Este relato aborda experiências de ensino-aprendizagem no campo das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) para estudantes da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O objetivo foi descrever vivências relacionadas à prática do cultivo de plantas medicinais em uma Clínica da Família. As atividades educativas foram realizadas na Atenção Primária à Saúde (APS) no município do Rio de Janeiro entre 2013 e 2025. O cenário da experiência foi a Clínica da Família Assis Valente, localizada no bairro Ilha do Governador, no município do Rio de Janeiro, que contava com sete equipes de Saúde da Família (SF), três equipes de Saúde Bucal, um Centro de Idosos e uma Academia Carioca da Saúde. O território era composto pelas comunidades Vila Joaniza e Barbante, com um total de 24 mil moradores. Ressalta-se que esta clínica é certificada como Unidade Amiga da Planta Medicinal. Em 2013, os estudantes de Medicina foram introduzidos às Práticas Integrativas e Complementares (PICS) na clínica, onde havia um horto medicinal. Os sujeitos da experiência foram estudantes do terceiro ano e internos da Faculdade de Medicina da UFRJ e três docentes (um fitoterapeuta, um homeopata e uma enfermeira sanitarista), a equipe de Saúde da Família, o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), usuários e profissionais, incluindo um técnico agrícola. A decisão de expor os estudantes a experiências pedagógicas com as equipes de Saúde da Família baseou-se no entendimento de que a atenção primária deve ser um campo formador de profissionais do SUS e um diferencial na garantia de vivências relevantes para a formação de médicos competentes, com habilidades para o cuidado das populações dos territórios. Em 2017, a imersão de estudantes do terceiro ano na Clínica da Família possibilitou sua inclusão nas atividades de PICS. À época, a unidade já era campo de prática do Internato Integrado em Medicina de Família e Comunidade da faculdade de Medicina da UFRJ. Em parceria com a equipe de saúde e o NASF, intensificaram-se as atividades do grupo de idosos no manejo do horto de plantas medicinais. Os estudantes participaram ativamente das práticas: oficinas com a participação dos usuários; identificação botânica; produção de mudas por sementes e estacas; preparo de temperos com ervas frescas, vinagre aromático, xarope caseiro e sabonete medicinal artesanal. Os temas foram: plantas medicinais no manejo da dor, sintomas respiratórios, sono, chás terapêuticos, e envolveram festividades como Páscoa e festas juninas.
A oficina de identificação botânica promoveu a valorização da memória afetiva e da experiência dos participantes por meio da troca de saberes. As oficinas permitiram reflexões sobre as vivências, fortalecendo os vínculos e conexões entre os envolvidos. O saber dos usuários e o compartilhamento das experiências dos estudantes, resultantes do conhecimento científico descrito em publicações científicas, tornaram-se realidade.
Por meio do portfólio, foi possível acompanhar os relatos e reflexões dos estudantes do terceiro ano em relação às suas vivências. No internato, o Diário de Campo, o Relatório Final e o Trabalho Temático foram utilizados para registrar as atividades. A visita à Coleção Temática de Plantas Medicinais do Jardim Botânico do Rio de Janeiro foi o ponto alto das experiências compartilhadas, com a oportunidade de conhecer espécies certificadas de plantas medicinais e participar de uma prática coletiva de Tai Chi Chuan conduzida por uma professora de PICS. Houve ainda um momento de confraternização em grupo.
As principais dificuldades encontradas foram a resistência para mobilizar profissionais, estudantes e usuários para a ação contínua, diante da fragilidade da inserção das PICS na Saúde da Família.
As principais lições aprendidas foram a valorização do diálogo entre docentes, estudantes, profissionais do NASF e usuários, possibilitando o fortalecimento das PICS na APS; a ampliação da inserção de estudantes de Medicina na ESF, permitindo a construção de experiências de ensino-aprendizagem no âmbito das PICS e promovendo o contato dos estudantes com as narrativas dos usuários sobre plantas medicinais, com vistas ao aprendizado sobre a cultura local.
Sugerem-se caminhos para replicação e aprimoramento do internato por meio da criação de disciplinas e arranjos curriculares capazes de viabilizar práticas que formem médicos futuros aptos a perceber as necessidades dos usuários, com uma visão menos reducionista e fragmentada.
This report addresses teaching and learning experiences in the field of Integrative and Complementary Health Practices (PICS) for students at the Faculty of Medicine of the Federal University of Rio de Janeiro (UFRJ). The objective was to describe experiences related to the practice of medicinal gardening at a Family Clinic. Educational activities were carried out in Primary Health Care (PHC) in the municipality of Rio de Janeiro between 2013 and 2025. The setting for the experience was the Assis Valente Family Clinic located in the Ilha do Governador neighbourhood in the municipality of Rio de Janeiro, which had seven Family Health (SF) teams, three Oral Health teams, a Senior Citizens' Centre and a Carioca Health Academy. The territory consisted of the Vila Joaniza and Barbante communities, with a total of 24,000 residents. It should be noted that this clinic is certified as a Medicinal Plant Friendly Unit. In 2013, medical students were introduced to Integrative and Complementary Practices (PICS) at the clinic, where there was a medicinal garden. The subjects of the experiment were third-year students and interns from the UFRJ School of Medicine and three teachers (a phytotherapist, a homeopath and a public health nurse), the Family Health team, the Family Health Support Centre (NASF), users and professionals, including an agricultural technician. The decision to expose students to pedagogical experiences with the Family Health teams was based on the understanding that primary health care should be a training ground for SUS professionals and a differentiator in terms of ensuring relevant experiences for the training of competent doctors with skills to care for the populations of the territories. In 2017, the immersion of third-year students in the Family Clinic enabled their inclusion in PICS activities. At that time, the unit was already a practice field for the Integrated Internship in Family and Community Medicine at the UFRJ medical school. In partnership with the health team and NASF, the activities of the elderly group in managing the medicinal plant garden were intensified. The students actively participated in the practices: workshops with the participation of users; botanical identification; production of seedlings from seeds and cuttings; preparation of seasonings with fresh herbs, aromatic vinegar, homemade syrup, and handmade medicinal soap. The themes were: medicinal plants in pain management, respiratory symptoms, sleep, therapeutic teas, and involved festivities such as Easter and June festivals.
The botanical identification workshop promoted the appreciation of the participants' affective memory and experience through the exchange of knowledge. The workshops allowed for reflection on the experiences, strengthening the bonds and connections between the parties. The users' knowledge and the sharing of the students' experiences, resulting from the scientific knowledge described in scientific publications, became a reality.
Through the portfolio, it was possible to follow the reports and reflections of the third-year students in relation to their experiences. At the boarding school, the Field Diary, Final Report and Thematic Work were used to record the activities. The visit to the Thematic Collection of Medicinal Plants at the Rio de Janeiro Botanical Garden was the highlight of the shared experiences, with the opportunity to learn about certified medicinal plant species and participate in a collective Tai Chi Chuan practice led by a PICS teacher. There was a group get-together.
The main difficulties encountered were resistance to mobilising staff, students and users for continuous action, facing the fragility of PICS insertion in Family Health.
The main lessons learned were the enhancement of dialogue between teachers, students, NASF professionals and users, enabling the strengthening of PICS in PHC; the expansion of the insertion of medical students. in the ESF, enabling the construction of teaching-learning experiences within the scope of PICS and promoting contact between students and users' narratives about medicinal plants, with a view to learning about local culture.
Pathways are suggested for replicating and improving the internship through the creation of disciplines and curricular arrangements capable of enabling practices that produce future doctors capable of perceiving the needs of users, with a less reductionist and fragmented view.