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Training to Integrate: The PICS Task Force in the Family and Community Medicine Residency Program of Rio de Janeiro's Primary Health Care System
Mayra Gabriela Machado de Souza
mayragabrielamachado@gmail.com
Brazil
Formar para Integrar: A Força-Tarefa de PICS no Programa de Residência em Medicina de Família e Comunidade da Atenção Primária à Saúde do Rio de Janeiro
Descrição

O Programa de Residência em Medicina de Família e Comunidade da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (PRMFC/SMS-RJ) forma mais de cem profissionais anualmente para atuar em territórios da Atenção Primária à Saúde (APS) em toda a cidade. Até 2022, o ensino das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) ocorria de forma esporádica, dependendo da iniciativa individual e da formação prévia dos preceptores. Nesse contexto, a equipe de coordenação do PRMFC estabeleceu parceria com a Gerência de PICS da SMS-RJ para criar a Força-Tarefa de PICS (FT-PICS), com os seguintes objetivos: (1) sistematizar o ensino de PICS no currículo teórico da residência; (2) oferecer capacitação teórico-prática introdutória aos residentes do primeiro e do segundo ano (R1 e R2); (3) identificar e integrar conhecimentos já presentes na rede de saúde; (4) desenvolver materiais e estratégias aplicáveis à prática clínica na APS. Entre 2022 e 2024, foram realizados cinco seminários presenciais com oficinas teóricas e práticas sobre racionalidades médicas, fundamentos da medicina tradicional chinesa, auriculoterapia, uso racional de plantas medicinais, ventosaterapia, moxabustão, massagem shantala e automassagem, totalizando 551 participantes. Também foram produzidas cartilhas educativas e vídeos instrucionais, integrados à plataforma virtual de aprendizagem da residência (Moodle), além do apoio a oficinas com enfermeiros do distrito sanitário AP 1.0. O objetivo deste relato é apresentar a experiência de implementação de seminários teórico-práticos conduzidos pela FT-PICS no PRMFC/SMS-RJ como estratégia de educação em saúde ampliada. Este relato de experiência segue as diretrizes SQUIRE (Standards for Quality Improvement Reporting Excellence) (Ogrinc G, 2016).

Problemas abordados

A APS enfrenta crescente demanda por cuidado integral devido à alta prevalência de condições crônicas como dor, insônia, ansiedade e cefaleia. As respostas convencionais, centradas na medicalização, não contemplam as dimensões subjetivas e sociais do adoecimento. As PICS oferecem alternativas seguras e humanizadas (PNPIC, 2006), mas sua integração aos serviços de saúde é dificultada pela ausência de formação estruturada e pela resistência institucional (OMS, 2023). Embora as Diretrizes Curriculares Nacionais proponham uma formação integral e humanizada (BRASIL, 2014), as PICS continuam marginalizadas na educação médica. A integração de sistemas como a Medicina Tradicional Chinesa (MTC) ainda enfrenta obstáculos como a falta de evidências robustas, barreiras regulatórias e resistências culturais (OMS, 2023; Mayo Clinic, 2024). Para ampliar o acesso, é essencial expandir a formação em PICS para outras profissões da saúde, em alinhamento com os respectivos marcos regulatórios (BRASIL, 2018).

Resultados (opcional)

Desde sua criação, a FT-PICS realizou cinco seminários entre 2022 e 2024, envolvendo 551 residentes de MFC e preceptores da APS. A primeira edição contou com 109 participantes, seguida por sessões com 111, 87, 114 e 120 presentes. As oficinas abordaram PICS com potencial de aplicação imediata na APS e estimularam o desenvolvimento de trabalhos de conclusão de residência (TCRs), grupos de estudo e replicações locais pelos preceptores. Essa colaboração fortaleceu o vínculo entre o Programa de Residência e a Secretaria Municipal de Saúde, promovendo intercâmbio técnico e elaboração conjunta de materiais educativos. Entre os recursos produzidos destacam-se uma cartilha de auriculoterapia (SUBPAV, 2024), um guia de plantas medicinais e videoaulas sobre massagem shantala (VALDÉS, 2024), ventosaterapia e moxabustão (SOUZA, 2024). Esses materiais foram disponibilizados no Moodle e institucionalizados para uso nas unidades de saúde. A experiência fortaleceu a autonomia docente e ampliou o repertório terapêutico dos residentes, contribuindo para uma formação mais coerente com os princípios da APS. O formato de oficinas, conduzido por preceptores do próprio programa, possibilitou adaptações às realidades locais e ofereceu uma abordagem prática e vivencial do cuidado.

Recomendações ou Desafios

Entre os desafios identificados neste relato estão o conhecimento limitado de muitos profissionais sobre PICS, o que pode gerar resistência inicial. Além disso, foram observadas limitações de infraestrutura e questões logísticas — como restrições ao uso de moxabustão em ambientes com detectores de fumaça. A articulação interprofissional também se mostrou difícil em algumas unidades, comprometendo a integração das PICS ao cuidado coletivo. Esta experiência ressalta a necessidade de institucionalizar a formação em PICS como parte dos currículos de residência, em consonância com a Portaria GM/MS nº 971, de 3 de maio de 2006, que promove a expansão das PICS em todos os níveis de atenção, com ênfase na atenção primária. Segundo Aguiar, Kanan e Masiero (2019), a educação permanente é uma estratégia potente para a consolidação das PICS na APS. Recomenda-se ampliar as estratégias de capacitação para outras categorias profissionais e equipes de residência multiprofissional, favorecendo a superação do paradigma biomédico e a ampliação dos recursos de cuidado e promoção da saúde (AGUIAR; KANAN; MASIERO, 2019; SOUZA et al., 2017). Sugere-se ainda a publicação de um guia rápido de referência em PICS, nos moldes dos materiais da SUBPAV/SMS-RJ e com base no conteúdo já produzido pela FT-PICS. Também é recomendável fortalecer parcerias com redes como ObservaPICS, CABSIN e GAIPA-UFC para ampliar o intercâmbio de conhecimentos e consolidar as PICS como eixo estruturante na educação em saúde baseada no SUS.

Palavras-chave
Training to Integrate: The PICS Task Force in the Family and Community Medicine Residency Program of Rio de Janeiro's Primary Health Care System
Description

The Family and Community Medicine Residency Program of the Municipal Health Department of Rio de Janeiro (PRMFC/SMS-RJ) trains more than one hundred professionals annually to work in Primary Health Care (PHC) territories across the city. Until 2022, the teaching of Integrative and Complementary Health Practices (PICS) occurred sporadically, depending on the individual initiative and prior training of preceptors. In this context, the PRMFC coordination team partnered with the PICS Management Office of SMS-RJ to create the PICS Task Force (FT-PICS), with the following objectives: (1) systematize the teaching of PICS within the residency’s theoretical curriculum; (2) offer introductory theoretical-practical training to first- and second-year residents (R1 and R2); (3) identify and integrate knowledge already present in the health network; (4) develop materials and strategies applicable to clinical practice in PHC. Between 2022 and 2024, five in-person seminars were held with theoretical and practical workshops on medical rationalities, foundations of traditional Chinese medicine, auriculotherapy, rational use of medicinal plants, cupping therapy, moxibustion, shantala massage, and self-massage, totaling 551 participants. Educational booklets and instructional videos were also produced and integrated into the residency's virtual learning platform (Moodle), in addition to support for workshops with nurses from the AP 1.0 health district. The aim of this report is to present the experience of implementing theoretical-practical seminars conducted by FT-PICS at PRMFC/SMS-RJ as a strategy for expanded health education. This experience report follows the SQUIRE guidelines (Standards for Quality Improvement Reporting Excellence) (Ogrinc G, 2016).

Problems Addressed

PHC faces increasing demand for comprehensive care due to the high prevalence of chronic conditions such as pain, insomnia, anxiety, and headaches. Conventional responses, centered on medicalization, fail to address the subjective and social dimensions of illness. PICS offer safe and humanized alternatives (PNPIC, 2006), but their integration into health services is hindered by the lack of structured training and institutional resistance (WHO, 2023). While National Curriculum Guidelines propose comprehensive and humanized training (BRASIL, 2014), PICS remain marginalized in medical education. The integration of systems like Traditional Chinese Medicine (TCM) still faces obstacles such as lack of robust evidence, regulatory barriers, and cultural resistance (WHO, 2023; Mayo Clinic, 2024). To broaden access, it is essential to expand PICS training across other health professions, in alignment with each profession’s regulatory frameworks (BRASIL, 2018).

Results (optional)

Since its inception, FT-PICS has conducted five seminars between 2022 and 2024, engaging 551 FCM residents and PHC preceptors. The first edition included 109 participants, followed by sessions with 111, 87, 114, and 120 attendees. Workshops covered PICS with potential for immediate application in PHC and encouraged the development of residency final papers (TCRs), study groups, and local replication by preceptors. This collaboration strengthened the link between the Residency Program and the Municipal Health Department, fostering technical exchange and joint development of educational materials. Resources produced included an auriculotherapy booklet (SUBPAV, 2024), a medicinal plants guide, and video tutorials on shantala massage (VALDÉS, 2024), cupping, and moxibustion (SOUZA, 2024). These materials were made available on Moodle and institutionalized for use in health facilities. The experience strengthened teaching autonomy and broadened the residents’ therapeutic repertoire, contributing to a more coherent education aligned with PHC principles. The workshop format, led by preceptors from the program, allowed for adaptations to local realities and offered a practical, experience-based approach to care.

Recomendations or Challenges

Among the challenges identified in this report are the limited knowledge of many professionals about PICS, which can generate initial resistance. Additionally, infrastructure limitations and logistical issues—such as restrictions on moxibustion in smoke-detecting environments—were noted. Interprofessional articulation also proved difficult in some units, which compromised the integration of PICS into collective care. This experience highlights the need to institutionalize PICS training as part of residency curricula, in line with Ordinance GM/MS nº 971, of May 3, 2006, which promotes PICS expansion across all levels of care, with emphasis on primary care. According to Aguiar, Kanan, and Masiero (2019), continuing education is a powerful strategy for consolidating PICS in PHC. It is recommended to expand training strategies to other professional categories and multiprofessional residency teams, promoting the overcoming of the biomedical paradigm and expanding care and health promotion resources (AGUIAR; KANAN; MASIERO, 2019; SOUZA et al., 2017). Additionally, the publication of a quick reference PICS guide is suggested, modeled after SUBPAV/SMS-RJ materials and based on FT-PICS content already produced. Strengthening partnerships with networks such as ObservaPICS, CABSIN, and GAIPA-UFC is also recommended to enhance knowledge exchange and consolidate PICS as a structuring axis in SUS-based health education.

Keywords
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