Pertencimento e cuidado nas organizações: a experiência sistêmica entre cejusc e recursos humanos na raps de Snata Cruz Cabrália

RESUMO
Este relato apresenta uma experiência intersetorial realizada na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) do município de Santa Cruz Cabrália, fruto da parceria entre o Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (CEJUSC) e o Departamento de Recursos Humanos da Secretaria Municipal de Saúde. A partir de práticas como constelações organizacionais, escuta coletiva e espiritualidade aplicada, buscou-se fortalecer vínculos institucionais, restaurar o senso de pertencimento e promover saúde organizacional.
A abordagem teórico-metodológica articula as ordens sistêmicas propostas por Bert Hellinger, os modelos de comportamento organizacional de David A. Bednar, a teoria integral de Ken Wilber e estudos recentes desenvolvidos no Brasil por Barros (2023), Souza & Zanelli (2021), Torres (2022) e Barreto (2021). Por meio de uma revisão integrativa da literatura, com ênfase em publicações entre 2000 e 2025, identificou-se que a saúde sistêmica nas instituições está diretamente relacionada à escuta ativa, ao sentido espiritual do trabalho e à gestão inclusiva das relações.
Os resultados sugerem que experiências interinstitucionais que integram espiritualidade, escuta sistêmica e práticas comunitárias geram ambientes mais sustentáveis, fortalecem os vínculos entre as equipes e promovem uma liderança colaborativa e restaurativa no setor público.
Palavras-chave: Constelações Organizacionais; Espiritualidade no Trabalho; Inclusão Sistêmica; Pertencimento Institucional; Atenção Psicossocial.

ABSTRACT
This paper presents an intersectoral experience carried out within the Brazilian Psychosocial Care Network (RAPS), involving a strategic partnership between the Specialized Center for Alternative Dispute Resolution (CEJUSC) and the Human Resources Department in the municipality of Santa Cruz Cabrália. Anchored in systemic thinking and organizational spirituality, the experience articulates tools such as organizational constellations, collective listening, and community-based integrative practices to promote belonging, purpose, and institutional health.
The theoretical-methodological approach combines the systemic orders proposed by Bert Hellinger with organizational behavior models by David A. Bednar and Ken Wilber’s integral theory, along with recent Brazilian research by Barros (2023), Souza & Zanelli (2021), Torres (2022), and Barreto (2021). The study used an integrative literature review, with emphasis on publications from 2000 to 2025, and found that systemic health in organizations is directly related to spiritual meaning, inclusive governance, and reconnection with institutional purpose.
The results suggest that interinstitutional experiences that integrate spirituality, systemic listening, and community practices generate more sustainable environments, strengthen ties between teams, and foster collaborative and restorative leadership within public institutions.
Keywords: Organizational Constellations; Workplace Spirituality; Systemic Inclusion; Institutional Belonging; Psychosocial Care.

1. INTRODUÇÃO
A transformação das organizações contemporâneas demanda abordagens que integrem aspectos humanos, espirituais e relacionais em suas estruturas de gestão. A emergência de modelos baseados em cuidado, inclusão e consciência coletiva reflete uma mudança paradigmática que desafia a lógica tradicional de controle e hierarquia. Este artigo investiga como as práticas organizacionais podem ser repensadas a partir da abordagem sistêmica e espiritual, promovendo ambientes mais saudáveis e sustentáveis.
Baseamo-nos em autores como Hellinger (2001) e Stam (2014), que introduzem as Constelações Organizacionais como ferramenta para revelar dinâmicas ocultas nos sistemas, e em estudiosos brasileiros que têm contribuído com experiências empíricas e reflexões sobre espiritualidade, pertencimento e saúde no trabalho, como Barros (2023), Torres (2022), Souza & Zanelli (2021) e Barreto (2021).

2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 A Inclusão Sistêmica e o Pertencimento
Segundo Hellinger (2001), as “ordens do amor” (pertencimento, ordem e equilíbrio) são fundamentais para o funcionamento harmonioso dos sistemas humanos. Quando há exclusões ou desordens, surgem sintomas organizacionais como conflitos, resistência à mudança e baixa produtividade. Barros (2023) aplica essa lógica ao contexto brasileiro, demonstrando como processos de constelação em empresas e órgãos públicos têm contribuído para a solução de tensões e reconexão entre membros e propósito organizacional.
2.2 Espiritualidade no Trabalho
Para Bednar (2008) e Zohar & Marshall (2004), a espiritualidade está associada ao significado e à expressão de valores elevados no trabalho. Souza & Zanelli (2021) apontam que a espiritualidade no serviço público brasileiro promove maior senso de propósito, empatia e cooperação. Torres (2022) destaca a relação entre espiritualidade e liderança humanizada, enfatizando a importância do autocuidado e da escuta ativa nos ambientes organizacionais.
2.3 Comportamento Organizacional e Sentido
O comportamento organizacional é influenciado por aspectos culturais, emocionais e espirituais. Steger (2017) e Wilber (2000) propõem modelos integrativos que consideram o indivíduo, os relacionamentos, as estruturas e os processos. No Brasil, Barreto (2021) contribui com a Terapia Comunitária Integrativa como dispositivo de escuta coletiva e fortalecimento de vínculos em organizações.

3. METODOLOGIA
Este é um estudo teórico-conceitual baseado em revisão integrativa da literatura nacional e internacional sobre espiritualidade, constelações organizacionais, comportamento organizacional e inclusão sistêmica. A seleção de autores considerou publicações entre 2000 e 2025, com ênfase em estudos brasileiros dos últimos cinco anos indexados em bases como SciELO, LILACS e Google Scholar.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO: UM MODELO VIVO DE POLÍTICA SISTÊMICA NA RAPS
A partir da experiência articulada entre o CEJUSC, o Departamento de Recursos Humanos e as equipes da Rede de Atenção Psicossocial (CAPS, NASF e Npics), emergiu um modelo prático de política organizacional sustentado por vínculos, escuta e espiritualidade aplicada. Esse modelo foi construído de forma orgânica, a partir das necessidades concretas das equipes e das tensões vividas no cotidiano das instituições.
Com base nas constelações organizacionais realizadas, foi possível identificar padrões ocultos de exclusão, comunicação truncada e sobrecarga emocional em diversos níveis da gestão. As intervenções revelaram que muitas das dificuldades não estavam nos processos técnicos, mas sim nas relações interrompidas, na ausência de pertencimento e na fragmentação entre setores.
A escuta coletiva promovida por práticas como a Terapia Comunitária Integrativa (Barreto, 2021) e as rodas de conversa entre CEJUSC e servidores da saúde possibilitaram a restauração de vínculos históricos entre áreas técnicas e estratégicas, como a Saúde Mental e o setor de Recursos Humanos. Nessas práticas, os profissionais puderam reconhecer dores, resgatar identidades e alinhar-se em torno de um propósito comum.
Além disso, a espiritualidade no trabalho — entendida não como religiosidade institucionalizada, mas como sentido, propósito e presença — emergiu como eixo central. Profissionais relataram maior motivação, disponibilidade para o cuidado e sentimento de valorização institucional. Essa espiritualidade se expressou em gestos simples, como o acolhimento entre equipes, o respeito ao tempo do outro e a celebração de pequenas vitórias no cotidiano.
Com base nos achados da literatura (Hellinger, 2001; Wilber, 2000; Bednar, 2008; Souza & Zanelli, 2021; Barros, 2023), propõe-se o seguinte modelo integrativo de política sistêmica:

Quadro 1 – Eixos do Modelo Sistêmico Integrado à RAPS
Eixo
Descrição
Diagnóstico Sistêmico

Mapeamento de exclusões, padrões ocultos e rupturas institucionais através de constelações.

Alinhamento de Valores
Reconexão entre propósito individual, missão institucional e práticas cotidianas.

Inclusão Sistêmica
Integração de setores, pessoas e histórias antes marginalizadas no processo organizacional.

Promoção da Saúde Sistêmica
Criação de espaços de escuta, cuidado e práticas integrativas no ambiente de trabalho.

Esse modelo se mostrou efetivo para a transformação cultural das instituições envolvidas. A equipe do CEJUSC, por exemplo, passou a ser vista não apenas como mediadora de conflitos, mas como promotora de pertencimento institucional. Já o setor de Recursos Humanos deixou de ser percebido como meramente burocrático, assumindo um papel de cuidado com a saúde do trabalhador e de facilitador de mudanças estruturais.
Na saúde, observou-se uma melhora nos indicadores subjetivos de convivência entre equipes, redução de conflitos interpessoais e maior integração entre CAPS, NASF e atenção básica. A espiritualidade aplicada se mostrou uma ponte entre o cuidado institucional e a saúde mental coletiva, fortalecendo a RAPS como espaço vivo de reconstrução de vínculos.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente artigo defende que as organizações brasileiras podem se tornar mais saudáveis e sustentáveis ao adotarem uma política sistêmica fundamentada na inclusão, espiritualidade e pertencimento. A articulação entre teorias internacionais e experiências nacionais recentes revela um campo fecundo para a inovação relacional e institucional.
Sugere-se a realização de estudos empíricos que testem a aplicação desse modelo em contextos diversos, especialmente no setor público, na saúde coletiva e em programas de desenvolvimento humano.

REFERÊNCIAS
ANTONOVSKY, A. The salutogenic model as a theory to guide health promotion. Health Promotion International, v. 11, n. 1, p. 11-18, 1996.
BARRETO, A. Terapia Comunitária Integrativa nas organizações: Contribuições para a saúde coletiva. Fortaleza: UEC, 2021.
BARROS, A. Constelações Sistêmicas e Cultura Organizacional: Uma experiência brasileira. Revista Gestão & Espiritualidade, v. 8, n. 2, p. 55-70, 2023.
BEDNAR, D. A. Things as They Really Are. Deseret Book, 2008.
GONG, G. W. Religious Freedom and International Diplomacy. Religious Freedom Project, 2012.
HELLINGER, B. As Ordens do Amor. São Paulo: Cultrix, 2001.
SENGE, P. A quinta disciplina: arte e prática da organização que aprende. Rio de Janeiro: Best Seller, 2006.
SOUSA, L. B.; ZANELLI, J. C. Espiritualidade no trabalho e sentido da vida: Um estudo com servidores públicos brasileiros. Revista de Psicologia Organizacional, v. 27, n. 1, p. 90-107, 2021.
STAM, J. J. Organisatieopstellingen: inzichten en praktijk. Groningen: Het Noorderlicht, 2014.
STEGAR, M. F. Meaning in Life and Work. In: HOFFMAN, L. et al. (Eds.). The Psychology of Meaning. APA, 2017.
TORRES, C. M. S. Espiritualidade no serviço público: da teoria à prática. Revista Brasileira de Gestão Pública, v. 14, n. 3, p. 422-435, 2022.
WILBER, K. A Theory of Everything: An Integral Vision for Business, Politics, Science, and Spirituality. Boston: Shambhala, 2000.
ZOHAR, D.; MARSHALL, I. Spiritual Capital: Wealth We Can Live By. San Francisco: Berrett-Koehler, 2004.

autor Principal

Diego da Rosa Leal

npicscabralia@gmail.com

Enfermeiro Terapeuta Sistêmico

Coautores

Autor: Diego da Rosa Leal Projeto: NpicsBRASIL E-mail: npicscabralia@gmail.com

A prática foi aplicada em

Santa Cruz Cabrália

Bahia

Nordeste

Esta prática está vinculada a

Rua Sidrack Carvalho - s/n, Santa Cruz Cabrália - BA, 45807-000, Brasil

Uma organização do tipo

Instituição Pública

Foi cadastrada por

Diego da Rosa Leal

Conta vinculada

01 jul 2025

CADASTRO

25 set 2025

ATUALIZAÇÃO

Condição da prática

Concluída

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