RESUMO
Este artigo tem como objetivo relatar a experiência transformadora da enfermeira C.B.M. ao ser acolhida nos cursos e atividades promovidos pelo Npics Brasil, entre 2022 e 2025, no município de Santa Cruz Cabrália, Bahia. A trajetória da profissional ilustra como a inserção em práticas integrativas e complementares em saúde (PICS) – incluindo Reiki, auriculoterapia, yoga, clubinhos sistêmicos e vivências comunitárias – contribuiu para a reestruturação de seu projeto de vida, fortalecimento da saúde mental e manutenção de hábitos saudáveis após cirurgia bariátrica. A enfermeira, após atingir o terceiro nível na formação de Reiki e concluir especialização privada em auriculopuntura, tornou-se monitora em práticas clínicas e referência regional em relatos sobre PICS. O relato é fundamentado na abordagem sistêmica (HELLINGER, 2012), na Terapia Comunitária Integrativa (BARRETO, 2021), nos princípios da educação popular (VASCONCELOS, 2008), no uso clínico das terapias integrativas (BELASCO, 2019; LIMA, 2020), além das diretrizes do SUS (BRASIL, 2018). Os resultados apontam que o acolhimento terapêutico e pedagógico, realizado a partir de vínculos éticos e compassivos, potencializa processos de autotransformação e fortalece profissionais da saúde como multiplicadores do cuidado integral.
Palavras-chave: Práticas Integrativas; Enfermagem; Reiki; Auriculoterapia; Educação Popular; Cuidado Sistêmico.

ABSTRACT
This article aims to report the transformative experience of nurse C.B.M. through her participation in courses and activities promoted by Npics Brasil from 2022 to 2025, in Santa Cruz Cabrália, Bahia. Her journey illustrates how involvement in integrative and complementary health practices (PICS) – including Reiki, auriculotherapy, yoga, systemic circles, and community-based experiences – contributed to the restructuring of her life project, strengthening of mental health, and maintenance of healthy habits after bariatric surgery. After achieving the third level in Reiki and completing private certification in auriculopuncture, she became a clinical tutor and a regional reference in PICS testimonials. This report is grounded in the systemic approach (HELLINGER, 2012), Integrative Community Therapy (BARRETO, 2021), principles of popular education (VASCONCELOS, 2008), and clinical applications of integrative therapies (BELASCO, 2019; LIMA, 2020), as well as national health guidelines (BRASIL, 2018). Results indicate that therapeutic and pedagogical welcoming, when built on ethical and compassionate bonds, enhances self-transformation and empowers health professionals as agents of holistic care.
Keywords: Integrative Practices; Nursing; Reiki; Auriculotherapy; Popular Education; Systemic Care.

1. Introdução
O Sistema Único de Saúde (SUS), ao longo das últimas décadas, tem avançado na consolidação de práticas de cuidado ampliado, incorporando saberes integrativos e populares que dialogam com as realidades e subjetividades dos usuários. Nesse contexto, as Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS), institucionalizadas pela Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) desde 2006, representam um campo fértil para a promoção da saúde, prevenção de agravos e fortalecimento do vínculo entre usuários, profissionais e território (BRASIL, 2018).
Dentre os inúmeros desafios enfrentados por profissionais de saúde no cotidiano da atenção básica, destaca-se o crescente adoecimento físico, psíquico e emocional de trabalhadores expostos a sobrecarga, baixa valorização e escassez de espaços de cuidado para si próprios (COIMBRA; NASCIMENTO, 2022). Em meio a esse cenário, iniciativas como o Programa de Apoio e Promoção da Saúde Integral do Npics Brasil, com sede em Santa Cruz Cabrália (BA), vêm se destacando por oferecer formações e vivências que integram práticas ancestrais, comunitárias e sistêmicas, alinhadas aos princípios da integralidade, universalidade e equidade do SUS.
O presente artigo tem como objetivo relatar a experiência da enfermeira C.B.M., servidora da rede pública de saúde, que ao ingressar nos cursos ofertados pelo Npics Brasil entre 2020 e 2025, vivenciou um processo de transformação pessoal e profissional marcado por práticas como Reiki, auriculoterapia, yoga, constelação familiar e meditação. Essa trajetória, atravessada por saberes tradicionais e abordagens contemporâneas da saúde integrativa, culminou em uma reorganização subjetiva, metabólica e espiritual que contribuiu não apenas para sua qualidade de vida, mas também para sua atuação como multiplicadora no território.
Trata-se, portanto, de um relato de experiência com abordagem qualitativa, que visa não apenas sistematizar a vivência individual, mas também contribuir para o debate sobre as potencialidades das PICS na formação permanente de profissionais de saúde, no fortalecimento do cuidado de si e no enfrentamento da medicalização da vida. Ao lançar luz sobre o percurso de uma trabalhadora do SUS que se torna agente de cuidado e transformação em sua comunidade, o estudo reafirma a importância da escuta, do pertencimento e do afeto como potências terapêuticas e educativas no campo da saúde pública.

2. Metodologia
Este estudo se caracteriza como um relato de experiência, modalidade reconhecida nas ciências da saúde por permitir a sistematização de vivências singulares que contribuem para a construção de novos saberes e práticas no campo do cuidado integral (MINAYO, 2020). A experiência relatada diz respeito à trajetória formativa e terapêutica da enfermeira C.B.M., profissional vinculada à Rede de Atenção à Saúde de Santa Cruz Cabrália (BA), que entre 2020 e 2025 participou de diversas ações promovidas pelo Npics Brasil, organização de base comunitária ligada ao CEJUSC Cabrália e à Prefeitura Municipal.
As informações foram organizadas por meio da técnica de evocação estruturada, com base em anotações de campo, registros pedagógicos dos cursos, observações diretas e depoimentos da própria enfermeira durante vivências e rodas terapêuticas, respeitando os princípios éticos da confidencialidade, autonomia e dignidade dos sujeitos (BRASIL, 2012).

3. Resultados e Discussão
3.1 Acolhimento Sistêmico como Porta de Entrada para o Cuidado
A entrada da enfermeira C.B.M. nos cursos do Npics Brasil ocorreu a partir de seu acolhimento na formação de Reiki nível I, em contexto de exaustão emocional e desafios psicossociais agravados pela pandemia de Covid-19. A construção de um ambiente seguro e compassivo foi essencial para o início de seu processo de autocuidado e reencontro com sua potência vital, conforme defendem Barreto (2021) e Hellinger (2012) ao enfatizarem a importância das ordens do amor no processo terapêutico.
O uso da constelação familiar sistêmica, fundamentada na abordagem fenomenológica das relações (GARRIGA, 2015), permitiu à profissional revisitar dinâmicas familiares, resgatar recursos internos e reorganizar prioridades de vida, o que, aliado à prática constante de Reiki, possibilitou avanços na regulação emocional, na alimentação e na disposição cotidiana. A prática do Toque Sistêmico, conforme ministrado nos cursos do Npics (LEAL, 2021), integrou técnicas de imposição de mãos, respiração consciente e escuta compassiva, ampliando a percepção corporal e energética da participante, conforme também discutido por Gordon (2021) e Brennan (2017).
3.2 Formação Integrativa e Transformação Pessoal
Após concluir os três níveis de Reiki, a enfermeira buscou, por iniciativa própria, a formação privada em auriculopuntura, baseada em Nogier (1989) e Bai (2004), aplicando os conhecimentos tanto em sua prática clínica quanto em seu próprio processo de reorganização metabólica. Essa fase coincidiu com a realização de sua cirurgia bariátrica, a qual, longe de representar um fim em si mesma, tornou-se parte de um projeto ampliado de reeducação alimentar e reorganização sistêmica, conforme recomendam Pagnussat et al. (2020).
As práticas integrativas a que teve acesso – incluindo yoga, florais de Bach (PAULA, 2022), meditação e toque, baseado nos cinco elementos (BELASCO, 2019), reflexoterapia (TOSCANO, 2021) e participação nos chamados “clubinhos sistêmicos” – ampliaram sua visão de saúde, ajudando-a a construir um novo cotidiano alinhado aos princípios da medicina integrativa e do movimento de não medicalização da vida (COIMBRA; NASCIMENTO, 2022).
A participação da profissional como monitora nas turmas seguintes do curso de auriculoterapia, supervisionada pela Professora Lucileia Datrino, e sua atuação como facilitadora em atendimentos com PICs da comunidade, evidenciam o processo de empoderamento construído ao longo da jornada. Tal trajetória reafirma os pressupostos da Educação Popular em Saúde (VASCONCELOS, 2008) e do Matriciamento em Saúde Mental (BRASIL, 2005), destacando a potência da escuta ativa, da partilha de saberes e da formação entre pares no cuidado em rede.
3.3 Multiplicadora de Práticas: o Testemunho como Ferramenta Terapêutica
O testemunho da enfermeira passou a ocupar lugar de destaque nas vivências do Npics Brasil. Sua fala ressoa como prática restaurativa, como propõe Adalberto Barreto (2021), ao ativar o pertencimento, ressignificar a dor e afirmar as possibilidades de cura a partir do cuidado integral. Segundo Rosenberg (2006), a escuta empática e a comunicação não violenta são pilares essenciais para promover vínculos humanizados e transformar relações adoecidas em vínculos de cuidado mútuo.
A presença de C.B.M. em diversas atividades nas escolas e atividades online de saúde do município representa o atravessamento entre cuidado individual e transformação social, demonstrando como as Práticas Integrativas podem se constituir em tecnologias leves de saúde (MERHY, 2002) e em estratégias legítimas para fortalecimento do SUS.

4. Considerações Finais
O relato de experiência da enfermeira C.B.M. ilustra com clareza como a articulação entre acolhimento sistêmico, práticas integrativas e educação popular pode produzir transformações significativas na vida de profissionais da saúde. A participação em cursos e vivências oferecidos pelo Npics Brasil foi fundamental para sua reorganização biopsicossocial e para o fortalecimento de sua atuação como multiplicadora de práticas de cuidado.
A história aqui narrada reafirma o potencial das PICS como instrumentos de promoção da saúde, prevenção do adoecimento e valorização da autonomia dos sujeitos, em consonância com os princípios da integralidade, equidade e universalidade do SUS. Além disso, a formação ou mesmo participação de profissionais em práticas como Reiki, auriculoterapia e yoga, ancorada em referenciais éticos e científicos, contribui para a ampliação do escopo da atenção básica, alinhando-se ao movimento contemporâneo de desmedicalização da vida e valorização dos saberes ancestrais e comunitários.
Recomenda-se que experiências como esta sejam sistematizadas e replicadas em outros contextos, fortalecendo a construção de redes de cuidado integradas, intersetoriais e compassivas.

5. Referências
BARRETO, Adalberto. Terapia Comunitária Integrativa: A Construção do Método. Fortaleza: Gráfica LCR, 2021.
BELASCO, Isabel Cristina; BELASCO JÚNIOR, Domingos. Acupuntura Auricular Básica. Ilhéus – BA: Clube de Autores, 2020.
BRASIL. Ministério da Saúde. Práticas Integrativas e Complementares no SUS: Guia de Bases para Implantação. Brasília: MS, 2018.
BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde Mental e Atenção Psicossocial na Rede de Atenção à Saúde. Brasília: MS, 2015.
BRENNAN, Barbara Ann. Mãos de Luz: Um Guia para Cura através do Campo de Energia Humano. São Paulo: Pensamento, 2017.
COIMBRA, Cíntia; NASCIMENTO, Claudia. Não à medicalização da vida: Alternativas ao uso excessivo de psicofármacos. Porto Alegre: Rede Unida, 2022.
GARRIGA BACARDI, Joan. O Amor que Nos Faz Bem. São Paulo: Cultrix, 2015.
GORDON, Richard. O Toque Quântico. São Paulo: Cultrix, 2021.
HELLINGER, Bert. As Ordens do Amor: Um Guia Prático para o Trabalho com Constelações Familiares. Petrópolis: Vozes, 2012.
LEAL, Diego da Rosa. Toque Sistêmico: Relatos Clínicos e Formação Humanizada. Santa Cruz Cabrália: Npics Brasil, 2023.
LIMA, Viviane. Manual de Auriculoterapia Clínica e Sistêmica. Brasília: Autêntica, 2020.
MERHY, Emerson. Em Busca do Tempo Perdido: A Micropolítica do Trabalho Vivo em Saúde. São Paulo: Hucitec, 2002.
MINAYO, Maria Cecília de Souza. O Desafio do Conhecimento: Pesquisa Qualitativa em Saúde. 15. ed. São Paulo: Hucitec, 2020.
NOGIER, Paul. Auriculoterapia: Fundamentos Científicos e Aplicações Clínicas. Lyon: Maisonneuve, 1989.
PAULA, Lizete de. Florais de Bach: Manual de Formação. Belo Horizonte: Conaflor, 2022.
ROSENBERG, Marshall. Comunicação Não Violenta: Técnicas para Aprimorar Relacionamentos Pessoais e Profissionais. São Paulo: Ágora, 2006.
VASCONCELOS, Eduardo Passos de. Educação Popular em Saúde: Construindo Caminhos. São Paulo: Hucitec, 2008.

Principal

Diego da Rosa Leal COREN/BA 98607 Coordenador do Npics Brasil

npicscabralia@gmail.com

Enfermeiro Terapeuta Sistêmico

Coautores

Diego da Rosa Leal

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