- Atenção Primária à Saúde
Clarice Miranda de Carvalho
- 04 nov 2024
A esporotricose é uma micose causada pelo fungo Sporothrix spp, encontrado comumente no solo, plantas, palhas e madeiras. A transmissão da doença pode ocorrer quando o fungo entra em contato com a pele através de uma ferida ou corte, geralmente causado por farpas ou espinhos contaminados. Também é possível contraí-la através do contato com animais infectados, como gatos, que são os principais transmissores da doença para humanos.
Após os agentes comunitários de saúde (ACS) e agentes de combate às endemias (ACE) evidenciarem gatos apresentando lesões, observou-se a necessidade de ofertar atendimento a esses animais. Em janeiro de 2023 foi identificado o primeiro caso de esporotricose humana, com diagnóstico laboratorial confirmado.
Mediante a isto, foi elaborado um plano de controle e prevenção de incidência de novos casos. A ação de combate e controle da esporotricose animal teve início na zona urbana e posteriormente na zona rural (Distrito de Pontina, Comunidade Quilombola e Chã dos Pereiras). Os atendimentos fizeram parte de uma parceria entre a Prefeitura Municipal de Ingá (PMI), Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e com Faculdades privadas dos municípios de Campina Grande e Patos, onde os alunos realizaram as consultas sob a supervisão de seus professores.
Objetivo geral: detectar e controlar os casos de esporotricose em humanos e felinos no município de Ingá
Objetivos específicos:
●Capacitar os profissionais de saúde a fim de possibilitar um mapeamento da esporotricose no município;
●Criar protocolos e fluxo de atendimento relacionado a esta endemia, facilitando o diagnóstico e tratamento em tempo oportuno;
●Identificar e tratar os casos de esporotricose felina;
●Conscientizar a população acerca dos cuidados e das formas de transmissão da doença, transformando-os em agentes multiplicadores de informação.
A Vigilância em Saúde (VS) e Atenção Primária à Saúde (APS), iniciaram trabalhos educativos nas escolas, em parceria com as Faculdades da rede privada, onde os alunos de Medicina Veterinária executaram peças teatrais para crianças do ensino fundamental anos iniciais, demonstrando as formas de transmissão e disseminação do fungo entre felinos infectados e humanos. Foi elaborada uma ficha de triagem como instrumento para identificação de felinos com lesões suspeitas de esporotricose, apresentada em capacitação aos ACSs e ACEs, que iniciaram a busca ativa de casos suspeitos durante as visitas domiciliares em suas micro áreas. Após o período de 10 dias, os agentes entregaram as fichas preenchidas e assim a VS identificou áreas com maior quantidade de animais suspeitos e focar a ação social de atendimento clínico veterinário nas localidades com índices mais altos. Foram realizadas ações em localidades com número crescente de casos suspeitos, contando com uma estrutura laboratorial montada, equipada com microscópio, lâminas e coloração panóptica para identificação dos esporos a partir dos citológicos realizados nas lesões dos animais, onde os professores e alunos de medicina veterinária realizaram atendimentos clínicos com foco na doença em questão. Os tutores dos animais que apresentaram a doença, receberam uma receita para aquisição da medicação que foi disponibilizada pela SMS ainda no local. Durante a ação, foram ofertadas vacinação antirrábica aos animais hígidos.
Foram ofertadas a população, até o mês de abril de 2024, 10 ações, totalizando uma média de quase 200 animais, com atendimentos médicos veterinários em diversos bairros do município de Ingá, conseguimos realizar a cobertura de toda a cidade, garantindo a oferta de atendimento aos animais que apresentavam sinais clínicos sugestivos para a esporotricose. No ato do atendimento, foram diagnosticados 35 felinos acometidos pela zoonose. Os tutores dos animais já saíram do local portando em mãos a medicação adequada para o tratamento com o antifúngico, para efetivação do tratamento dos felinos. Desta maneira, observou-se a convalescência dos animais enfermos, além da conscientização dos tutores da forma correta do manejo desses animais para evitar a transmissão da doença.
A partir das capacitações realizadas para os profissionais, os mesmos compreenderam a zoonose, o fluxo do atendimento e como deveria ser tratada, obedecendo dessa forma o manejo correto da doença. Diante disso, foi possível monitorar os casos nos felinos e humanos, este último também através da notificação realizada no Sistema da Informação da Gerência Executiva da Vigilância em Saúde.
A educação em saúde tem papel fundamental no controle das zoonoses, uma vez que, saúde pública se faz com educação, prevenção e promoção, garantindo os princípios da integralidade e universalidade dos serviços. Não podemos esquecer que a saúde animal está diretamente ligada a saúde humana, pois estes são muitas vezes, quando não tratados, responsáveis pelo adoecimento intradomiciliar e transformados em vetores de determinadas patologias.
Além disso, observou-se que após a promoção desta ação, minimizou-se a incidência de casos e consequentemente os impactos à saúde humana e animal, visando a prevenção e tratamento em humanos e animais, desta maneira quebrando a cadeia de transmissibilidade.
A captação profissional realizada antes das atividades foi fundamental para a quantificação das zoonoses prevalentes no município, visto que grande parte da população não possui a capacidade de identificar as doenças e infecções nos animais, podendo passar despercebidos pela comunidade, além de realizar uma investigação precoce através de exames citológicos de esporos, os quais na primeira atividade já foram positivados cerca de 35 animais e, em seguida, medicados para o tratamento adequado.
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