A Insegurança Alimentar e Nutricional (Insan) conceitua-se pela falta do acesso permanente e regular a alimentos de qualidade e em quantidades suficientes, levando em consideração a diversidade cultural, social, econômica e as questões ambientais. A Insan influencia a saúde da população na múltipla carga da má nutrição, como desnutrição, excesso de peso e doenças crônicas não transmissíveis (DCNT). Sendo assim, o acompanhamento do estado nutricional é fundamental para estratégias de enfrentamento aos problemas relacionados à insegurança alimentar.
Este estudo visou sanar a escassez de dados e monitoramento da Insan na cidade de Petrópolis (RJ). Serão abordados dados coletados e analisados entre março de 2023 e março de 2024, tendo o monitoramento sido implementado em fluxo contínuo no município. O público-alvo, a princípio, foram as gestantes beneficiárias do Programa Bolsa Família (PBF) e, posteriormente, implementado com crianças e adolescentes matriculados em escolas da rede pública de ensino, que se encontram em áreas descobertas por uma Estratégia Saúde da Família do município.
Objetivo geral: mapear o risco de insegurança alimentar em gestantes beneficiárias do PBF e de crianças e adolescentes matriculados em escolas da rede pública de ensino.
Objetivos específicos: aplicar a triagem para risco de segurança alimentar (Tria);
Avaliar o estado nutricional através da antropometria (peso e altura) das gestantes, crianças e dos adolescentes;
Correlacionar o estado nutricional com os níveis de Insan;
Implementar a monitoração contínua dos dados sobre segurança alimentar e estado nutricional das gestantes, crianças e dos adolescentes.
A coleta de dados teve início a partir da implementação, pela área técnica de alimentação nutrição, de uma ficha de notificação de gestantes beneficiárias do PBF, preenchida pelos profissionais de saúde durante as consultas de pré-natal. O documento contém além dos dados pessoais das gestantes, dados para avaliação do estado nutricional e a Triagem para Risco de Insegurança Alimentar TRIA, instrumento que consiste em duas perguntas para classificar a situação de insegurança alimentar, onde duas respostas negativas caracterizam segurança alimentar (SAN), uma resposta negativa e uma afirmativa, situação de Insan leve e duas respostas afirmativas, Insan moderada/grave. Já para as informações sobre as crianças e adolescentes, os dados foram coletados por meio do Programa Saúde na Escola através de visitas e intervenções realizadas nas escolas municipais e estaduais previamente pactuadas, na qual foram realizadas a antropometria dos alunos e educação nutricional pela equipe. Além disso, foi encaminhado uma ficha contendo dados pessoais, o marcador de consumo de alimentar e a Tria para os pais e responsáveis, na agenda de cada estudante. Com base nas informações coletadas foi criado um banco de dados, para posterior análise estatística.
No total, foram notificadas 589 gestantes no período de março de 2023 a março de 2024. Desse total, 555 apresentavam informações da TRIA, nas quais observou que 14,7% (n=82) apresentaram insegurança alimentar leve, 64,5% (n=358) insegurança alimentar moderada a grave e 20,8% (n=115) segurança alimentar. No caso dos alunos, 6.654 responderam a TRIA, 55,2% (n=3.677) deles estavam em segurança alimentar, 17% (n= 1.137) em insegurança leve e 27,6% (n= 1.840) em insegurança moderada a grave.
Em relação ao estado nutricional, foram avaliadas 513 gestantes, que possuíam os dados necessários para avaliação, sendo observado 17,7% (n=91) gestantes com baixo peso, sendo que somente 13,2% (n=12) estão em segurança alimentar, 32,6% (n=167) com eutrofia, 23,4% (n=120) com sobrepeso e 26,3% (n=135) com obesidade. Quanto às crianças e adolescentes, foram avaliadas um total de 14.464, sendo 0,3% (n= 45) apresentando magreza acentuada, 2,1% (n=304) magreza, 80% (n=11.572) eutrofia, 0,34% (n=50) risco de sobrepeso, 7,7% (n=1.111) sobrepeso, 7,6% (n=1.113) obesidade e 1,8% (n= 265) obesidade grave. Em relação a quantidade de estudantes com magreza e magreza acentuada, que responderam o questionário da TRIA (n=104), 15,48% (n=16) estavam em insegurança leve, 38,46% (n=40) em insegurança moderada/grave e 46,15% (n=48) em segurança alimentar.
Foi observado alto percentual de Insan em ambos os grupos avaliados, destacando-se percentual maior nos indivíduos com baixo peso, principalmente em gestantes. Identificou-se dupla carga de má nutrição (desnutrição e obesidade) associados à Insan. Nas gestantes, evidencia-se percentual de desnutrição encontrado superior ao do município, apesar dos percentuais de sobrepeso e obesidade com maiores proporções. Nessa fase, o risco nutricional eleva as chances de parto prematuro, aborto espontâneo e baixo peso ao nascer.
As crianças e adolescentes apresentaram importante número de eutrofia e segurança alimentar, mas ressalta-se valores significativos para excesso de peso, bem como níveis de insegurança alimentar importantes. Estes podem elevar o risco de obesidade, diabetes mellitus, hipertensão, câncer, entre outras DCNTS, bem como carências nutricionais, atraso no desenvolvimento e déficit de aprendizado.
Com a coleta e análise destes dados pode-se sanar sua ausência atual e implementar o monitoramento da Insan no município. Estudos como o exposto acima são de suma importância, uma vez que buscam dados relevantes para o cenário epidemiológico, podendo subsidiar ações intersetoriais em meio a combater as iniquidades em saúde.
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