Contextualização:
A humanização do cuidado durante o ciclo gravídico é fundamental para a obtenção de desfechos obstétricos positivos. A gestação é um processo que demanda atenção baseada em evidências, mas também, e principalmente, acolhimento. Nesse sentido, os atendimentos em grupo têm se mostrado eficazes, promovendo escuta qualificada, vínculo entre os participantes e profissionais de saúde, além de fortalecer o cuidado humanizado.
O ultrassom natural, também conhecido como pintura gestacional, é uma técnica artística e terapêutica utilizada para representar o bebê intraútero e seus anexos – como a placenta e o cordão umbilical – no ventre materno (MATA; SHIMO, 2017). Essa técnica foi implementada em um grupo de gestantes e acompanhantes no município de Antônio Carlos/SC como uma estratégia inovadora de humanização no cuidado pré-natal.
Objetivo:
A experiência teve como objetivo promover a humanização do cuidado e favorecer uma maior adesão das gestantes às atividades, por meio do uso do ultrassom natural em encontros coletivos.
Metodologia:
O grupo teve início em 2022, com encontros mensais voltados para gestantes e seus acompanhantes, sem a exigência de inscrição prévia, a fim de ampliar o acesso e facilitar a participação. As reuniões foram realizadas no Auditório da Secretaria Municipal de Saúde de Antônio Carlos/SC. A divulgação foi feita por meio das redes sociais e com o apoio das Agentes Comunitárias de Saúde e demais profissionais da equipe.
As atividades foram coordenadas por duas enfermeiras, sendo uma delas especialista em Ginecologia e Obstetrícia. A abordagem metodológica adotada foi a metodologia ativa, que valoriza a participação e o protagonismo dos sujeitos envolvidos.
A pintura dos ventres – o ultrassom natural – foi realizada ao final de cada encontro, com a participação voluntária de gestantes, preferencialmente entre 28 e 41 semanas de gestação.
A técnica exigiu apenas um investimento financeiro modesto, sendo utilizados materiais como tintas atóxicas, pincéis de diferentes tamanhos, lápis delineador e moldes do feto para facilitar o desenho.
Para a realização da pintura, o profissional responsável aplicava os três primeiros tempos da manobra de Leopold para identificar a posição fetal e esboçava o contorno no abdômen da gestante. A utilização de molde era opcional e permitia que a técnica fosse executada mesmo por profissionais sem habilidades artísticas. As gestantes escolhiam as cores da arte, promovendo autonomia e expressão individual. Cada pintura levou, em média, 30 minutos para ser concluída.
Problema e justificativa:
Além disso, a baixa adesão prévia das usuárias aos atendimentos em grupo motivou os profissionais da Estratégia de Saúde da Família (ESF) a buscarem novas estratégias de cuidado. Diante desse cenário, aliado à necessidade de humanização no atendimento pré-natal e ao fortalecimento do vínculo entre profissionais e gestantes, optou-se pela implementação da técnica do ultrassom natural em um grupo de gestantes.
A proposta visou atrair e acolher gestantes e seus acompanhantes, oferecendo um espaço de orientação sobre temas essenciais como o pré-natal, o parto, a amamentação, o puerpério e os cuidados com o recém-nascido. Essa abordagem teve como objetivo não apenas fortalecer o vínculo entre equipe e usuárias, mas também contribuir para melhores desfechos obstétricos e neonatais.
Resultados:
A realização do grupo de gestantes, aliada à estratégia do ultrassom natural, evidenciou diversos benefícios, destacando-se o baixo custo, a facilidade de acesso aos materiais e a alta satisfação dos participantes. Além disso, os encontros em grupo promoveram a troca de saberes e experiências entre profissionais e usuárias, ampliaram o acolhimento e fortaleceram o vínculo entre a equipe de saúde e a comunidade.
Ao final de cada encontro, as enfermeiras registravam o momento com fotografias das gestantes, o que estimulava uma maior interação e contribuía para a construção de relações afetivas e de confiança. A técnica do ultrassom natural também favoreceu a conexão emocional entre mãe e bebê, reforçando o vínculo intrauterino.
Outro impacto positivo observado foi o aumento gradual da participação nos encontros ao longo dos meses. O relato de experiências anteriores por parte das gestantes que já haviam vivenciado a pintura gestacional despertou o interesse de novas usuárias, gerando um efeito multiplicador.
A motivação e o comprometimento dos profissionais envolvidos foram fundamentais para o êxito da ação. Destacou-se, nesse contexto, o grande potencial das tecnologias leve-duras no campo da saúde, que se mostram como alternativas criativas e viáveis para enfrentar desafios, garantindo a qualidade e a integralidade do cuidado.
Conclusões
A estratégia do ultrassom natural demonstrou importante potencial terapêutico, acolhedor e humanizador. Os grupos de gestantes e acompanhantes se mostraram eficazes no fortalecimento dos vínculos entre usuários e equipe de saúde, bem como no empoderamento das mulheres por meio da ampliação do conhecimento sobre o processo gestacional.
Além disso, a iniciativa colaborou para a continuidade do cuidado no âmbito da Atenção Primária à Saúde (APS), reconhecida como porta de entrada e articuladora do acesso ao Sistema Único de Saúde (SUS). A técnica também se revelou uma ferramenta eficaz para estimular o envolvimento das famílias, promovendo a construção de laços afetivos desde a gestação e favorecendo o acolhimento do bebê no ambiente extrauterino.
Diante dos resultados positivos, foi elaborado um novo cronograma para a continuidade da estratégia no ano subsequente, motivado pela alta demanda, fortalecimento dos vínculos com as gestantes e impacto positivo nos indicadores de saúde relacionados ao pré-natal.
Dessa forma, a utilização de tecnologias leve-duras como o ultrassom natural pode ser replicada em outras realidades como ferramenta de humanização do cuidado e incentivo à adesão dos usuários às atividades em grupo no SUS, reafirmando a importância de práticas criativas e acolhedoras no cuidado em saúde.
Recomendação:
Observa-se o potencial da técnica de ultrassom natural como uma ferramenta para fortalecer o vínculo, estimular a participação e aproximar os profissionais de saúde dos usuários. Além disso, essa prática possibilita a realização de atividades em grupo com foco na promoção da saúde, oferecendo orientações relacionadas ao ciclo gravídico-puerperal. Trata-se de uma técnica de baixo custo, que não exige habilidades artísticas prévias por parte dos profissionais. A Atenção Primária à Saúde se apresenta como um campo fértil para o desenvolvimento de ações coletivas, nas quais os sujeitos sejam protagonistas de seus próprios processos de saúde e doença.
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