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Surfing as an integrative health practice for people with disabilities
Rodrigo Estellita Pessoa
ondasarpoador@gmail.com
Brasil
O surfe como prática integrativa de saúde para pessoas com deficiência.
Descrição

A surf terapia combina os benefícios físicos do exercício com a experiência transformadora do contato com a natureza. Também proporciona um senso de pertencimento e resiliência emocional, ao mesmo tempo em que fortalece as habilidades sociais. A participação em atividades em ambiente marinho é considerada um catalisador para a superação de traumas e o desenvolvimento da autonomia. Este relato tem como objetivo compartilhar a experiência do projeto Ondas Arpoador, que acontece desde janeiro de 2022 na Praia do Arpoador, no Rio de Janeiro. O foco principal do projeto é a surf terapia e o mergulho inclusivo, atendendo indivíduos com diversas deficiências e condições psicológicas, incluindo paralisia cerebral, autismo, esquizofrenia, deficiência visual e histórico de abuso de substâncias. Desde sua criação, o projeto já atendeu aproximadamente 200 pessoas com idades entre sete e setenta anos, e tornou-se uma referência em cuidados terapêuticos realizados na praia, combinando contato com a natureza com o fortalecimento de vínculos emocionais e a promoção da saúde integral. A metodologia adotada prioriza a adaptação sensível às necessidades de cada participante, respeitando a individualidade sem impor formas de ação pré-estabelecidas. Isso permite que os participantes vivenciem o mar como um processo de autoconhecimento e superação de barreiras. As atividades são conduzidas por instrutores de surf, psicoterapeutas e voluntários dedicados e são divididas em três etapas: acolhimento dos participantes e adaptação ao ambiente; surfe ou mergulho; e, por fim, escuta terapêutica.

Problemas abordados

De modo geral, observamos melhorias notáveis na autoconfiança, autonomia, autoestima, socialização e comunicação, conforme relatado pelos participantes. Também foram descritos melhoras no sono, redução da ansiedade e do estresse, e aumento da sensação de prazer e alegria. Muitos participantes relataram ter superado barreiras. Indivíduos com transtorno do espectro autista apresentaram melhora na regulação emocional e na socialização. A previsibilidade da rotina e o ambiente natural atuam como elementos de suporte emocional, reduzindo episódios de sobrecarga sensorial e promovendo calma. Para pessoas com esquizofrenia, o surfe mostrou-se uma atividade terapêutica que ajuda a recuperar o senso de presença e conexão com a realidade, aliviando sintomas negativos como apatia e isolamento. Indivíduos com histórico de abuso de substâncias frequentemente relatam que a descarga de adrenalina do surfe substitui o desejo por substâncias, oferecendo uma fonte saudável de prazer. A reincidência é reduzida, enquanto a autoestima e a identidade são fortalecidas a cada sessão. Para pessoas com paralisia cerebral, os benefícios físicos são claros: melhora da postura, fortalecimento muscular, aumento da mobilidade e maior resistência. Além disso, os aspectos emocionais e simbólicos da experiência, como superar o medo, vivenciar o prazer e sentir um senso de igualdade, surgem como componentes centrais da transformação subjetiva. Para pessoas com deficiência visual, observam-se aumento da autoestima, senso de pertencimento, autonomia, consciência corporal e melhora na orientação e mobilidade.

Resultados (opcional)
Recomendações ou Desafios

O projeto é realizado exclusivamente com recursos próprios e não está vinculado a nenhuma instituição. Consequentemente, possui recursos limitados. Isso representa um desafio significativo para sua manutenção e continuidade, visto que a maioria dos participantes não possui condições socioeconômicas para pagar pelo serviço. A escassez de recursos inviabiliza a expansão para um número maior de participantes, apesar da profunda mobilização social baseada na empatia e na aceitação. O projeto Ondas Arpoador tem se mostrado uma ferramenta poderosa de cuidado e inclusão, oferecendo uma alternativa eficaz e sensível às práticas terapêuticas convencionais. Ao combinar a surf terapia com a escuta psicoterapêutica e a interação comunitária, a iniciativa reinventa abordagens para o tratamento do sofrimento psíquico e das limitações físicas, ressignificando o corpo e o mar como domínios de força e dignidade. O envolvimento direto com os participantes, o acompanhamento atento dos profissionais e o comprometimento dos voluntários revelam a potência de experiências baseadas no afeto e na presença. Nesse contexto, o mar deixa de ser apenas uma paisagem e se torna um espaço acolhedor e transformador.

Palavras-chave
Surfing as an integrative health practice for people with disabilities.
Description

Surf therapy combines the physical benefits of exercise with the transformative experience of being in contact with nature. It also provides a sense of belonging and emotional resilience, while strengthening social skills. Participating in activities in a marine environment is said to be a catalyst for overcoming trauma and developing autonomy. This report aims to share the experience of the Ondas Arpoador project, which has been running since January 2022 at Arpoador Beach in Rio de Janeiro. The project's primary focus is on surf therapy and inclusive diving, catering to individuals with various disabilities and psychological conditions, including cerebral palsy, autism, schizophrenia, visual impairment, and a history of substance abuse. Since its inception, the project has served approximately 200 people between the ages of seven and seventy, and has become a benchmark in beach-based therapeutic care, combining contact with nature with the strengthening of emotional bonds and the promotion of comprehensive health. The adopted methodology prioritises sensitive adaptation to the needs of each participant, respecting individuality without imposing pre-established forms of action. This allows participants to experience the sea as a process of self-knowledge and overcoming barriers. Activities are led by surf instructors, psychotherapists and dedicated volunteers and are divided into three stages: welcoming participants and helping them to adapt to the environment; surfing or diving; and finally, therapeutic listening.

Problems Addressed

In general, we observed remarkable improvements in self-confidence, autonomy, self-esteem, socialisation and communication, as reported by participants. Participants also described improved sleep, reduced anxiety and stress, and an increased sense of pleasure and joy. Many participants reported that they had overcome barriers. Those with autism spectrum disorder showed improvement in emotional regulation and socialisation. Routine predictability and the natural environment act as emotional support elements, reducing sensory overload episodes and promoting calmness. For people with schizophrenia, surfing has proven to be a therapeutic activity that helps them to regain their sense of presence and connection with reality, alleviating negative symptoms such as apathy and isolation. Subjects with a history of substance abuse often report that the adrenaline rush of surfing replaces their craving for substances, providing a healthy source of pleasure. Recidivism is reduced while self-esteem and identity are strengthened with each session. For people with cerebral palsy, the physical benefits are clear: improved posture, stronger muscles, increased mobility and greater stamina. Additionally, the emotional and symbolic aspects of the experience, such as overcoming fear, experiencing pleasure and feeling a sense of equality, emerge as central components of subjective transformation. For people with visual impairments, increased self-esteem, a sense of belonging, autonomy, body awareness, and improved orientation and mobility are observed.

Results (optional)
Recomendations or Challenges

The project is conducted exclusively with its own funding and is not tied to any institutions. Consequently, it has limited resources. This poses a significant challenge to its maintenance and continuity, given that the majority of participants lack the socioeconomic means to pay for the service. Scarce resources make it unfeasible to expand to a larger number of participants, despite the deep social mobilisation based on empathy and acceptance. The Ondas Arpoador project has proven to be a powerful tool for care and inclusion, offering an effective and sensitive alternative to conventional therapeutic practices. By combining surf therapy with psychotherapeutic listening and community interaction, the initiative reimagines approaches to treating psychological distress and physical limitations, reframing the body and the sea as domains of strength and dignity. Direct involvement with participants, attentive monitoring by professionals and the commitment of volunteers reveal the power of experiences based on affection and presence. In this context, the sea ceases to be merely a landscape and becomes a welcoming, transformative space.

Keywords
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