A Academia de Saúde no município de Quatis (RJ) é composta por um profissional de educação física e está vinculada à equipe do Núcleo de Apoio à Saúde da Família e Atenção Básica (Nasf-AB) do município. Os profissionais do Nasf-AB estão presentes semanalmente na Academia da Saúde, onde, no final dos exercícios, é realizado um momento de educação em saúde, com a participação de nutricionista, assistente social, fisioterapeuta e psicóloga da equipe, com o objetivo de debater os temas abordados e motivar a aderência a um estilo de vida saudável através de atividades coletivas e orientações individuais.
Uma das iniciativas realizadas é um grupo de atividades intergeracional, que ocorre no Ginásio Poliesportivo do município, duas vezes por semana, com duração de 60 minutos. O programa de exercícios é baseado nas vertentes do treinamento funcional. Os movimentos trabalham a força muscular, a flexibilidade, o sistema cardiorrespiratório, a coordenação motora e o equilíbrio. Os exercícios realizados neste grupo procuram atingir um maior número possível de indivíduos sedentários e portadores de doenças crônicas não transmissíveis, como obesidade, hipertensão arterial sistêmica, diabetes, depressão, entre outras.
É importante destacar que dados divulgados pela Sociedade Brasileira de Cardiologia apontam que 80% da população adulta é sedentária e que 52% dos adultos brasileiros estão acima do peso, sendo 11% obesos. Além disso, o aumento de 10% na gordura corporal reflete crescimento significativo da pressão arterial, o que explica o aumento da morbidade e mortalidade, visto que a obesidade é fator de risco para várias doenças crônicas não transmissíveis. Assim, como estratégia para o controle destes parâmetros e com o objetivo de avaliar o efeito das atividades propostas na saúde dos participantes, é realizado pela profissional de educação física avaliação antropométrica através da mensuração de estatura, peso corporal, perimetria (braço direito e esquerdo contraído, coxa direita e esquerda, panturrilha direita e esquerda, pescoço, ombro, tórax, cintura, abdômen e quadril) e dobras cutâneas (subescapular, tríceps, peitoral, subaxilar, supra ilíaca, abdômen e coxa), utilizando fita antropométrica e adipômetro, respectivamente. Esses dados são plotados no software Excel ® e realizado cálculo de IMC, % de massa magra e % de massa gorda. Para % de massa magra e % de massa gorda, foi utilizado teste t para amostras pareadas, para verificar diferença significativa através do software InStat Graphpad, e os dados foram apresentados em média ± desvio padrão.
Os serviços de saúde, em sua organização, têm a finalidade de garantir acesso e qualidade de vida às pessoas. A atenção básica, em sua importante atribuição de ser a porta de entrada do sistema de saúde, tem o papel de reconhecer o conjunto de necessidades em saúde e organizar as respostas de forma adequada e oportuna, impactando positivamente nas condições de saúde. Um grande desafio atual para as equipes de atenção básica é a atenção à saúde para as doenças crônicas não trasmissíveis. Estas condições são muito prevalentes, multifatoriais, com coexistência de determinantes biológicos e socioculturais, e sua abordagem, para ser efetiva, necessariamente envolve as diversas categorias profissionais das equipes de saúde e exige o protagonismo dos indivíduos, suas famílias e comunidade.
A relevância das condições crônicas como “necessidades de saúde” levou à publicação da Portaria nº 252, de 19 de fevereiro de 2013, que institui a Rede de Atenção às Pessoas com Doenças Crônicas no âmbito do SUS. O objetivo é promover a reorganização do cuidado, sua qualificação, ampliando as estratégias de cuidado e também para promoção da saúde e prevenção do desenvolvimento das doenças crônicas e suas complicações.Logo, nota-se a mudança do olhar do SUS em relação as práticas corporais/atividades físicas (PCAF) na prevenção dos agravos das doenças crônicas no cenário da saúde coletiva na última década, especialmente, por serem vistas como importante ferramenta para o enfrentamento da crescente prevalência destas doenças, como descrito na Política Nacional da Promoção da Saúde (PNPS) (BRASIL, 2006).
Desta forma, pode ser considerado o impulso inicial da inserção do profissional de Educação Física no âmbito da saúde coletiva. Neste contexto, destaca-se a portaria 154/2008 do Ministério da Saúde, que criou o Núcleo de Apoio à Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB), inserindo profissionais de diferentes áreas de conhecimento, atuando em parceria com os profissionais das Equipes Saúde da Família, formalizando a inserção desses profissionais como integrantes das equipes.Em concomitância, a publicação do Conselho Federal de Educação Física (CONFEF, 2011), intitulada Recomendações sobre condutas e procedimentos do Profissional de Educação Física na Atenção Básica à Saúde, é um bom exemplo para tal constatação. Essa publicação, que tem como proposta oferecer conhecimentos necessários ao profissional atuante na Atenção Primária à Saúde (APS), direciona as recomendações para o contexto exclusivo das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), especialmente hipertensão arterial e diabetes.
No que diz respeito à promoção da saúde destes indivíduos, o programa Academia da Saúde é uma estratégia deste pilar e gera produção do cuidado que funciona com a implantação de espaços públicos, conhecidos como polos do Programa Academia da Saúde. Como ponto de atenção no território, complementam o cuidado integral e fortalece as ações de promoção da saúde. A fim de fortalecer o programa, trabalha em articulação com outros programas e ações de saúde, como a Estratégia Saúde da Família, o Nasf e a Vigilância em Saúde. Desta forma, os profissionais ampliam a capacidade de intervenção coletiva da Atenção Básica, buscando favorecer o convívio solidário e o protagonismo de grupos sociais como estratégia de promoção da saúde.
Os resultados alcançados reforçam a ideia de que estimular a promoção da saúde torna-se um caminho mais eficaz através da adoção de hábitos de vida mais saudáveis pela população. Porém, nota-se que existe a necessidade do esforço conjunto dos profissionais pertencentes as equipes para a construção das ações propostas. Além disto, ressalta-se a importante abordagem integral ao paciente, para isto necessariamente envolve as diversas categorias profissionais que constituem as equipes. Desta forma, é importante que as equipes possuam em sua agenda momentos de discussão de casos e planejamento das ações, com o objetivo de alcançar maior resolutividades nas atividades realizadas.
No que diz respeito à aderência da população, o dinamismo do programa de exercícios e temáticas abordadas durante educação em saúde torna-se fundamental, sendo importante retribuir a demanda solicitada pelos participantes. Por fim, é necessário que seja realizado a gestão da agenda dos profissionais possibilitando as práticas mencionadas e, apesar de pouco onerosas, é imprescindível a disponibilização de insumos para realização das ações e a responsabilização da população com o autocuidado da saúde, podendo ser obtida através da assiduidade das participantes nas ações realizadas, a fim de alcançar os objetivos propostos.
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