As questões relacionadas à saúde mental e ao uso abusivo de substâncias ainda são marcadas por estigmas e preconceitos, o que prejudica a inclusão social e o cuidado com os usuários. Existe uma forte estigmatização desses indivíduos, que se agrava quando se envolve a vida sexual e, especificamente, a gravidez. Segundo Saraiva e Cremonese (2008), a integração entre as equipes da Estratégia de Saúde da Família (ESF) e dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) é essencial para potencializar o cuidado e a integralidade do atendimento. Esse relato de experiência surgiu da necessidade de compreender como é realizado o acompanhamento de gestantes com cuidado em saúde mental nos CAPS, especialmente no que diz respeito ao cuidado compartilhado entre as equipes dos CAPS e da Atenção Primária à Saúde (APS/ESF) na Área Programática 5.1 (AP 5.1), no município do Rio de Janeiro. Importa mencionar que tal interesse se deu a partir de inquietações que senti, enquanto Residente de Saúde Coletiva, e foram fomentadas pelas propostas conduzidas pela Assessoria de Saúde Mental da Divisão de Ações e Programas em Saúde da Coordenadoria Geral de Atenção Primária da AP 5.1 (DAPS/CAP 5.1) ao discutir sobre o Enfrentamento da Mortalidade Materno-Infantil, em parceria com os CAPS, o DeAmbulatório e o Consultório na Rua (CNAR) da AP 5.1, no período que abrange todo o ano de 2024 até março de 2025.
O objetivo geral deste trabalho é promover uma articulação teórico-investigativa sobre o acompanhamento integral de pessoas gestantes e usuárias de serviços de saúde mental, com foco na reflexão sobre a integração entre a Atenção Primária em Saúde (APS) e a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). Para alcançar esse objetivo, os objetivos específicos são: analisar a integração entre as equipes da Atenção Básica em Saúde (E-Multi), os ambulatórios de Saúde Mental e os CAPS na região da AP 5.1, com o intuito de compreender a articulação entre esses serviços; fomentar o diálogo teórico com pesquisadores e trabalhadores da área, promovendo reflexões críticas sobre as ações direcionadas ao público de gestantes que fazem acompanhamento em saúde mental, e incentivar a análise do próprio processo de trabalho. Além disso, o trabalho se justifica pela necessidade de discussão e produção de referências sobre a atenção e o cuidado de gestantes que façam acompanhamento em saúde mental, além de trazer questionamentos pertinentes para o campo e produzir reflexões acerca do próprio processo de trabalho.
A discussão acerca do acompanhamento integral de pessoas que gestam e são usuárias dos dispositivos de saúde mental e a reflexão dos modos de trabalho em saúde é um tema recorrente e ainda pouco discutido. Desse modo, entende-se que, por sua pertinência, mais estudos sobre se mostram imprescindíveis. Assim, a pesquisa se mostra pertinente uma vez que pode refletir diretamente na forma de organização do sistema.
Por fim, a metodologia adotada para esta pesquisa foi qualitativa, com foco na aproximação com a realidade dos serviços de saúde mental. A pesquisa foi realizada em parceria com a equipe técnica de dispositivos da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS)
O problema se deu início a partir das discussões levantadas pelo planejamento de Enfrentamento da Mortalidade Materno-Infantil. A partir disso, se pensando na aproximação com a realidade dos serviços de saúde mental na relação posta entre RAPS e APS no cuidado compartilhado de pessoas que gestam, foi possível pensar em como tal discussão poderia ser viva e propor uma reflexão acerca do próprio processo de trabalho dos trabalhadores destes dispositivos.
Entre 2023 e 2024, no território da AP 5.1, das 2765 gestantes ativas, apenas 10 estavam em acompanhamento de saúde mental nos Centros de Atenção Psicossociais (CAPS). Em 2024, o CAPS Lima Barreto acolheu 16 gestantes, mas atualmente atende 4; o CAPSi Pequeno Hans teve 1 gestante, mas não há nenhuma gestante em acompanhamento; o CAPS Neusa Santos Souza acompanhou 4 gestantes, com 1 em acompanhamento no momento. Além disso, o DeAmbulatório acompanha 1 gestante. O Consultório na Rua (CNAR) compartilhou o acompanhamento de 7 gestantes com os dispositivos da área. A pesquisa permitiu uma reflexão sobre o processo de trabalho, destacando, por meio da Educação Permanente em Saúde, a importância do trabalhador como protagonista de sua prática, promovendo novos modos de produção de saúde. Embora exista um protocolo para a Atenção Integral à Pessoa que Gesta, é urgente que se incline a atenção às gestantes em acompanhamento de saúde mental.
Para viabilizar o compartilhamento contínuo de informações com a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), seria importante definir um profissional de referência na Atenção Primária à Saúde (APS), especialmente para pacientes psicóticas ou com maior sofrimento psíquico. Além disso, também foram identificadas dificuldades no prontuário, como o protocolo dos indicadores, que exclui gestantes que não iniciaram o acompanhamento no CAPS antes da gestação, comprometendo a precisão dos dados.
Coordenadoria Geral de Atenção Primária AP 5.1 - Avenida Marechal Fontenele - Jardim Sulacap, Rio de Janeiro - RJ, Brasil
CADASTRO
ATUALIZAÇÃO