No contexto do Centro de Atenção Psicossocial (Caps), o conceito de paciente protagonista refere-se à ideia de colocar o paciente no centro do cuidado, empoderando-o para ser ativo e participativo em seu próprio processo terapêutico. O cuidado farmacêutico desempenha um papel crucial nesse contexto, garantindo que os pacientes tenham acesso às informações e suporte necessários para fazer escolhas informadas sobre sua saúde mental e o uso de medicamentos.
Nosso projeto piloto estabelece esse cuidado farmacêutico aos pacientes atendidos no Caps, promovendo o protagonismo deles, seja na educação sobre medicamentos, fornecendo informações detalhadas, incluindo seus benefícios, possíveis efeitos colaterais e instruções de uso. Isso capacita os pacientes a compreenderem melhor seus tratamentos e a tomarem decisões informadas sobre sua saúde.
Ainda em colaboração com a equipe de saúde, médico, enfermeiro e psicólogos, os farmacêuticos desenvolvem conjuntamente plano terapêutico personalizado, que leve em conta não apenas a prescrição de medicamentos, mas também outras estratégias de manejo da saúde mental, como terapias alternativas, atividades de autocuidado e suporte social.
Isso permite que o paciente se sinta apoiado e capacitado ao longo de seu processo de recuperação.
Ao adotar uma abordagem centrada no paciente, o cuidado farmacêutico no CAPS não apenas melhora os resultados do tratamento, mas também capacita os pacientes a assumirem um papel ativo em sua própria jornada.
Conceituamos os objetivos: proporcionar autonomia ao paciente;
Melhorar a adesão à terapia medicamentosa e não medicamentosa;
Conscientizar sobre o uso racional de medicamentos; e
Tornar o paciente protagonista de sua terapia, contribuindo para a evolução positiva do tratamento da doença.
O presente relato de caso trata-se de um projeto piloto de implementação do cuidado farmacêutico, no Caps. As atividades foram desenvolvidas no período de junho a dezembro de 2023. Foram realizadas, mensalmente, oficinas sobre o autocuidado e a importância do uso correto dos medicamentos, respeitando a individualidade de cada paciente, consultas farmacêuticas com os pacientes e familiares, visando avaliar a percepção de doença do paciente e familiar, os principais obstáculos para adesão à terapia, bem como ouvir o paciente e demonstrar que sua voz é importante para as decisões sobre o tratamento.
Dentre os usuários do serviço, 15 pacientes foram selecionados para participar do projeto piloto, sendo que os critérios de inclusão foram pacientes que possuíam o suporte familiar e que estavam estabilizados. Os pacientes foram selecionados por meio da avaliação dos prontuários sobre o prognóstico da doença, reunião multidisciplinar com a presença da psiquiatra e de psicólogos do Caps, visando selecionar os pacientes que não se encontravam em crise há mais de seis meses e que apresentavam organização de pensamentos para a realização das intervenções.
Problemas de adesão à terapêutica medicamentosa, quando não identificada adequadamente pelos profissionais de saúde, resultam em ajustes desnecessários, como inclusão ou substituição de medicamentos e aumento da dose frente à possível não efetividade do medicamento anteriormente prescrito.
O que pode ser observado na abordagem inicial na consulta farmacêutica é que os familiares e/ou pacientes possuíam algumas informações sobre o diagnóstico da doença, porém não compreendiam a finalidade terapêutica de cada medicamento, o que era interação medicamentosa, o porquê do uso de cada medicamento no horário correto e a importância da família na adesão à terapia medicamentosa e no suporte ao paciente portador de transtorno mental.
Após a intervenção observou-se que os pacientes se sentiram protagonistas de seu tratamento, tiveram maior responsabilização sobre a terapia medicamentosa. Ao frequentar as oficinas no Caps, houve a criação de vínculo com a equipe multidisciplinar, melhorando de forma considerável a adesão à terapia dos pacientes participantes do projeto.
Além disso, os familiares foram fundamentais para o sucesso do projeto, uma vez que foram suporte para auxiliar e supervisionar a autoadministração dos medicamentos do seu familiar portador de transtorno mental, acompanhando e relatando à equipe do Caps as principais limitações, realizando a motivação diária e reforçando a importância do uso correto dos medicamentos, bem como as evoluções positivas alcançadas.
A adesão à terapia medicamentosa por pacientes portadores de transtornos mentais consiste em uma complexa e dinâmica missão diária. Entretanto, com a implantação deste projeto, pode-se observar, no decorrer das consultas individualizadas e das atividades coletivas, um aumento na adesão à farmacoterapia, que está diretamente relacionado à maior compreensão do paciente e do familiar sobre a doença. Observou-se que os pacientes se apresentaram mais dispostos e protagonistas de sua terapia, sendo possível atingir o objetivo inicial proposto, com todos pacientes participantes, favorecendo a autonomia e melhor adesão farmacoterapêutica. Além disso, as atividades em oficinas e consulta com familiar e/ou paciente também resultaram em melhores relações interpessoais, melhor compreensão da doença e dos meios de lidar com as limitações que ocorrem diariamente, minimizando, assim, as dificuldades apresentadas e promovendo a adesão e a segurança do paciente na terapêutica medicamentosa. Iniciamos a expansão do projeto, no ano de 2024, visando atingir maior quantidade de pessoas e tornar mais pacientes protagonistas de sua terapia.
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