O Rede Fala Roça Informa é um programa de formação em comunicação e saúde realizado na Rocinha pela Associação de Comunicação Fala Roça, com apoio da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), da Fiotec, do Sistema Único de Saúde (SUS) e do Governo Federal. A iniciativa teve início em novembro de 2023 como resposta à desinformação em saúde, intensificada durante a pandemia de COVID-19, e partiu da convicção de que comunicação também é cuidado. O projeto buscou fortalecer os laços entre os moradores da favela e os serviços públicos de saúde, capacitando jovens como agentes multiplicadores de informação confiável no território.

A formação teve duração de seis meses e envolveu aulas teóricas e práticas sobre temas ligados à saúde pública e à comunicação comunitária. Os conteúdos abordaram desde a história da saúde na Rocinha, o funcionamento do Sistema Único de Saúde (SUS) e da atenção primária, até temas como saúde mental, acessibilidade, leitura e produção de dados públicos, tipos textuais e formatos narrativos. A formação também incluiu uma visita à Fiocruz e oficinas de produção de conteúdo com foco no jornalismo comunitário. Os participantes receberam bolsa auxílio mensal e certificado de conclusão ao final do curso.

Dos 14 jovens inicialmente selecionados, 13 concluíram a formação e 12 participaram da produção de conteúdos finais. Durante o curso, os participantes foram protagonistas na criação de materiais audiovisuais, reportagens escritas e uma cartilha que será distribuída com o apoio das unidades de saúde da Rocinha. Esses conteúdos abordam questões sensíveis e estruturais vividas no território, como desigualdades no acesso à saúde, violações de direitos humanos e estigmas relacionados à saúde mental e à população LGBTQIA+.

Entre os marcos do projeto, destacam-se a produção de seis curtas-metragens disponíveis no canal do Fala Roça no YouTube, com destaque para o vídeo “Todos veem, mas poucos falam: corpos trans na favela da Rocinha”, que alcançou mais de 23 mil visualizações e 437 mil impressões. Além disso, foi lançada a Revista de Saúde da Rocinha, com cem exemplares impressos e versão digital disponível gratuitamente. O conteúdo textual produzido durante o curso também está publicado no site do Fala Roça. O projeto participou de debates e rodas de conversa, como o encontro online “Saúde Mental em Debate”, em parceria com a Frente Estamira de CAPS, e realizou ações no CAPS Maria do Socorro, onde os participantes puderam compartilhar suas vivências e produções.

O impacto do projeto ultrapassa os produtos finais. O Rede Fala Roça Informa promoveu transformações significativas na percepção, participação e engajamento dos moradores com os temas de saúde pública. Os participantes desenvolveram habilidades técnicas, autonomia na produção de conteúdo e passaram a atuar como influenciadores locais em saúde. A formação também ampliou o público alcançado pelo Fala Roça: foram 142 inscritos para as vagas do curso, evidenciando a demanda reprimida por esse tipo de formação. Desses, 70% eram mulheres, 65% se declararam pretos ou pardos e 38% tinham entre 20 e 29 anos — um perfil que reforça a potência de iniciativas voltadas para jovens, mulheres e população negra da favela.

O projeto buscou enfrentar o duplo desafio vivido pelas favelas: a ausência de informações adequadas e a desconfiança em relação às fontes oficiais. Por isso, estruturou-se a partir de uma proposta de comunicação feita por quem vive a realidade do território. Os objetivos principais foram criar uma rede comunitária de comunicação em saúde, capacitar moradores como micro influenciadores, fortalecer a confiança nas informações públicas, produzir conteúdos impactantes e acessíveis, integrar os serviços de saúde ao cotidiano comunicacional da favela, fomentar a economia local por meio de bolsas e remuneração a mídias populares e, por fim, desenvolver uma metodologia que possa ser replicada em outros contextos periféricos.

Durante sua execução, o Rede Fala Roça Informa reafirmou o papel da comunicação comunitária como instrumento de inclusão social, aproximando moradores dos serviços de saúde e construindo pontes entre os saberes populares e os institucionais. A troca entre os jovens participantes e os profissionais de saúde também foi fortalecida, gerando novos diálogos e possibilidades de cooperação entre o Fala Roça e as unidades de saúde da Rocinha. Ao fim da formação, ficou evidente que o projeto contribuiu para ampliar o protagonismo dos moradores no debate público sobre saúde, reforçando a importância da comunicação como um direito e uma ferramenta de transformação social nas favelas brasileiras.

O Fala Roça identificou que muitos moradores da Rocinha enfrentam dificuldades para acessar informações confiáveis sobre saúde e não se sentem representados pelas campanhas institucionais, o que agrava desigualdades no acesso ao SUS. A desinformação, especialmente durante a pandemia, expôs a necessidade urgente de uma comunicação mais próxima da realidade local, feita por quem vive o território. Essa lacuna impulsionou a criação do projeto Rede Fala Roça Informa, como uma oportunidade de formar comunicadores populares e fortalecer o vínculo entre a comunidade e os serviços de saúde.

A prática resultou na formação de 13 jovens da Rocinha como comunicadores populares em saúde, que produziram vídeos, reportagens e uma revista distribuída na comunidade. Os conteúdos alcançaram milhares de pessoas nas redes sociais e ampliaram o acesso da população a informações confiáveis sobre o SUS. A iniciativa fortaleceu os laços entre moradores e unidades de saúde, rompeu bolhas informativas, valorizou saberes locais e inovou ao integrar comunicação comunitária com políticas públicas. A principal lição foi que a informação, quando parte do território, tem maior poder de transformação e engajamento.

Para implementar uma prática similar, é fundamental escutar as demandas reais do território e envolver moradores desde a concepção do projeto. Trabalhar com linguagem acessível, promover formação continuada e garantir apoio financeiro, como bolsas, fortalece o vínculo dos participantes. Estabelecer parcerias com instituições de saúde e comunicação amplia o impacto e a legitimidade da ação. Além disso, registrar metodologias e manter canais de escuta abertos ajuda a adaptar a prática à realidade de outras comunidades, respeitando suas especificidades e valorizando seus saberes locais.

autor Principal

michel@falaroca.com

Diretor institucional e de jornalismo

Coautores

Karen Fontoura Pereira Silva, Michel da Silva, Monique Gabriele da Silva, André Luiz Bizerra, Osvaldo Lopes Oliveira Silva Rayana Chaves Martins, Rodrigo Pinto Silva, Tatiana da Silva Lima, Tainara Lima

A prática foi aplicada em

Rio de Janeiro

Rio de Janeiro

Sudeste

Esta prática está vinculada a

Associação de Comunicação Fala Roça - Estrada da Gávea - Rocinha, Rio de Janeiro - RJ, Brasil

Uma organização do tipo

Terceiro Setor

Foi cadastrada por

Michel Silva

Conta vinculada

29 jun 2025

CADASTRO

30 jun 2025

ATUALIZAÇÃO

Condição da prática

Concluída

Situação da Prática

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