A gestão de risco de desastres é uma função essencial da saúde pública, integrando ações de prevenção, mitigação, preparação, resposta e reabilitação. A atuação em desastres exige uma abordagem abrangente, considerando tanto os danos quanto suas causas, com a participação ativa de todo o sistema de saúde. O município de Angra dos Reis, no estado do Rio de Janeiro, tem enfrentado, ao longo dos anos, episódios de desastres naturais de grande magnitude. Dessa forma, o sistema de saúde local deve estar preparado para garantir uma resposta eficaz, minimizando os impactos na saúde pública e fortalecendo a resiliência das comunidades afetadas.
Desde 2013, a Secretaria de Saúde de Angra dos Reis tem promovido treinamentos, cursos e simulados para seus trabalhadores. Como resultado, observa-se uma resposta mais eficiente nos desastres recentes. Em 2022, a cidade registrou o maior acúmulo de chuvas desde 1913, com mais de 650 mm em 48 horas, deixando mais de 580 pessoas desabrigadas, 11 óbitos e 3 desaparecidos. Em 2023, um acumulado de 250 mm em 24 horas causou grandes inundações, com 406 desabrigados, incluindo 25 idosos de um asilo, e 2 mortes. Em ambos os eventos, o SUS local respondeu satisfatoriamente.
Já na fase de recuperação, um ano após os desastres, o município realiza pesquisas com as famílias afetadas para mensurar os prejuízos à saúde e identificar lacunas que precisam ser aperfeiçoadas pela gestão municipal.
Objetivos
Apresentar as estratégias de preparação da Secretaria Municipal de Saúde de Angra dos Reis para atuar em desastres naturais e/ou tecnológicos;
Enfatizar a importância da fase de preparação no gerenciamento de situações reais de desastre;
Estimular o acompanhamento sistemático das vítimas do desastre, destacando a pesquisa realizada com a população impactada um ano após o ocorrido.

Na fase de vigilância e preparação, os Planos de Contingência são modificados e revisados . Anualmente são realizados simulados, com cenários de desastres baseados no mapeamento de risco do município, que envolvem a intervenção da Saúde Pública. A simulação é iniciada por meio de convocação dos gestores (secretários, subsecretários e diretores) para a instalação da sala de crise. A partir disso, mensagens são enviadas para diversos setores da SMS (Atenção Primária, Secundária e Terciária, RUE, Regulação e Vigilâncias), solicitando a execução de atividades e/ou informações previstas nos planos de contingência, que devem ser respondidas de imediato, levando em conta as condições reais do sistema de saúde no dia do exercício. A resolução das demandas e o tempo de resposta são avaliados.
Durante o ano também são realizadas ações de capacitação para gestores e trabalhadores do SUS, utilizando diversas técnicas pedagógicas, que abordam desde conceitos básicos de gestão de risco até experiências internacionais de resposta do setor de saúde em emergências.
Na fase de resposta, são remanejadas ações e serviços para garantir assistência integral aos mais afetados pelo desastre, incluindo uma equipe multidisciplinar de saúde disponível 24 horas nos abrigos montados.
Na fase de recuperação, além do acompanhamento sistemático, é realizada pesquisa com as famílias afetadas, por meio de um questionário semiestruturado, aplicado por profissionais de saúde locais 12 meses após o desastre.

Nos últimos seis anos (2019 a 2024), os roteiros das simulações realizadas por SMS contaram com aproximadamente 40 ações cada, abrangendo diversas áreas da secretaria. Essas simulações incluíram atividades de mesa (resolução teórica) e de campo (resolução operacional). Entre as situações criadas, destacam-se: montagem de abrigos, surtos de diarreia e COVID-19, acidente com múltiplas vítimas, escassez de leitos hospitalares, interrupção do tráfego na rodovia que corta a cidade e necessidade de apoio da SES e MS, entre outras. O tempo de resposta para a execução das ações foi significativamente reduzido ao longo dos seis exercícios, e todas as demandas repassadas para as áreas técnicas foram resolvidas, apesar de algumas dificuldades. Além das simulações, a SMS oferece anualmente 8 tipos de cursos e treinamentos para profissionais e gestores. Com isso, mais de 1.300 profissionais, desde colaboradores da higienização até médicos, foram treinados para responder a desastres.
Nos abrigos, a equipe de saúde permanece 24 horas por dia, identificando necessidades e oferecendo cuidados, que evitam a agudização de condições crônicas, o agravamento de questões de saúde mental e o surgimento de surtos.
Na pesquisa realizada um ano após o evento revelou que o deslocamento para outras áreas teve impactos significativos na vida dos indivíduos, como a perda de vagas escolares e o acometimento da saúde mental. A avaliação também indicou aumento de doenças como leptospirose e dengue na região.

As estratégias de preparação executadas pelo Município de Angra dos Reis revelaram eficácia durante os desastres de abril de 2022 e dezembro de 2023, que resultaram em desabrigados e vítimas fatais. Em ambos os eventos, o setor de saúde respondeu de forma eficiente à emergência. Entre as ocorrências, foram realizados ajustes nos Planos de Contingência, como a descentralização de kits de medicamentos e insumos, evidenciando a importância de monitorar e avaliar constantemente os planos de ação para garantir uma resposta rápida e coordenada.
A pesquisa realizada na fase de reconstrução e recuperação teve um papel fundamental ao categorizar os afetados e mapear sua situação de saúde. Além disso, identificou lacunas no acesso à rede especializada que resultou na elaboração de novos protocolos e fluxos diferenciados para atender especificamente às vítimas dos desastres.
A experiência de Angra dos Reis pode servir de referência para outros municípios, oferecendo lições valiosas sobre como responder com maior eficiência a desastres, cujas ocorrências estão se tornando cada vez mais frequentes.

Principal

Romario Gabriel Aquino

romariogabriel@hotmail.com

Diretor de Vigilância em Saúde

Coautores

ROMARIO GABRIEL AQUINO, TERESA CRISTINA SAMPAIO DE BARROS LEITE, JESSICA DA SILVA FURTADO, CAMILA LIMA

A prática foi aplicada em

Angra dos Reis

Rio de Janeiro

Sudeste

Esta prática está vinculada a

Rua Almirante Machado Portela - Balneário, Angra dos Reis - RJ, Brasil

Uma organização do tipo

Instituição Pública

Foi cadastrada por

Romario Gabriel Aquino

Conta vinculada

24 mar 2025

CADASTRO

24 mar 2025

ATUALIZAÇÃO

01 mar 2013

inicio

31 dez 2024

fim

Condição da prática

Concluída

Situação da Prática

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nenhuma

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