Vamos todos cirandar?: o círculo restaurativo e sistêmico como dispositivo de cuidado na Raps em Santa Cruz Cabrália (BA) e o legado do enfermeiro Álvaro Sérgio na implantação das Pics no território

1. Introdução

A dor psíquica não se cala diante da medicalização. A alma humana exige escuta, reconhecimento e pertencimento. Em tempos de sofrimento difuso, agravado por crises sanitárias e sociopolíticas, a construção de dispositivos terapêuticos que integrem cuidado, vínculo e espiritualidade torna-se uma urgência ética e civilizatória. Este artigo emerge da vivência comunitária em Santa Cruz Cabrália (BA), território onde a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) vem sendo tecida com os fios da integralidade, da ancestralidade e da justiça restaurativa.

Inspirado na metáfora da ciranda — não como dança, mas como roda de escuta musical e sagrada —, o projeto “Vamos Todos Cirandar?” propõe-se como prática restaurativa e integrativa, ancorada no uso da musicalidade como tecnologia relacional. Não se trata apenas de cantar juntos, mas de restaurar juntos: a dignidade, a esperança e o sentido de pertencimento daqueles que, historicamente, foram silenciados.

Este processo se alicerça na tradição das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS), institucionalizadas no SUS a partir da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) e consolidadas nos últimos cinco anos com a ampliação do rol de práticas reconhecidas pelo Ministério da Saúde. Segundo os relatórios da Plataforma Brasil, observa-se um crescente número de pesquisas aprovadas sobre espiritualidade, arte, saberes populares e terapias comunitárias, evidenciando o reconhecimento acadêmico e ético das abordagens não convencionais, sobretudo no campo da saúde mental e da atenção psicossocial.

A presente experiência foi nutrida pelo legado do Dr. Álvaro Sérgio, na época, em 2017, enfermeiro e gestor visionário, que atuou como introdutor das PICS na oitava microrregião, nas comunidades de Santa Cruz Cabrália. Sua postura ética, acolhedora e aberta ao diálogo entre saberes acadêmicos e tradicionais tornou-se uma referência entre os profissionais da saúde e, posteriormente, na justiça. Sob sua liderança, práticas como imposição de mãos, reiki, reflexoterapia, meditação, e rodas de cura passaram a ser incorporadas à rotina das unidades de saúde mental, especialmente no CAPS e nas ações intersetoriais de matriciamento.

No plano teórico, esta investigação dialoga com as obras de Mary C. Townsend, que compreende o cuidado em enfermagem psiquiátrica como um processo relacional, centrado na escuta ativa e na abordagem biopsicossocial e espiritual; com Adalberto Barreto, que propõe a Terapia Comunitária Integrativa (TCI) como uma metodologia de cuidado enraizada nos saberes populares e na força do coletivo; e com Kay Pranis, cuja contribuição à justiça restaurativa resgata os círculos de construção de paz como espaços de reconciliação e transformação. Tais referenciais sustentam a base epistemológica do projeto, ao reconhecerem que a saúde psíquica é inseparável da saúde relacional e espiritual.

Ao descrever a trajetória da ciranda restaurativa em Cabrália, este artigo se propõe a registrar não apenas uma prática, mas um modo de ser, cuidar e resistir. Trata-se de um convite à escuta, ao reencontro e à rehumanização do cuidado no SUS, especialmente em territórios de vulnerabilidade social e sofrimento ético-político.

2. Referencial Teórico

A singularidade do sofrimento humano exige abordagens sensíveis, integradoras e respeitosas às múltiplas dimensões da existência. No campo da saúde mental, essa premissa tem sido reiterada nas produções científicas registradas na Plataforma Brasil, especialmente após a intensificação dos efeitos psicossociais da pandemia de Covid-19. Entre 2020 e 2024, houve um crescimento significativo de pesquisas aprovadas envolvendo espiritualidade no cuidado, práticas integrativas, saberes tradicionais e justiça restaurativa no contexto do Sistema Único de Saúde (SUS). Esse movimento expressa uma busca por epistemologias plurais que dialoguem com as necessidades reais da população, respeitando sua cultura, ancestralidade e redes comunitárias de apoio.

Nesse cenário, três marcos teóricos fundamentais sustentam o projeto aqui relatado:

2.1 Mary C. Townsend: Enfermagem Psiquiátrica e o Cuidado Centrado na Relação

Mary C. Townsend, referência internacional em enfermagem psiquiátrica, propõe que o cuidado em saúde mental exige mais que procedimentos: exige presença terapêutica. Em sua obra clássica Enfermagem Psiquiátrica: Conceitos de Cuidado (2013), a autora afirma que a relação enfermeiro-paciente é, por si, uma intervenção terapêutica. O profissional torna-se instrumento de cuidado ao desenvolver habilidades como escuta ativa, empatia, autenticidade e respeito ao outro como sujeito de sua própria história.

No contexto da RAPS de S.C. Cabrália, essa concepção foi fundamental. Sob o legado do enfermeiro Álvaro Sérgio, o cuidado deixou de ser meramente técnico para se tornar relacional, integrativo e restaurador. As rodas de musicalidade, os atendimentos com imposição de mãos, os momentos de silêncio, o uso de reiki e reflexoterapia, foram mediados por profissionais que haviam sido sensibilizados a escutar com o coração. A comunicação e a expressividade, elemento central do projeto “Vamos Todos Cirandar?”, não era acessório, mas sim uma ponte terapêutica entre mundos internos e externos — um canal para expressar aquilo que palavras não alcançam.

2.2 Adalberto Barreto: Terapia Comunitária Integrativa e Saberes Populares

O etnopsiquiatra Adalberto Barreto, criador da Terapia Comunitária Integrativa (TCI), defende que “o sofrimento psíquico é mais social do que pessoal”. Para ele, o cuidado deve ocorrer em rede, com valorização das experiências de vida, dos vínculos e dos saberes populares como fontes legítimas de cura. Sua obra A Terapia Comunitária Integrativa: Uma Construção Brasileira (2011) descreve a TCI como uma tecnologia relacional que democratiza o cuidado e empodera a comunidade, resgatando sua autonomia e capacidade de superação.

Essa abordagem encontrou terreno fértil em Santa Cruz Cabrália. O CAPS, a atenção básica e as instituições parceiras passaram a adotar círculos comunitários como forma de escuta coletiva e corresponsabilização pelo cuidado. Os encontros do “Vamos Todos Cirandar?” incorporaram a escuta horizontal, o acolhimento sem julgamento e a potência da palavra compartilhada, princípios centrais da TCI. Ali, o cantar e o contar caminhavam juntos: a canção revelava dores; o refrão trazia alívio. A ciranda não era dança, mas cuidado em roda, enraizado nas práticas populares e espirituais da comunidade.

2.3 Kay Pranis: Justiça Restaurativa, Círculos e Comunidade

A educadora norte-americana Kay Pranis, em sua obra seminal The Little Book of Circle Processes (2005), introduz os círculos restaurativos como práticas de reparação e reconexão social, inspiradas em tradições indígenas e comunitárias. Ela afirma que o círculo não é apenas uma metodologia, mas um modo de vida centrado na escuta profunda, na responsabilidade coletiva e na construção de significados partilhados.

Os círculos do projeto “Vamos Todos Cirandar?” seguem essa lógica. As rodas formadas em praças, unidades de saúde e espaços comunitários operavam como círculos restaurativos com musicalidade, onde cada pessoa tinha seu momento de fala, cada silêncio era respeitado e cada história era acolhida sem julgamento. Com base nos princípios da justiça restaurativa, o projeto buscava reconstruir vínculos familiares e comunitários, atuando sobre as raízes do sofrimento, e não apenas sobre seus sintomas. Era uma prática de saúde e também de justiça — uma espiritualidade encarnada na vida cotidiana.

Transversalidade Epistemológica: Cuidar com a Alma do Povo

Ao conjugar enfermagem psiquiátrica, saberes populares e justiça restaurativa, o projeto “Vamos Todos Cirandar?” constitui-se como uma prática transdisciplinar, transgeracional e transespiritual. Ele responde aos desafios contemporâneos da RAPS com ousadia epistemológica, propondo um cuidado que é também ato político, ético e espiritual.

A musicalidade — ancestral, popular, terapêutica — torna-se o eixo de mediação entre o sofrimento e a esperança, entre o trauma e o perdão, entre o sujeito e a comunidade. Como nos ensina Kay Pranis, “o círculo é um convite para relembrar quem somos uns para os outros”. E como nos alerta Adalberto Barreto, “ninguém cuida sozinho”. A presença de cada participante é cura para os demais.

3. Objetivos

Objetivo Geral

Relatar a experiência do projeto comunitário “Vamos Todos Cirandar?” como prática restaurativa, integrativa e musical no contexto da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) de Santa Cruz Cabrália (BA), articulando saberes da enfermagem psiquiátrica, da justiça restaurativa e da terapia comunitária.

Objetivos Específicos

Descrever o processo de implantação das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) no município, a partir do legado do enfermeiro Álvaro Sérgio;

Analisar os efeitos terapêuticos da musicalidade nos encontros comunitários e nos grupos da RAPS;

Compreender como os círculos restaurativos com musicalidade promovem escuta, pertencimento e transformação de vínculos;

Refletir sobre a importância da transdisciplinaridade e da espiritualidade no cuidado em saúde mental coletiva.

4. Metodologia

Este artigo configura-se como um relato de experiência, com abordagem qualitativa e caráter fenomenológico-hermenêutico. A narrativa baseia-se em registros audiovisuais, documentos institucionais, prontuários clínicos sistêmicos (resguardando o sigilo), relatos de profissionais, usuários e parceiros da RAPS envolvidos no projeto “Vamos Todos Cirandar?”, entre os anos de 2017 e 2024.

A vivência ocorreu em espaços diversos: praças públicas, unidades da atenção básica, CAPS, escolas, fórum de justiça e ambientes religiosos, articulando os setores saúde, assistência, justiça e cultura. A musicalidade foi o fio condutor das atividades, utilizando canções populares, cantigas, ritmos afroindígenas, elementos da capoeira e do louvor cristão como dispositivos de reconexão afetiva.

Foram utilizados também elementos das constelações familiares, da Terapia Comunitária Integrativa, da espiritualidade ecumênica e dos círculos de construção de paz inspirados em Kay Pranis. As práticas de imposição de mãos, florais, auriculoterapia, partilhas e visualizações sistêmicas complementaram as rodas musicais, promovendo equilíbrio entre o corpo, a alma e a comunidade.

5. O Legado de Dr. Álvaro Sérgio: o Enfermeiro que Cuidava com a Palavra, com o Canto, com os braços e as Mãos

O projeto “Vamos Todos Cirandar?” é fruto de um legado silencioso e profundamente enraizado: o de Dr. Álvaro Sérgio, enfermeiro e professor de almas. Muito além da clínica convencional, sua prática combinava conhecimento técnico, sensibilidade comunitária e sabedoria ancestral. Foi ele quem, em 2017, iniciou a inserção das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) no município de Santa Cruz Cabrália, começando pela atenção básica e se expandindo para os territórios da RAPS.

Dr. Álvaro via o cuidado como diálogo entre mundos: entre ciência e fé, entre o moderno e o tradicional, entre a medicina e a espiritualidade. Foi o primeiro profissional a ofertar oficialmente com sua equipe, imposição de mãos e escuta compassiva como parte dos atendimentos de saúde mental em comunidades periféricas e indígenas da região e a preparar o terreno, para oferecer auriculoterapia e a medicina tradicional chinesa. Sua prática era profundamente restaurativa: ele escutava as dores, nomeava os conflitos, mas devolvia aos pacientes sua potência vital.

Sob sua inspiração, o “Vamos Todos Cirandar?” nasceu não como um projeto institucional, mas como um movimento vivo, onde o cuidado resgatava o canto, o abraço, a circularidade e a ancestralidade. Ele não via a música como um recurso terapêutico, mas como a própria linguagem da alma — um convite à reconexão com a origem, com os antepassados e com a rede de pertencimento.

A morte do nosso amigo e colega médico da equipe, Dr. José Roberto Ayres, foi sentida como um luto coletivo. Mas também foi um chamado à continuidade de sua missão. Os profissionais da rede, os usuários e os cuidadores se uniram para dar continuidade ao que ele plantou: um cuidado que canta, que escuta e que cura em rodas.

6. Resultados e Discussão

Os círculos musicais do projeto “Vamos Todos Cirandar?” foram vivenciados como verdadeiros dispositivos de cuidado ampliado, restaurativo e espiritual, principalmente por sujeitos em sofrimento psíquico-crônico, cuidadores em esgotamento e profissionais da rede de atenção psicossocial local. Os encontros foram caracterizados por quatro elementos centrais: a escuta, o canto, o silêncio e o choro.

6.1 Musicalidade como expressão da alma

Ao invés de trabalhar a dança coreografada, o projeto valorizava a expressão sonora espontânea, por meio de instrumentos simples (pandeiros, maracás, tambores, violão) e do uso da voz coletiva. A musicalidade emergia não apenas como distração ou entretenimento, mas como veículo de expressão emocional, espiritual e intersubjetiva.

Como afirma Mary C. Townsend, a enfermagem psiquiátrica deve considerar o ser humano como totalidade biopsicossocioespiritual, e os métodos de escuta e expressão simbólica são fundamentais na gestão de emoções não verbalizadas. O canto, nesse sentido, serviu como “linha de flutuação” para histórias que não conseguiam emergir pelas palavras — memórias de infância, traumas familiares, orações esquecidas, saudades e esperanças.

6.2 O círculo restaurativo-musical: entre a roda de cura e a tenda do sagrado

O modelo utilizado foi inspirado nos círculos de construção de paz, propostos por Kay Pranis, mas adaptados à realidade local, com forte influência das práticas de Terapia Comunitária Integrativa, da tradição oral afro-indígena e das vivências espiritualistas presentes nas comunidades.

Cada encontro obedecia a uma estrutura fluida porém simbólica:

1. Acolhimento com oração e silêncio

2. Música de abertura com repetição de refrões simples, acessíveis a todos

3. Roda de fala e escuta, com um objeto simbólico passando de mão em mão

4. Aplicação opcional de práticas integrativas (auriculoterapia, reiki, toque terapêutico sistêmico)

5. Canto final de gratidão e abraço coletivo

Esse formato (que poderia sempre ser adaptado, não era inflexível) possibilitou a ressignificação de dores emocionais e vínculos familiares, gerando relatos de perdão, reencontro com a fé, superação do uso de substâncias e retomada de projetos de vida.

6.3 O impacto restaurativo na Rede de Atenção Psicossocial

Os efeitos mais marcantes ocorreram em ambientes onde o sofrimento psíquico se cruzava com histórias de exclusão, abuso, abandono, violências e desesperança. Usuários com longos históricos no CAPS, muitas vezes silenciados por anos de psicofarmacologia e contenções, voltaram a expressar afetos, cantar em público e compartilhar suas histórias com lágrimas e sorrisos.

Cuidadores (geralmente mães ou avós) relataram que os encontros foram mais transformadores que as consultas clínicas tradicionais. Como afirmava Adalberto Barreto, fundador da Terapia Comunitária Integrativa, “o sofrimento pode ser dividido e elaborado no coletivo, desde que haja acolhimento, pertencimento e escuta horizontal”.

7. Conclusão

A experiência do projeto “Vamos Todos Cirandar?” revelou que a integração entre musicalidade, espiritualidade e justiça restaurativa pode se tornar uma potente tecnologia de cuidado no campo da saúde mental, especialmente quando alicerçada nos princípios das Práticas Integrativas e Complementares (PICS), da educação popular e da justiça comunitária.

O legado do enfermeiro Dr. Álvaro Sérgio, primeiro profissional a implementar práticas integrativas no território de Santa Cruz Cabrália, se manifesta na continuidade dessas experiências como sementes de cura coletiva, pertencimento e espiritualidade vivida. Sua trajetória ressoa com os ideais de Bert Hellinger, Adalberto Barreto e tantos outros construtores de caminhos sistêmicos para o cuidado integral.

Ao refletirmos sobre os últimos cinco anos de registros da Plataforma Brasil, percebemos um crescimento exponencial de estudos que validam as práticas integrativas não apenas como coadjuvantes, mas como ferramentas centrais na restauração da dignidade humana, especialmente em comunidades vulnerabilizadas.

O círculo restaurativo, integrativo ou sistêmico, musicalizado ou não, não substitui a psicoterapia, mas a complementa, abrindo espaços de fala onde antes havia silêncio, e devolvendo voz àqueles que a haviam perdido para a dor. Trata-se, como lembra Kay Pranis, de “criar espaços onde os corações possam se reconectar” — e onde o sofrimento encontre, enfim, um lar simbólico onde possa descansar.

Que cada canto, cada silêncio, cada lágrima e cada nota entoada nessa jornada sigam reverberando no SUS, como um chamado ao retorno do sagrado no cuidado.

8. Referências Bibliográficas

BARRETO, Adalberto. Terapia Comunitária Integrativa: fundamentos teóricos. Fortaleza: Gráfica LCR, 2008.

HELLINGER, Bert. Ordens do Amor: um guia para o trabalho com Constelações Familiares. Cultrix, 2007.

PRANIS, Kay; BOYCE, Barry Stuart; WEDGE, Carolyn Boyes. Círculos de Construção de Paz: um processo restaurativo para situações escolares, familiares e comunitárias. São Paulo: Palas Athena, 2016.

TOWNSEND, Mary C. Enfermagem Psiquiátrica: fundamentos da prática de enfermagem mental. 8ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS: PNPIC-SUS. Brasília: Ministério da Saúde, 2018.

BRASIL. Plataforma Brasil: base nacional de registros de pesquisas com seres humanos. Comissão Nacional de Ética em Pesquisa – CONEP. https://plataformabrasil.saude.gov.br

autor Principal

Diego da Rosa Leal

npicscabralia@gmail.com

Enfermeiro Terapeuta Sistêmico

Coautores

Diego da Rosa Leal, Thais Prestes Veras e Álvaro Sérgio Cangussú

A prática foi aplicada em

Todo o Brasil

Esta prática está vinculada a

Forum Jutahy Fonseca, Santa Cruz Cabrália - BA, Brasil

Uma organização do tipo

Instituição Pública

Foi cadastrada por

Diego da Rosa Leal

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01 jul 2025

CADASTRO

06 ago 2025

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Concluída

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