Resumo
Este relato de experiência descreve a trajetória de uma paciente com diagnóstico de transtorno psicótico, mãe de uma criança com Transtorno do Espectro Autista (TEA), acompanhada por um Projeto Terapêutico Singular (PTS) que integrou Práticas Integrativas e Complementares (PICs) ao cuidado em saúde no SUS. A paciente iniciou o acompanhamento em 2018, tornando-se aluna de cursos de autocuidado e formação em PICs, com destaque para sua atuação no curso de Shiatsu, meditações, imposição de mãos e constelações familiares. A evolução clínica positiva, com estabilização do quadro psiquiátrico, reinserção social e ausência de crises desde 2024, evidencia a potência das PICs como ferramenta terapêutica ampliada.
Palavras-chave: Projeto Terapêutico Singular; Práticas Integrativas e Complementares; Shiatsu; Constelação Familiar; Saúde Mental; Psicose; SUS.

1. Introdução
As Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) compõem uma política nacional instituída no SUS em 2006, fundamentada nos princípios da integralidade, equidade e humanização do cuidado (BRASIL, 2015). O Projeto Terapêutico Singular (PTS), por sua vez, é uma ferramenta metodológica utilizada para organizar o cuidado de pessoas em situações complexas de saúde, especialmente no campo da saúde mental (BRASIL, 2008; CAMPOS, 2000). Este artigo tem como objetivo relatar o impacto terapêutico e social do uso das PICs em um PTS desenvolvido para uma paciente com diagnóstico psicótico, mãe de uma criança com TEA, no município de Santa Cruz Cabrália (BA).
2. Metodologia
Trata-se de um relato de experiência, com abordagem qualitativa, construído a partir de registros clínicos, observações sistematizadas, devolutivas terapêuticas e depoimentos da paciente e de profissionais envolvidos. O período observado compreende os anos de 2018 a 2025. As atividades foram realizadas inicialmente no CAPS e posteriormente em articulação com espaços comunitários e projetos formativos em práticas integrativas. A articulação da rede inter e intrasetorial foi um desafio constante, envolvendo setores como saúde, assistência social, educação e justiça, buscando garantir a integralidade do cuidado à paciente e à sua família.
3. Caracterização da Paciente
A paciente, aqui identificada pelas iniciais M.A.B.S., é uma mulher adulta, mãe de uma criança com Transtorno do Espectro Autista. Apresentava histórico de crises psicóticas, uso contínuo de medicação antipsicótica e dificuldades significativas de inserção social. Seu cuidado inicial ocorreu no CAPS, com construção de vínculo terapêutico que possibilitou o encaminhamento para atividades de autocuidado e participação em práticas integrativas.

4. Projeto Terapêutico Singular (PTS)
A trajetória terapêutica teve início em 2018, com o acolhimento e participação em grupos terapêuticos no CAPS. Em 2019, ingressou no Curso de Autocuidado e, a partir de 2020, iniciou formações profissionalizantes em práticas integrativas. Desde 2021, passou a atuar como monitora voluntária, exercendo papel ativo em atividades comunitárias e formativas. Sua atuação se destacou pelo envolvimento nas práticas de Shiatsu, meditação, imposição de mãos e constelações familiares.
5. Práticas Integrativas e Complementares Utilizadas
O conjunto de PICs utilizadas incluiu: Shiatsu, meditação, imposição de mãos, constelação familiar, florais, auriculoterapia e terapia comunitária integrativa. A prática do Shiatsu foi particularmente significativa na trajetória da paciente.
A formação em Shiatsu foi realizada no Espaço Flor de Lótus, centro integrativo que segue a linha tradicional japonesa da Koho Shiatsu Igaku, difundida no Brasil pelo médico acupunturista Dr. Sohaku R. C. Bastos. Referência nacional na sistematização do Shiatsu como ciência terapêutica, Bastos é autor de obras fundamentais como Shiatsu Tradicional: Fundamentos, Prática e Clínica de Shiatsuterapia (2000). A condução pedagógica do curso foi feita pela Sensei Luceni Ransolin, discípula direta de Bastos, que orientou a formação da paciente e do autor, promovendo um processo de cuidado e formação entrelaçados.
Durante a formação, a paciente se destacou como aluna, tornou-se monitora e, mais tarde, colega de trabalho em atividades voluntárias voltadas à comunidade, fortalecendo sua autonomia terapêutica e a sensação de pertencimento.
6. Resultados Observados
Ao longo do acompanhamento, observou-se significativa melhora clínica e funcional da paciente. Não foram registradas crises psiquiátricas em 2024 nem até maio de 2025. A paciente apresentou melhora do humor, da cognição, da autoestima e da capacidade de relacionamento interpessoal. Sua participação ativa em práticas terapêuticas contribuiu para a reconstrução de sua identidade, agora também como cuidadora.
7. Discussão
A experiência formativa vivida pela paciente no Espaço Flor de Lótus, ao lado da Sensei Luceni Ransolin, evidencia o potencial das PICs como caminho terapêutico e social. A linhagem terapêutica originada por Sohaku Bastos fortalece a legitimidade do Shiatsu como prática científica e espiritual (BASTOS, 2000). A combinação entre práticas corporais, terapias energéticas e recursos de cuidado comunitário, como a Terapia Comunitária Integrativa (BARRETO, 2011), as Constelações Familiares (HELLINGER, 2004; GARRIGA, 2013), e as abordagens educativas (FREIRE, 1987), foi essencial para dar conta da complexidade da realidade da paciente. O caso de M.A.B.S. demonstra como o PTS pode ser um espaço de reconstrução subjetiva e de desenvolvimento de novos papéis sociais, especialmente quando a rede inter e intrasetorial atua de forma articulada.
8. Considerações Finais
O relato confirma a potência das PICs na ampliação do cuidado em saúde mental, sobretudo quando organizadas de forma singular e intersetorial. O protagonismo da paciente em sua trajetória, desde usuária até multiplicadora, indica a importância de investimentos em formações populares e comunitárias em saúde.

Referências
AMARANTE, P. Saúde mental e atenção psicossocial. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2007.
BARRETO, A. Terapia Comunitária Integrativa: passo a passo. Fortaleza: LCR, 2011.
BASTOS, Sohaku R. C. Shiatsu Tradicional: Fundamentos, Prática e Clínica de Shiatsuterapia. Rio de Janeiro: Sohaku-in Edições, 2000.
BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS – PNPIC. 2. ed. Brasília: MS, 2015.
BRASIL. Ministério da Saúde. Caderno HumanizaSUS 4: Projeto Terapêutico Singular. Brasília: MS, 2008.
CAMPOS, G. W. de S. Um método para análise e co-gestão de coletivos: o Paideia. São Paulo: Hucitec, 2000.
FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
GARRIGA, J. O Amor que Nos Faz Bem. São Paulo: Planeta, 2013.
HELLINGER, B. A fonte não precisa perguntar pelo caminho. São Paulo: Cultrix, 2004.
LIECHTI, Elaine. Shiatsu: a massagem japonesa. Lisboa: Editorial Estampa, 1994.
YAMAMURA, Y. Medicina Tradicional Chinesa: fundamentos. São Paulo: Roca, 2001.

Principal

Diego da Rosa Leal COREN/BA 98607 Coordenador do Npics Brasil

npicscabralia@gmail.com

Enfermeiro Terapeuta Sistêmico

Coautores

Diego da Rosa Leal e Maria D' Ajuda Santos Batista

A prática foi aplicada em

Santa Cruz Cabrália

Bahia

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