Estratégias de sucesso para diminuição da hesitação vacinal e promoção da descentralização de vacinas na região Centro-Sul do Rio de Janeiro

O Centro-Sul Fluminense possui, aproximadamente, 342 mil habitantes, o equivalente a 1,9% da população do Estado do Rio de Janeiro (ERJ). É formada pelos municípios de Areal, Comendador Levy Gasparian, Engenheiro Paulo de Frontin, Mendes, Miguel Pereira, Paracambi, Paraíba do Sul, Paty do Alferes, Sapucaia, Três Rios e Vassouras. A cobertura vacinal da região alcançou 71,39% na média de todos os imunobiológicos, tendo maior cobertura para as vacinas feitas ao nascer (BCG 105,96% e Hepatite B 105, 57%) e menor cobertura para as vacinas de reforço aos 04 anos de idade (VOP 58,54%, DTP R2 58,68% e Febre Amarela 52,94%). Há desafios para ser vencidos na região como a instabilidade elétrica na região nas áreas rurais que trazem transtornos para digitação em tempo real, além da sobrecarga dos profissionais de saúde da família que pela composição da equipe mínima não conseguem se dedicar a inserção de dados da vacinação em sistema oportunamente. Visualizamos que a hesitação vacinal é um agravante desde a pandemia e a disseminação de falsas informações dificultou o processo de vacinação na região. Como fator promissor temos que embora todos os municípios encontrem limitações para o seu desempenho, o trabalho em conjunto entre municípios tem gerado bons resultados como a criação de fóruns de discussão, e futuramente mostras de experiências para que haja produções científicas relacionadas a vacinação a partir dos trabalhos realizados na região.

De acordo com o Manual de Normas e Procedimentos para Vacinação do Ministério da Saúde as atividades da sala de vacinação são desenvolvidas pela equipe de enfermagem treinada e capacitada para os procedimentos de manuseio, conservação, preparo e administração, registro e descarte dos resíduos resultantes das ações de vacinação. (BRASIL 2014) Na região Centro Sul Fluminense possuem vacinação totalmente descentralizada através da saúde da família os municípios de: Três Rios, Vassouras, Miguel Pereira, Mendes, Paty do Alferes, Engenheiro Paulo de Frontin, Sapucaia, Paracambi. A descentralização ainda está em processo de implantação através do sistema de vacinação itinerante nos municípios de Areal, Comendador Levy Gasparian e Paraíba do Sul. Para que a vacinação tenha êxito na região e alcance altas taxas de coberturas algumas estratégias municipais individuais e outras compartilhadas por toda região são implementadas. A região centro-sul possui ampla integração entre as coordenações de imunização que permite trocas de imunobiológicos e insumos em suporte entre as cidades para que não haja comprometimento com a falta de imunobiológicos que ocorre ocasionalmente em razão da oferta de frascos multidoses que não atendem a realidade dos municípios menores. O município de Mendes que possui vacinação descentralizada, para que não tenha desperdício de doses estabeleceu esquema de rodízio entre as unidades de saúde para os frascos multidoses de imunobiológicos que recebe em pouca quantidade, como a vacina triviral, para que não deixe de apresentar cobertura desejável, pois a quantidade de imunobiológicos que recebe não seria suficiente para atender todas as salas de vacina do município. Estudos concluem que escolher a melhor opção para apresentação do frasco de vacina é uma tarefa complexa pois diverge entre a questão do armazenamento comprometido quando monodose e a questão do risco de desperdício quando multidose. Evidencia-se que devem ser criadas estratégias para redução dos desperdícios. (Mai et al 2020) O município de Areal realiza a vacina de forma centralizada e oportunamente em campanhas realiza a distribuição de forma itinerante para as unidades de saúde, com retorno dos imunobiológicos para a Central no mesmo dia. As salas de vacina devem funcionar paralelamente ao funcionamento dos demais serviços inerentes à equipe de Enfermagem de acordo com a organização do processo de trabalho da equipe e serviço. O COFEN determina que s e houver dimensionamento de profissionais de Enfermagem incoerente com a demanda populacional adscrita à Unidade e porte do serviço de saúde, cabe providências de recursos humanos pela gestão municipal. (COFEN, 2022) Paraíba do Sul adotou a estratégia de vacinação itinerante através de equipes móveis de vacinação. A composição das equipes móveis de vacinação de é de dois profissionais técnicos de enfermagem, um motorista e um enfermeiro supervisor de campo que orienta a supervisão das atividades de vacinação junto ao enfermeiro responsável técnico da unidade de saúde. O trabalho do enfermeiro supervisor de campo é dinâmico, monitorando todas as equipes das rotas móveis de vacinação e se deslocando entre elas. Esta estratégia diminui a sobrecarga dos profissionais da saúde da família do município e diminui a incidência de erros de imunização. Ainda enquanto estratégia ao retornar das rotas de vacinação há uma equipe especializada para inserção dos dados no sistema de informação para vacinação, o que qualifica os dados prestados. O Conselho Federal de Enfermagem preconiza que exista uma equipe mínima sugerida para a atividade de vacinação, composta pelo enfermeiro e técnico ou auxiliar de enfermagem, sendo recomendado como ideal a presença de 2 vacinadores para cada turno de trabalho, conforme o porte do serviço de saúde, e tamanho da população sob sua responsabilidade. (COFEN 2021) Comendador Levy Gasparian iniciou o processo de descentralização de vacinas através do projeto Vacina nos Bairros que permite a aproximação do usuário com a vacinação e permite às equipes de saúde da família o monitoramento de suas atividades e o planejamento de ações futuras. O Ministério da Saúde elenca funções da equipe responsável pelo trabalho na sala de vacinação que incluem o planejamento das atividades, monitoramento e avaliação do trabalho desenvolvido, provisão de insumos e materiais necessários para a atividade de vacinação, a conservação dos imunobiológicos e equipamentos; a destinação adequada dos resíduos de vacinação e registro da vacinação nos impressos adequados para comprovação individual e registros no sistema de informação pertinente. (BRASIL, 2014) Como fator negativo importante para descentralização da vacina nos municípios que ainda estão no processo de descentralização neste momento, temos a instabilidade elétrica que gera diversas falhas de equipamentos, além da infraestrutura de algumas unidades de saúde que para receber o imunobiológico necessitariam de obras prediais, fator comum aos municípios de Areal, Comendador Levy Gasparian e Paraíba do Sul.

Segundo a regulamentação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) sobre os serviços de vacinação os profissionais envolvidos nos processos de vacinação devem ser periodicamente capacitados pelo serviço para temas específicos relacionados a vacina que envolvem os conceitos básicos de vacinação destacando-se a conservação, armazenamento e transporte de imunobiológicos, o preparo e administração segura de vacinas, o gerenciamento de resíduos provenientes da vacinação, os registros relacionados à vacinação, o processo para investigação e notificação de eventos adversos pós-vacinação e erros de vacinação, e a conduta a ser adotada frente às possíveis intercorrências relacionadas à vacinação entre outras temáticas . (BRASIL, 2017). Os municípios de Paty do Alferes e Miguel Pereira destacam em suas boas práticas a integração das equipes de saúde da família com a imunização para ações de constante capacitação, monitoramento e avaliação de desempenho. São municípios com a vacinação descentralizada. A maior cidade da região centro-sul, Três Rios, já possuía a vacinação de forma descentralizada, mantendo um posto central. No entanto como medida de aproximação dos usuários com a sua comunidade de referência a partir de 2022, o Posto Central de Vacinação passou a ser apenas destinado a vacinação de BCG e triagem neonatal. Destaca-se como medida de extremo êxito do município de Três Rios a implantação da vacina de BCG e hepatite B na maternidade local, que aumentou a cobertura para estes imunobiológicos em mais de 100% Conforme determinam as boas práticas de imunização versadas em manual é fundamental que haja integração entre a equipe da sala de vacinação e as demais equipes de saúde, no sentido de evitar as oportunidades perdidas de vacinação, que se caracterizam pelo fato de o indivíduo ser atendido em outros setores da unidade de saúde sem que seja verificada sua situação vacinal ou haja encaminhamento à sala de vacinação. (BRASIL, 2014) A literatura destaca a dificuldade de municípios de menor porte na execução das ações de vacinação, pela falta de capacitação e pela rotatividade ou escassez dos profissionais que atuam nas salas de vacinação, indicando inclusive que as capacitações sejam também direcionadas aos gestores. (DOMINGUES et al, 2019) Neste sentido o município de Engenheiro Paulo de Frontin observou quedas em suas coberturas vacinais com a implantação de novos sistemas de informação para vacinação, fato compartilhado por todos os municípios da região. Como estratégia Engenheiro Paulo de Frontin criou uma equipe especializada na digitação dos dados do sistema e retomou o monitoramento de todas as suas salas de vacina de forma centralizada, através de mapas enviados mensalmente. A falta de profissionais exclusivos para as ações de vacinação pode comprometer o funcionamento adequado das atividades executadas por eles, visto que a sala de imunização é extremamente dinâmica, os protocolos se alteram constantemente, daí a importância de ter sempre dois profissionais treinados e com uma vivência diária na sala de imunização para realizarem as atividades e evitar um evento adverso e erros de imunização. (SILVA et al, 2020) Com o advento da pandemia as falsas informações acerca da vacinação mudaram o perfil de procura de vacina para a região Centro Sul. De 2019 a 2021 observou-se queda expressiva na cobertura vacinal para região chegando no ano de 2019 a cobertura ter alcançado em toda região apenas 57,98%, enquanto em 2018 estava em 90,86% (DATASUS 2023) Entendemos que parte do número desta queda brusca de cobertura pode ter sido causada por falha do sistema de informação como, não deixamos de admitir que pode ter sido razão de hesitação vacinal fruto de fake news. O município de Paracambi enquanto estratégia para combate a hesitação vacinal desenvolveu um projeto baseado na produção de vídeos educativos (das crianças), áudios; paródias, cartazes, dramatizações; textos, frases, desenhos ou outros portadores de mensagens. Além disso, infográficos, histórias em quadrinhos, folders e, também, roda de conversa com os alunos e família, verificando quais deles possuem parentes já vacinados ou não, enfatizando a importância e os benefícios da vacina para a comunidade, utilizando meios eletrônicos e presenciais que possam circular pelos aplicativos e redes sociais. Entender que narrativas contra vacinação por meio das mediações pode, de um lado, demonstrar o desconforto da população em relação à associação da ciência ao Estado e às medidas tomadas por essas instituições direcionadas à sociedade. Por outro, pode sinalizar a carência da população em receber informações confiáveis e de forma simples, que facilite a compreensão para a tomada de decisão individual. (COSTA E SILVA 2022).

Percebemos que a região Centro Sul apesar da pequena densidade populacional e ampla cobertura de saúde da família enfrenta grandes desafios na esfera da imunização, dado a precariedade do investimento na infraestrutura da rede elétrica da maioria das áreas rurais, unidades de saúde fora do modelo padrão para comportar a vacina todos os dias da semana e a sobrecarga dos profissionais que estão abarcados em multifunções. Outra questão que precisa ser discutida com cautela e que afetou a região é a desinformação trazida pelas falsas notícias acerca de vacinação fazendo com que as estratégias para aumento da cobertura vacinal necessitem ser revistas. Como fator promissor temos que embora todos os municípios encontrem limitações para o seu desempenho, o trabalho em conjunto entre municípios tem gerado bons resultados como a criação de fóruns de discussão, e futuramente mostras de experiências para que haja produções científicas relacionadas a vacinação a partir dos trabalhos realizados na região.

Principal

Danielle de Andrade Correa

Coautores

Agnes Maria Couto da Silva, Ariane Pereira Ribeiro Costa, Fabiana Alves Faria Oliveira, Jefferson Bruno Corona, Kelly Tashima, Nicea Mendes, Veronica Werneck, Viviane Bento

A prática foi aplicada em

Todos os Municípios (RJ)

Rio de Janeiro

Sudeste

Esta prática está vinculada a

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Uma organização do tipo

Instituição Pública

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23 dez 2023

CADASTRO

23 ago 2024

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Concluída

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