O projeto Café 18+ surgiu em 2023, em Campo Grande (MS), como resposta aos desafios enfrentados por profissionais do sexo em relação ao acesso a serviços de saúde e à prevenção combinada do HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Inserido no eixo das intervenções biomédicas, o projeto parte do reconhecimento de que essa população permanece, muitas vezes, invisibilizada e marginalizada pelo estigma social, preconceito e discriminação, o que resulta em barreiras concretas à testagem, ao tratamento e à busca por atendimento humanizado no Sistema Único de Saúde (SUS).
O estigma associado à profissão e a ausência de políticas específicas voltadas a essa população ampliam vulnerabilidades e dificultam o acesso a informações adequadas sobre prevenção e cuidado. Além disso, fatores como mobilidade, precarização do trabalho e medo do julgamento institucional contribuem para afastar essas mulheres das unidades de saúde. Diante desse cenário, o Café 18+ foi concebido como uma ação descentralizada, que leva o cuidado e a escuta até os locais onde essas profissionais atuam, promovendo acolhimento, testagem e diálogo em ambiente de confiança.
Objetivos
O objetivo geral da experiência é promover a saúde, o bem-estar e a inclusão social das profissionais do sexo por meio do acesso facilitado a serviços de testagem, orientação e apoio diretamente nos espaços de trabalho.
Entre os objetivos específicos, destacam-se:
• Reduzir o estigma e a discriminação enfrentados pelas profissionais do sexo;
• Ampliar a testagem rápida e o uso de estratégias de prevenção combinada (PrEP, PEP, preservativos e lubrificantes);
• Facilitar o acesso a informações sobre práticas seguras e autocuidado;
• Criar espaços de diálogo e confiança que possibilitem o suporte contínuo e o fortalecimento de vínculos com os serviços de saúde.
Justificativa
A implementação do Café 18+ justifica-se pela urgência em aproximar os serviços de saúde de populações historicamente excluídas e pela necessidade de superar barreiras simbólicas e institucionais que limitam o acesso das profissionais do sexo ao SUS. A ação atua sobre determinantes sociais da saúde, ao reconhecer que o enfrentamento das ISTs exige mais do que estratégias biomédicas isoladas: requer abordagens interseccionais, que considerem gênero, território, classe, raça e condições de trabalho.
O projeto também contribui para o fortalecimento da resposta comunitária ao HIV, estimulando a autonomia e o protagonismo das participantes. Ao transformar locais de vulnerabilidade em espaços de diálogo e informação, o Café 18+ promove cidadania, empoderamento e cuidado integral, fortalecendo o papel da Atenção Primária à Saúde na prevenção e no acompanhamento.
Implementação e Desenvolvimento da Experiência
Desde janeiro de 2023, o Café 18+ realiza encontros quinzenais nas casas de agenciamento de profissionais do sexo em Campo Grande, com a participação média de 15 a 18 mulheres. As ações incluem testagens rápidas para HIV, sífilis e hepatites, distribuição de preservativos e lubrificantes, além de rodas de conversa sobre saúde sexual, direitos e prevenção combinada. Todas as atividades são conduzidas por equipes multiprofissionais voluntárias, capacitadas para oferecer atendimento sigiloso, acolhedor e humanizado.
O formato itinerante e horizontal do projeto possibilita a criação de vínculos e o compartilhamento de experiências entre as participantes, promovendo educação em saúde de base comunitária. A iniciativa também integra ações de encaminhamento aos serviços públicos de saúde, fortalecendo a articulação intersetorial com a rede SUS e com organizações parceiras.
Durante o desenvolvimento da experiência, foram monitorados indicadores quantitativos e qualitativos, como número de testagens, adesão à PrEP e PEP, percepções sobre prevenção e redução do estigma. Os resultados revelam não apenas a ampliação do acesso à informação e aos insumos, mas também o surgimento de multiplicadoras sociais, que replicam o conhecimento adquirido em suas redes de convivência.
Síntese dos Resultados e Impactos
O Café 18+ consolidou-se como uma prática inovadora e de baixo custo, sustentada pela solidariedade e cooperação entre profissionais de saúde e comunidade. Sua principal contribuição ao SUS está na redução de vulnerabilidades sociais e epidemiológicas, na promoção de um cuidado inclusivo e na humanização da prevenção combinada. A experiência demonstra que ações baseadas em escuta, confiança e horizontalidade podem transformar realidades e ampliar a efetividade das políticas públicas voltadas à resposta ao HIV.
O Café 18+ nasceu da percepção da equipe sobre as barreiras que afastavam profissionais do sexo dos serviços de saúde, como o estigma, o medo e o julgamento. A experiência de sair da unidade e ir até os locais onde essas mulheres vivem e trabalham transformou o modo de cuidar, permitindo construir vínculos de confiança e promover rodas de conversa em ambientes seguros, acolhedores e de escuta ativa.
O Café 18+ ampliará o acesso à prevenção combinada, fortalecerá vínculos com populações vulneráveis e trará à equipe uma experiência ímpar de inovação, empatia e aprendizado ao atuar fora dos muros da unidade.
A experiência do Café 18+ revela-se uma prática inovadora e profundamente transformadora, cuja replicação em outras cidades deve ser fortemente incentivada. O projeto demonstra que a aproximação dos serviços de saúde com populações historicamente marginalizadas — como as profissionais do sexo — só é possível quando o cuidado se desloca de estruturas rígidas e institucionais para espaços reais de convivência, onde o diálogo e o acolhimento substituem o julgamento e o estigma.
Levar a equipe até os locais onde essas mulheres vivem e trabalham é um ato de coragem e empatia que rompe barreiras simbólicas e institucionais. Essa inversão de perspectiva — sair da unidade de saúde e ir ao território — humaniza a prática profissional, fortalece vínculos e amplia o acesso a direitos, promovendo uma escuta ativa que reconhece o outro em sua integralidade. O Café 18+ mostra que a prevenção e o cuidado só se tornam efetivos quando o olhar técnico é acompanhado de sensibilidade social e respeito à diversidade das trajetórias humanas.
Recomenda-se que experiências semelhantes sejam implementadas por gestores municipais e estaduais, com apoio das equipes da Atenção Primária e dos serviços de IST/HIV, priorizando a formação de profissionais para o atendimento sem preconceito e com foco na escuta qualificada. O modelo do Café 18+ pode ser adaptado a diferentes contextos, preservando seus princípios fundamentais: acolhimento, confiança e horizontalidade.
Além de ampliar o acesso à testagem, à PrEP, à PEP e a outros recursos do SUS, essas ações fortalecem laços comunitários e promovem a autonomia das participantes. Mais do que uma intervenção em saúde, trata-se de uma estratégia de cidadania, que reafirma o direito de cada pessoa a ser cuidada com dignidade. Replicar o Café 18+ é multiplicar gestos de respeito, solidariedade e compromisso com uma saúde pública verdadeiramente inclusiva e transformadora.
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