Quem somos nós? Raça, gênero e identidade: roda de conversa como instrumento para ampliar olhares e promover o respeito

A atividade “Quem somos nós? Raça, Gênero e Identidade: roda de conversa para ampliar olhares e promover o respeito” foi desenvolvida no contexto da atividade avaliativa da disciplina Promoção da Saúde, do Mestrado Profissional em Saúde da Família. A proposta integra as ações de promoção da equidade e fortalecimento da educação permanente no território de atuação da Unidade Básica de Saúde (UBS) Tereza Barbosa.
A iniciativa surgiu a partir da escuta da equipe e dos usuários, que evidenciaram a presença de desafios cotidianos na abordagem de questões relacionadas à diversidade, como raça, gênero e identidade. Essa realidade é reflexo das desigualdades estruturais que atravessam os sujeitos e influenciam diretamente o acesso ao cuidado em saúde, como discute autores como Lemos (2016). Diante dessa demanda emergente, reconheceu-se a importância de criar um espaço seguro e coletivo para reflexão crítica, escuta e troca de saberes, como estratégia para qualificar o cuidado ofertado e romper com abordagens descontextualizadas da realidade dos sujeitos.
A oportunidade foi ampliada com a articulação de uma profissional da equipe, que indicou a possibilidade de participação de uma jornalista especialista em diversidade para condução da roda. Essa parceria foi fundamental para o caráter dialógico e sensível da atividade, fortalecendo o princípio da construção coletiva do conhecimento entre diferentes sujeitos sociais, como propõe a Educação Popular em Saúde, em consonância com os pressupostos de Paulo Freire (2005). Nesse processo, o encontro entre saberes técnicos e populares permitiu reconfigurar a prática do cuidado, produzindo novas formas de escuta, vínculo e acolhimento, como apontam Souza, Oliveira e Paulino (2018) ao analisarem as intersecções entre a medicina e a Educação Popular.
A roda teve como objetivo geral promover um espaço de escuta, diálogo e sensibilização sobre os marcadores sociais da diferença na prática do cuidado em saúde. Entre os objetivos específicos, destacaram-se:
• Sensibilizar trabalhadores e usuários sobre desigualdades estruturais;
• Ampliar o repertório sobre diversidade e equidade;
• Fortalecer o respeito às múltiplas identidades no território;
• Estimular práticas mais acolhedoras e livres de preconceitos na UBS.
A metodologia adotada foi fundamentada nos princípios da Educação Popular em Saúde, com acolhida, pergunta disparadora, partilhas e avaliação participativa. A experiência demonstrou, na prática, o que Ceccim e Feuerwerker (2004) denominam como espaços formativos situados no cotidiano, onde o trabalho em saúde se transforma em campo de aprendizagem e produção de sentido para os sujeitos envolvidos.
A apresentação inicial — em que cada participante, se sentindo confortável, era convidado a dizer seu nome, raça, gênero e sexualidade — gerou certo desconforto inicial, mas foi seguida por relatos espontâneos e reflexões potentes que encorajaram o grupo e ampliaram o debate. Essa vivência confirma que ações que integram a subjetividade, os afetos e o reconhecimento das múltiplas identidades contribuem para uma atenção mais integral e humana, como defendem Falkenberg et al. (2014) ao relacionarem práticas educativas ao cuidado em saúde.
Como defendem Ceccim e Feuerwerker (2004), espaços coletivos e dialógicos de aprendizagem têm potência transformadora quando se baseiam na valorização dos saberes locais e no reconhecimento das experiências vividas pelos sujeitos como fonte legítima de conhecimento. Essa visão se alinha à compreensão de Mendes, Fernandez e Sacardo (2016), que concebem a promoção da saúde como uma prática comprometida com a transformação social, construída com base na participação ativa, no diálogo e na problematização das desigualdades, e não na mera transmissão de ações desejáveis.
A facilitadora destacou a importância de manter o diálogo vivo, como estratégia para romper estigmas e fortalecer práticas mais sensíveis e inclusivas no SUS. Ao final, a atividade foi avaliada de forma positiva, sendo apontada como necessária, transformadora e inspiradora para a continuidade de rodas de conversa no serviço.
A experiência reafirma a equidade como prática cotidiana e compromisso político da Atenção Primária, além de fortalecer a integração entre formação acadêmica e prática profissional no território.

A prática surgiu a partir da escuta da equipe da UBS Tereza Barbosa, localizada VII Distrito Sanitário de Maceió. No cotidiano da Atenção Primária à Saúde, observa-se que temas como raça, gênero e identidade, embora recorrentes nas demandas dos usuários, ainda geram insegurança, são tratados de forma superficial ou com abordagens pouco sensíveis por parte dos profissionais. Essa realidade evidenciou uma lacuna nas ações de cuidado, comprometendo o acolhimento integral e a qualidade da atenção ofertada. A partir desse cenário, identificou-se a oportunidade de desenvolver uma roda de conversa como estratégia de educação permanente em saúde, visando ampliar repertórios, fortalecer a escuta qualificada e estimular práticas mais inclusivas e equitativas no serviço, em consonância com os princípios do SUS.

A realização da roda de conversa gerou importantes resultados para a equipe da UBS e para as pessoas que utilizam de seus serviços. Entre os principais benefícios, destaca-se o fortalecimento dos vínculos entre os profissionais, a ampliação da escuta qualificada e o incentivo à construção de práticas mais sensíveis e inclusivas no cotidiano da UBS. Os participantes relataram que o espaço foi necessário e transformador, permitindo refletir sobre preconceitos naturalizados e reconhecer a importância de considerar as múltiplas identidades dos usuários na oferta do cuidado.
A prática também trouxe inovações no campo da Educação Permanente em Saúde (EPS), ao integrar saberes acadêmicos, experiências pessoais e demandas reais do território em uma única atividade, com metodologia participativa e linguagem acessível. Tal abordagem está em consonância com os princípios da EPS defendidos por Ceccim e Feuerwerker (2004), que apontam a formação como um processo que parte do cotidiano e das experiências concretas dos sujeitos, promovendo transformação individual e institucional.
A presença de uma facilitadora externa, articulada por uma profissional da própria equipe, reforçou a potência da mobilização local e da troca horizontal de saberes, conforme propõem Falkenberg et al. (2014) ao ressaltarem que a educação em saúde deve reconhecer e valorizar os saberes populares como componentes legítimos do cuidado e da formação em saúde. Essa aproximação entre diferentes formas de conhecimento potencializa transformações no cuidado, como indicam Souza, Oliveira e Paulino (2018), ao destacarem que a articulação entre a medicina e a Educação Popular em Saúde amplia a capacidade de escuta e promove intervenções mais humanizadas e contextualizadas.
A experiência evidencia que a criação de espaços seguros para o diálogo sobre temas sensíveis, mesmo diante de resistências iniciais, constitui estratégia fundamental para a qualificação do cuidado. Essa perspectiva está em consonância com Lemos (2016) e Furtado et al. (2018), ao problematizarem os limites das abordagens tradicionais de formação em serviço, frequentemente orientadas por lógicas produtivistas, e ao defenderem práticas educativas que promovam escuta qualificada, reflexão crítica e transformação nos modos de pensar e agir em saúde.
A atividade revelou que promover rodas de conversa sobre diversidade — metodologia que também pode ser adaptada para abordar outras temáticas relevantes no cotidiano dos serviços — constitui uma estratégia viável, potente e necessária para que a equidade em saúde deixe de ser apenas um princípio normativo e se materialize como prática cotidiana, enraizada nas relações e no cuidado, conforme propõe a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (BRASIL, 2009).

Para implementar práticas similares, é fundamental partir da escuta da equipe e do território, identificando temas sensíveis e necessidades reais do cotidiano por meio de rodas de conversa informais, escutas coletivas ou demandas espontâneas. Essa abordagem está em consonância com o que defende Ceccim e Feuerwerker (2004), ao apontarem que a formação em saúde deve emergir das experiências vividas no trabalho e no território, promovendo mudanças reais nas práticas.
Valorizar os recursos e potencialidades locais também é essencial, uma vez que profissionais da própria unidade ou da comunidade podem atuar como articuladores e facilitadores potentes, como foi o caso da convidada desta atividade. Essa valorização dos saberes locais é também destacada por Falkenberg et al. (2014), ao afirmarem que práticas educativas que reconhecem os conhecimentos populares contribuem para a construção de uma saúde coletiva mais democrática e dialógica.
A criação de um ambiente seguro e horizontal é outro ponto importante: a organização do espaço em círculo, o acolhimento com escuta ativa e o respeito ao tempo de cada participante favorecem a adesão e a construção de um clima de confiança. É essencial adotar metodologias da Educação Popular em Saúde, priorizando o diálogo, a troca de experiências e a valorização dos saberes dos participantes, em contraposição a práticas verticalizadas e tecnicistas. Conforme ensina Freire (2005), a educação libertadora acontece no encontro entre sujeitos, na escuta mútua e na problematização da realidade.
É necessário, ainda, estar preparado para possíveis desconfortos e resistências, comuns em temas como raça, gênero e identidade. Respeitar os limites do grupo e confiar no processo coletivo é essencial para que o espaço seja de construção e não de julgamento. Registrar e sistematizar as experiências vividas por meio de cartazes, cadernos de memória ou anotações colaborativas contribui para a preservação do conhecimento gerado e orienta futuras ações, como apontam os princípios da Educação Permanente em Saúde (BRASIL, 2009).
Além disso, recomenda-se transformar a prática em um processo contínuo, e não em uma ação pontual. Manter o diálogo vivo por meio de novas rodas, temas complementares e momentos de formação contínua fortalece a prática cotidiana da equidade. Por fim, a articulação com a gestão e com a rede intersetorial (educação, assistência, cultura, entre outros) amplia o alcance e contribui para a sustentabilidade da ação dentro e fora do serviço, como indicam Furtado et al. (2018) ao discutirem o papel da gestão compartilhada no fortalecimento de práticas colaborativas e transformadoras.

autor Principal

renatasso1804@gmail.com

Assistente Social

Coautores

Renata Araújo de Souza Silva, Michael Ferreira Machado, Josineide Francisco Sampaio

A prática foi aplicada em

Maceió

Alagoas

Nordeste

Esta prática está vinculada a

R. Dias Cabral, 569 - Centro Maceió, Maceió - AL, 57020-250, Brasil

Uma organização do tipo

Instituição Pública

Foi cadastrada por

RENATA ARAUJO DE SOUZA SILVA

Conta vinculada

23 maio 2025

CADASTRO

23 maio 2025

ATUALIZAÇÃO

Condição da prática

Concluída

Situação da Prática

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