A leishmaniose visceral (LV) é um problema global de saúde pública e sua importância no Brasil não se restringe apenas aos aspectos epidemiológicos da zoonose, mas nas consequências das dificuldades na implantação do Programa Nacional de Controle da Leishmaniose Visceral (PCLV) que prevê o diagnóstico e eliminação da fonte de infecção através da eutanásia dos cães reagentes nos testes TR-DPP e Elisa nos inquéritos sorológicos. Essas medidas não estão sendo capazes de reduzir a transmissão e impedir a expansão da doença. A baixa efetividade do PCLV parece estar relacionada a pouca adesão da população ao programa e à recusa de entrega do cão soropositivo para eutanásia. O encoleiramento de cães infectados teria um efeito comparável à eutanásia, pela baixa infectividade para o vetor. Principais vantagens: adesão da população baixo custo possibilidade de cura espontânea ou pelo tratamento redução do tempo entre a colheita de material e a ação sobre a fonte de infecção.
1) Avaliar a efetividade do encoleiramento de cães soropositivos na redução da incidência da LV canina em uma área endêmica da cidade de Bauru (SP). 2) Estabelecer base científica para proposta de alteração do PCLV incluindo estratégia alternativa para inquéritos sorológicos feitos em dois bairros com características semelhantes: núcleos habitacionais Isaura Pitta Garmes (pop. 1) e Edison Bastos Gasparini (pop. 2). Na população 2, são adotadas as medidas previstas pelo PCLV, é feito inquérito sorológico com uso em série das provas TR-DPP e Elisa e eliminação dos cães soropositivos. Na população 1, é adotado o protocolo alternativo e feito inquérito sorológico, os cães soropositivos no teste TR-DPP recebem, semestralmente, coleiras impregnadas com deltametrina. As duas coortes são investigadas em três tempos, T0, T1 e T2 com intervalos de 6 meses. As coortes controle e teste são formadas por animais soronegativos amostrados nas duas populações.
Ainda preliminares, os resultados apontam para uma redução mais intensa na incidência de LV canina na coorte teste em relação à coorte controle. Um grupo de cães não reagentes em T0 foi reexaminado em T1 sendo: 159 cães (3 reagentes, 1,88%) da coorte teste e 331 cães (15 reagentes, 4,5%) da coorte controle. A adesão da população à estratégia alternativa, o encoleiramento inverso, foi significativamente maior. Enquanto que no bairro controle, as eutanásias com consentimento dos tutores em cães positivos nos testes sorológicos foram feitas em apenas 30 cães (34,48%) dos 87 positivos, na população teste nenhum tutor se recusou a colocar a coleira impregnada com deltametrina nos cães positivos. Trata-se de estudo inédito de iniciativa da Secretaria Municipal de Saúde de Bauru em parceria com a FMVZ-USP com o apoio do IAL-SP. O trabalho está em andamento, porém os dados preliminares indicam uma provável efetividade da nova estratégia na redução da incidência de LV em áreas de transmissão. o baixo custo e a alta adesão da população à nova estratégia são o ponto chave do estudo que poderá sugerir alteração do PCLV, com inclusão de medida alternativa para a eutanásia do cão soropositivo.
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