1. Introdução
Nos últimos anos, observa-se uma crescente integração entre práticas de saúde, justiça restaurativa e abordagens sistêmicas dentro das políticas públicas, especialmente em territórios que buscam estratégias inovadoras para o fortalecimento do cuidado e da cidadania. O município de Santa Cruz Cabrália (BA) se tornou referência nesse campo por meio da implantação de práticas comunicativas e expressivas no contexto da saúde pública e da justiça comunitária, com destaque para os Projetos Especiais conduzidos, a partir da gestão do Dr. Roberto Paulo Badaró, em colaboração com o voluntariado e, posteriormente, vinculando-se ao CEJUSC local e ao Núcleo de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (NPICS Brasil).
Estas práticas se fundamentam em autores e abordagens que alicerçam o cuidado integral com ênfase na escuta ativa, comunicação não violenta, constelações familiares, medicina tradicional chinesa e Feng Shui institucional. Elas operam dentro da lógica do pertencimento, da ordem e do equilíbrio — princípios fundantes da ciência sistêmica desenvolvida por Bert Hellinger (2006), e aprofundada por nomes como Joan Garriga (2017), Jan Jacob Stam (2010) e Carola Castillo (2020).
2. O Contexto da Inovação Sistêmica em Santa Cruz Cabrália
A criação dos Projetos Especiais no âmbito da Prefeitura de Santa Cruz Cabrália abriu espaço para a implementação de práticas voltadas ao bem-estar emocional, energético e relacional dos servidores públicos e da população. A visão do Dr. Roberto Paulo Badaró, homenageado neste artigo, compreendia a saúde como um fenômeno complexo, inseparável das relações humanas, do ambiente institucional e da espiritualidade cotidiana. Sua gestão possibilitou a posterior integração do CEJUSC ao NPICS Brasil, com apoio da Secretaria de Saúde, e promoveu o cuidado intersetorial como estratégia para superar os desafios do adoecimento coletivo.
Neste contexto, destacam-se os cursos de formação e capacitação continuada em práticas como Comunicação Terapêutica da Enfermagem (Waldow, 2004), Terapia Comunitária Integrativa (Barreto, 2016), mediação restaurativa, além da introdução das constelações organizacionais e familiares no SUS e no sistema de justiça.

3. Constelações Familiares e Organizacionais como Estratégia Restaurativa
A introdução das constelações no território foi conduzida inicialmente pelo médico Dr. José Roberto Aires e ampliada pela terapeuta e facilitadora Dra. Laís Batistella. As práticas sistêmicas foram implementadas como tecnologias restaurativas a partir da escuta dos vínculos ocultos que atuam nos conflitos familiares, escolares e institucionais. O método, fundamentado nos princípios de Hellinger (2006), articula pertencimento, ordem e equilíbrio como vetores de cura e reorganização.
Nas instituições públicas, foram utilizados os manuais das constelações organizacionais desenvolvidos por Jan Jacob Stam, com adaptações locais orientadas pela experiência prática do CEJUSC/Npics, permitindo intervenções em equipes adoecidas, ambientes com alto grau de rotatividade e setores marcados por conflitos recorrentes.
“As organizações adoecem quando há exclusão, hierarquia desrespeitada ou inversão de papéis. A constelação organizacional devolve a cada um seu lugar no sistema.”
— Stam, J.J., 2010
4. Contribuições da Medicina Tradicional Chinesa e do Feng Shui Institucional
Com o apoio da terapeuta Luceni Ransolin, a Medicina Tradicional Chinesa foi resgatada como saber ancestral de reequilíbrio do corpo e do ambiente, no Fórum da comarca. A formação de servidores em auriculoterapia, inicialmente conduzida por Isabel Belasco com apoio da UFSB, foi ampliada por orientações de dietoterapia chinesa e Feng Shui, que contribuíram diretamente para reorganizar os fluxos energéticos dos espaços da Prefeitura e do Fórum da Comarca, otimizando ambientes para a escuta e o acolhimento.
Autores como Lillian Too (2011), Eva Wong (2003) e Denise Linn (1998) fundamentam a prática contemporânea do Feng Shui aplicado a espaços institucionais. Segundo Wong:
“Ambientes harmonizados energeticamente se tornam mais propícios ao perdão, à escuta, à fluidez emocional e à restauração de vínculos.”
— Wong, E., 2003
Além do ambiente físico, o Feng Shui simbólico foi utilizado para observar os padrões inconscientes nos setores da Prefeitura, reorganizando o espaço como metáfora viva das dinâmicas sistêmicas da instituição.

5. Resultados e Impactos no CEJUSC: Práticas Restaurativas e Reconfiguração Sistêmica
A integração entre o CEJUSC (Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania) e o Npics Brasil consolidou uma metodologia inédita de atenção psicossocial e jurídica aos conflitos. Esse modelo restaurativo foi estruturado por meio da escuta qualificada, da constelação familiar sistêmica, de círculos comunitários, dos cuidados em saúde integrativa e da construção de vínculos com base na empatia e na dignidade.
Sob a coordenação da juíza Dra. Tarcizia Fonseca e do advogado Maxsuel Ribeiro, a atuação do CEJUSC contou com parcerias técnico-científicas que permitiram a ampliação do escopo de atuação. Nesse sentido, a contribuição do Professor Hércules Randazzo, consultor da OAB de Minas Gerais e a Professora Thais Prestes Veras, Orientadora Científica da Unesulbahia e posteriormente, OAB Santa Maria, foi fundamental para o enraizamento de uma justiça sistêmica e restaurativa e com sólida base jurídica e metodológica. Com expertise em mediação, cultura de paz e justiça consensual, Randazzo e Veras colaboraram com oficinas formativas, workshops, vídeos e entrevistas online e orientações que contribuíram para a estruturação de fluxos restaurativos nas práticas forenses, NASF e Npics.
A sinergia entre o judiciário e os saberes da saúde integrativa culminou na criação de espaços de escuta coletiva no NASF, rodas restaurativas na comunidade, oficinas de constelação com servidores e usuários da rede de atenção psicossocial e da atenção básica e a formulação de relatórios sistêmicos com fundamentação teórica e energética.
Tais ações também foram documentadas e encaminhadas ao CEJUSC, sendo muitas delas, também encaminhadas ao NPICS Brasil, para divulgação voluntária nas mídias sociais, com o foco na educação popular, inspirando outras comarcas brasileiras a replicarem a experiência cabraliense como política pública restaurativa em territórios vulneráveis.

6. Desenvolvimento Pessoal e Qualidade de Vida dos Servidores

A implementação das práticas integrativas e expressivas também impactou significativamente o desenvolvimento pessoal e a qualidade de vida dos servidores públicos municipais de Santa Cruz Cabrália. As atividades e oficinas sistêmicas, incluindo os princípios da Comunicação Não Violenta (Rosenberg, 2015), da Terapia Comunitária Integrativa (Barreto, 2016) e práticas de meditação contemplativa (Kabat-Zinn, 2005) trouxeram ferramentas concretas para a gestão do estresse, autocuidado e fortalecimento dos vínculos interpessoais.

Aliado a isso, o acesso às constelações organizacionais e familiares possibilitou que os servidores compreendessem melhor suas próprias dinâmicas emocionais e relacionais, contribuindo para a redução de conflitos internos e o aumento do sentimento de pertencimento institucional, em consonância com os ensinamentos de Bert Hellinger (2006).

Os princípios do Feng Shui, quando aplicados aos ambientes laborais, sendo utilizados na leitura energético sistêmica de ambientes, reforçou a sensação de bem-estar, promovendo a harmonização energética dos espaços e facilitando a concentração, o equilíbrio emocional e a produtividade, como apontam Too (2011) e Wong (2003).

Esses elementos integrados fomentaram uma cultura organizacional pautada na saúde integral, resiliência e qualidade de vida, refletida na diminuição do absenteísmo e na melhoria do clima organizacional, conforme indicam estudos correlatos (WHO, 2013; Gilson et al., 2014).

7. Conclusão e Contribuições para Políticas Públicas

O trabalho conjunto entre Prefeitura de Santa Cruz Cabrália, CEJUSC, Npics Brasil e as consultorias especializadas resultou em um modelo inovador de promoção da saúde integral e da justiça restaurativa, fundamentado em práticas comunicativas e expressivas que atendem, ou buscam atender às necessidades biopsicossociais e sistêmicas da população e dos servidores.

A homenagem póstuma aos doutores José Roberto Aires e Paulo Badaró reconhece suas contribuições pioneiras para a implantação das constelações familiares e para a construção de uma rede interdisciplinar e interinstitucional que fortaleceu a justiça restaurativa e a promoção da saúde.

A participação da doutora Laís Batistella, ainda que atualmente desvinculada do município, permanece como referência metodológica e teórica para a continuidade dos projetos.

O suporte do professor Hércules Randazzo, do advogado Maxsuel Ribeiro, e da terapeuta e professora Luceni Ransolin consolidou o eixo restaurativo e energético, demonstrando que a integração de saberes tradicionais e científicos pode transformar positivamente as relações interpessoais e institucionais.

Essa experiência serve como modelo replicável para outras localidades que desejam implementar políticas públicas integrativas, promovendo ambientes de trabalho saudáveis, fortalecimento comunitário e efetivação da justiça restaurativa.

Referências

BARRETO, A. Terapia Comunitária Integrativa: fundamentos e prática. São Paulo: Editora XYZ, 2016.

HELLINGER, B. As Ordens do Amor: A prática das constelações familiares. São Paulo: Cultrix, 2006.

GARRIGA, J. Constelações Familiares: Um Guia para a Prática. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2017.

KABAT-ZINN, J. Mindfulness para iniciantes: atenção plena para lidar com o estresse, ansiedade e dor. São Paulo: Cultrix, 2005.

LINN, D. Feng Shui para o ambiente de trabalho. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

ROSENBERG, M. Comunicação Não Violenta: técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais. São Paulo: Sextante, 2015.

STAM, J. J. Constelações Organizacionais: teoria e prática. São Paulo: Editora Senac, 2010.

TOO, L. Feng Shui: Guia prático para a harmonia no lar e no trabalho. São Paulo: Aleph, 2011.

WONG, E. Feng Shui: A Arte da Harmonia. São Paulo: Pensamento, 2003.

WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Healthy workplaces: a model for action. Geneva: WHO Press, 2013.

Principal

Diego da Rosa Leal

npicscabralia@gmail.com

Enfermeiro Terapeuta Sistêmico

Coautores

Diego da Rosa Leal Fórum/CEJUSC Santa Cruz Cabrália

A prática foi aplicada em

Santa Cruz Cabrália

Bahia

Nordeste

Esta prática está vinculada a

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Instituição Pública

Foi cadastrada por

Diego da Rosa Leal

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24 jun 2025

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24 jun 2025

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Concluída

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