Monitoramento Digital da Saúde Ribeirinha na estiagem em Tefé: Estratégia de gestão.

O município de Tefé está distante 525 quilômetros de Manaus e tem uma população de 73.669 habitantes, segundo estimativa do IBGE 2022. Nos últimos 2 anos, o município vem sofrendo com uma estiagem severa, castigando a população ribeirinha.
Durante o período de estiagem em Tefé, de setembro a dezembro de 2024, observou-se um aumento significativo de demandas de saúde em comunidades rurais e ribeirinhas, agravado pela dificuldade de acesso e comunicação. Para responder a essa situação, criou-se um formulário digital (Google Forms) a fim de coletar dados sobre sinais e sintomas, grupos de risco e condições gerais de saúde dos moradores afetados. Essas informações eram consolidadas em banco de dados e transformadas em um painel automatizado em Excel, atualizado semanalmente, o que permitiu o monitoramento em tempo real e o compartilhamento.
A iniciativa visou priorizar as áreas mais vulneráveis, subsidiando a tomada de decisão e a adoção de medidas de intervenção, como envio de insumos, deslocamento de equipes e orientação de práticas de prevenção. Ao todo, 83 comunidades (de um total de 124) apresentaram isolamento acentuado, afetando aproximadamente 7.100 pessoas (51% da população ribeirinha) e 1.850 famílias (53% do total). A experiência destaca o uso de tecnologias digitais como estratégia de gestão e cuidado em situações de desastre natural, alinhando-se aos princípios do SUS Digital para fortalecer a vigilância e a resposta em saúde.

Objetivo Geral:
Desenvolver uma ferramenta de monitoramento capaz de fornecer dados em tempo real sobre a situação de saúde das comunidades afetadas pela estiagem em Tefé.
Objetivos Específicos:
Implantar um sistema digital acessível e automatizado para coleta, análise e visualização de dados, facilitando o monitoramento epidemiológico e a tomada de decisões da Gestão.
Monitorar a saúde das comunidades afetadas pela estiagem, identificando precocemente sinais e sintomas de agravos, grupos de risco e territórios vulneráveis.
Mapear grupos de risco e territórios com maior vulnerabilidade, facilitando o direcionamento de recursos.
Fortalecer o uso de tecnologias digitais em saúde, em consonância com o SUS Digital, melhorando o fluxo de informações entre equipes de campo e gestores.
Trata-se de uma pesquisa aplicada, descritiva e quantitativa, realizada entre setembro e dezembro de 2024 nas 124 comunidades rurais e ribeirinhas de Tefé durante o período de estiagem. A coleta de dados foi conduzida por agentes comunitários de saúde, técnicos de enfermagem e enfermeiros, por meio de um questionário estruturado no Google Forms (conta gratuita), abordando sinais e sintomas, faixa etária, sexo e grupos de risco, entre outras.
As respostas foram coletadas diariamente e processadas no Power Query para garantir consistência e automação. O painel foi criado no Excel 2019 com tabelas e gráfico dinâmicos para facilitar a visualização interativa dos resultados, também incluía dados como total de registros, evolução do número de casos ao longo das semanas, comunidades mais afetadas e sexo e área a que pertence.
O acompanhamento e registro da assistência remota foi realizado através do PEC, complementado por vídeo chamadas ou mensagens telefônicas quando necessário. As comunidades com acesso à internet serviram como pontos estratégicos para recebimento de atendimento remoto.
A atuação das 5 equipes, contempladas por médicos e enfermeiros, além da presença de 76 agentes e 60 técnicos atuando efetivamente no território, foi o diferencial, garantindo assistência da população afetada, pois alguns atendimentos foram realizados no período noturno, horário que grande parte das comunidades funciona energia elétrica.

O trabalho apresentado identifica de forma clara uma oportunidade de aperfeiçoamento na resposta do sistema de saúde municipal frente a eventos extremos, como a estiagem severa que atingiu Tefé. A dificuldade de acesso às comunidades ribeirinhas, agravada pela seca.
A iniciativa partiu da necessidade concreta de monitorar, em tempo real, as condições de saúde das populações ribeirinhas isoladas, que enfrentavam aumento de doenças como diarreia e infecções respiratórias, sem acesso facilitado aos serviços. Com isso, surge a oportunidade de uso de tecnologias simples (Google Forms, Excel, WhatsApp) como ferramenta estratégica de gestão, permitindo:

Melhor tomada de decisões baseadas em evidências; Organização eficiente do envio de insumos e equipes; Fortalecimento da articulação entre vigilância, atenção Básica; Ampliação do alcance do cuidado, inclusive com assistência remota e noturna.

Portanto, o que moveu o trabalho foi a necessidade urgente de transformar um desafio crítico (estiagem e isolamento) em oportunidade de inovação e fortalecimento do SUS digital no território, por meio da coleta e análise de dados de forma automatizada e acessível. Isso proporcionou intervenções mais rápidas, organizadas e efetivas, demonstrando a capacidade de adaptação e inovação da gestão municipal.

O painel registrou um total de 1.097 casos durante o período monitorado. Entre os sintomas mais prevalentes estavam diarreia (142 casos), tosse seca (61 casos) e coriza (59 casos). Crianças representaram o maior grupo de risco (459 casos), reforçando a necessidade de atenção especial a essa faixa etária. As áreas mais afetadas foram a Área 21 (314 casos) e a Área 11 (289 casos).
A ferramenta permitiu identificar rapidamente as comunidades mais impactadas, como Vila Bastos (81 registros) e São Francisco do Itaubá (76 registros), possibilitando intervenções direcionadas. Além disso, a assistência remota garantiu continuidade no atendimento mesmo em condições adversas. A assistência ocorreu em consultórios fixos, itinerantes e remotamente, inclusive à noite, resultando em 11.365 atendimentos conforme relatório do PEC.
O compartilhamento dos resultados em tempo real, por meio do WhatsApp, otimizou o processo de gestão. Nesse sentido, vale destacar os fatores que contribuíram para otimização da ferramenta na intervenção da gestão, sendo esses, a presença de conectividade nas comunidades, os 21 pontos de apoio ativos, compostos por técnicos de enfermagem e/ou agentes de saúde. Isso refletiu em ações rápidas, com entregas de kits de medicamentos para todas comunidades/ponto de apoio das áreas mais isoladas, 313 kits de tratamento de água para todas comunidades em parceria com Mamirauá e entrega de 5.000 cestas básicas para as 3.500 famílias ribeirinhas necessitadas.

Comece simples, aproveitando ferramentas acessíveis e adaptáveis à realidade local, como Google Forms e Excel, mas com foco claro nos objetivos e na agilidade da resposta.
A chave é transformar o dado em ação rápida, mesmo com poucos recursos. A replicabilidade da prática é alta, desde que respeitadas as características do território e que haja articulação entre vigilância, atenção básica e gestão.

autor Principal

Valcinei Silva Amorim

valcineiamorim@hotmail.com

Coordenador PEC-e-SUS APS Tefé

Coautores

Autor: Valcinei Silva Amorim Coautores: Lecita Marreira de Lima Barros, Gleiciane araujo, Cleia da Silva Pinheiro

A prática foi aplicada em

Tefé

Amazonas

Norte

Esta prática está vinculada a

Secretaria Municipal de Saúde Tefé AM

Uma organização do tipo

Instituição Pública

Foi cadastrada por

Valcinei Silva Amorim

Conta vinculada

31 jul 2025

CADASTRO

25 set 2025

ATUALIZAÇÃO

01 set 2024

inicio

31 dez 2024

fim

Condição da prática

Concluída

Situação da Prática

Arquivos

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