As Medicinas Tradicionais, Complementares e Integrativas (MTCI) foram institucionalizadas no Brasil por meio da aprovação da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PNPIC), estabelecida pela Portaria GM/MS nº 971, de 3 de maio de 2006. Essa política visa ampliar as abordagens de cuidado em saúde no SUS, promovendo a integralidade e o cuidado humanizado (Brasil, 2015).
Suas origens remontam à década de 1970, durante o período da ditadura militar, quando o modelo biomédico e assistencialista dominante passou a ser questionado e abordagens de cuidado holístico foram debatidas na 8ª Conferência Nacional de Saúde em 1986. Foram necessários 20 anos para que a política nacional fosse formalmente instituída e, desde então, as 29 práticas atualmente regulamentadas foram gradualmente reconhecidas pelo SUS (Silva et al., 2023).
No estado do Acre, localizado na Amazônia Legal brasileira, a diversidade cultural, a presença de comunidades tradicionais, o acesso limitado aos serviços de saúde — comum no Norte em comparação a outras regiões — e a falta de engajamento acadêmico e científico com as MTCI na UFAC tornaram a implementação da Liga particularmente relevante.
Nesse contexto, a Liga Acadêmica de Medicinas Tradicionais, Complementares e Integrativas foi fundada em 2023 na Universidade Federal do Acre (UFAC), por meio de um projeto de extensão pioneiro iniciado por estudantes do curso de Saúde Coletiva. A iniciativa teve como objetivo capacitar estudantes de cursos da área da saúde em abordagens integrativas e promover atividades de extensão comunitária.
Devido à escassez de conteúdos relacionados às MTCI nos currículos de graduação em saúde, o que limita a preparação profissional para atuar com essas práticas, e à resistência de alguns profissionais e gestores de saúde em incorporá-las — muitas vezes por falta de conhecimento ou preconceito persistente, conforme observado por Barros et al. (2020) — propor estratégias de cuidado integrativo e complementar foi particularmente desafiador.
Apesar do rico repositório de saberes tradicionais da região, as práticas de saúde relacionadas às MTCI continuam ocorrendo de forma fragmentada e assistemática, muitas vezes atuando à margem do sistema público de saúde.
Ao longo dos dois anos de existência da Liga, foram realizadas capacitações introdutórias teóricas e práticas nos formatos de 8 e 20 horas, com foco nas seguintes técnicas:
• Auriculoterapia (voltada a protocolos para ansiedade e depressão),
• Reflexologia (utilizada para relaxamento e alívio da dor),
• Ventosaterapia (centrada no tratamento da ansiedade, depressão e estresse), e
• Yoga (focada em exercícios de respiração consciente).
No total, 21 estudantes foram capacitados em auriculoterapia, 20 em reflexologia e ventosaterapia, e 14 em yoga.
Os atendimentos foram realizados na Clínica Escola do Centro de Ciências da Saúde e do Desporto (CCSD) da UFAC. Durante seu primeiro mês de funcionamento, a clínica operou três dias por semana, com equipes em rodízio, e atendeu um total de 142 pessoas.
Além disso, a Liga realizou atividades de extensão no Instituto de Medidas Socioeducativas do Estado do Acre (ISE) e no Centro de Atendimento ao Autista (CAA), alcançando 15 e 25 pessoas, respectivamente. Os beneficiários incluíram estudantes, trabalhadores terceirizados, adolescentes em medida protetiva, profissionais de saúde e usuários do SUS.
Para além das parcerias institucionais, as atividades da Liga Acadêmica também levaram ao estabelecimento de uma iniciativa semelhante em Cruzeiro do Sul, localizada na região do Juruá, no Acre. Atuando por meio do Campus Floresta da UFAC, essa nova Liga tem continuado a oferecer atendimentos em hospitais, unidades de pronto atendimento (UPAs) e unidades básicas de saúde (UBSs) após a fase inicial de capacitação.
Apesar dos avanços alcançados até o momento, são feitas as seguintes recomendações:
• Incluir conteúdos de MTCI nas diretrizes curriculares nacionais dos cursos de graduação em saúde para garantir uma formação profissional adequada;
• Fortalecer parcerias entre universidades, serviços de saúde e comunidades para promover a integração dessas práticas no SUS;
• Incentivar pesquisas focadas em avaliar a efetividade e a eficácia das MTCI, contribuindo assim para a produção de evidências científicas que sustentem e validem essas abordagens dentro da política pública de saúde.
Traditional, Complementary, and Integrative Medicines (MTCIM) were institutionalized in Brazil through the approval of the National Policy on Integrative and Complementary Health Practices (Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares – PNPIC), established by Ordinance GM/MS No. 971, dated May 3, 2006. This policy aims to expand healthcare approaches within SUS, fostering integrality and humanized care (Brazil, 2015).
Their origins date back to the 1970s, during the period of military dictatorship, when the dominant biomedical and welfare-centered model began to be questioned and holistic care approaches were debated at the 8th National Health Conference in 1986. It took 20 years for the national policy to be formally instituted, and since then, the 29 practices currently regulated have gradually been recognized by SUS (Silva et al., 2023).
In the state of Acre, located in the Brazilian Legal Amazon, cultural diversity, the presence of traditional communities, limited access to health services—common in the North compared to other regions—and the lack of academic and scientific engagement with MTCIM at UFAC made the implementation of the League particularly relevant.
Within this context, the Academic League of Traditional, Complementary, and Integrative Medicines was founded in 2023 at the Federal University of Acre (UFAC) through a pioneering extension project initiated by students in the Public Health program. The initiative aimed to train students in health-related programs in integrative approaches and to promote community outreach activities.
Due to the scarcity of content related to MTCIM in the curricula of undergraduate health programs, which limits professional readiness to work with these practices, and the resistance of some professionals and health managers to incorporating them—often due to lack of knowledge or persistent bias, as noted by Barros et al. (2020)—proposing integrative and complementary care strategies was particularly challenging.
Despite the region’s rich repository of traditional knowledge, healthcare practices related to MTCIM continue to occur in a fragmented and unsystematic manner, often operating on the margins of the public health system.
Over the League’s two years of existence, theoretical and practical introductory training sessions were conducted in 8-hour and 20-hour formats, focusing on the following techniques:
• Auriculotherapy (targeting protocols for anxiety and depression),
• Reflexology (used for relaxation and pain relief),
• Cupping therapy (centered on treating anxiety, depression, and stress), and
• Yoga (focused on conscious breathing exercises).
In total, 21 students were trained in auriculotherapy, 20 in reflexology and cupping therapy, and 14 in yoga.
Care services were provided at the Teaching Clinic of the Center for Health and Sports Sciences (CCSD) at UFAC. During its first operational month, the clinic functioned three days a week, with rotating teams, and served a total of 142 individuals.
In addition, the League carried out outreach activities at the State Institute for Socio-Educational Measures (Instituto de Medidas Socioeducativas do Estado do Acre – ISE) and the Municipal Autism Support Center (Centro de Atendimento ao Autista – CAA), reaching 15 and 25 individuals, respectively. The beneficiaries included students, outsourced workers, adolescents under protective custody, healthcare professionals, and SUS users.
Beyond institutional partnerships, the activities of the Academic League also led to the establishment of a similar initiative in Cruzeiro do Sul, located in the Juruá region of Acre. Operating through UFAC’s Floresta Campus, this new League has continued offering care in hospitals, emergency care units (UPAs), and primary health care units (UBSs) following the initial training phase.
Despite the progress achieved so far, the following recommendations are made:
• Include MTCIM content in the national curricular guidelines of undergraduate health programs to ensure adequate professional training;
• Strengthen partnerships among universities, healthcare services, and communities to promote the integration of these practices into SUS;
• Encourage research focused on evaluating the effectiveness and efficacy of MTCIM, thereby contributing to the production of scientific evidence that supports and validates these approaches within public health policy.