- Atenção Primária à Saúde
Bruno Henrique da Silva Ramos
- 13 nov 2024
APRESENTAÇÃO
Notadamente, o aumento no número de casos de crianças que apresentam alguma condição especial de nutrição, desde alergias, intolerâncias ou até mesmo seletividade alimentar tem sido expressivo nas Unidades de Pronto Atendimento por procura espontânea recorrente, advinda da ausência de identificação precoce e de um fluxo seguro de atendimento para fechamento diagnóstico adequado e tratamento específico.
Dito isso, salientamos que a Alergia Alimentar é a mais severa, por ser responsável pelos maiores agravos à saúde das crianças, entendida como toda reação anormal ao componente proteico do alimento que envolve o mecanismo imunológico, a exemplo da Alergia à Proteína do Leite de Vaca (APLV), que se destaca por determinar uma reação do sistema imunológico ao alérgeno, sendo as mais prevalentes, persistentes e graves.
Frente à necessidade em eliminar o alérgeno da dieta e suprir as demandas nutricionais destas crianças, o uso de um substituto adequado passa a ser indicado, pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). No entanto, o alto custo das fórmulas aliado ao empobrecimento da população e a ausência de políticas públicas tem determinado o retardo diagnóstico, o agravamento das condições clínicas e nutricionais das crianças e favorecido a crescente judicialização desta demanda. Estes fatores impulsionaram o município de Campina Grande-PB a estabelecer estratégias de Atendimento aos Portadores de Alergia Alimentar e condições especiais de nutrição.
OBJETIVOS
– Criar o Ambulatório especializado em Atendimento às Alergias Alimentares no município de Campina Grande /PB;
– Estabelecer diretrizes para o atendimento ambulatorial e utilização de fórmulas especiais para crianças e adolescentes com diagnóstico de alergia alimentar, intolerância alimentar e/ou seletividade alimentar residente em Campina Grande;
– Elaborar o fluxo de atendimento, desde o encaminhamento até a admissão no ambulatório com o acompanhamento, reavaliação semestral e alta;
– Normatizar critérios para inclusão, exclusão, atendimento, diagnóstico e prevenção.
METODOLOGIA
A primeira etapa dessa experiência deu-se inicialmente de forma observacional e depois pelo monitoramento de dados gerados no Hospital da Criança e Adolescente (HCA) do município, bem como pelo número de processos judiciais identificados, os quais apresentavam em sua solicitação motivações clínicas e prescrições de fórmulas que classificamos de três formas: prescrição adequada; prescrição inadequada; e/ou prescrição para adequação.
Na sua segunda fase, revisitamos documentos atuais norteadores publicados pelo Ministério da Saúde (MS) e definimos a formação de um Grupo de Trabalho (GT), intersetorial composto por técnicos em saúde, técnicos em educação, nutricionista, pediatra e equipe jurídica para discutir as questões relevantes das alergias alimentares e a crescente judicialização de fórmulas especiais no município.
E com vistas em atender o objetivo proposto pelo GT, o terceiro passo foi definir e pactuar o local e horário de funcionamento, criar os instrumentos específicos e indispensáveis para pactuação, além de determinar o corpo profissional para compor o ambulatório especializado em Atendimento às Alergias Alimentares, construir o fluxo de atendimento com a seguridade da referência e contrarreferência e inserindo nesse contexto os profissionais da Atenção Primária à Saúde (APS).
Aumento da judicialização para recebimento de fórmulas especiais e ausência de um fluxo para atendimento, avaliação e tratamento de crianças com alergias alimentares, intolerância e seletividade alimentar.
A partir da problemática discutida pelo GT municipal constatou-se que a ausência de políticas públicas eficazes de atenção à infância e o contexto cultural do Brasil de adultização da infância e mercantilização da saúde, promovendo o aumento de cesárias, desmame precoce e a introdução de fórmulas e leites animais favoreceram de fato o aumento de casos de APLV em crianças.
Nesse sentido, traçamos como metas promover campanhas educativas e encontros de educação em saúde aos profissionais da rede municipal para qualificar o pré-natal, estímular o parto natural, incentivar o aleitamento materno exclusivo até os seis meses de idade e a não descontinuidade da oferta de leite materno, por ocasião do retorno precoce dos pais ao trabalho e a necessidade de matricular seu filho nas unidades educacionai, creches-berçario. Frente a este desafio, em parceria com a Rede Cegonha, Programa saúde na Escola – PSE e Vigilância Alimentar e Nutricional executamos um projeto para Promoção ao Aleitamento Materno nas Unidades de Creches e Berçários do município com o objetivo de preparar os profissionais da educação para o adequado manejo do leite materno ordenhado.
Por fim, conseguimos criar e estruturar o ambulatório de Atendimento às Alergias Alimentares e Condições Especiais de Nutrição no município de Campina Grande/PB na sede do HCA
Conclusões
Conclui-se que as atividades de educação em saúde e a criação do Ambulatório de Alergias Alimentares e Condições Especiais de Nutrição foram iniciativas valiosas para manejo de alergias, intolerâncias alimentares e seletividade alimentar, ou simplesmente para melhorar a qualidade alimentar e adotar hábitos de vida saudáveis.
Através do projeto, os pacientes têm acesso a consultas com especialistas Alergologista ou Gastroenterologista e acompanhamento nutricional adequado e contínuo, com encaminhamento feito pela APS ou pelo CER (Centro Especializado em Reabilitação). Além disso, os atendimentos realizados no ambulatório coletam dados sobre o estado nutricional dos pacientes, monitoram sua evolução e avaliam a melhora do quadro clínico com a adequação da alimentação. Esses benefícios incluem aprimoramento da qualidade de vida, redução de sintomas alérgicos e promoção de hábitos alimentares saudáveis.
CADASTRO
ATUALIZAÇÃO