mães, avós e amigos que partiram, mas cuja
despedida foi marcada por dignidade. A distribuição por idade – 21% abaixo de 59
anos, 66% entre 60-89 anos e 13% acima de 90 anos. Os 175 casos em Volta
Redonda, 147 em Barra Mansa, 92 em Resende e os restantes distribuídos nas
demais cidades, mostram como o serviço se espalhou pela região, levando
conforto até nos municípios menores – como Quatis, com 2 atendimentos, onde
cada família recebeu a mesma atenção dedicada aos grandes centros. As
principais causas de óbito foram: 178 infartos falam da urgência cardiovascular em
nossa região, os 30 casos de câncer, e 44 choques cardiogênicos. Mas os números
mais significativos são aqueles que não constam nas estatísticas: os 100% de
casos onde alguém segurou a mão de um familiar enlutado, as incontáveis xícaras
de café oferecidas durante os trâmites, ou as 653 vezes em que nosso time disse
não apenas “assinamos aqui”, mas “sentimos muito por sua perda”. A verdadeira
medida do SRCO está na paz que levou a lares em luto, nos “muito obrigados”
sussurrados com voz embargada, e na certeza de que, mesmo na morte, ninguém
está sozinho.
Replicar um serviço como o SRCO vai além de seguir um manual—é sobre construir pontes de cuidado em momentos de fragilidade. Comece formando uma equipe que uma competência técnica e sensibilidade, porque um atestado de óbito não é só um documento: é a última página de uma história que merece ser virada com respeito. Simplifique os trâmites, mas nunca apresse as lágrimas; ofereça clareza nos procedimentos, mas também um ombro simbólico—seja na voz calma do médico, no olhar atento da assistente social ou no silêncio respeitoso do condutor. Adapte-se à realidade de cada família, porque o luto não é igual para todos: na zona rural, pode significar esperar um pouco mais; na cidade, talvez seja ajudar a navegar por menos papelada. Registre não só números, mas os aprendizados invisíveis—aquele dia em que uma xícara de café quebrou o gelo, ou quando uma certidão entregue com as duas mãos fez um filho respirar aliviado. E, depois do serviço, não deixe a família desaparecer no vazio: uma indicação de grupo de apoio, um contato futuro ou até um “como você está?” semanas depois pode ser o primeiro passo para reconstruir um coração. Por fim, conte essas histórias (sem nomes, mas com verdade) aos gestores e à sociedade, mostrando que políticas públicas humanizadas não são um gasto—são o legado de um lugar que cuida das pessoas até o último adeus. O modelo está aí, mas o que o torna especial são as mãos que o executam: mãos que emitem papéis, mas que, acima de tudo, sabem segurar outras mãos trêmulas.
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