- Educação, Informação e Comunicação em Saúde
Maria do Socorro Melo Brandão
- 05 nov 2024
O presente trabalho, foi desenvolvido a partir do relato de uma experiência
exitosa de imunização realizada com crianças indígenas da etnia Tapeba na
aldeia Ponte, situada no município de Caucaia. Para conseguir esse feito, foi
necessário um planejamento prévio, da EMSI (Equipe Multidisciplinar de Saúde
Indígena), que contou com o apoio dos AIS (Agentes Indígenas de Saúde),
profissionais de extrema importância que residem no território e possuem a
expertise de sensibilizar e articular junto a população, a comparecer á UBSI
(Unidades Básicas de Saúde Indígena), para utilizar dos serviços e atendimentos
oferecidos.
De acordo Silva & Dalmaso, o papel do agente de saúde, é perceptível e
o quanto que estão aderidos ao panorama orgânico e comportamental dos
problemas dos usuários. Esse perspectiva relaciona-se com a formação que é
dada aos agentes em grande parte das unidades básicas de saúde e com as
expectativas em relação ao seu papel.
A participação do AIS nessa atividade, foi o ponto chave, no que diz
respeito a adesão do público alvo, as crianças indígenas em especial, para esse
momento. Á época, por se tratar de uma vacina “nova” e destinada ao público
infantil, de início houve certa resistência de algumas pessoas, receio de
possíveis reações adversas quanto á vacina, assim como muitas dúvidas acerca
da mesma. Diante dessa questão, os profissionais, mobilizaram-se, e em equipe
realizaram, alguns momentos de sala de espera, com os pais e responsáveis, a
fim de desmistificar o estigma acerca da vacina Pfizer Pediátrica e sensibilizálos quanto á importância de imunizar as crianças e mantê-las protegidas da
doença. Durante os atendimentos, e visitas domiciliares, os profissionais
também reforçaram sobre a importância de imunizar as crianças, assim como
manter em dia, outras vacinas do calendário vacinal.
Vale ressaltar, que o maior articulador e sensibilizador nessa atividade, foi
o AIS, esse profissional, é a representatividade de um elo entre a comunidade e
o serviço de saúde, é ele que consegue convocar uma grande quantidade de
pessoas, ao mesmo tempo que também é capaz de mediar certas situações, em
que os usuários se sentem inseguros ou receosos, quanto á adesão a alguns
serviços e atendimentos oferecidos pela unidade.
Aos poucos, alguns pais começaram a buscar a unidade de saúde, e
demonstraram interesse por vacinar seus filhos. Com isso, a equipe planejou e
organizou realizar um dia D de vacinação para crianças entre 5 a 11 anos, com
a vacina Pfizer Comirnaty Pediátrica, que ocorreu no dia 7 de Janeiro de 2022
na própria unidade, das 08:00h da manhã, momento em que as vacinas chegam
na unidade, vindas do Pólo Base de Caucaia, onde são armazenadas, e se
extendeu até 18:00h. Inicialmente , foi realizada uma sala de espera, com os
pais e responsáveis das crianças, a fim de orientá-los quanto á vacinação, doses
do imunizante, a quantidade a ser administrada e o período de intervalo entre as
doses, assim como possíveis reações pós- vacina, que poderiam eventualmente
surgir.
PREPARO DA VACINA
Após isso, deu-se início a vacinação, o preparo da vacina Pfizer Comirnat Pediátrica, é realizada por meio de diluição. A vacina descongelada deve ser
diluída em seu frasco original com 1,3 ml de solução injetável de cloreto de sódio
a 0,9%, utilizando uma agulha calibre 21 ou mais estreita e técnicas assépticas. A vacina deve ser diluída com solução injetável estéril de cloreto de sódio a 0,9%
antes de ser administrada. Após a diluição com 1,3 ml de solução injetável estéril
de cloreto de sódio a 0,9%, o frasco contém 10 doses de 0,2 ml (10 mcg).
O material de apoio utilizado, foi o cadastro dos indígenas, que contêm
informações como, data de nascimento e número de residência ou GPS, para
acompanhar a data das próxima doses. Após vacinadas, as crianças foram
orientadas a permanecer na unidade por cerca de 15 minutos, para observação
e após isso foram liberadas. E com êxito, conseguimos vacinar grande parte do
público-alvo, garantindo assim uma boa cobertura vacinal nessa população.
Vale lembrar que, muitas famílias que não conseguiram levar suas
crianças, até a unidade de saúde por outros motivos, ou pela questão do difícil
acesso de deslocamento, a equipe fez busca ativa, ou seja o técnico em
enfermagem foi no carro da equipe, até a residência dessas pessoas para
realizar a administração de suas vacinas. Este tipo de estratégia, por se tratar de
uma atividade extramuros, deve ser planejada, seguindo todos os cuidados, afim
de manter a temperatura ideal da caixa térmica, evitando abri-la, ou expor a
luminosidade, fontes de calor ou qualquer outro tipo de exposição que possa
alterar a eficácia dos imunobiológicos. Importante lembrar que, após sair da
unidade levando as caixas térmicas, as mesmas são mantidas durante todo o
tempo, dentro do veículo com o ar condicionado, assim como as aplicações das
vacinas, que são administradas no interior do carro de equipe
Este trabalho objetiva relatar um caso de uma experiência exitosa em
Imunização com crianças indígenas, o qual se deteve em debruçar sobre o
desafio de propor medidas de enfrentamento frente a COVID -19, uma vez que
esta ação foi realizada durante a pandemia, no primeiro semestre de 2022. Como estratégia, foi realizado o dia D de vacinação do público –alvo (crianças
de 5 -11 anos), com a Pfizer Pediátrica. Conclui-se que, apesar das adversidades
trazidas pela pandemia da COVID-19, é necessário adotar estratégias de
combate e enfrentamento da doença, para além dos protocolos e informes
técnicos, uma vez que se tratando da população indígena com suas
especificidades e particularidades individuais, é fundamental olhar atentamente
para a realidade desse público, na tentativa de responder ás suas demandas,
conforme suas necessidades, seu modo de compreender e enxergar o mundo,
e respeitando suas escolhas
Por meio dessa estratégia de vacinação, foi possível minimizar eventuais
riscos á saúde da população, em especial do público-alvo, como também
fomentar e instigar que demais EMSIs, possam adotar essa estratégia ou
adaptem outros modelos de intervenção, como articulação das redes locais de
apoio, ações de educação e comunicação, entre outros. A adesão da
comunidade no que diz respeito a vacinação deu-se de forma satisfatória e
espontânea, havendo poucas recusas, onde estas posteriormente
compareceram a unidade de saúde para atualizar o calendário vacinal, e como
resposta a isso em um curto período de tempo, a meta foi alcançada.
Não houve reclamações ou queixas sobre quaisquer reações adversas,
posterior a vacinação das crianças, por parte dos pais ou responsáveis, o que
possibilitou a adesão de todos para comparecer a unidade para tomar na data
agendada sua segunda dose. Como forma de agradecimento a adesão dos pais,
foi entregue para cada criança vacinada, o certificado de coragem, como uma
forma de incentivo para que estas pudessem retornar ao serviço de saúde na
data da próxima dose.
Um dos maiores êxitos dessa estratégia, foi trabalhar baseado na
população aldeada, uma vez que essa estratégia, direciona o profissional a
trabalhar com foco no seu público-alvo, atentando-se também para outro fator,
que seria completar o esquema vacinal que porventura possa estar em atraso.
O alcance das metas de cobertura vacinal, depende de diversos fatores
que contribuem para essa situação. É importante lembrar que o planejamento de
calendários de vacinação é uma estratégia que envolve atividades que devem
ser realizadas com o máximo de escuta dos profissionais envolvidos,
organização, ajustes necessários, readequações e/ou reorganizações, para que
se possa garantir sua realização com a máxima eficácia e o mínimo risco. Essas
ações necessitam de ser avaliadas, articuladas e monitoradas. O
dimensionamento do que é necessário e de como deverá ser realizado, a partir
dos objetivos traçados, somente será efetivo com um planejamento cuidadoso
das atividades e por meio de avaliação contínua e sistemática dessas ações.
(FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, 2016)
Uma vez identificadas coberturas vacinais aquém dos percentuais
estabelecidos, é necessário criar mecanismos para sua superação. Um desses
mecanismos é a chamada “intensificação da rotina”, que consiste em trabalhar
o dia a dia de forma mais dinâmica, tornando a vacinação mais acessível à
população suscetível, o que inclui, certamente, a vacinação extramuros.
As atividades extramuros são adotadas em razão de uma necessidade
operacional ou epidemiológica uma vez que existe a possibilidade de realizar a
vacinação mais acessível e próxima da população. Seu principal objetivo é
eliminar bolsões de suscetíveis, inclusive na realização da prática de vacinação
nas residências e instituições em geral, como creches, empresas, escolas e etc.
Essa estratégia tem como finalidade alcançar pessoas que não são vacinadas
na rotina, população em situação de rua, acampada, boias-frias e etc. Essa
modalidade, permite também atender as populações que possuem maior
dificuldade para tomar vacinas ,em especial pessoas que vivem em áreas rurais
de difícil acesso, populações indígenas, ribeirinhos e quilombolas (AGÊNCIA
NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA; FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE,
2000; BAHIA, 2011).
A comunicação social, o esclarecimento de dúvidas, fortalecer o
conhecimento sobre a eficácia das vacinas no combate ás doenças, entre outros
fatores, é fundamental para ampliar o acesso ás informações baseadas em
evidências, especialmente sobre os benefícios da vacinação. Além da
propagação nos principais canais de comunicação e redes sociais, outras
estratégias devem contemplar a busca ativa de não vacinados nas populaçõesalvo, parcerias com instituições de ensino, ampliação dos horários de
funcionamento nas unidades de saúde, sensibilização da sociedade civil,
articulação com a sociedade científica em parceria com as três instâncias de
gestão e pactuação com departamentos intra e intersetoriais.
Além de instigar a produção de conhecimento, por meio de inquéritos e
planilhas de cobertura vacinal, estudos acerca dos fatores associados à não
vacinação, adoção de medidas e combate á desinformação, são de extrema importância para o alcance dos indicadores. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2019)
Podemos concluir que o tipo de estratégia utilizada nesta ação, foi uma
experiência bastante exitosa, uma vez que contou com a participação de todos
os profissionais da EMSI, e principalmente do AIS, que teve o papel fundamental
nesse sentido, de articular e sensibilizar a comunidade sobre a importância da
vacinação, o compromisso e o cuidado consigo e com o coletivo, a fim de garantir
a proteção dos envolvidos.
CADASTRO
ATUALIZAÇÃO