- Práticas Integrativas e Complementares em Saúde
Adriana Vargas
- 13 nov 2024
As Práticas Integrativas e Complementares (PICs) se fazem presentes em todas as camadas de cuidado do SUS, mas é na Atenção Primária à Saúde (APS) que encontram a oportunidade de ampliar suas práticas de apoio à saúde. As PICs promovem uma visão abrangente de bem-estar, abarcando a autogestão, a autoconsciência e a interação tanto consigo mesmo quanto com os demais. Quando se dedica ao bem-estar do próximo, o profissional da área da saúde demonstra o zelo que tem por si mesmo, já que os padrões de cuidados da saúde também influenciam a forma como se cuida e a sua própria qualidade de vida. Muitas vezes o trabalhador da saúde não dispõe de tempo ou oportunidade para seu tratamento, paradoxo este que tem se colocado de forma evidente nas Unidades Básicas de Saúde (UBS). Desde 2023 o Projeto “Cuidando de quem cuida”, que objetiva “reduzir a carga de estresse do profissional de saúde através de cuidado integral com PICS”. As ações se intensificaram nas Equipes de Saúde da Família (ESFs) do município de Santana dos Garrotes -PB. As 12 ações aconteceram entre agosto de 2023 e março de 2024, para 48 profissionais de saúde no total. O objetivo principal deste artigo é descrever e analisar as atividades de PICs oferecidas aos profissionais de saúde das UBSs do município de Santana dos Garrotes –PB. Trata-se de um estudo descritivo, realizado a partir de uma experiência da Secretaria Municipal de Saúde de Santana dos Garrotes – PB. A eleição destes estabelecimentos se deu a partir da identificação da alta carga de estresse dos profissionais de saúde, relacionada com sobrecarga de trabalho. As UBSs demandaram o Projeto, que se configurou em atendimentos itinerantes com algumas PICs: Terapias comunitárias integrativas (TCIs) e Auriculoterapia, desenvolvidos por profissionais da rede de saúde residentes em Saúde Mental. As experiências foram marcadas prioritariamente no horário em que as reuniões de equipe das UBS aconteciam. Nas 04 unidades, as atividades foram conduzidas com a configuração de atendimento em ilhas para cada PICS. Após as terapias, um lanche coletivo saudável promovia a integração e fomentava a discussão sobre os principais desafios enfrentados no cotidiano de trabalho. Não houve estímulo específico para a participação, que ocorreu naturalmente durante a jornada dos profissionais. As técnicas utilizadas na TCIs seguiram as normas da ABRATECOM (Associação Brasileira de Terapia Comunitária Integrativa,2019) e a Auriculoterapia segue a linha da Medicina Tradicional Chinesa com a técnica da Escola de Auriculoterapia da professora Huan Li Chung. A equipe total de desenvolvimento do Projeto consistiu de 1 coordenador do projeto, 1 enfermeira residente em saúde mental e 2 profissionais de saúde com revezamento ao longo das ações.
A constatação que o ambiente e o processo de trabalho são capazes de adoecer apontam para o crescimento dos distúrbios psíquicos nos últimos 20 anos no Brasil.
Entre agosto de 2023 e março de 2024 foram realizados 162 atendimentos no geral. Os profissionais de saúde atendidos referiam sensação de gratidão e bem-estar, além de alívio de muitos sintomas objetivos como dor ou subjetivos como tranquilidade e redução de ansiedade. A Auriculoterapia era de conhecimento dos profissionais. De forma distinta, a TIC somente após os atendimentos passou a ser reconhecida como uma prática que também apresenta uma boa eficácia, além de ser debaixo custo e não requerer material ou equipamento. Ao longo dos atendimentos, pode-se verificar que os problemas no modelo da APS vêm afetando a saúde dos profissionais por diversas formas. O adoecimento e sua relação como modelo biomédico de assistência e as cargas de trabalho vêm causando sintomas que resultam também no desgaste emocional e psíquico. Em comum, esses desgastes se expressam em questões de saúde sutis como cansaço e ansiedade, até quadros mais graves como doenças psíquicas e cardiovasculares. Algumas dimensões deste processo de adoecimento não são identificadas no modelo biomédico atual, uma vez que fragmenta o ser humano numa concepção mecanicista de suas funções. Este Projeto se voltou para o profissional e propicia que o mesmo conheça as PICS, vivenciando seus benefícios e percebendo seu potencial como ferramenta de autocuidado, favorecendo o seu bem-estar e a possível melhoria da qualidade de vida. Como consequência, foi identificada a possibilidade de uso das mesmas ao usuário das UBSs.
Ao disponibilizar as PICs aos profissionais de saúde da rede municipal, foi possível notar uma excelente receptividade em relação a essas práticas. Na prática, essas terapias representaram um suporte e atenção para os trabalhadores diante das intensas pressões e demandas no ambiente laboral. Embora não fosse o foco do Projeto avaliar as condições de trabalho antes e depois das intervenções, a percepção geral foi de uma melhora nas relações entre os colaboradores e no ambiente de trabalho como um todo. O adoecimento dos profissionais de saúde está estreitamente ligado ao atual modelo de saúde da sociedade e, naturalmente, reflete na excelência do atendimento prestado. Essa conexão exige que as mudanças focadas no Bem Viver dos profissionais de saúde sejam uma etapa inicial antes dos objetivos de melhorias na qualidade dos serviços de saúde fornecidos à comunidade. Não se resume apenas a organizar os serviços de saúde, mas também a fortalecer os vínculos entre indivíduos (profissionais e pacientes), que são intermediados por tecnologias (materiais ou não) utilizadas no processo de trabalho de saúde, com o propósito de intervir na saúde da população. Por mais que as estratégias de prevenção se aproximem da promoção de saúde.
Santana dos Garrotes, PB, Brasil
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