O molusco contagioso é uma infecção viral comum na infância, causada pelo poxvírus, que leva ao aparecimento de pequenas pápulas arredondadas e umbilicadas. Embora autolimitada, a condição pode persistir por vários meses e se espalhar por contato direto, causando desconforto estético, prurido e risco de infecções bacterianas secundárias. Apesar da possibilidade de regressão espontânea, o tratamento é essencial devido ao impacto social e psicológico causado pela presença disseminada de lesões em crianças.
As opções terapêuticas convencionais, como curetagem, crioterapia e aplicação tópica de hidróxido de potássio a 10%, apresentam limitações em relação à tolerabilidade e adesão, especialmente em crianças pequenas (Can et al., 2004).
O protocolo adotado neste caso foi inspirado no estudo clínico conduzido por Markum & Baillie (2012), que avaliou a eficácia da combinação do óleo essencial de Melaleuca alternifolia e iodo no tratamento do molusco contagioso em crianças. Adaptando essa proposta à prática clínica complementar, optou-se também pela associação do uso de adesivos terapêuticos de silício cristalino, aplicados diretamente sobre a lesão, com o objetivo de facilitar a extração mecânica parcial do conteúdo papular. Essa abordagem combinada teve como objetivo promover a regressão das lesões de forma segura, não invasiva e mais tolerável para a criança.
Em consonância com o tema Práticas Integrativas e Complementares ao Longo do Ciclo da Vida, este relato de experiência busca descrever o uso do óleo essencial de Melaleuca alternifolia, em associação à solução de iodo e aplicação de adesivos de silício, como uma abordagem integrativa no tratamento do molusco contagioso em uma criança em idade escolar.
A paciente, uma criança do sexo feminino de 8 anos, apresentava aproximadamente 40 lesões de molusco contagioso, distribuídas principalmente no abdômen, cotovelos e face interna das coxas. Algumas pápulas estavam inflamadas, especialmente na área de atrito entre as coxas, apresentando sinais de eritema e dor leve à palpação. As lesões tinham morfologia típica — pápulas umbilicadas de aspecto róseo ou esbranquiçado — e vinham se espalhando progressivamente nas semanas anteriores. Ficou evidente, durante a avaliação clínica, que a proliferação das lesões ocorria por contato direto entre áreas corporais, como o contato repetido dos cotovelos com a face interna das coxas, sugerindo autoinoculação viral facilitada pelo prurido constante e atrito.
A paciente tinha diagnóstico prévio de dermatite atópica, condição que compromete a integridade da barreira cutânea e está associada a maior suscetibilidade a infecções virais da pele, incluindo formas mais extensas e persistentes de molusco contagioso (Silverberg, 2003; Nascimento et al., 2011).
A principal queixa dos cuidadores era o desconforto estético e o prurido persistente, que interferiam na rotina da criança, causando constrangimento em ambientes escolares e dificuldade de participação em atividades físicas com outras crianças. Apesar de algumas lesões inflamadas, não foram observados sinais clínicos de infecção bacteriana secundária.
O protocolo aromaterapêutico foi desenvolvido considerando a idade e condição clínica da criança. Inicialmente, realizou-se aplicação tópica de solução de iodo, seguida da aplicação direta do óleo essencial puro de Melaleuca alternifolia (tea tree), restrita às lesões cutâneas, duas vezes ao dia. A partir do quarto dia, com a observação clínica de que algumas pápulas apresentavam sinais de ruptura iminente, foram introduzidos adesivos terapêuticos de silício cristalino — ferramentas comumente utilizadas em práticas integrativas como a acupuntura sem agulhas. Os adesivos foram aplicados sobre as lesões mais proeminentes, visando promover a drenagem mecânica de seu conteúdo de forma não invasiva. Após 24 horas, os adesivos eram removidos, e o protocolo tópico era reaplicado, iniciando um novo ciclo de observação e cuidado.
Esse protocolo baseou-se no ensaio clínico randomizado de Markum & Baillie (2012), no qual 53 crianças receberam tratamento tópico duas vezes ao dia com a combinação de óleo de Melaleuca e iodo (TTO-I). Após 30 dias, 16 de 19 crianças (84%) do grupo TTO-I apresentaram redução superior a 90% no número de lesões, em comparação com apenas 3 de 18 (17%) no grupo com Melaleuca isolada e 1 de 16 (6%) no grupo com iodo isolado.
Além disso, o óleo essencial de Melaleuca alternifolia contém terpinen-4-ol, seu principal composto bioativo, que demonstrou propriedades antivirais, antibacterianas, antifúngicas e anti-inflamatórias. Estudos in vitro indicam que pode desestabilizar membranas virais e suprimir mediadores inflamatórios como TNF-α, IL-1β, IL-8 e PGE₂, apoiando seu uso clínico em infecções cutâneas (Hammer et al., 2006).
A criança apresentou boa adesão ao protocolo, e não foram observadas reações adversas cutâneas ou sistêmicas durante o acompanhamento.
Ao final de duas semanas, observou-se redução significativa no número de lesões ativas, com eliminação completa das mesmas e ausência de novas áreas afetadas.
O protocolo combinado mostrou-se seguro, bem tolerado e potencialmente eficaz como abordagem complementar no manejo do molusco contagioso em crianças.
Não foram observados efeitos adversos com o uso tópico de óleo de tea tree não diluído sobre pele íntegra, em pequenas quantidades e restrito à área da lesão. A paciente foi monitorada de perto durante todo o processo e, considerando sua idade, a decisão pelo uso do óleo essencial em forma pura foi clinicamente justificada. Isso sugere boa segurança quando aplicado com julgamento profissional em populações pediátricas.
Este relato reforça o potencial da aromaterapia clínica como prática integrativa complementar no manejo de dermatoses virais autolimitadas em crianças. A combinação de abordagens suaves e bem toleradas pode proporcionar conforto, reduzir a duração da progressão das lesões e melhorar a experiência da criança e da família diante de uma condição dermatológica prolongada.
Tais estratégias integrativas podem ser particularmente úteis quando os tratamentos convencionais não são viáveis ou aceitos, reforçando a necessidade de colaboração interdisciplinar no cuidado dermatológico pediátrico.
No entanto, relatos de caso não permitem generalizações, e há clara necessidade de estudos clínicos controlados com amostras maiores para avaliar a eficácia e a segurança das intervenções com óleos essenciais em populações pediátricas. A ausência de ferramentas validadas para a medição objetiva de sintomas como prurido, desconforto ou impacto psicossocial permanece um desafio na pesquisa em aromaterapia. A incorporação de protocolos clínicos mais padronizados, como a lista de verificação TREATS proposta pelo Aromatic Research Quality Appraisal Taskforce (ARQAT), pode contribuir para maior transparência metodológica e rigor científico em estudos futuros.
Molluscum contagiosum is a common viral infection in childhood, caused by the poxvirus, which leads to the appearance of small, round, umbilicated papules. Although self-limiting, the condition may persist for several months and spread through direct contact, causing aesthetic discomfort, itching, and risk of secondary bacterial infections. Despite the possibility of spontaneous regression, treatment is essential due to the social and psychological impact caused by the widespread presence of lesions in children.
Conventional therapeutic options, such as curettage, cryotherapy, and topical application of 10% potassium hydroxide, have limitations regarding tolerability and adherence, especially in young children (Can et al., 2004).
The protocol adopted in this case was inspired by the clinical study conducted by Markum & Baillie (2012), which evaluated the effectiveness of combining Melaleuca alternifolia essential oil and iodine in the treatment of molluscum contagiosum in children. Adapting this proposal to complementary clinical practice, we also chose to associate the use of therapeutic crystalline silicon patches, applied directly to the lesion, with the aim of facilitating the partial mechanical extraction of the papular content. This combined approach aimed to promote lesion regression in a safe, non-invasive, and more tolerable way for the child.
In line with the theme Complementary and Integrative Practices Across the Lifespan, this experience report aims to describe the use of Melaleuca alternifolia essential oil, in association with iodine solution and silicon patch application, as an integrative approach to the treatment of molluscum contagiosum in a school-aged child.
The patient, a female child aged 8, presented with approximately 40 molluscum contagiosum lesions, mainly distributed on the abdomen, elbows, and inner thighs. Some papules were inflamed, especially in the area of friction between the thighs, showing signs of erythema and mild pain on palpation. The lesions had a typical morphology—umbilicated papules with a pinkish or whitish appearance—and had been progressively spreading over the previous weeks. It was evident during clinical evaluation that lesion proliferation was occurring through direct contact between body areas, such as the repeated contact of the elbows with the inner thighs, suggesting viral autoinoculation facilitated by constant itching and friction.
The patient had a prior diagnosis of atopic dermatitis, a condition that compromises the integrity of the skin barrier and is associated with increased susceptibility to viral skin infections, including more extensive and persistent forms of molluscum contagiosum (Silverberg, 2003; Nascimento et al., 2011).
The main complaint from the caregivers was the aesthetic discomfort and persistent itching, which interfered with the child’s routine, causing embarrassment in school environments and difficulty participating in physical activities with other children. Despite some inflamed lesions, no clinical signs of secondary bacterial infection were observed.
The aromatherapeutic protocol was developed based on the child’s age and clinical condition. Initially, topical application of an iodine solution was performed, followed by direct application of pure Melaleuca alternifolia (tea tree) essential oil, restricted to the skin lesions, twice a day. From the fourth day on, with clinical observation that some papules showed signs of imminent rupture, therapeutic crystalline silicon patches were introduced—tools commonly used in integrative practices such as needle-free acupuncture. The patches were applied to the most prominent lesions, aiming to promote mechanical drainage of their contents in a non-invasive manner. After 24 hours, the patches were removed, and the topical protocol was reapplied, initiating a new cycle of observation and care.
This protocol was based on the randomized clinical trial by Markum & Baillie (2012), in which 53 children received topical treatment twice daily with a combination of Melaleuca oil and iodine (TTO-I). After 30 days, 16 out of 19 children (84%) in the TTO-I group showed more than 90% reduction in lesion count, compared to only 3 out of 18 (17%) in the Melaleuca-only group and 1 out of 16 (6%) in the iodine-only group.
Furthermore, Melaleuca alternifolia essential oil contains terpinen‑4‑ol, its main bioactive compound, which has demonstrated antiviral, antibacterial, antifungal, and anti-inflammatory properties. In vitro studies indicate that it may disrupt viral membranes and suppress inflammatory mediators such as TNF‑α, IL‑1β, IL‑8, and PGE₂, supporting its clinical use in skin infections (Hammer et al., 2006).
The child showed good adherence to the protocol, and no cutaneous or systemic adverse reactions were observed during follow-up.
By the end of two weeks, a significant reduction in the number of active lesions was observed, with complete elimination of the lesions and no appearance of new affected areas.
The combined protocol proved to be safe, well-tolerated, and potentially effective as a complementary approach to the management of molluscum contagiosum in children.
No adverse effects were observed with the topical use of undiluted tea tree oil on intact skin, in small amounts and limited to the lesion area. The patient was closely monitored throughout the process, and given her age, the decision to use the essential oil in its pure form was clinically justified. This suggests good safety when applied with professional judgment in pediatric populations.
This report reinforces the potential of clinical aromatherapy as a complementary integrative practice in the management of self-limiting viral dermatoses in children. The combination of gentle and well-tolerated approaches can provide comfort, reduce the duration of lesion progression, and improve the experience of the child and family when facing a prolonged dermatological condition.
Such integrative strategies may be particularly useful when conventional treatments are not feasible or accepted, reinforcing the need for interdisciplinary collaboration in pediatric dermatological care.
However, case reports do not allow for generalizations, and there is a clear need for controlled clinical studies with larger samples to evaluate the effectiveness and safety of essential oil interventions in pediatric populations. The lack of validated tools for the objective measurement of symptoms such as itching, discomfort, or psychosocial impact remains a challenge in aromatherapy research. The incorporation of more standardized clinical protocols, such as the TREATS checklist proposed by the Aromatic Research Quality Appraisal Taskforce (ARQAT), may contribute to greater methodological transparency and scientific rigor in future studies.