Este relatório faz parte de um projeto de pesquisa desenvolvido na PUC-SP, baseado no princípio da integração mente-corpo. Ele investiga os efeitos da Calatonia, uma técnica de toque sutil criada pelo médico húngaro Pethö Sándor, em estudantes que relataram altos níveis de sofrimento psicológico. A técnica consiste em toques sutis na planta do pé, nuca, calcanhar e na convergência tendinosa do tríceps sural. Esses toques têm efeito de relaxamento muscular (Arcuri, 2009), uma vez que essas áreas possuem diferentes características dermomecânicas que incluem integração neuronal do campo do afeto e da cognição (Blanchard, 2021). Sándor observou em seus pacientes que passaram pela técnica de relaxamento uma reorganização homeostática, como mudanças na temperatura corporal e na respiração (Blanchard, 2022). Além disso, ele percebeu que seus pacientes começaram a compartilhar histórias, sentimentos e pensamentos de forma mais espontânea (Blanchard, 2022). Esses efeitos terapêuticos — não apenas físicos, mas também psicológicos — foram a base desta pesquisa. Para este estudo, foi utilizada a DASS-21 (Depression, Anxiety, and Stress Scale – 21 items) para classificar os escores dos participantes em cada uma das três subcategorias de sintomas. Foi estabelecido que os participantes cujo escore foi classificado como Severo ou Extremamente Severo em qualquer uma das subescalas descritas — um total de cinco — foram os selecionados para a intervenção com Calatonia. Empiricamente, sabe-se que essa técnica tem efeitos especialmente relaxantes em casos de estresse extremo, e que seu efeito não seria tão significativo em casos de níveis mais baixos de sintomas. A aplicação da Calatonia consistiu em um total de dez sessões para cada participante, com a ajuda de três aplicadores voluntários.
De acordo com a DASS-21, 68% dos escores dos participantes foram classificados como Severo ou Extremamente Severo em pelo menos uma categoria — e 38% apresentaram esse tipo preocupante de classificação em todos os três tipos de sintomatologia. Além disso, o questionário sociodemográfico mostrou que todos os participantes relataram sentir-se estressados. Quando se trata da correlação entre sofrimento mental e o corpo, é importante enfatizar como a Ansiedade, por exemplo, é um transtorno que apresenta manifestações corporais atípicas, como olhos arregalados e estômago agitado (Freeman, 2015). Essas alterações fisiológicas estão relacionadas ao Sistema Nervoso Central e podem ser consideradas resultado da Integração Psicofísica. O corpo de literatura abordado neste estudo indica um cenário preocupante em relação a esse tipo de sintomatologia entre estudantes universitários após a pandemia de COVID-19. É importante mencionar que, entre os estudantes de psicologia, há uma intensa exposição a situações de sofrimento extremo e vulnerabilidade. Essa exposição, embora inevitável do ponto de vista acadêmico e profissional, pode levar a um agravamento da sintomatologia de estresse quando não é devidamente acompanhada. Segundo Abreu (2021), existem inúmeros estudos sobre o impacto de estressores como dor, sofrimento e luto entre estudantes de medicina, por exemplo, mas poucos mencionam estudantes de psicologia — embora esse grupo também lide com experiências de perda, dor emocional significativa e frequente vulnerabilidade social. Esses fenômenos ressaltam a relevância desta pesquisa.
Todos os cinco participantes relataram sentir-se relaxados durante as sessões de Calatonia, uma reação à intervenção também observada pelos aplicadores. De acordo com Blanchard (2022), o estado ergotrópico (relaxamento profundo) promove uma condição interna ideal para o equilíbrio fisiológico e bem-estar. O autor também observa que espasmos e contrações das pálpebras são tipos de respostas que indicam essa resposta de relaxamento, bem como a possibilidade de reposição de energia e, consequentemente, maior estabilidade do organismo. Ambas as respostas corporais foram observadas pelos aplicadores. Em relação aos resultados pós-Calatonia da DASS-21, a média de Estresse apresentou a diferença mais significativa. A pontuação média dos participantes, previamente classificada como Severa (26,2 pontos), foi reduzida em 20,2 pontos, chegando a 6,0 — uma pontuação classificada como Normal. Quanto aos níveis de Ansiedade, embora não tenha havido uma redução estatisticamente significativa, é possível observar uma mudança significativa: a pontuação média caiu de 16,4 para 6,0, o que também corresponde a uma classificação Normal nessa subescala — uma redução de 10,4 pontos. No caso da Depressão, houve uma redução estatisticamente significativa: a pontuação média caiu de 26,2 (classificação Severa) para 8,0, uma pontuação considerada Normal — uma redução de 18,2 pontos. A hipótese inicial — de que a Calatonia seria mais eficaz em casos classificados como Severo ou Extremamente Severo — foi confirmada, assim como a literatura que aponta o toque sutil como uma técnica capaz de produzir resultados terapêuticos.
O fato de a Calatonia ter sido aplicada sem terapia verbal nesta pesquisa sugere que a técnica, sozinha, pode ser eficaz na redução dos sintomas de estresse e depressão. No entanto, é plausível que, se combinada com psicoterapia verbal, os resultados possam ser ainda mais promissores. Para fortalecer os achados deste estudo, pesquisas futuras devem incluir uma amostra mais ampla de participantes.
This report is part of a research project developed at PUC-SP, based on the principle of mind-body integration. It investigates the effects of Calatonia, a subtle touch technique created by Hungarian physician Pethö Sándor, on students reporting high levels of psychological suffering. The technique consists of subtle touches on the sole of the foot, nape, heel, and tendinous convergence of the triceps surae. These touches have a muscular relaxation effect (Arcuri, 2009), since these areas are provided with different dermomechanical characteristics that include neuronal integration of the field of affect and cognition (Blanchard, 2021). Sándor observed in his patients who went through the relaxation technique a homeostatic reorganization, such as changes in body temperature and breathing (Blanchard, 2022). Furthermore, he noticed that his patients began to share stories, feelings, and thoughts more spontaneously (Blanchard, 2022). These therapeutic effects—not only physical but also psychological—were the foundation of this research. For this study, the DASS-21 (Depression, Anxiety, and Stress Scale – 21 items) was used to classify participants´ scores in each of the three subcategories of symptoms. It was stablished that participants who´s score was classified as Severe or Extremely Severe in any of the described subescales- a total of five- were the ones selected for the Calatonia intervention. Empirically, it is known that this technique has specially relaxing effects in cases of extreme stress, and that it´s effect wouldn´t be as significant in lower symptom level´s cases. The application of Calatonia took a total of ten sessions for each participant, and we got the help of three volunteer applicators.
According to the DASS-21, 68% of participants' scores were classified as Severe or Extremely Severe in at least one category—and 38% had this worrying type of classification in all three types of symptomatology. Additionally, the sociodemographic questionnaire showed that all participants reported feeling stressed. When it comes to the correlation between mental suffering and the body it is important to emphasize how Anxiety, for example, is a disorder that has atypical bodily manifestations such as wide eyes and unsettled stomach (Freeman, 2015) . These physiological changes are related to the Central Nervous System and can be considered result of the Psychophysical Integration. The body of literature addressed in this study indicates a concerning scenario regarding this kind of symptomatology among university students after the COVID-19 pandemic. It is important to mention that, among psychology students, there is intense exposure to situations of extreme suffering and vulnerability. This exposure, though academically and professionally inevitable, can lead to a worsening of stress symptomatology when not properly addressed. According to Abreu (2021), there are numerous studies on the impact of stressors such as pain, suffering, and grief among medical students, for example, but not many mention psychology students—even though this group also deals with experiences of loss, significant emotional pain, and frequent social vulnerability. These phenomena highlight the relevance of this research.
All five participants reported feeling relaxed during the Calatonia sessions, a reaction to the intervention also noted by the applicators. According to Blanchard (2022), the ergotropic state (deep relaxation) promotes an ideal internal condition for physiological balance and well-being. The author also notes that spasms and eyelid twitching are the kinds of responses that indicate this relaxation response, as well as the possibility of energy reposition and, consequently, greater organism stability. Both bodily responses were observed by the applicators. Regarding the post-Calatonia DASS-21 results, the Stress average showed the most significant difference. The participants' average score, previously classified as Severe (26.2 points), was reduced by 20.2 points, reaching 6.0—a score classified as Normal. As for Anxiety levels, although there was no statistically significant reduction, it is possible to observe a meaningful change: the average score decreased from 16.4 to 6.0, which also corresponds to a Normal classification on this subscale—a reduction of 10.4 points. In the case of Depression, there was a statistically significant reduction: the average score dropped from 26.2 (Severe classification) to 8.0, a score considered Normal—an 18.2-point reduction. The initial hypothesis—that Calatonia would be more effective in cases classified as Severe or Extremely Severe—was confirmed, as well as the literature that points to subtle touch as a technique capable of producing therapeutic results.
The fact that Calatonia was applied without verbal therapy in this research suggests that the technique alone can be effective in reducing symptoms of stress and depression. However, it is plausible that, if combined with verbal psychotherapy, the outcomes could be even more promising. To strengthen the findings of this study, future research should include a broader sample of participants.
