Resumo

Este artigo aborda a articulação entre os sistemas florais, fitoterapia e aromaterapia, destacando experiências locais desenvolvidas em Santa Cruz Cabrália (BA), especialmente na comunidade indígena de Coroa Vermelha e nos serviços do Sistema Único de Saúde (SUS). A partir da vivência de terapeutas locais e de ações coletivas como o Programa SOS Florais, exploramos as potencialidades das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS), bem como os desafios relacionados à adesão, considerando aspectos culturais e sociais. O relato de experiência evidencia a importância da educação popular como estratégia central para a adesão e o fortalecimento dessas práticas.

Palavras-chave: Florais. Fitoterapia. Aromaterapia. Práticas Integrativas e Complementares. Educação Popular em Saúde.

Introdução

As Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) vêm consolidando-se no Brasil como importantes estratégias no cuidado em saúde, conforme preconizado pela Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC/MS, 2018). Entre elas, destacam-se a terapia floral, a fitoterapia e a aromaterapia, que se articulam de modo singular em determinados territórios.

Em Santa Cruz Cabrália, Bahia, essas práticas se desenvolvem de forma integrada, mobilizando saberes tradicionais, indígenas e científicos, sobretudo na comunidade indígena Pataxó de Coroa Vermelha, do Distrito de Coroa Vermelha e nas localidades do centro e adjacentes. Este artigo apresenta uma sistematização dessas experiências, destacando o papel da educação popular e da atuação de terapeutas e agentes comunitários de saúde.

Metodologia

Este artigo constitui-se como um relato de experiência, articulado à revisão narrativa de literatura. Foram utilizadas fontes bibliográficas clássicas sobre florais, fitoterapia e aromaterapia, bem como documentos oficiais e depoimentos de terapeutas atuantes em Cabrália, coletados por meio de entrevistas, relatos escritos e transcrição de áudio.

Referencial Teórico
1. Terapia Floral

A terapia floral, sistematizada inicialmente por Edward Bach (1930), busca a harmonização emocional e espiritual por meio das essências extraídas de flores. No Brasil, a prática foi amplamente difundida por Lizete Maria de Paula, pioneira na formação e organização da categoria profissional, tendo liderado a criação do Conselho Nacional de Autorregulamentação da Terapia Floral (ConaFLOR) em 2010.

Lisete destaca que sua formação foi inicialmente autodidata, realizando posteriormente cursos com mais de 10 pesquisadores internacionais, além da especialização na UFRJ, onde também atuou como professora. Seu trabalho fundamenta a atuação de diversos terapeutas no país e inspirou a criação do Programa SOS Florais, aplicado em Santa Cruz Cabrália.

2. Fitoterapia

A fitoterapia, uso terapêutico das plantas medicinais, possui raízes profundas nas práticas tradicionais indígenas e populares. Segundo a PNPIC (BRASIL, 2018), a fitoterapia é um dos núcleos estruturantes das PICS, promovendo o resgate de saberes ancestrais e o fortalecimento da autonomia dos sujeitos no cuidado em saúde.

Autores como Diego R. Leal destacam a importância da fitoterapia no contexto das comunidades indígenas de Coroa Vermelha, especialmente pela atuação ao longo de muitos anos, do Pagé Itambé e da sua farmácia indígena, referência local na produção e oferta de produtos fitoterápicos.

3. Aromaterapia

A aromaterapia, enquanto técnica terapêutica baseada na utilização de óleos essenciais, complementa a ação dos florais e da fitoterapia. Segundo Balacs (2015), a ação bioquímica e psicoemocional dos óleos essenciais potencializa processos de autocuidado e bem-estar. Em Cabrália, a aromaterapia integra protocolos terapêuticos em espaços como o Espaço Flor de Lótus, coordenado pela acupunturista Luceni Ransolin ou o Projeto Korihé, de Ubiraci Pataxó.

Contextualização Local

Em Santa Cruz Cabrália, a presença da comunidade Pataxó na aldeia de Coroa Vermelha fortalece a transmissão e valorização dos saberes fitoterápicos, com destaque para o trabalho do terapeuta Ubiraci Pataxó, que realizou seu Trabalho de Conclusão de Curso, na graduação de Ciências da Natureza, justamente sobre o uso terapêutico das ervas tradicionais.

Outros espaços importantes incluem:
– Farmácia indígena do Pagé Itambé, referência em produtos fitoterápicos.
– Espaço Flor de Lótus, onde Luceni Ransolin articula fitoterapia e acupuntura.
– Atuação do terapeuta Ubiraci Pataxó, com práticas baseadas nas plantas da mata atlântica, entre outras.

Relato de Experiência

A adesão aos fitoterápicos associados aos florais em Santa Cruz Cabrália foi elevada, tanto no CAPS quanto na atenção básica. Muitas pessoas expressam resistência ao uso de medicamentos controlados, motivadas por crenças culturais e experiências passadas com a medicalização excessiva.

A educação popular, enquanto estratégia metodológica, desempenhou papel fundamental no processo de adesão, proporcionando espaços de escuta, acolhimento e compartilhamento de saberes. Como destaca Diego R. Leal, “encontramos uma forma de equilibrar tudo isso através da educação popular junto com essas práticas”.

O Programa SOS Florais, coordenado inicialmente por Lizete Maria de Paula, foi implementado localmente com resultados expressivos, alcançando não apenas os usuários dos serviços de saúde, mas também familiares e agentes comunitários de saúde.

Depoimentos
1. Tia Liu

“Através dessa capacitação, fazendo uso e continuando a usar eu e o meu esposo, e algumas famílias que apresentei floral, tive a oportunidade de observar o quanto tem mudado as personalidades, o comportamento, a forma de agir… Não é um remédio, mas passa a ser quando você se dispõe a usar. […] A nossa intenção é que toda a população venha conhecer as maravilhas das PICS: tratamento natural que vai te deixar leve e vai te trazer paz na alma.”

2. Lisete Maria de Paula

“Comecei autodidata, porque não havia cursos no Brasil em 1989. […] Em 2010 criamos o ConaFLOR, e a partir daí se reorganizou toda a questão da terapia floral no Brasil, inclusive com a criação do SOS Florais, que foi aplicado aqui em Cabrália.”

Considerações Finais

A articulação entre florais, fitoterapia e aromaterapia configura-se como uma potente estratégia de cuidado integral, especialmente em territórios onde há forte presença de saberes tradicionais e de práticas comunitárias de saúde.

Em Santa Cruz Cabrália, as experiências relatadas apontam para a necessidade de fortalecimento das PICS como política pública efetiva, integrando educação popular, formação profissional e valorização dos saberes tradicionais, especialmente das comunidades indígenas.

Referências
BARRETO, Adalberto. Quando a boca cala, os órgãos falam. Fortaleza: Edições UFC, 2005.
BALACS, Patricia. Aromaterapia: bases científicas. São Paulo: Senac, 2015.
BACH, Edward. Cura-te a ti mesmo. São Paulo: Pensamento, 2010.
BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS – PNPIC. Brasília: MS, 2018.
DE PAULA, Lisete Maria. Entrevista concedida ao autor. 2025.
HELLINGER, Bert. A fonte não precisa perguntar pelo caminho. Petrópolis: Vozes, 2005.
LEAL, Diego R. Relato de experiência e organização do Programa SOS Florais Cabrália. Santa Cruz Cabrália: 2025.
Transcrição de áudio: Tia Liu fala sobre a Escola de PICS e o SOS Florais Cabrália. 2025.

Principal

Diego da Rosa Leal

npicscabralia@gmail.com

Enfermeiro Terapeuta Sistêmico

Coautores

AUTORES Diego R. Leal — Educador Sistêmico, Npics Brasil / Fórum de Cabrália Lizete Maria de Paula - Especialista em Terapia Floral pelo HESFA/UFRJ

A prática foi aplicada em

Santa Cruz Cabrália

Bahia

Nordeste

Esta prática está vinculada a

Rua Sidrack Carvalho - s/n, Santa Cruz Cabrália - BA, 45807-000, Brasil

Uma organização do tipo

Instituição Pública

Foi cadastrada por

Diego da Rosa Leal

Conta vinculada

24 jun 2025

CADASTRO

24 jun 2025

ATUALIZAÇÃO

Condição da prática

Concluída

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